Diário de Bordo

As 7 forças do mundo dos negócios

João Piccioni

7 nov 2023, 17:41 (Atualizado em 7 nov 2023, 17:41)

Muito provavelmente você já deve ter se deparado com o termo “fundamentalista”. Na língua portuguesa, o termo é mais utilizado para designar grupos ideológicos ou religiosos cuja crença é levada ao extremo, de forma radical e sem espaço para o contraditório. Entretanto, a etimologia nos mostra que a palavra é proveniente do latim fundamentum, cuja tradução está ligada à ideia de um alicerce ou base, ou ainda, no plural, a reunião de conhecimentos que sustenta uma tese ou teoria.

Nas finanças, o termo “análise fundamentalista” é utilizado para especificar um tipo de análise financeira que procura identificar e destrinchar os alicerces de uma companhia, com o objetivo de mapear, compreender os vetores responsáveis pelo funcionamento da operação e avaliar seus diferenciais frente aos concorrentes. Para isso, o analista de investimento observa/estuda os dados financeiros disponibilizados pelas companhias, avalia o posicionamento competitivo dos seus produtos ou serviços e analisa os planos estratégicos e as possíveis avenidas de crescimento.

O instrumental teórico para a condução de uma boa análise fundamentalista é diverso. Vai desde uma simples avaliação das métricas de balanço e mercado (já deve ter ouvido falar dos “múltiplos” ou do índice “preço-lucro”) — cuja leitura por vezes é simplória —, passa pelas projeções financeiras de fluxo de caixa, investimentos e retorno sobre o capital, até chegar ao famigerado “preço justo” das ações. 

Do meu ponto de vista, tais projeções são interessantes como um exercício, mas não conseguem trazer à tona a verdadeira capacidade de geração de valor das companhias. Afinal de contas, nem sempre o que está barato deve ser visto como oportunidade. Neste sentido, tenho um apreço pela análise qualitativa, que procura identificar aspectos intrínsecos aos negócios das empresas e avaliá-los à luz do panorama competitivo. No mundo do stock picking, este instrumental é imprescindível.

A leitura de Hamilton Helmar, CIO da Strategy Capital, denominada “Seven Powers: The Foundations of Business Strategy” provê um ferramental analítico poderoso, capaz de identificar as estratégias que levam as companhias a sustentar vantagens competitivas duradouras. Ao todo, o livro identifica sete forças que podem ser utilizadas para criar barreiras de entrada aos competidores, reduzindo possíveis arbitragens causadas por diferenciais competitivos.

De acordo com Helmer, as sete forças a serem observadas são as seguintes:

  1. Economias de escala: Economias de escala se referem às vantagens de custo que uma empresa pode obter ao espalhar seus custos fixos por um número maior de transações. Quanto mais uma empresa vende, menor é o seu custo por unidade. Isso pode criar uma barreira significativa à entrada para possíveis concorrentes.

2. Economias de rede: Economias de rede se referem aos benefícios que uma empresa pode obter ao ter uma rede grande e em crescimento de compradores e vendedores. Quanto mais compradores e vendedores uma empresa tem, mais valiosa sua plataforma se torna. Isso cria um ciclo virtuoso em que mais compradores atraem mais vendedores e mais vendedores atraem mais compradores. Isso pode criar uma barreira significativa à entrada para possíveis concorrentes.

3. Custos de mudança: Custos de mudança se referem aos custos que um comprador ou vendedor incorre ao mudar de uma plataforma para outra. Esses custos podem incluir o tempo e o esforço necessários para aprender uma nova plataforma, o custo de transferir dados e o custo de reputação perdida. Altos custos de mudança podem criar uma barreira significativa à entrada para possíveis concorrentes.

4. Marca: Marca se refere à reputação que uma empresa construiu com seus clientes. Uma marca forte pode criar uma barreira significativa à entrada para possíveis concorrentes porque os clientes são mais propensos a confiar e escolher uma marca com a qual estão familiarizados.

5. Recursos exclusivos: Recursos exclusivos se referem aos recursos únicos que uma empresa possui e que são difíceis de serem replicados pelos concorrentes. Esses recursos podem incluir patentes, tecnologia proprietária e acesso exclusivo a matérias-primas. Recursos exclusivos podem criar uma barreira significativa à entrada para possíveis concorrentes.

6. Poder de processo: Poder de processo se refere à capacidade de uma empresa de executar suas operações de maneira mais eficiente do que seus concorrentes. Isso pode incluir a capacidade de produzir produtos a um custo menor, entregar produtos mais rapidamente ou fornecer uma melhor experiência ao cliente. O poder de processo pode criar uma barreira significativa à entrada para possíveis concorrentes.

7. Ativos intangíveis: Ativos intangíveis se referem aos ativos únicos que uma empresa possui e que são difíceis de serem replicados pelos concorrentes. Esses ativos podem incluir uma cultura única, uma equipe de gerenciamento forte ou uma base de clientes leais. Ativos intangíveis podem criar uma barreira significativa à entrada para possíveis concorrentes.

É bem provável que, em uma análise mais completa sobre alguma companhia, alguns destes itens sejam desprezados (ou deixados de lado). A empresa perfeita, se algo assim realmente existir, deveria mostrar pontos positivos em cada um destes requisitos, de forma que conseguisse blindar seus negócios de forma a estruturar um caminho sólido para seu crescimento. 

De forma geral, conseguir identificar os pontos positivos (ou negativos) nas teses de investimento, traz mais assertividade na seleção de ativos para os fundos de investimento. Quando os fundamentos são sólidos, a incerteza se reduz e o tamanho da margem de segurança aumenta. É isso que vamos buscar incessantemente em nossos produtos.

O comportamento dos mercados financeiros em novembro

Os investidores começaram o mês de novembro bastante entusiasmados. As palavras mais suaves de Jerome Powell após a reunião do FED e os dados mais fracos da economia americana acabaram por trazer algum alívio da curva de juros. Os juros dos títulos que vencem em dois e em dez anos caíram substancialmente e abriram espaço para um salto dos ativos de risco globais.

A redução na aversão ao risco foi nítida. O dólar perdeu força frente às moedas globais e o VIX, o “índice do medo”, voltou a ser negociado na casa dos 15 pontos. A bolsa americana voltou a subir e os índices S&P 500 e Nasdaq dispararam mais de 4% e 5%, respectivamente. 

Por aqui, o Ibovespa não ficou para trás. O principal índice da bolsa brasileira voltou a ultrapassar a barreira dos 119 mil pontos, enquanto a curva de juros caiu fortemente. O real voltou a ganhar espaço e o dólar veio novamente para a casa dos R$ 4,87. A descompressão dos ativos brasileiros passou a respeitar substancialmente o comportamento das taxas de juros lá fora, especialmente após o encontro do Fed. Qualquer desafogo adicional abrirá espaço para o famigerado rali de Natal.

Novamente, o cenário que ganha monta reflete o possível surgimento dos “goldilocks”, no qual a economia mostraria algum crescimento econômico sem pressões inflacionárias. Nele, as “growth stocks” (e os países emergentes) voltariam a ganhar espaço nos portfólios dos investidores. Se não houver ruptura dos elos mais fracos da economia americana e o discurso sobre um possível afrouxamento monetário à frente voltar a fazer parte da receita dos grandes bancos centrais, o final de ano trará bons retornos aos investidores em todas classes de ativos.

Acesse o Canal do Telegram da Empiricus Gestão

Como você já deve saber, recentemente assumi oficialmente o cargo de CIO da Empiricus Gestão, passando a dar atenção aos fundos de investimento que recebem recursos confiados a nós pelos investidores. Isto significa que agora participo do lado do processo decisório, acrescentado ao dever de executar bem as operações.

O time que passo a liderar agora possui excelente expertise e, certamente, conseguiremos construir soluções de investimento diferenciadas. Para mim, particularmente, é o início de um novo desafio e processo natural dentro da minha vida.

E a partir de agora, quero me comunicar de forma ágil e direta com você que é cotista de nossos fundos.

Somado ao DB (aqui trago análises de cenário), decidi criar o Canal do Telegram da Empiricus Gestão. Por lá, pretendo enviar toda e qualquer informação sobre os nossos fundos. 

Deixo abaixo o link para você acessar o Canal. 

Forte abraço,

João Piccioni

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