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Day One

Degrau por degrau

“Nas últimas semanas, as ações da varejista Bed Bath & Beyond subiram mais de 300% e chamaram a atenção de todo […]”.

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Data de publicação
24 de agosto de 2022
Categoria
Day One
Subindo os degraus
Fonte: Free Pik

As meme stocks estão de volta.

Nas últimas semanas, as ações da varejista Bed Bath & Beyond subiram mais de 300% e chamaram a atenção de todo o mercado, haja visto que seus problemas financeiros não conversam com tal desempenho estelar.

Muito pelo contrário, o balanço frágil somado a uma competição mais acirrada tem sido uma pedra no sapato dos planos da companhia. Para se ter uma dimensão, desde as máximas atingidas em 2015, os papéis caem mais de 85% e já se especula inclusive que o caminho mais provável seja uma recuperação judicial.

Por trás desse movimento altista, uma expectativa dos especuladores era de que Ryan Cohen, co-fundador da rede de e-commerce para pets Chewy e investidor ativista, aumentasse ainda mais a sua participação de 9,8% na companhia (revelada em março deste ano) e pudesse auxiliá-la em seu tão necessário turnaround.

As esperanças caíram por terra rapidamente após a divulgação de um comunicado na última quinta-feira informando que o investidor havia se desfeito de toda a sua posição. Depois do anúncio, as ações caíram mais de 40% e deixaram muito especulador com enormes prejuízos.

Esse acontecimento me fez lembrar do efeito halo, termo criado pelo psicólogo americano Edward Thorndike, em que o processo de julgamento de características e a tomada de decisão ocorrem a partir de apenas um atributo. No caso, a ideia de que a posição de Ryan Cohen ensejasse diversos gatilhos positivos que justificassem a compra dos papéis da varejista, fazendo-a triplicar de preço em pouquíssimo tempo. Essa avaliação não poderia estar mais equivocada.

No Brasil, o movimento com as meme stocks tupiniquins ainda não voltou a ocorrer. Por aqui, o sentimento é que muitos investidores abandonaram a renda variável em função da alta volatilidade e do momento mais desafiador para embolsar previsíveis rendimentos na renda fixa.

Não os condeno, pelo contrário. Vejo com bons olhos os títulos do Tesouro Direto indexados à inflação, que têm oferecido retorno real de 6% ao ano. Contudo, há de se ponderar que mesmo na comparação relativa com a renda fixa, a renda variável tem oferecido oportunidades únicas de investimento para aqueles dispostos a aguardar o longo prazo.

Podemos mensurar essa atratividade através de métricas tradicionais, como o earnings yield, que está em seu maior patamar dos últimos 12 anos ou pelas movimentações realizadas por investidores estratégicos e institucionais, que possuem visão e alinhamento de longo prazo.

Se por um lado a janela de IPO está fechada, a de M&A segue firme e forte. A compra da Pardini pelo Grupo Fleury, da Locaweb pela General Atlantic, da Modal pela XP, da Focus pela Eneva e da Mosaico pelo Pan nesses últimos meses são exemplos dessas movimentações. Para frente, acredito que os setores de saúde e varejo deverão seguir aquecidos, e quem se posicionar nos players corretos poderá se beneficiar dessas futuras transações.

Não é necessário dizer que os ganhos potenciais estão longe das distorções das meme stocks, mas também o risco de perda permanente de capital é muito mais reduzido. Embora a ganância nos atraia para a possibilidade de ganhos rápidos e fáceis, a realidade é que os grandes ganhadores de dinheiro da Bolsa o fizeram de degrau por degrau.

Forte abraço.