Quando o Segundo Sol chegar
Talvez este texto soe um pouco esotérico hoje, mas não se engane. Continuo sendo o velho Rodolfo de sempre, cético e objetivo.

Talvez este texto soe um pouco esotérico hoje, mas não se engane.
Continuo sendo o velho Rodolfo de sempre, cético e objetivo.
Apenas reconheço, por um breve momento, que é justamente no exercício do esoterismo que nos tornamos mais científicos, assim como é na obsessão pela razão que nos tornamos mais emocionais.
Ou, como diria meu amigo Emilio de Sebastopol, tudo aquilo que se presta a ser marginalmente irreal culmina, ironicamente, em espaços singulares de ultra-realidade.
Minha parca realidade, por enquanto, significa olhar para cima e ver um único sol, como de praxe.
Durante a noite, porém, quando não existe sol algum, ou quando ele se esconde, insisto em sonhar (para outros, um pesadelo) que vou acordar de dia, uma manhã especialmente iluminada, e no céu constará não apenas um, mas sim dois.
Teremos então um céu para dois sóis.
Calculo que a abóbada terrestre, mesmo em seu fracionado recorte tupiniquim, é grande o suficiente para comportar dois astros-reis. Talvez até três, cinco, dez deles...
Isso me anima. Quando o segundo sol chegar, deve realinhar as órbitas dos planetas.
Derrubará, com assombro exemplar, o que os astrônomos diriam se tratar de um outro cometa.
Os pseudocientistas insistem em alegar que o sol atual tem direito adquirido e, portanto, faz jus a um monopólio natural, winner takes all.
Tudo agora virou winner takes all, a nova expressão da moda adotada por indivíduos que fazem tour pelo Vale do Silício e desejam se mostrar inteligentes.
Contextos de winner takes all de fato existem no mundo real, mas são bastante específicos. Nesse sentido, recomenda-se que sejam tratados como rara exceção.
Mesmo marcas gigantescas como Apple, Microsoft, Amazon não chegam nem perto dos 100% de share.
Mesmo a B3 precisa concorrer com a Nasdaq.
Logo, se você comprou uma ação baseado em uma rota de óbvia convergência à dominância de mercado, tome cuidado.
A empresa que senta no trono do winner takes all é frágil, enquanto os átomos de um mercado concorrencial tornam aquele mercado antifrágil.
Esse é um insight facilmente dedutível a partir das graves distribuições de renda. Quanto maior a concentração dos 1% mais ricos, mais difícil que os mesmos 1% se mantenham lá durante muito tempo. O trono de ouro brilhante desperta atenção demais, competição demais.
Felizmente, os alquimistas estão chegando para transformar ouro em chumbo, e estamos perto do verão, quando o céu é duplamente ensolarado.
Esta nova estação abriga agora a trilha incluída nessa minha conversão.