Times
Investimentos

Ouro digital? Entenda por que o Bitcoin disparou no primeiro trimestre de 2023

Em meio ao turbilhão enfrentado pelos mercados globais, bitcoin subiu quase 70% no ano e aumentou a correlação com reservas de valor clássicas, como o ouro e a prata; entenda

Compartilhar artigo
Autor
Juan Rey
Data de publicação
6 de abril de 2023
Categoria
Investimentos
bitcoin ouro
Imagem: Shutterstock

Não dá para dizer que o primeiro trimestre de 2023 foi fácil para os investidores. No último mês, a bola da vez foi a crise bancária que afetou o setor nos EUA e na Europa. Mas em meio a tantas notícias negativas, um ativo se destacou: o bitcoin.

O principal criptoativo do mercado valorizou mais de 68% em dólar (e mais de 60% em reais) em 2023. Só em março, mês da quebradeira dos bancos, o bitcoin subiu quase 20%.

Por que todo esse movimento positivo em meio a tantas dificuldades enfrentadas pelos mercados de todo o mundo?

Para o head de criptomoedas da Empiricus Research, Vinicius Bazan, a alta tem a ver justamente com as dificuldades: o bitcoin passou a ser visto como uma reserva de valor, ou uma espécie de “porto seguro” para os investidores. 

Bitcoin foi criado como alternativa às instituições financeiras tradicionais

Para entender este movimento, é necessário voltar aos primórdios do universo das criptomoedas. O bitcoin foi criado para ser uma alternativa ao monopólio do dinheiro, utilizando-se da tecnologia para criar um meio de transferência de valor desintermediado (sem a necessidade de instituições financeiras). 

Quando isso aconteceu? Justamente em 2008, ano da crise dos grandes bancos americanos. Para Bazan, os fundamentos do bitcoin no primeiro trimestre de 2023 brilharam frente a um ensaio do que aconteceu no período de sua criação.

O analista resumiu a história da seguinte maneira: 

  1. Juros baixos, desde o pós-crise de 2008, facilitaram o acesso a liquidez, estimularam a tomada de risco ao longo de uma década, e aceleraram a taxa de inflação (especialmente após os estímulos monetários durante a Covid-19);
  2. Conforme a taxa de inflação cresceu, surgiu a necessidade de aumentar juros a fim de desacelerar a economia americana, arrefecendo os preços;
  3. Bancos médios, focados no segmento de tech e startups começaram a se declarar insolventes devido a falhas de administração financeira frente aos juros mais altos;
  4. O Fed voltou com as suas políticas acomodatícias (emissão de dinheiro) para que se evitasse o colapso dos bancos, e um possível efeito dominó na economia;
  5. Bitcoin subiu.

Para Bazan, a diluição do dólar em favor dos grandes bancos “deixa claro as vantagens de uma moeda descentralizada e resistente à manipulação”.

Não por acaso, órgãos do governo americano, como a SEC, aceleraram medidas anticripto e dificultaram a realização de negócios para empresas voltadas para o setor. Na visão de Bazan, embora a medida possa enxugar a liquidez no curto e no médio prazo, o bitcoin seguirá a trajetória típica de períodos pré-halving (você pode entender mais sobre o halving aqui).

Menos correlação com a bolsa e mais com os hedges clássicos

O índice DXY, que mede a força do dólar, ratifica o desaquecimento da moeda norte-americana nos últimos meses. Inclusive, como explica Bazan, existe uma relação inversa entre o desempenho do DXY e do Bitcoin: quando o índice performa mal, como é o caso, a tendência é que o mercado cripto vá bem. 

Outras métricas também reforçam a tese de que o bitcoin está sendo visto como uma reserva de valor. 

Durante 2022, a correlação entre BTC e principal índice de ações da Bolsa norte-americana, S&P 500, estava em níveis historicamente altos. Ou seja, eles tinham a tendência de se movimentar na mesma direção. Agora, em 2023, essa correlação vem caindo principalmente após dois eventos: a reabertura da economia chinesa e as políticas acomodatícias do Fed.

Para o analista Paulo Camargo, da Empiricus Research, a tendência de fuga dos investidores do dólar e a alta do bitcoin reforçam a tese da criptomoeda como reserva de valor. 

“Se a gente olhar nos últimos dias, a correlação do bitcoin com reservas de valor clássicas, como ouro e prata, aumentou bastante. A relação se inverteu. A correlação com o S&P 500 está abaixo da correlação com o ouro, que subiu bastante com esses atritos globais”, explica. 

Histórico aponta que ciclo positivo do bitcoin deve continuar

Na visão do analista, o momento é propício para comprar bitcoin. “Estamos num momento muito raro do mercado, em que a melhor estratégia talvez seja fazer o básico. Comprar bitcoin hoje é uma ótima pedida. É difícil cair, provavelmente não vai se multiplicar dezenas de vezes do nada, mas você tem uma segurança que é muito difícil você ter em outros ciclos do mercado”, recomenda.

Além disso, existe a expectativa pelo halving, principal evento do protocolo bitcoin, que ocorrerá em 2024. 

Historicamente, a criptomoeda responde ao halving com fortes altas, mesmo antes dele ocorrer. Nos últimos três, o bitcoin começou a subir cerca de 500 dias antes do evento. E, ao menos até agora, o mesmo movimento pôde ser observado em 2023. 

“Você tem o preço começando a subir pré-halving funcionando quase que como uma consolidação de um novo bull market, e o bull market de fato depois do halving”, afirma Bazan.

Ao menos até aqui, as indicações são de que o bitcoin sobe de forma orgânica e responde à sua tese em 2023. Pelos motivos apontados ao longo do texto, o ciclo é positivo e deve continuar assim ao longo dos próximos meses – não sem apresentar a volatilidade característica do mercado cripto.  

A Empiricus Research recomenda uma posição majoritária em bitcoin em uma carteira de criptomoedas, que por ser um investimento de alto risco, deve corresponder sempre a uma pequena parcela do patrimônio total do investidor.