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Investimentos

Ações da Tesla (TSLA): tudo que você precisa saber

A montadora lidera a inovação dos carros elétricos e autônomos, mas enfrenta desafios à altura

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Data de publicação
18 de fevereiro de 2021
Categoria
Investimentos

As ações da Tesla (Nasdaq: TSLA) são sugeridas indiretamente pelo nosso analista João Piccioni, na série MoneyRider, desde agosto de 2018. Já os BDRs da Tesla (B3: TSLA34) não são indicados em nenhuma das séries da Empiricus.

Neste artigo, vamos explorar os pontos mais relevantes da empresa e a atratividade dela como um ativo que disputa um lugar no seu portfólio. Para facilitar a experiência, separamos o conteúdo nos seguintes tópicos:

Tesla: uma big tech focada em carros

Fundada em 2003 por um grupo de engenheiros, a Tesla chegava ao mercado automobilístico com uma proposta que, na época, nem era tão apelativa quanto hoje: acelerar a transição de carros tradicionais para carros elétricos.

Carro e carregador da Tesla

Os novos carregadores da Tesla garantem bateria para 120km em cinco minutos

Em 2004, entra em cena um tal Elon Musk, que se interessou pela proposta da empresa e investiu alguns milhões no projeto. Ainda assim, o caminho se mostrou árduo e foi preciso colocar muito mais dinheiro no caixa.

Em 2008, Musk passou a ocupar a posição de CEO e, em 2010, inaugurou TSLA no mercado acionário com o IPO da Tesla.

Desde então, a empresa busca ir além da proposta de energia e investe em carros altamente tecnológicos que permitem a conexão/interação com outros carros, condutores e passageiros, e/ou serviços de informação.

Os principais carros da companhia são o Modelo X, Modelo S e Modelo 3, todos com “sistemas integrados de conectividade que proporcionam experiências superiores de dirigibilidade aos seus consumidores”, destaca Piccioni.

As iniciativas atuais vão ainda mais além, alinhando I.A. e Big Data com os veículos para que, talvez num futuro de médio prazo, você nem precise mais dirigir o seu carro.

E todo esse desenvolvimento vai ser ainda mais transformacional para a linha de caminhões da companhia.

Tesla Semi (caminhão da marca)

O piloto automático do Tesla Semi ajudará a evitar colisões

Apresentado em 2017, o Tesla Semi foi sendo testado através de protótipos e isoladamente, mas recebeu a autorização de Musk, em 2020, para ser produzido em larga escala.

E o plano para o caminhão elétrico é ambicioso: entrar no “mercado de caminhões por meio dos comboios (platoon em inglês), no qual vários caminhões andam de forma autônoma guiados por um caminhão-chefe”, explica Piccioni.

“Essa nova tecnologia pode proporcionar um ganho de produtividade brutal ao segmento de transporte e, obviamente, um avanço instantâneo na participação de mercado para a Tesla”, conclui ele.

Parece coisa de filme, mas será a realidade dentro de alguns anos.

Além dos veículos, a Tesla fabrica artigos voltados para a produção e armazenamento de energia tanto para grandes empresas quanto para aplicações domésticas. Esse segmento representa cerca de 10% do faturamento anual e cresceu fortemente devido à consolidação dos números da SolarCity, companhia adquirida no fim de 2016 por cerca de US$ 2,1 bilhões (pagos com ações da Tesla).

Para otimizar essa frente de negócios, a Tesla (TSLA) construiu um complexo chamado Gigafactory 1, em Nevada, que concentra a produção de todos os sistemas de energia e, principalmente, a produção das baterias veiculares.

O Gigafactory 1 reúne todos os fornecedores no mesmo local para aumentar a produtividade

Muito mais do que receita, esse braço da companhia tem um valor estratégico porque contempla a produção das baterias de íon-lítio.

Não entendeu a importância disso? Nós explicamos.

Atualmente, destaca Piccioni, “ainda não existem tecnologias que superem a qualidade e o potencial das baterias atuais”, o que as garante cada vez mais espaço nos produtos eletrônicos e nos veículos elétricos.

Nessa transição tecnológica de combustíveis fósseis para energia elétrica, aquele que tiver a melhor bateria é rei.

Ainda assim, vale destacar que “diversas empresas vêm pesquisando novos tipos de bateria que possam substituí-las”, descartando a necessidade de um “eletrólito aquoso para propagar energia”, nosso analista explica.

Em outras palavras, a bateria deixaria sua natureza líquida para trás, se tornando sólida. A expectativa é que, assim, essa nova geração de baterias consiga apresentar o dobro da densidade de energia da tecnologia atual.

Trata-se de um progresso a ser acompanhado.

A figura de Elon Musk para a Tesla

Na seção anterior, desmistificamos a percepção popular de que Elon Musk foi o fundador da Tesla (TSLA). Ainda assim, ocupa uma figura central na gestão da companhia e, aqui, vamos nos aprofundar nesse sentido.

Mas a sua competência não era tão óbvia antes.

Até 2017, suas operações não conseguiam sair do vermelho e, para piorar, suas dívidas já eram altíssimas.

Para colocarmos em números, a empresa contraiu uma dívida de US$ 1,8 bilhão para continuar desenvolvendo seus produtos e, pela taxa de juros bastante elevada — 5% ao ano — que aceitou pagar, fica claro que a gestão não tinha saídas mais palatáveis.

Nessa situação delicada, a principal dúvida que deixava os investidores inseguros girava em torno da capacidade da companhia de entregar o ritmo de produção que prometera.

“Recomendá-la naquele instante me parecia mais um ato de fé”, aponta Piccioni.

Então, a genialidade de Musk virou o jogo: até 2019, a Tesla (TSLA) não apenas bateu suas metas, como superou todos os resultados posteriores.

Nesse ínterim, “o Model 3 se tornou o principal produto da marca, com vendas que superaram as 300 mil unidades e impulsionaram o faturamento de US$ 11,7 bilhões em 2017 para US$ 24 bilhões em 2019”, evidencia Piccioni.

Model 3

Model 3 protagoniza a linha de automóveis da Tesla

Além do salto no faturamento, esse desenlace fez com que a companhia conseguisse atingir o seu primeiro lucro operacional e o mercado, é claro, adorou:

Cotação de TSLA entre 2019 e 2021

De 2017 a 2018, TSLA subiu 45,79%; contra mais de 1.200% em 2019/2020

Mas, além da boa execução estratégica, Musk também se envolve em polêmicas midiáticas por meio, principalmente, da sua conta no Twitter. Isso, em maior ou menor grau, gera mais instabilidade para os ativos da big tech.

Em 2018, por exemplo, ele sugeriu que poderia fechar o capital da Tesla (TSLA) e que já teria os recursos para fazer isso. O problema mais gritante nesse episódio é que ele informou que pagaria US$ 420 dólares por ação, mas, na época, ela valia cerca de US$ 340.

Então, nós presenciamos um efeito manada sobre as ações da Tesla, que dispararam até terem suas negociações suspensas pela SEC (órgão regulador dos EUA equivalente à CVM).

A conclusão do evento foi que, após a retomada das negociações de TSLA, os investidores voltaram às compras e levaram as ações ao patamar dos 380 dólares, ou seja, uma valorização diária de 11%.

Ainda que a oscilação, neste caso, tenha sido positiva, pode ser que a próxima interferência não cause o mesmo efeito, o que é possível quando levamos em conta a postura de Musk em outros episódios, desde o ataque ao mergulhador que resgatou os adolescentes presos na caverna da Tailândia; até o apoio aberto ao movimento da GameStop.

Por fim, vale destacar que Musk desbancou, recentemente, Jeff Bezos como o homem mais rico do mundo e parte disso é reflexo da sua boa gestão na Tesla.

A tese que (quase) propõe TSLA no seu portfólio

A Tesla ganhou a confiança do mercado quando conseguiu dar a volta por cima e sair do vermelho. Nos últimos dois anos, a ação conquistou uma valorização brutal que garantiu fortuna a muitos investidores.

Cotação de TSLA entre 2010 e 2021

Desde 2010, TSLA cresceu mais de 20.000%; mas o protagonismo está em 2020/2021

Analisando o gráfico acima, podemos ter a sensação de que TSLA sempre foi um ótimo ativo, muito digno do seu investimento. Em 2020 mesmo, as ações da big tech lideraram o ranking do S&P 500, ou seja, foi a ação que mais se valorizou em uma disputa que contempla as quinhentas maiores empresas dos EUA.

E, quando traduzimos para o mercado de atuação da Tesla, o resultado é significativo: ela “vendeu mais de 499 mil carros, o que representa uma participação de 4,2% no mercado americano”, aponta Piccioni.

Mas devemos ter em mente que os riscos desse investimento foram diretamente proporcionais ao seu êxito, ou seja, a compra das ações da Tesla era — e ainda é — bastante arriscada.

O que não significa, necessariamente, que precisamos ficar de fora da festa.

Nós, aqui na Empiricus, gostamos de Tesla (TSLA), mas não a ponto de comprá-la diretamente (ou mesmo seu BDR, a TSLA34).

Para surfarmos nos pontos altos da companhia ao mesmo tempo em que nos protegemos de seus pontos baixos, Piccioni trouxe a solução por meio de seus relatórios: o ETF da gestora ARK Invest, intitulado como ARKK.

Ele pontua que “a gestora ARK Invest, liderada pela CIO Catherine Wood, tem uma visão bastante construtiva para a Tesla. Para a Ark, a companhia está bem à frente da concorrência no desenvolvimento do sistema de piloto automático e na produção das baterias”.

Esse voto de confiança — que conta com uma profunda análise por trás — fica bem evidente quando analisamos a alocação dos recursos do fundo:

Portfólio da ARK Invest

TSLA é a maior posição do ARKK

“O fundo negociado tem, como tese principal, investir em inovações disruptivas, ou seja, produtos e/ou serviços que possuem potencial para gerar mudanças consideráveis no dia a dia da sociedade”, explica Piccioni.

Trata-se, portanto, de uma forma mais segura de se engajar no desempenho da Tesla, enquanto também aproveita a rentabilidade de outras empresas, desde Intellia Therapeutics (NTLA), relacionada ao mapeamento do genoma humano, até Amazon, Netflix e Spotify.

A diferença entre o remédio e o veneno está na dose

As finanças da Tesla finalmente saíram do vermelho e o CEO se mostra bastante competente, ainda que polêmico. A dúvida que surge, então, é se há mais motivos para dosar TSLA no nosso portfólio.

Para sermos sucintos, são dois motivos: i) forte concorrência; e ii) viabilidade econômica e internacional duvidosa.

Agora, vamos nos aprofundar em ambos.

Algumas seções atrás, nós contamos que muitas empresas estão conduzindo pesquisas sobre baterias mais eficientes, se lembra?

Pois bem, a Apple é uma delas.

A empresa, de acordo com uma reportagem da agência Reuters, está desenvolvendo um novo tipo de bateria (uma única célula combinada a uma mistura química de fosfato de ferro e lítio) que seria capaz de cortar custos de produção e promover mais eficiência para o seu — veja só você — projeto de veículo autônomo (iCar ou Apple Car).

Em negociação com a Hyundai Motor, a Apple planeja manufaturar os carros em uma fábrica da Kia, na qual a Hyundai detém 33% de participação, ou criar uma joint venture (empresa da qual ela dividiria a participação acionária com a Hyundai) para adquirir o parque industrial.

Foto conceitual de um iCar ou Apple Car

O objetivo é ambicioso: apresentar um protótipo em 2022 e produzir 100 mil carros até 2024

Estamos falando, portanto, de um rival com muito dinheiro e uma marca envolta em um prestígio muito superior à montadora de Elon Musk.

Para agravar a adversidade, “o projeto conta, no momento, com três ex-executivos da Tesla para o desenvolvimento de hardware e software de direção autônoma, e ainda dispõe de outros gerentes que já trabalharam na Nasa, Google, Aston Martin, Bentley, Jaguar, Land Rover e BlackBerry”.

E, indo além da Apple, precisamos considerar que as outras grandes montadoras — que possuem uma escala muito maior e presença consolidada em países emergentes — já conduzem projetos de carros elétricos.

Dessa forma, a competitividade desse mercado gira em torno de inúmeros players, desde Volkswagen e Toyota até a citada Apple.

Em síntese, ninguém vai entregar a bola tão fácil assim. A briga é de gente grande e a Tesla não pode mais se dar ao luxo de pisar em falso.

Sobre o segundo ponto de atenção de TSLA, vemos um cenário complicado para a Tesla tanto nos Estados Unidos quanto fora dele…

No ambiente doméstico, os subsídios oferecidos pelo governo americano para a compra de automóveis elétricos expirou em 2020.

No ambiente internacional, temos a construção em tempo recorde de sua Gigafactory na China, mas “a dinâmica de mercado no país asiático não é das melhores no momento, com quedas nas vendas de veículos elétricos nos últimos meses”, pontua Piccioni.

E por que não pensar em Tesla no Brasil?

A questão da infraestrutura deverá ser a maior dificuldade da empresa quando o assunto é vender seus carros fora dos EUA. As coisas funcionam diferentemente no Terceiro Mundo.

Piccioni ilustra: “como apostar em veículos autônomos em países que nem sequer possuem estradas pavimentadas? Já imaginaram um comboio de caminhões autônomos na BR-163, que liga o Mato Grosso ao Amazonas?”

Trecho da BR-163

Eis um trecho da BR-163

Não por acaso, “a companhia continuará sofrendo questionamentos acerca da viabilidade econômica [de seus projetos]” e TSLA se configura como “uma das ações com mais posições short nas Bolsas americanas”, afirma Piccioni.

Antes de prosseguir, vale um adendo explicativo: a posição short é uma aposta, por parte dos investidores, na queda dos preços.

Isso significa que tem muita gente acreditando na queda da Tesla.

Portanto, João Piccioni conclui sua tese de investimentos sobre Tesla (TSLA) com uma proposta de participação indireta por meio do ETF ARKK, para que o investimento seja mais seguro para você, investidor.

Ele cita que “não é por que o futuro se mostra promissor, que o preço das ações subirão. Precisamos completar nosso raciocínio e responder a uma série de perguntas, como, por exemplo, se a psicologia envolvida no consenso de mercado não está extremamente “bullish” (otimista) com a ação”.

Do ponto de vista dele, está. Mas, nem por isso, devemos deixar de olhar ao redor.

“A cada dia que passa, a tecnologia para produção em massa dos carros elétricos fica mais barata e os volumes aumentam substancialmente. Isso significa que, talvez, devêssemos expandir o foco e olhar a cadeia dessa indústria com mais atenção. Vamos pensar nisso”, ele conclui.