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As bolsas globais iniciaram a semana em terreno positivo, acompanhando o movimento de recuperação visto no fim da sessão anterior em Wall Street e sustentadas pelo aumento das apostas de que o Federal Reserve poderá cortar juros já em dezembro. O tom mais construtivo reflete-se no avanço do MSCI Ásia-Pacífico, na alta dos futuros do S&P 500 e na probabilidade superior a 70% de redução da taxa básica nos EUA, após declarações mais dovish de John Williams, presidente do Fed de Nova York, que voltou a admitir espaço para flexibilização no curto prazo. Apesar da volatilidade observada em ativos como o Bitcoin e algumas moedas emergentes, o mercado entra na semana ancorado por uma agenda importante lá fora, que vai desde dados de vendas no varejo, IPP e bens duráveis, até os últimos resultados corporativos da temporada.
Mesmo assim, o pano de fundo permanece delicado. O setor de tecnologia segue pressionado após semanas de realização, enquanto gestores adotam uma postura mais defensiva, reduzindo risco. No exterior, a economia chinesa exibe sinais de desaceleração estrutural; a Europa enfrenta um quadro persistente de estagnação; e o ambiente geopolítico continua carregado, com negociações sensíveis entre Rússia e Ucrânia que já repercutem sobre os preços do petróleo. A semana, encurtada pelo feriado de Ação de Graças, tende a reduzir a liquidez e aumentar a sensibilidade do mercado a qualquer surpresa vinda dos dados macroeconômicos. Assim, mesmo com o início mais positivo, o cenário ainda exige cautela: a visibilidade permanece limitada, a volatilidade está elevada e qualquer frustração pode rapidamente inverter o humor.
· 00:56 — Novos atritos em Brasília
Por aqui, o Ibovespa encerrou a semana passada devolvendo parte dos ganhos recentes, após ter alcançado, na primeira metade de novembro, a maior sequência de altas desde os anos 1990 — 15 pregões consecutivos no positivo. A virada veio com quatro quedas seguidas, a pior sequência desde julho. Movimentos de correção são naturais e, embora desconfortáveis no curto prazo, ajudam a conferir maior solidez ao ciclo como um todo. Para esta semana, a agenda doméstica ganha densidade, com a divulgação de novos dados fiscais, falas de autoridades monetárias, a prévia da inflação de novembro e indicadores de emprego. Esses números — especialmente os de trabalho — serão essenciais para calibrar as expectativas em relação à trajetória da Selic. Caso inflação e atividade venham mais fracas, aumentam as chances de um corte já em janeiro, com possível mudança de tom na comunicação do Copom em dezembro. Nada disso, porém, altera o fato central: o quadro fiscal segue desorganizado e permanece como o principal fator que mantém o juro elevado.
Nesse contexto, o novo Relatório Bimestral reduziu o bloqueio de despesas discricionárias do Orçamento de 2025 de R$ 12,1 bilhões para R$ 7,7 bilhões. Mesmo após criar centenas de bilhões de reais em exceções ao arcabouço fiscal, o governo segue recorrendo a receitas não recorrentes — e, portanto, insustentáveis — para tentar alcançar o piso da meta, equivalente a um déficit de 0,25% do PIB. A realidade é que não há perspectiva de melhora estrutural antes de 2027, depois das eleições. Até lá, entre 2023 e 2026, aproximadamente R$ 390 bilhões em despesas terão sido artificialmente excluídas da meta, corroendo ainda mais a credibilidade da regra fiscal, que deverá ser revisada independentemente de quem vença o pleito de 2026.
No ambiente político, o fim de semana adicionou um novo elemento de tensão: o ex-presidente Jair Bolsonaro foi preso preventivamente, num episódio que amplia o grau de incerteza às vésperas de um ciclo eleitoral que tende a ser intenso e polarizado. O caso pode acelerar a reorganização da oposição e favorecer a ascensão de uma liderança mais competitiva, capaz de articular um discurso reformista. Em paralelo, o governo enfrenta novos desgastes em Brasília. Após desentendimentos com a Câmara durante a votação da Lei Antifacção, agora é o Senado que eleva o tom após a indicação de Jorge Messias ao STF, contrariando as preferências de figuras centrais do Legislativo. A sucessão de atritos reforça um cenário em que o Executivo encerra o ano politicamente desidratado, com relações frágeis no Congresso e maior dificuldade para avançar sua agenda justamente no limiar de um ano eleitoral.
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· 01:47 — Uma realidade mais fragmentada
A COP30, sediada pelo Brasil, encerrou-se abaixo das expectativas e com a clara percepção de que o país perdeu uma oportunidade rara de exercer liderança global no debate climático. Em vez de promover consensos amplos para atacar as causas centrais da crise ambiental, o encontro acabou fragmentado em diversas coalizões temáticas menores, dinâmica agravada pela ausência inédita dos EUA, que enfraqueceu o multilateralismo e reduziu o peso político da conferência. Houve iniciativas relevantes — como o esforço para triplicar o financiamento climático e o lançamento de um novo fundo internacional para florestas tropicais, com aportes iniciais de Alemanha, Noruega, França, Indonésia e Brasil — mas os valores ficaram aquém das necessidades globais e sem clareza sobre a origem dos recursos futuros. Paralelamente, o rascunho final da declaração conjunta não conseguiu avançar na transição energética. A resistência de grandes produtores de petróleo barrou qualquer menção explícita à redução de combustíveis fósseis, frustrando países e entidades que esperavam metas mais ambiciosas e um plano global de descarbonização.
No âmbito doméstico, a conferência também deixou a desejar. Problemas logísticos, falhas de infraestrutura, falta de alimentação e um incêndio na área central do evento, entre outras coisas, reforçaram as críticas da ONU e comprometeram a imagem do Brasil como anfitrião. Assim, embora a COP30 tenha mantido o diálogo climático vivo e preservado algum nível de articulação internacional com espírito multilateral, entregou pouco: gerou frustração, produziu compromissos limitados e expôs um cenário global fragmentado, em que consensos se tornam cada vez mais difíceis. Ainda há espaço para avanços durante a presidência brasileira da COP ao longo dos próximos meses, mas a janela estratégica oferecida pelo evento em si já se fechou — e o Brasil deixou escapar uma chance valiosa de liderar o debate climático com ambição e consistência.
· 02:39 — Espaço para recuperação?
As bolsas americanas encerraram a semana passada com um movimento de recuperação, marcado por amplitude ampla e um retorno consistente do apetite por risco. Esse impulso veio tanto do reposicionamento técnico quanto da reprecificação das expectativas de política monetária: declarações do presidente do Fed de Nova York sugerindo espaço para novos ajustes reforçaram a tese de um possível corte de juros já em dezembro, fazendo as probabilidades saltarem de 39% para cerca de 70%. Mesmo assim, as ações diretamente ligadas ao tema de IA seguiram pressionadas, com quedas em Nvidia, Microsoft e Oracle, enquanto a Alphabet destoou com alta de 3,5%, impulsionada pelo avanço do seu novo modelo de IA, o Gemini 3.
No pano de fundo macro, porém, o mercado continua operando com baixa visibilidade devido ao apagão estatístico nos EUA: os relatórios oficiais de emprego e inflação de outubro foram cancelados pela administração Trump, deixando investidores sem referências essenciais às vésperas da próxima decisão do Fed. Os dados disponíveis reforçam a perda de tração da economia — desemprego em 4,4%, inflação ainda em 3% e confiança do consumidor no pior nível desde 2009 — ampliando a incerteza sobre os próximos movimentos da política monetária. No cenário internacional, o padrão se repete: ativos continuam premiando empresas de maior qualidade e exposição ao ciclo de inteligência artificial, mas a combinação de liquidez mais escassa, valuations exigentes e riscos táticos elevados mantém o mercado sensível.
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· 03:23 — Alcançando uma nova marca histórica
A Eli Lilly acaba de alcançar um marco histórico: ultrapassou o valor de mercado de US$ 1 trilhão, impulsionada sobretudo pelo extraordinário desempenho de seus medicamentos baseados em GLP-1 para obesidade e diabetes — em especial Zepbound e Mounjaro, que já respondem por mais da metade da receita trimestral da companhia. A consolidação dessa liderança decorre, em parte, das dificuldades de abastecimento enfrentadas pela rival Novo Nordisk, o que permitiu à Lilly ocupar rapidamente espaço relevante em um mercado estimado em US$ 72 bilhões. Desde 2023, suas ações acumulam alta superior a 75%. Esse avanço não é fortuito: reflete os resultados de uma profunda reestruturação interna de pesquisa e desenvolvimento realizada ao longo da última década, após sucessivas apostas frustradas, e que hoje sustenta a posição dominante da empresa no segmento de terapias metabólicas.
O próximo grande catalisador pode ampliar ainda mais essa vantagem competitiva. Trata-se do orforglipron, o GLP-1 em comprimido desenvolvido pela companhia, que não exige jejum — uma conveniência relevante frente às alternativas existentes — e que pode superar em eficácia e praticidade os medicamentos atuais. A empresa pretende solicitar a aprovação do FDA até o fim deste ano e lançar o produto comercialmente em 2026. As projeções são ambiciosas: há estimativas de que o fármaco possa gerar até US$ 40 bilhões anuais em seu auge. Com uma capitalização de mercado que já supera com folga a da Johnson & Johnson — sua concorrente americana mais próxima — a Eli Lilly se consolida como uma das empresas mais influentes, lucrativas e estrategicamente bem posicionadas do setor global de saúde.
· 04:11 — O destaque italiano
A Câmara da França rejeitou as últimas alterações no orçamento, enviando ao Senado uma proposta praticamente intacta. Para quem acompanha a política fiscal francesa, o movimento não chega a surpreender: a combinação de uma Constituição que permite manobras complexas e a ausência de maioria governamental cria um processo legislativo intrincado, que acaba gerando diversos impasses — ainda que distante de qualquer risco de “shutdown” à moda americana, algo impensável no sistema francês.
Enquanto Paris patina, Roma avança. A Itália conquistou sua primeira elevação de rating pela Moody’s em mais de duas décadas, encerrando um período prolongado em que o país flertou com o grau especulativo. A nota de crédito subiu para Baa2 com perspectiva estável, refletindo o avanço do governo de Giorgia Meloni na consolidação fiscal: redução do déficit para o teto de 3% do PIB já neste ano, estabilização gradual da segunda maior dívida pública da Europa e uma agenda disciplinada de contas públicas. A Moody’s projeta que o endividamento italiano começará a recuar de forma sustentável a partir de 2027 — um reconhecimento direto da capacidade de liderança de Meloni e de sua gestão fiscalmente responsável, diferenciada no mundo atual.
· 05:05 — Avançando em ritmo acelerado
A Alphabet atravessa um momento de forte entusiasmo no mercado, refletido na impressionante valorização de quase 77% de suas ações nos últimos seis meses e na conquista de um marco relevante: a superação da Microsoft como a terceira empresa mais valiosa dos EUA. Esse avanço foi impulsionado pelo lançamento do Gemini 3, novo modelo de inteligência artificial que ultrapassou concorrentes — incluindo o ChatGPT — em diversos benchmarks independentes. A atualização do Nano Banana Pro, sua ferramenta de geração de imagens agora aprimorada para aplicações profissionais, reforça a percepção de que o Google voltou a ocupar o centro da corrida global de IA após um período em que investidores temiam perda de competitividade.
Os resultados financeiros mais recentes sustentam…