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Investimentos

Agenda da semana tem indicadores relevantes para Selic e mercados em alta; entenda otimismo desta segunda (24)

COP30, desempenho da IA, mercado de Mounjaro e Zepbound: veja quais eventos são destaques econômicos hoje.

Por Matheus Spiess

24 nov 2025, 09:50

Atualizado em 24 nov 2025, 09:50

bullmarket alta dos mercados

Imagem: Unsplash

As bolsas globais iniciaram a semana em terreno positivo, acompanhando o movimento de recuperação visto no fim da sessão anterior em Wall Street e sustentadas pelo aumento das apostas de que o Federal Reserve poderá cortar juros já em dezembro. O tom mais construtivo reflete-se no avanço do MSCI Ásia-Pacífico, na alta dos futuros do S&P 500 e na probabilidade superior a 70% de redução da taxa básica nos EUA, após declarações mais dovish de John Williams, presidente do Fed de Nova York, que voltou a admitir espaço para flexibilização no curto prazo. Apesar da volatilidade observada em ativos como o Bitcoin e algumas moedas emergentes, o mercado entra na semana ancorado por uma agenda importante lá fora, que vai desde dados de vendas no varejo, IPP e bens duráveis, até os últimos resultados corporativos da temporada.

Mesmo assim, o pano de fundo permanece delicado. O setor de tecnologia segue pressionado após semanas de realização, enquanto gestores adotam uma postura mais defensiva, reduzindo risco. No exterior, a economia chinesa exibe sinais de desaceleração estrutural; a Europa enfrenta um quadro persistente de estagnação; e o ambiente geopolítico continua carregado, com negociações sensíveis entre Rússia e Ucrânia que já repercutem sobre os preços do petróleo. A semana, encurtada pelo feriado de Ação de Graças, tende a reduzir a liquidez e aumentar a sensibilidade do mercado a qualquer surpresa vinda dos dados macroeconômicos. Assim, mesmo com o início mais positivo, o cenário ainda exige cautela: a visibilidade permanece limitada, a volatilidade está elevada e qualquer frustração pode rapidamente inverter o humor.

· 00:56 — Novos atritos em Brasília

Por aqui, o Ibovespa encerrou a semana passada devolvendo parte dos ganhos recentes, após ter alcançado, na primeira metade de novembro, a maior sequência de altas desde os anos 1990 — 15 pregões consecutivos no positivo. A virada veio com quatro quedas seguidas, a pior sequência desde julho. Movimentos de correção são naturais e, embora desconfortáveis no curto prazo, ajudam a conferir maior solidez ao ciclo como um todo. Para esta semana, a agenda doméstica ganha densidade, com a divulgação de novos dados fiscais, falas de autoridades monetárias, a prévia da inflação de novembro e indicadores de emprego. Esses números — especialmente os de trabalho — serão essenciais para calibrar as expectativas em relação à trajetória da Selic. Caso inflação e atividade venham mais fracas, aumentam as chances de um corte já em janeiro, com possível mudança de tom na comunicação do Copom em dezembro. Nada disso, porém, altera o fato central: o quadro fiscal segue desorganizado e permanece como o principal fator que mantém o juro elevado.

Nesse contexto, o novo Relatório Bimestral reduziu o bloqueio de despesas discricionárias do Orçamento de 2025 de R$ 12,1 bilhões para R$ 7,7 bilhões. Mesmo após criar centenas de bilhões de reais em exceções ao arcabouço fiscal, o governo segue recorrendo a receitas não recorrentes — e, portanto, insustentáveis — para tentar alcançar o piso da meta, equivalente a um déficit de 0,25% do PIB. A realidade é que não há perspectiva de melhora estrutural antes de 2027, depois das eleições. Até lá, entre 2023 e 2026, aproximadamente R$ 390 bilhões em despesas terão sido artificialmente excluídas da meta, corroendo ainda mais a credibilidade da regra fiscal, que deverá ser revisada independentemente de quem vença o pleito de 2026.

No ambiente político, o fim de semana adicionou um novo elemento de tensão: o ex-presidente Jair Bolsonaro foi preso preventivamente, num episódio que amplia o grau de incerteza às vésperas de um ciclo eleitoral que tende a ser intenso e polarizado. O caso pode acelerar a reorganização da oposição e favorecer a ascensão de uma liderança mais competitiva, capaz de articular um discurso reformista. Em paralelo, o governo enfrenta novos desgastes em Brasília. Após desentendimentos com a Câmara durante a votação da Lei Antifacção, agora é o Senado que eleva o tom após a indicação de Jorge Messias ao STF, contrariando as preferências de figuras centrais do Legislativo. A sucessão de atritos reforça um cenário em que o Executivo encerra o ano politicamente desidratado, com relações frágeis no Congresso e maior dificuldade para avançar sua agenda justamente no limiar de um ano eleitoral.

· 01:47 — Uma realidade mais fragmentada

A COP30, sediada pelo Brasil, encerrou-se abaixo das expectativas e com a clara percepção de que o país perdeu uma oportunidade rara de exercer liderança global no debate climático. Em vez de promover consensos amplos para atacar as causas centrais da crise ambiental, o encontro acabou fragmentado em diversas coalizões temáticas menores, dinâmica agravada pela ausência inédita dos EUA, que enfraqueceu o multilateralismo e reduziu o peso político da conferência. Houve iniciativas relevantes — como o esforço para triplicar o financiamento climático e o lançamento de um novo fundo internacional para florestas tropicais, com aportes iniciais de Alemanha, Noruega, França, Indonésia e Brasil — mas os valores ficaram aquém das necessidades globais e sem clareza sobre a origem dos recursos futuros. Paralelamente, o rascunho final da declaração conjunta não conseguiu avançar na transição energética. A resistência de grandes produtores de petróleo barrou qualquer menção explícita à redução de combustíveis fósseis, frustrando países e entidades que esperavam metas mais ambiciosas e um plano global de descarbonização.

No âmbito doméstico, a conferência também deixou a desejar. Problemas logísticos, falhas de infraestrutura, falta de alimentação e um incêndio na área central do evento, entre outras coisas, reforçaram as críticas da ONU e comprometeram a imagem do Brasil como anfitrião. Assim, embora a COP30 tenha mantido o diálogo climático vivo e preservado algum nível de articulação internacional com espírito multilateral, entregou pouco: gerou frustração, produziu compromissos limitados e expôs um cenário global fragmentado, em que consensos se tornam cada vez mais difíceis. Ainda há espaço para avanços durante a presidência brasileira da COP ao longo dos próximos meses, mas a janela estratégica oferecida pelo evento em si já se fechou — e o Brasil deixou escapar uma chance valiosa de liderar o debate climático com ambição e consistência.

· 02:39 — Espaço para recuperação?

As bolsas americanas encerraram a semana passada com um movimento de recuperação, marcado por amplitude ampla e um retorno consistente do apetite por risco. Esse impulso veio tanto do reposicionamento técnico quanto da reprecificação das expectativas de política monetária: declarações do presidente do Fed de Nova York sugerindo espaço para novos ajustes reforçaram a tese de um possível corte de juros já em dezembro, fazendo as probabilidades saltarem de 39% para cerca de 70%. Mesmo assim, as ações diretamente ligadas ao tema de IA seguiram pressionadas, com quedas em Nvidia, Microsoft e Oracle, enquanto a Alphabet destoou com alta de 3,5%, impulsionada pelo avanço do seu novo modelo de IA, o Gemini 3.

No pano de fundo macro, porém, o mercado continua operando com baixa visibilidade devido ao apagão estatístico nos EUA: os relatórios oficiais de emprego e inflação de outubro foram cancelados pela administração Trump, deixando investidores sem referências essenciais às vésperas da próxima decisão do Fed. Os dados disponíveis reforçam a perda de tração da economia — desemprego em 4,4%, inflação ainda em 3% e confiança do consumidor no pior nível desde 2009 — ampliando a incerteza sobre os próximos movimentos da política monetária. No cenário internacional, o padrão se repete: ativos continuam premiando empresas de maior qualidade e exposição ao ciclo de inteligência artificial, mas a combinação de liquidez mais escassa, valuations exigentes e riscos táticos elevados mantém o mercado sensível.

· 03:23 — Alcançando uma nova marca histórica

A Eli Lilly acaba de alcançar um marco histórico: ultrapassou o valor de mercado de US$ 1 trilhão, impulsionada sobretudo pelo extraordinário desempenho de seus medicamentos baseados em GLP-1 para obesidade e diabetes — em especial Zepbound e Mounjaro, que já respondem por mais da metade da receita trimestral da companhia. A consolidação dessa liderança decorre, em parte, das dificuldades de abastecimento enfrentadas pela rival Novo Nordisk, o que permitiu à Lilly ocupar rapidamente espaço relevante em um mercado estimado em US$ 72 bilhões. Desde 2023, suas ações acumulam alta superior a 75%. Esse avanço não é fortuito: reflete os resultados de uma profunda reestruturação interna de pesquisa e desenvolvimento realizada ao longo da última década, após sucessivas apostas frustradas, e que hoje sustenta a posição dominante da empresa no segmento de terapias metabólicas.

O próximo grande catalisador pode ampliar ainda mais essa vantagem competitiva. Trata-se do orforglipron, o GLP-1 em comprimido desenvolvido pela companhia, que não exige jejum — uma conveniência relevante frente às alternativas existentes — e que pode superar em eficácia e praticidade os medicamentos atuais. A empresa pretende solicitar a aprovação do FDA até o fim deste ano e lançar o produto comercialmente em 2026. As projeções são ambiciosas: há estimativas de que o fármaco possa gerar até US$ 40 bilhões anuais em seu auge. Com uma capitalização de mercado que já supera com folga a da Johnson & Johnson — sua concorrente americana mais próxima — a Eli Lilly se consolida como uma das empresas mais influentes, lucrativas e estrategicamente bem posicionadas do setor global de saúde.

· 04:11 — O destaque italiano

A Câmara da França rejeitou as últimas alterações no orçamento, enviando ao Senado uma proposta praticamente intacta. Para quem acompanha a política fiscal francesa, o movimento não chega a surpreender: a combinação de uma Constituição que permite manobras complexas e a ausência de maioria governamental cria um processo legislativo intrincado, que acaba gerando diversos impasses — ainda que distante de qualquer risco de “shutdown” à moda americana, algo impensável no sistema francês.

Enquanto Paris patina, Roma avança. A Itália conquistou sua primeira elevação de rating pela Moody’s em mais de duas décadas, encerrando um período prolongado em que o país flertou com o grau especulativo. A nota de crédito subiu para Baa2 com perspectiva estável, refletindo o avanço do governo de Giorgia Meloni na consolidação fiscal: redução do déficit para o teto de 3% do PIB já neste ano, estabilização gradual da segunda maior dívida pública da Europa e uma agenda disciplinada de contas públicas. A Moody’s projeta que o endividamento italiano começará a recuar de forma sustentável a partir de 2027 — um reconhecimento direto da capacidade de liderança de Meloni e de sua gestão fiscalmente responsável, diferenciada no mundo atual.

· 05:05 — Avançando em ritmo acelerado

A Alphabet atravessa um momento de forte entusiasmo no mercado, refletido na impressionante valorização de quase 77% de suas ações nos últimos seis meses e na conquista de um marco relevante: a superação da Microsoft como a terceira empresa mais valiosa dos EUA. Esse avanço foi impulsionado pelo lançamento do Gemini 3, novo modelo de inteligência artificial que ultrapassou concorrentes — incluindo o ChatGPT — em diversos benchmarks independentes. A atualização do Nano Banana Pro, sua ferramenta de geração de imagens agora aprimorada para aplicações profissionais, reforça a percepção de que o Google voltou a ocupar o centro da corrida global de IA após um período em que investidores temiam perda de competitividade.

Os resultados financeiros mais recentes sustentam…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.