Imagem: iStock.com/Dilok Klaisataporn
Os mercados internacionais começaram o dia próximos da neutralidade, refletindo a ausência dos Estados Unidos, que seguem fechados pelo feriado de Ação de Graças — um evento que reduz de forma expressiva a liquidez global e limita a disposição dos investidores em assumir novas posições. Depois de algumas sessões seguidas de alta nos ativos de risco, o tom predominante passou a ser de maior comedimento, ainda que o sentimento geral continue ancorado na crescente probabilidade de um corte de juros pelo Federal Reserve em dezembro. As bolsas europeias e asiáticas acompanharam essa sustentação, e o Bitcoin voltou a ultrapassar os US$ 90 mil após a correção recente, beneficiando-se do ambiente de menor aversão ao risco.
Na Ásia, porém, o quadro permanece assimétrico: enquanto a China segue pressionada pela fragilidade persistente de seu setor imobiliário, o Japão avança com a preparação de um robusto pacote de estímulo fiscal. Já na Europa, o mercado opera com leve viés positivo diante da possibilidade de avanços nas negociações de paz entre Rússia e Ucrânia. Nas commodities, o petróleo mantém-se estável em meio ao volume reduzido de negociações e ao aumento inesperado dos estoques americanos.
· 00:57 — Novas máximas
Por aqui, o Ibovespa renovou máximas ontem aos 158.555 pontos, enquanto o dólar recuou para R$ 5,34, em um pregão marcado pelo maior apetite global por risco diante da crescente probabilidade de corte de juros nos EUA. O ambiente começa a se aproximar de um cenário raro e poderoso para ativos de risco: um ciclo sincronizado de flexibilização monetária no Brasil e no exterior — algo que não ocorre desde 2019, ano que marcou um dos melhores desempenhos da década para os mercados. Se, a isso, somarmos a ausência de recessão e a possibilidade de um rali eleitoral ancorado em propostas de política econômica mais reformistas, estamos diante de um contexto potencialmente transformacional para os próximos anos. Nesse sentido, o discurso desta semana de Tarcísio de Freitas em evento de grande banco internacional em São Paulo, afirmando que a oposição apresentará um projeto de desenvolvimento para disputar o Planalto em 2026, ganhou atenção dos investidores: caso haja competitividade para uma agenda reformista, o mercado tende a se animar ainda mais.
Do lado macro, o IPCA-15 de novembro subiu 0,20% — ligeiramente acima do esperado — mas manteve a desaceleração da inflação anual para 4,50%, dentro do teto da meta e com dinâmica interna favorável: núcleos comportados, alívio em alimentos e bens industriais e pressões residuais concentradas em serviços intensivos em mão de obra. A leitura, apesar do pequeno desvio, reforçou a percepção de que há espaço para o início do ciclo de cortes da Selic em janeiro, possivelmente até com uma redução de 50 pontos-base, dependendo da evolução dos dados e da comunicação das autoridades monetárias nas próximas semanas. Com isso, o clima mais positivo em Wall Street ajudou a amplificar esse movimento positivo doméstico, sustentando a continuidade do rali local e empurrando o Ibovespa para perto dos 160 mil pontos.
Na agenda doméstica, o IGP-M de novembro veio levemente abaixo do esperado, enquanto o Caged de outubro deve mostrar criação de cerca de 120 mil vagas — bem abaixo das 213 mil observadas em setembro — sugerindo perda de fôlego do mercado de trabalho, hoje considerado um dos principais vetores de pressão inflacionária pelo Banco Central. Se o arrefecimento se confirmar, o mercado tende a reforçar as apostas de corte no primeiro Copom de 2026. Além disso, investidores acompanham nova fala de Galípolo, que segue como peça-chave no direcionamento das expectativas, e aguardam o novo plano estratégico da Petrobras para 2026–2030, que deve trazer um nível de investimentos ligeiramente inferior ao do ciclo atual.
- Onde investir neste mês? Veja 5 ações com bons dividendos para buscar lucros na bolsa de valores brasileira. Baixe o relatório gratuito aqui.
· 01:46 — Calma no meio do feriado
Nos EUA, na véspera do feriado de Ação de Graças — que mantém os mercados fechados hoje —, o Livro Bege do Federal Reserve apresentou um quadro de estabilidade, porém permeado por sinais de enfraquecimento. Varejistas e fabricantes seguem pressionados pelo aumento de custos decorrente das tarifas; o mercado de trabalho continua sem tração significativa; e o padrão de consumo evidencia uma divisão clara entre famílias de alta renda, que seguem gastando, e a maioria da população, que tem reduzido despesas. Em síntese, a atividade continua moderando.
Com esse conjunto de indicadores, o mercado passou a precificar entre 80% e 85% de probabilidade de um corte adicional de juros em dezembro, apoiado por declarações mais dovish de dirigentes do Fed e pela queda acentuada da confiança do consumidor.
Ainda assim, o cenário à frente segue delicado. O Fed permanece dividido entre o risco de uma inflação que ainda roda acima da meta e os sinais de arrefecimento do mercado de trabalho — um dilema agravado pelo atraso na divulgação de dados após o shutdown. Com o PCE básico ainda em torno de 2,8% e projeções de crescimento acima da tendência, a instituição tende a adotar cautela adicional em 2025, especialmente diante da troca iminente na presidência do banco central. Se a fraqueza do mercado de trabalho persistir, há espaço para cortes graduais ao longo do próximo ano; por ora, no entanto, o corte de dezembro segue como o principal catalisador do otimismo que tem sustentado os mercados globais nas últimas semanas.
· 02:33 — Sinais de paz
Embora ainda envoltos em fragilidade e incertezas, alguns avanços diplomáticos importantes começaram a emergir em conflitos de longa duração, impulsionados pela mediação direta dos EUA sob a liderança de Trump. Na África Central, a República Democrática do Congo e os rebeldes do M23 — apoiados por Ruanda — retomaram o diálogo e assinaram no Catar o acordo de paz mais substancial em muitos anos. No Cáucaso, Armênia e Azerbaijão alcançaram um entendimento político para encerrar o conflito de Nagorno-Karabakh, que se arrastava havia quase quatro décadas.
E, no Oriente Médio, Israel e Hamas concordaram com a primeira fase de um cessar-fogo em Gaza que, ainda que limitado e repleto de desafios para a etapa seguinte, abriu uma rara janela para o envio de ajuda humanitária e para negociações mais amplas sobre o futuro do enclave. O próximo avanço pode vir de um eventual acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. Caso se concretize, será possível dizer que, apesar de ruídos persistentes, alguns dos conflitos que vinham agravando o ambiente geopolítico e ampliando o risco global começam, enfim, a perder intensidade — contribuindo para um cenário internacional menos turvo e menos belicista.
- Onde investir neste mês? Veja 10 ações em diferentes setores da economia para buscar lucros. Baixe o relatório gratuito aqui.
· 03:29 — O pacote fiscal britânico
A ministra das Finanças do Reino Unido, Rachel Reeves, apresentou um orçamento que busca reafirmar o compromisso do governo com a disciplina fiscal ao mesmo tempo em que procura atender às expectativas internas do Partido Trabalhista. Diante de um déficit de £20 bilhões — ampliado por decisões de política recentes e pelo ambiente econômico pós-pandemia —, Reeves anunciou um robusto pacote de aumentos de impostos que deverá somar £26 bilhões até 2030-31. A medida faz parte de um esforço mais amplo para recuperar a credibilidade fiscal, ampliar o espaço orçamentário e tentar reverter o ciclo de estagnação que marca a economia britânica.
Somadas aos £41,2 bilhões já anunciados no ano anterior, essas iniciativas tornam esta legislatura a que mais elevou a carga tributária desde os anos 1970. Cerca de 1,7 milhão de contribuintes serão diretamente afetados, com aumentos incidindo sobre investimentos, rendimentos de poupança, dividendos e grandes propriedades. O caso britânico ilustra um padrão mais amplo: praticamente todos os governos buscam reequilibrar suas contas após os excessos fiscais do período pandêmico, mas poucos parecem dispostos a abrir mão de suas respectivas zonas de conforto — um lembrete de que o ajuste, embora inevitável, raramente encontra defensores entusiasmados.
· 04:14 — Tensão no Sul da Ásia
A disputa pela água voltou ao centro das tensões geopolíticas no Sul da Ásia, região onde grandes rios transfronteiriços moldam não apenas a geografia, mas também a estabilidade política. O anúncio de novas barragens pelo Afeganistão no rio Kabul reacendeu fricções com o Paquistão, enquanto protestos em Bangladesh refletiram o descontentamento popular com a influência da Índia sobre o fluxo do rio Teesta. Nova Délhi, por sua vez, mantém suspenso o Tratado das Águas do Indo com Islamabad após novos atritos na Caxemira e observa com preocupação crescente o plano da China de construir, no alto curso do Brahmaputra, o que pode vir a ser a maior barragem do mundo — um projeto com potencial para alterar o abastecimento hídrico de países, além de gerar impactos profundos sobre ecossistemas altamente sensíveis.
Esse quadro se torna ainda mais desafiador à medida que a demanda por energia hidrelétrica cresce e os fluxos dos rios se tornam mais erráticos devido às mudanças climáticas. A instabilidade no regime hídrico afeta diretamente os meios de subsistência de cerca de 2 bilhões de pessoas que dependem dessas bacias, ampliando o risco de que disputas técnicas evoluam para conflitos políticos mais amplos. Em teoria, maior cooperação regional seria o caminho natural para mitigar riscos; na prática, porém, a partilha de águas permanece um tema intrincado em uma região marcada por rivalidades históricas, baixa confiança mútua e agendas nacionais conflitantes.
· 05:01 — A nova corrida espacial não é da NASA — é do Pentágono
O programa “Golden Dome”, apresentado em maio, avança como a aposta mais ambiciosa dos Estados Unidos na construção de uma nova geração de escudos antimísseis, integrando sensores espaciais, redes avançadas de comunicação e interceptores capazes de neutralizar ameaças ainda nos estágios iniciais de voo. Orçado em US$ 175 bilhões e previsto para entrar em operação em 2029 — prazo considerado otimista por parte dos analistas —, o projeto já recebeu quase US$ 25 bilhões por meio do “One Big Beautiful Bill Act”. Esses recursos financiam o desenvolvimento de sensores orbitais, capacidades de interceptação e aprimoramentos de rastreamento, ao mesmo tempo em que a Força Espacial dos EUA começa a firmar contratos iniciais para a construção dos primeiros protótipos. Embora os nomes das empresas selecionadas não tenham sido oficialmente divulgados por razões de segurança, informações de bastidores indicam a participação de grandes players como Northrop Grumman, Lockheed Martin, Anduril e da emergente True Anomaly.
De acordo com a Força Espacial, o processo de…