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Investimentos

Apetite pelo corte de juros segue impulsionando bolsas globais e Ibovespa renova máximas; veja o que deve ser destaque nesta quinta (27)

Com mercados na neutralidade em meio ao dia de Ação de Graças, bolsas europeias e asiáticas acompanham sustentação americana e Bitcoin torna a subir.

Por Matheus Spiess

27 nov 2025, 09:41

Atualizado em 27 nov 2025, 09:41

mercado eua usa bolsas dolar

Imagem: iStock.com/Dilok Klaisataporn

Os mercados internacionais começaram o dia próximos da neutralidade, refletindo a ausência dos Estados Unidos, que seguem fechados pelo feriado de Ação de Graças — um evento que reduz de forma expressiva a liquidez global e limita a disposição dos investidores em assumir novas posições. Depois de algumas sessões seguidas de alta nos ativos de risco, o tom predominante passou a ser de maior comedimento, ainda que o sentimento geral continue ancorado na crescente probabilidade de um corte de juros pelo Federal Reserve em dezembro. As bolsas europeias e asiáticas acompanharam essa sustentação, e o Bitcoin voltou a ultrapassar os US$ 90 mil após a correção recente, beneficiando-se do ambiente de menor aversão ao risco.

Na Ásia, porém, o quadro permanece assimétrico: enquanto a China segue pressionada pela fragilidade persistente de seu setor imobiliário, o Japão avança com a preparação de um robusto pacote de estímulo fiscal. Já na Europa, o mercado opera com leve viés positivo diante da possibilidade de avanços nas negociações de paz entre Rússia e Ucrânia. Nas commodities, o petróleo mantém-se estável em meio ao volume reduzido de negociações e ao aumento inesperado dos estoques americanos.

· 00:57 — Novas máximas

Por aqui, o Ibovespa renovou máximas ontem aos 158.555 pontos, enquanto o dólar recuou para R$ 5,34, em um pregão marcado pelo maior apetite global por risco diante da crescente probabilidade de corte de juros nos EUA. O ambiente começa a se aproximar de um cenário raro e poderoso para ativos de risco: um ciclo sincronizado de flexibilização monetária no Brasil e no exterior — algo que não ocorre desde 2019, ano que marcou um dos melhores desempenhos da década para os mercados. Se, a isso, somarmos a ausência de recessão e a possibilidade de um rali eleitoral ancorado em propostas de política econômica mais reformistas, estamos diante de um contexto potencialmente transformacional para os próximos anos. Nesse sentido, o discurso desta semana de Tarcísio de Freitas em evento de grande banco internacional em São Paulo, afirmando que a oposição apresentará um projeto de desenvolvimento para disputar o Planalto em 2026, ganhou atenção dos investidores: caso haja competitividade para uma agenda reformista, o mercado tende a se animar ainda mais.

Do lado macro, o IPCA-15 de novembro subiu 0,20% — ligeiramente acima do esperado — mas manteve a desaceleração da inflação anual para 4,50%, dentro do teto da meta e com dinâmica interna favorável: núcleos comportados, alívio em alimentos e bens industriais e pressões residuais concentradas em serviços intensivos em mão de obra. A leitura, apesar do pequeno desvio, reforçou a percepção de que há espaço para o início do ciclo de cortes da Selic em janeiro, possivelmente até com uma redução de 50 pontos-base, dependendo da evolução dos dados e da comunicação das autoridades monetárias nas próximas semanas. Com isso, o clima mais positivo em Wall Street ajudou a amplificar esse movimento positivo doméstico, sustentando a continuidade do rali local e empurrando o Ibovespa para perto dos 160 mil pontos.

Na agenda doméstica, o IGP-M de novembro veio levemente abaixo do esperado, enquanto o Caged de outubro deve mostrar criação de cerca de 120 mil vagas — bem abaixo das 213 mil observadas em setembro — sugerindo perda de fôlego do mercado de trabalho, hoje considerado um dos principais vetores de pressão inflacionária pelo Banco Central. Se o arrefecimento se confirmar, o mercado tende a reforçar as apostas de corte no primeiro Copom de 2026. Além disso, investidores acompanham nova fala de Galípolo, que segue como peça-chave no direcionamento das expectativas, e aguardam o novo plano estratégico da Petrobras para 2026–2030, que deve trazer um nível de investimentos ligeiramente inferior ao do ciclo atual.

· 01:46 — Calma no meio do feriado

Nos EUA, na véspera do feriado de Ação de Graças — que mantém os mercados fechados hoje —, o Livro Bege do Federal Reserve apresentou um quadro de estabilidade, porém permeado por sinais de enfraquecimento. Varejistas e fabricantes seguem pressionados pelo aumento de custos decorrente das tarifas; o mercado de trabalho continua sem tração significativa; e o padrão de consumo evidencia uma divisão clara entre famílias de alta renda, que seguem gastando, e a maioria da população, que tem reduzido despesas. Em síntese, a atividade continua moderando.

Com esse conjunto de indicadores, o mercado passou a precificar entre 80% e 85% de probabilidade de um corte adicional de juros em dezembro, apoiado por declarações mais dovish de dirigentes do Fed e pela queda acentuada da confiança do consumidor.

Ainda assim, o cenário à frente segue delicado. O Fed permanece dividido entre o risco de uma inflação que ainda roda acima da meta e os sinais de arrefecimento do mercado de trabalho — um dilema agravado pelo atraso na divulgação de dados após o shutdown. Com o PCE básico ainda em torno de 2,8% e projeções de crescimento acima da tendência, a instituição tende a adotar cautela adicional em 2025, especialmente diante da troca iminente na presidência do banco central. Se a fraqueza do mercado de trabalho persistir, há espaço para cortes graduais ao longo do próximo ano; por ora, no entanto, o corte de dezembro segue como o principal catalisador do otimismo que tem sustentado os mercados globais nas últimas semanas.

· 02:33 — Sinais de paz

Embora ainda envoltos em fragilidade e incertezas, alguns avanços diplomáticos importantes começaram a emergir em conflitos de longa duração, impulsionados pela mediação direta dos EUA sob a liderança de Trump. Na África Central, a República Democrática do Congo e os rebeldes do M23 — apoiados por Ruanda — retomaram o diálogo e assinaram no Catar o acordo de paz mais substancial em muitos anos. No Cáucaso, Armênia e Azerbaijão alcançaram um entendimento político para encerrar o conflito de Nagorno-Karabakh, que se arrastava havia quase quatro décadas. 

E, no Oriente Médio, Israel e Hamas concordaram com a primeira fase de um cessar-fogo em Gaza que, ainda que limitado e repleto de desafios para a etapa seguinte, abriu uma rara janela para o envio de ajuda humanitária e para negociações mais amplas sobre o futuro do enclave. O próximo avanço pode vir de um eventual acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. Caso se concretize, será possível dizer que, apesar de ruídos persistentes, alguns dos conflitos que vinham agravando o ambiente geopolítico e ampliando o risco global começam, enfim, a perder intensidade — contribuindo para um cenário internacional menos turvo e menos belicista.

· 03:29 — O pacote fiscal britânico

A ministra das Finanças do Reino Unido, Rachel Reeves, apresentou um orçamento que busca reafirmar o compromisso do governo com a disciplina fiscal ao mesmo tempo em que procura atender às expectativas internas do Partido Trabalhista. Diante de um déficit de £20 bilhões — ampliado por decisões de política recentes e pelo ambiente econômico pós-pandemia —, Reeves anunciou um robusto pacote de aumentos de impostos que deverá somar £26 bilhões até 2030-31. A medida faz parte de um esforço mais amplo para recuperar a credibilidade fiscal, ampliar o espaço orçamentário e tentar reverter o ciclo de estagnação que marca a economia britânica.

Somadas aos £41,2 bilhões já anunciados no ano anterior, essas iniciativas tornam esta legislatura a que mais elevou a carga tributária desde os anos 1970. Cerca de 1,7 milhão de contribuintes serão diretamente afetados, com aumentos incidindo sobre investimentos, rendimentos de poupança, dividendos e grandes propriedades. O caso britânico ilustra um padrão mais amplo: praticamente todos os governos buscam reequilibrar suas contas após os excessos fiscais do período pandêmico, mas poucos parecem dispostos a abrir mão de suas respectivas zonas de conforto — um lembrete de que o ajuste, embora inevitável, raramente encontra defensores entusiasmados.

· 04:14 — Tensão no Sul da Ásia

A disputa pela água voltou ao centro das tensões geopolíticas no Sul da Ásia, região onde grandes rios transfronteiriços moldam não apenas a geografia, mas também a estabilidade política. O anúncio de novas barragens pelo Afeganistão no rio Kabul reacendeu fricções com o Paquistão, enquanto protestos em Bangladesh refletiram o descontentamento popular com a influência da Índia sobre o fluxo do rio Teesta. Nova Délhi, por sua vez, mantém suspenso o Tratado das Águas do Indo com Islamabad após novos atritos na Caxemira e observa com preocupação crescente o plano da China de construir, no alto curso do Brahmaputra, o que pode vir a ser a maior barragem do mundo — um projeto com potencial para alterar o abastecimento hídrico de países, além de gerar impactos profundos sobre ecossistemas altamente sensíveis.

Esse quadro se torna ainda mais desafiador à medida que a demanda por energia hidrelétrica cresce e os fluxos dos rios se tornam mais erráticos devido às mudanças climáticas. A instabilidade no regime hídrico afeta diretamente os meios de subsistência de cerca de 2 bilhões de pessoas que dependem dessas bacias, ampliando o risco de que disputas técnicas evoluam para conflitos políticos mais amplos. Em teoria, maior cooperação regional seria o caminho natural para mitigar riscos; na prática, porém, a partilha de águas permanece um tema intrincado em uma região marcada por rivalidades históricas, baixa confiança mútua e agendas nacionais conflitantes.

· 05:01 — A nova corrida espacial não é da NASA — é do Pentágono

O programa “Golden Dome”, apresentado em maio, avança como a aposta mais ambiciosa dos Estados Unidos na construção de uma nova geração de escudos antimísseis, integrando sensores espaciais, redes avançadas de comunicação e interceptores capazes de neutralizar ameaças ainda nos estágios iniciais de voo. Orçado em US$ 175 bilhões e previsto para entrar em operação em 2029 — prazo considerado otimista por parte dos analistas —, o projeto já recebeu quase US$ 25 bilhões por meio do “One Big Beautiful Bill Act”. Esses recursos financiam o desenvolvimento de sensores orbitais, capacidades de interceptação e aprimoramentos de rastreamento, ao mesmo tempo em que a Força Espacial dos EUA começa a firmar contratos iniciais para a construção dos primeiros protótipos. Embora os nomes das empresas selecionadas não tenham sido oficialmente divulgados por razões de segurança, informações de bastidores indicam a participação de grandes players como Northrop Grumman, Lockheed Martin, Anduril e da emergente True Anomaly.

De acordo com a Força Espacial, o processo de…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.