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Investimentos

Ata do Copom, Payroll e ações de IA em queda: Veja o que movimenta o mercado nesta terça (16)

O mercado olha para os dados de emprego dos EUA no payroll, após o prolongado shutdown do governo. Leia mais.

Por Matheus Spiess

16 dez 2025, 09:19

Atualizado em 16 dez 2025, 09:19

ibovespa ações mercado

Imagem: iStock/ @ASMR

O mercado inicia a sessão com atenção redobrada aos dados de emprego dos Estados Unidos, que hoje trazem o primeiro relatório de payroll após o prolongado shutdown do governo, reunindo informações referentes aos meses de outubro e novembro. Um resultado mais fraco do que o esperado pode provocar ajustes relevantes nas expectativas para a política monetária, atualmente concentradas em um cenário de pausa no ciclo de cortes de juros. Ainda assim, a interpretação desses números requer cautela: a paralisação das atividades públicas, as baixas taxas de resposta às pesquisas e os atrasos metodológicos aumentam a probabilidade de distorções estatísticas — em um indicador notoriamente sujeito a revisões relevantes.

No mercado de ações, seguem os ajustes no setor de tecnologia, com destaque para companhias expostas à temática de inteligência artificial, diante de preocupações persistentes com valuations elevados, níveis de investimento intensivos e maior alavancagem financeira. Esse processo tem incentivado uma redução de exposição aos grandes nomes do setor e favorecido uma rotação setorial e regional mais ampla. No cenário internacional, o tom é de cautela: as bolsas europeias e asiáticas aguardam os desdobramentos dos dados americanos, enquanto o petróleo recua nesta manhã, refletindo sinais de avanço nas negociações de paz entre Rússia e Ucrânia.

· 00:54 — Entre novos sinais de desaceleração e a ata

No Brasil, o Ibovespa encerrou a segunda-feira em alta de 1,07%, aos 162.482 pontos, refletindo uma leitura cada vez mais disseminada no mercado: a combinação de dados mais fracos de atividade econômica e revisões para baixo nas projeções de inflação e da Selic para 2026 amplia o espaço para o início do ciclo de cortes de juros. Na véspera da divulgação da ata do Copom, publicada nesta manhã, a surpresa negativa com o IBC-Br de outubro — queda de 0,25%, ante expectativa de alta de 0,10% — reforçou os sinais de desaceleração já evidenciados pelo PIB mais fraco do terceiro trimestre. O impacto foi imediato: o mercado revisou suas estimativas para o crescimento do PIB no quarto trimestre. Esse pano de fundo, de inflação mais bem ancorada e atividade perdendo tração, tem contribuído para sustentar o mercado de juros e, por consequência, as ações mais sensíveis ao nível das taxas de juros.

A ata do Copom divulgada nesta manhã, por sua vez, manteve o tom duro observado no comunicado da semana passada, que acompanhou a decisão de manter a Selic em 15%. Ainda assim, em linha com o texto anterior, o Banco Central voltou a reconhecer sinais de desaceleração da atividade econômica e trouxe nuances levemente mais flexíveis ao dividir o atual ciclo em três momentos, sinalizando que estaríamos já na terceira fase desse processo. Essa leitura abre espaço para interpretações mais construtivas sobre a possibilidade de um corte de juros já em janeiro, como parte relevante do mercado vem defendendo (o mercado parece atribuir mais peso à continuidade de dados fracos ao longo do tempo do que a uma mudança explícita no tom da comunicação). O ponto de cautela reside na estratégia de comunicação: historicamente, o BC tende primeiro a suavizar o discurso para, só depois, iniciar o afrouxamento efetivo da política monetária — o que apontaria para um corte mais provável em março. Ainda assim, como o próprio presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, já afirmou, a autoridade monetária não precisa necessariamente “dar seta antes de virar”. Ou seja, a chance de um corte em janeiro permanece no radar.

Há, inclusive, quem argumente que sustentar um discurso excessivamente duro por um período prolongado, apenas para cortar juros de forma relativamente abrupta depois, poderia gerar ruído adicional e até prejudicar a credibilidade construída com tanto esforço. De toda forma, vale destacar que, independentemente de o primeiro movimento ocorrer em janeiro, com um corte de 25 pontos-base, ou em março, possivelmente com um ajuste maior de 50 pontos, o mais relevante é que o ciclo de flexibilização parece cada vez mais próximo — e isso, por si só, tende a ser positivo para os ativos de risco. É importante lembrar, contudo, que esse ciclo será necessariamente limitado pelas incertezas fiscais que seguem no horizonte. Nesse contexto, o noticiário político ganha importância: no Congresso, a pauta econômica avança na última semana do ano legislativo, com a votação do projeto que trata da revisão de benefícios fiscais prevista para hoje na Câmara, um tema relevante para o curto prazo das contas públicas, ainda que insuficiente como solução estrutural.

· 01:28 — Sob pressão

Nos EUA, as ações de tecnologia começaram a semana sob pressão, puxando para baixo os principais índices americanos. O movimento reflete, de um lado, a continuidade da realização de lucros após o forte rali associado à temática de inteligência artificial e, de outro, a elevação dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano, que costuma penalizar empresas de crescimento cujos fluxos de caixa estão mais concentrados no longo prazo. Paralelamente, os investidores adotaram uma postura mais cautelosa, aguardando a divulgação de um conjunto relevante de indicadores econômicos considerados mais decisivos para a formação das expectativas sobre juros do que as sinalizações mais recentes do Federal Reserve.

A paralisação parcial do governo, alterações na estrutura da força de trabalho federal e atrasos na divulgação de estatísticas oficiais tendem a distorcer os números e dificultar uma avaliação precisa do ritmo real da economia americana. Ainda assim, o relatório de empregos segue como peça-chave para calibrar as projeções de política monetária ao longo de 2025. Esse quadro se soma às discussões em torno da sucessão de Jerome Powell na presidência do Fed e ao risco crescente de politização das estatísticas econômicas, fatores que reforçam a probabilidade de maior volatilidade nos mercados nas próximas semanas. Um nome como Kevin Warsh — que destaco neste espaço há bastante tempo — tenderia a ser melhor recebido do que Kevin Hassett.

· 02:35 — Preocupação com a soberania

A Dinamarca deu um passo sem precedentes ao classificar os Estados Unidos como um potencial risco à sua segurança em um relatório oficial de inteligência. O documento expressa preocupações diretas com a soberania da Groenlândia e com a disposição de Washington em utilizar seu poder econômico e militar para impor interesses estratégicos. A mudança de tom reflete o aumento das tensões desde que o presidente Donald Trump passou a tratar a ilha — rica em terras raras e localizada em uma região-chave do Ártico — como elemento central da segurança nacional americana, chegando inclusive a não descartar publicamente o uso da força.

Esse posicionamento abalou de forma relevante a confiança entre aliados históricos e introduziu um grau incomum de incerteza na relação bilateral. O episódio escancara um desafio inédito para a OTAN e para o equilíbrio da relação transatlântica como um todo. Ao reforçar a percepção de que os Estados Unidos estão se afastando do papel tradicional de principal fiador da segurança europeia, o relatório dinamarquês evidencia um vácuo estratégico que amplia os riscos geopolíticos no continente.

· 03:27 — Freios e contrapesos

Ao longo dos últimos anos, consolidou-se a narrativa de que a ascensão da China seria inevitável e de que os Estados Unidos estariam em um processo contínuo de declínio. A realidade, no entanto, é mais complexa. Os EUA seguem sendo a principal potência global em termos econômicos, militares e tecnológicos, mas passaram a se afastar, de forma deliberada, da ordem internacional que eles próprios ajudaram a construir no pós-Segunda Guerra Mundial. Essa inflexão não decorre de fraqueza estrutural, mas de uma crise interna profunda de confiança nas instituições, no funcionamento do sistema político e na própria ideia de liderança global. O resultado é um mundo sem liderança clara, no qual Washington deixou de ser apenas imprevisível e passou a ser percebido, por aliados e parceiros, como estruturalmente menos confiável.

Esse movimento está diretamente ligado a uma transformação política profunda em curso dentro dos Estados Unidos, que pode ser entendida como uma verdadeira revolução política. Diferentemente das grandes revoluções do passado, o processo americano não tem como foco uma reorganização produtiva ou um novo modelo de crescimento. Seu eixo central é a concentração de poder no Executivo. Sob a liderança de Donald Trump, observa-se um esforço contínuo para enfraquecer os mecanismos de freios e contrapesos, politizar a máquina estatal, pressionar a independência do Judiciário e alterar o equilíbrio tradicional entre Executivo, Congresso e burocracia. Essa dinâmica tem transformado a política americana e corroído a previsibilidade das regras, dos acordos e dos compromissos internacionais assumidos pelos EUA.

A combinação de um sistema eleitoral com distorções relevantes, um Legislativo fragilizado, um Judiciário mais cauteloso e uma mídia sob crescente pressão eleva a probabilidade de tensões e crises institucionais antes e depois das eleições de meio de mandato, em 2026. Ainda existem contrapesos importantes, mas o cenário aponta para um período prolongado de maior instabilidade política interna e, por consequência, de mais desordem no sistema internacional. Independentemente do desfecho, uma conclusão parece inevitável: os Estados Unidos dificilmente retornarão ao padrão político anterior à era Trump, e o mundo precisará se adaptar a uma ordem global menos centrada nos EUA, mais fragmentada e estruturalmente instável.

· 04:03 — Estratégia de paz

As negociações em Berlim, que envolvem delegações da Ucrânia, dos Estados Unidos e da Europa, avançaram de maneira significativa, com um consenso de cerca de 90% dos pontos discutidos. Entre os tópicos abordados estão a criação de um acordo de segurança similar ao da OTAN, o uso de ativos russos congelados para financiar a reconstrução da Ucrânia e a possível adesão do país à União Europeia.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, demonstrou disposição para abandonar a candidatura da Ucrânia à OTAN como parte de um acordo para encerrar o conflito com a Rússia, desde que o país receba garantias de segurança sólidas e duradouras. Ele propôs a criação de uma rede de acordos bilaterais de defesa, inspirada no Artigo 5º da OTAN, transferindo para os Estados Unidos e as nações europeias a responsabilidade de garantir a proteção militar da Ucrânia contra futuras agressões. Essa proposta surge tanto do ceticismo histórico da Ucrânia, resultante do fracasso do Memorando de Budapeste de 1994, quanto do reconhecimento de que a adesão à OTAN enfrenta obstáculos significativos devido a resistências políticas internas e externas.

No entanto, persistem desafios, como o destino dos territórios ocupados pela Rússia e a relutância de aliados em enviar tropas antes de um cessar-fogo. Em última análise, a proposta de Zelensky deixa claro que, independentemente da adesão ou não à OTAN, a resolução do conflito exigirá compromissos firmes do Ocidente, em um cenário que representa o maior desafio à segurança da Europa nas últimas décadas.

· 05:11 — Renovando máximas

A prata voltou a renovar máximas históricas, ultrapassando o patamar de US$ 60 por onça, movimento sustentado pela expectativa de novos cortes de juros nos Estados Unidos e por um mercado físico visivelmente apertado. Apesar da volatilidade recente, trata-se de um ativo com características singulares: ao mesmo tempo em que possui forte uso industrial, também exerce papel monetário e de proteção patrimonial. Ainda assim, seu valor de mercado corresponde a apenas cerca de 0,5% da riqueza global, o que evidencia um desequilíbrio relevante entre sua importância econômica, a oferta disponível e o espaço que ocupa hoje nos portfólios globais.

No pano de fundo, o ouro também se aproxima de novas máximas, inserido em um ambiente no qual o Federal Reserve parece cada vez mais limitado em suas opções. A autoridade monetária já reconhece sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho, afastou explicitamente a possibilidade de novas altas de juros, promoveu cortes adicionais e voltou a expandir o balanço — ainda que sob uma roupagem técnica distinta do antigo QE. Ao mesmo tempo, diversos ativos sensíveis à inflação seguem emitindo sinais de pressão, o que contrasta com a narrativa de desinflação benigna e mantém viva a possibilidade de um cenário mais complexo, próximo à estagflação.

Dentro desse contexto, o comportamento a prata sugere algo…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.