Imagem: iStock/ Edson Souza
Os mercados globais ensaiam nesta manhã uma estabilização após a queda do início da semana, ajudados por um leilão bem-sucedido de títulos do governo japonês e por um arrefecimento momentâneo na volatilidade das criptomoedas, que freou a queda do Bitcoin. Ainda assim, o sentimento segue prudente: as bolsas americanas iniciaram dezembro em baixa, com investidores reduzindo exposição a ativos mais arriscados, enquanto o setor industrial dos EUA voltou a mostrar contração diante das incertezas criadas pelas políticas tarifárias de Trump. Com o Federal Reserve já em período de silêncio, Jerome Powell evitou sinalizações adicionais na noite de ontem, mas o mercado continua apostando em mais um corte de juros neste fim de ano.
· 00:57 — BC Duro, Congresso em Guerra e Lula caindo nas pesquisas
O Brasil iniciou dezembro com o Ibovespa ligeiramente em queda, interrompendo o rali recente em meio ao menor apetite ao risco no exterior. No front doméstico, a atenção se volta para a produção industrial de outubro, cuja mediana aponta para alta de 0,3% após a queda de 0,4% em setembro — e avanço anual de apenas 0,2%, abaixo dos 2% observados no mesmo mês de 2024. Se confirmado, o dado reforça a desaceleração da atividade e amplia o espaço para cortes de juros pelo Banco Central. Ainda assim, Gabriel Galípolo reiterou mais uma vez que, se necessário, o BC pode voltar a elevar a Selic para assegurar a convergência da inflação à meta (o que não vai acontecer, mas evidencia o tom). Seu discurso busca transmitir firmeza, especialmente em um ambiente de fragilidade fiscal e desconfiança inicial quanto à sua autonomia. Mesmo assim, o mercado segue comprando a redução dos juros já em janeiro.
No plano político, o governo tenta desarmar a escalada de tensões com o Congresso, que ameaça travar a agenda econômica na reta final do ano — o projeto do devedor contumaz, o corte linear de benefícios fiscais e a taxação de fintechs e bets. A crise ganhou nova dimensão após Davi Alcolumbre reagir à indicação de Jorge Messias ao STF, forçando Lula a assumir pessoalmente as articulações. A deterioração do ambiente legislativo tem múltiplas origens: desgaste com a Lei Antifacção, percepção de derrota política crescente, menor liberação de emendas e a insatisfação de setores moderados com a guinada mais radical do governo desde a decisão de entregar a Gleisi Hoffmann uma pasta palaciana — movimento que reduziu ainda mais a já limitada capacidade de articulação do Executivo. O cenário é tão adverso que Messias enfrenta risco real de rejeição no Senado — algo inédito na Nova República.
A esses ruídos soma-se o agravamento da crise das estatais, em especial dos Correios. O governo avalia rever a meta fiscal das empresas públicas para 2026, após o déficit inesperado da estatal obrigar o congelamento de R$ 3 bilhões no Orçamento de 2025 — risco relevante em ano eleitoral. A situação piorou após a aprovação de um empréstimo de R$ 20 bilhões a inacreditáveis 136% do CDI, acima do limite estabelecido pelo Tesouro, levando o Ministério Público junto ao TCU a classificar a operação como uma espécie de “Bolsa Banco”. A deterioração dos Correios simboliza a precariedade das estatais brasileiras, cuja reestruturação exigirá anos de trabalho.
No campo eleitoral, a oposição vive sua própria turbulência, apesar de sinais de reorganização. A semana passada teve a primeira indicação pública de que Eduardo Bolsonaro pode apoiar uma candidatura de Tarcísio de Freitas em 2026, acenando para uma possível passagem de bastão. Ainda assim, a direita brasileira permanece descoordenada: o PL convocou uma reunião de emergência após Michelle Bolsonaro criticar publicamente a articulação do partido com Ciro Gomes no Ceará — um gesto que quase implodiu um acordo considerado estrategicamente bem estruturado por Jair Bolsonaro para fortalecer a oposição no Estado. A costura envolvia eleger um senador do PL, apoiar Ciro ao governo e, em troca, receber o apoio dele ao candidato oposicionista à Presidência. Ao atacar esse arranjo, Michelle acabou minando não apenas a estratégia, mas também sua própria projeção como potencial vice — um movimento que, na prática, fragiliza ainda mais um nome que já vinha perdendo tração.
Por fim, a pesquisa Atlas trouxe más notícias para o governo: a aprovação de Lula caiu para 48,6%, a desaprovação subiu para 50,7% e sua vantagem em cenários de segundo turno encolheu drasticamente — de 8–9 pontos para apenas 2 pontos contra Tarcísio de Freitas. Entre os candidatos mais competitivos, Tarcísio permanece como o menos rejeitado e, relativamente, o menos conhecido, o que amplia seu potencial de crescimento nos próximos meses e o consolida como uma carta poderosa no baralho da oposição. É uma tendência que pode se aprofundar conforme uma candidatura alternativa se materialize — algo que pode ocorrer apenas no fim do primeiro trimestre de 2026. Vale notar que a segurança pública segue despontando como prioridade absoluta do eleitorado, como antecipei neste espaço, favorecendo a oposição e aumentando a probabilidade de uma alternância de política econômica no ano que vem — movimento que pode ser estruturalmente transformador para os ativos de risco.
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· 01:43 — Um início de mês cauteloso
Os mercados americanos iniciaram a semana em compasso mais defensivo, com Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq devolvendo parte dos ganhos acumulados no fim de novembro. O movimento reflete tanto uma correção das altas recentes quanto a cautela típica que antecede a decisão de juros do Federal Reserve — evento que tende a dominar o noticiário e reduzir a importância da sazonalidade historicamente favorável de dezembro. Em meio ao ajuste, ativos de tecnologia e metais preciosos, como a prata, exibiram desempenho mais firme, enquanto o Bitcoin voltou a recuar. Do lado macro, o ISM industrial decepcionou ao cair novamente em novembro, indicando um setor ainda enfraquecido por custos elevados e incertezas internas e externas.
No varejo, a leitura da Black Friday e da Cyber Monday trouxe sinais claros de um consumidor americano ainda disposto a gastar, sobretudo no ambiente digital. Dados da Adobe mostram que os gastos online no feriado prolongado devem ter ultrapassado US$ 40 bilhões, incluindo um recorde projetado de US$ 14,2 bilhões apenas na Cyber Monday. As vendas digitais cresceram cerca de 9% na Black Friday, enquanto o varejo físico avançou de forma mais moderada, refletindo fluxo menor de clientes. O início da temporada de compras parece positivo, ainda que pressionado por preços mais altos decorrentes das tarifas. Houve também ruídos pontuais, como falhas no Shopify, mas nada que alterasse a tendência. A agenda corporativa segue carregada ao longo da semana, com balanços de nomes relevantes como CrowdStrike, Marvell, Pure Storage e American Eagle, que devem ajudar a calibrar o sentimento do mercado.
· 02:36 — Dois grupos no segmento de inteligência artificial
O setor de tecnologia atravessa uma divisão cada vez mais evidente: enquanto empresas conectadas ao ecossistema de IA do Google ganham tração, aquelas mais expostas à OpenAI enfrentam pressão crescente. No mercado, a estratégia que vem ganhando corpo é quase explícita, impulsionada pela percepção de que o Gemini 3 superou o ChatGPT em performance justamente no momento em que a OpenAI segue queimando caixa em ritmo elevado, sem clareza sobre quando atingirá rentabilidade. Esse ambiente mais adverso tem respingado em seus principais parceiros: o SoftBank, que deve chegar a 11% de participação na empresa, viu suas ações recuarem 40% em novembro; a Microsoft enfrentou dias de volatilidade pelo grau de exposição ao negócio; e a Oracle registrou aumento relevante em seus spreads de crédito após anunciar um contrato de US$ 300 bilhões para ampliar infra destinada à OpenAI.
Apesar de um breve alívio observado em um pregão particularmente positivo na última sexta-feira — quando empresas ligadas indiretamente à OpenAI, como Nvidia, AMD, Oracle e CoreWeave, performaram melhor — o quadro estrutural permanece intacto. A OpenAI segue diante do mesmo desafio central: transformar serviços de IA extremamente caros e intensivos em infraestrutura em receita recorrente, previsível e lucrativa, enquanto ainda depende fortemente de parceiros para financiar a expansão. Ter reunido uma ampla coalizão de investidores e fornecedores não elimina a competição — e, neste momento, a Alphabet se consolida como seu concorrente mais forte, tanto em capacidade técnica quanto em escala financeira e clareza estratégica.
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· 03:25 — Chance de invasão
O anúncio de Donald Trump de que o espaço aéreo venezuelano deveria ser tratado como “totalmente fechado” elevou significativamente a tensão regional e reacendeu temores de uma ação militar iminente dos EUA contra o regime de Nicolás Maduro. Caracas reagiu, classificando a medida como violação do direito internacional, enquanto o gesto se somou a outros sinais recentes de escalada — incluindo bombardeios americanos no Caribe, reforço militar na área e declarações de Trump sugerindo a possibilidade de ataques terrestres. A pressão política também cresceu em Washington após vir à tona que o secretário de Defesa teria autorizado o uso de força letal em uma operação antidrogas mesmo após o alvo ter sido neutralizado, alimentando o debate interno sobre os limites da resposta americana.
Ainda assim, apesar da retórica mais agressiva e da sensação de que o clima poderia deteriorar rapidamente, a segunda-feira terminou sem qualquer movimento militar concreto. Trump reduziu o tom de parte de suas falas, embora continue deixando em aberto a possibilidade de alguma ação futura, ao mesmo tempo em que certas interações pragmáticas seguem funcionando — como as operações da Chevron no país. No campo político, a provável viagem de María Corina Machado à Noruega para receber o Prêmio Nobel da Paz adiciona um novo foco de tensão para o governo Maduro. Enquanto isso, a população venezuelana segue fazendo o que historicamente aprendeu a fazer: manter a rotina mesmo com nuvens mais carregadas no horizonte.
· 04:18 — Vai elevar
O Banco do Japão intensificou os sinais de que pode elevar os juros ainda em dezembro, após Kazuo Ueda afirmar que a instituição “avaliará os prós e contras” de um novo aumento à luz da melhora da atividade econômica e do avanço dos preços. A fala levou o mercado a precificar cerca de 80% de probabilidade de que a taxa básica suba para 0,75% na reunião dos dias 18 e 19 — o maior patamar em 17 anos. A reação foi imediata: o iene ganhou força e os rendimentos dos títulos japoneses de 2 e 10 anos alcançaram os níveis mais altos desde 2008.
Essa mudança também reacende o alerta para um possível desmonte das operações de carry trade financiadas em iene, já que juros domésticos mais altos podem estimular a repatriação de recursos antes alocados em Treasuries e outros mercados globais. A escalada dos yields dos JGBs é hoje uma das principais fontes de risco sistêmico, com potencial para desencadear ajustes mais amplos nos ativos de risco após anos de ambiente global sustentado por juros excepcionalmente baixos.
· 05:03 — Momento de pressão
O mercado de soja atravessa um período de pressão relevante. Os produtores brasileiros vêm enfrentando um aumento expressivo nos custos de insumos — com destaque para fertilizantes — após uma safra 2024 já marcada por perdas, num ambiente de crédito mais restrito e financiamentos mais caros. A esses desafios se soma o efeito esperado do La Niña sobre a produção sul-americana, que tende a reduzir produtividade e limitar a expansão da área plantada, comprimindo a oferta global e abrindo espaço para um cenário de preços mais favorável na próxima safra.
Dentro desse quadro, a …