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Investimentos

BC firme, Congresso em guerra e Lula cai nas pesquisas; veja o que deve ser destaque no mercado nesta terça (2)

Mercado segue com sentimento cauteloso diante de incertezas sobre cortes de juros e volatilidade de criptomoedas. Confira.

Por Matheus Spiess

02 dez 2025, 10:41

Atualizado em 02 dez 2025, 10:41

ibovespa bolsa mercado ações

Imagem: iStock/ Edson Souza

Os mercados globais ensaiam nesta manhã uma estabilização após a queda do início da semana, ajudados por um leilão bem-sucedido de títulos do governo japonês e por um arrefecimento momentâneo na volatilidade das criptomoedas, que freou a queda do Bitcoin. Ainda assim, o sentimento segue prudente: as bolsas americanas iniciaram dezembro em baixa, com investidores reduzindo exposição a ativos mais arriscados, enquanto o setor industrial dos EUA voltou a mostrar contração diante das incertezas criadas pelas políticas tarifárias de Trump. Com o Federal Reserve já em período de silêncio, Jerome Powell evitou sinalizações adicionais na noite de ontem, mas o mercado continua apostando em mais um corte de juros neste fim de ano.

· 00:57 — BC Duro, Congresso em Guerra e Lula caindo nas pesquisas

O Brasil iniciou dezembro com o Ibovespa ligeiramente em queda, interrompendo o rali recente em meio ao menor apetite ao risco no exterior. No front doméstico, a atenção se volta para a produção industrial de outubro, cuja mediana aponta para alta de 0,3% após a queda de 0,4% em setembro — e avanço anual de apenas 0,2%, abaixo dos 2% observados no mesmo mês de 2024. Se confirmado, o dado reforça a desaceleração da atividade e amplia o espaço para cortes de juros pelo Banco Central. Ainda assim, Gabriel Galípolo reiterou mais uma vez que, se necessário, o BC pode voltar a elevar a Selic para assegurar a convergência da inflação à meta (o que não vai acontecer, mas evidencia o tom). Seu discurso busca transmitir firmeza, especialmente em um ambiente de fragilidade fiscal e desconfiança inicial quanto à sua autonomia. Mesmo assim, o mercado segue comprando a redução dos juros já em janeiro.

No plano político, o governo tenta desarmar a escalada de tensões com o Congresso, que ameaça travar a agenda econômica na reta final do ano — o projeto do devedor contumaz, o corte linear de benefícios fiscais e a taxação de fintechs e bets. A crise ganhou nova dimensão após Davi Alcolumbre reagir à indicação de Jorge Messias ao STF, forçando Lula a assumir pessoalmente as articulações. A deterioração do ambiente legislativo tem múltiplas origens: desgaste com a Lei Antifacção, percepção de derrota política crescente, menor liberação de emendas e a insatisfação de setores moderados com a guinada mais radical do governo desde a decisão de entregar a Gleisi Hoffmann uma pasta palaciana — movimento que reduziu ainda mais a já limitada capacidade de articulação do Executivo. O cenário é tão adverso que Messias enfrenta risco real de rejeição no Senado — algo inédito na Nova República.

A esses ruídos soma-se o agravamento da crise das estatais, em especial dos Correios. O governo avalia rever a meta fiscal das empresas públicas para 2026, após o déficit inesperado da estatal obrigar o congelamento de R$ 3 bilhões no Orçamento de 2025 — risco relevante em ano eleitoral. A situação piorou após a aprovação de um empréstimo de R$ 20 bilhões a inacreditáveis 136% do CDI, acima do limite estabelecido pelo Tesouro, levando o Ministério Público junto ao TCU a classificar a operação como uma espécie de “Bolsa Banco”. A deterioração dos Correios simboliza a precariedade das estatais brasileiras, cuja reestruturação exigirá anos de trabalho.

No campo eleitoral, a oposição vive sua própria turbulência, apesar de sinais de reorganização. A semana passada teve a primeira indicação pública de que Eduardo Bolsonaro pode apoiar uma candidatura de Tarcísio de Freitas em 2026, acenando para uma possível passagem de bastão. Ainda assim, a direita brasileira permanece descoordenada: o PL convocou uma reunião de emergência após Michelle Bolsonaro criticar publicamente a articulação do partido com Ciro Gomes no Ceará — um gesto que quase implodiu um acordo considerado estrategicamente bem estruturado por Jair Bolsonaro para fortalecer a oposição no Estado. A costura envolvia eleger um senador do PL, apoiar Ciro ao governo e, em troca, receber o apoio dele ao candidato oposicionista à Presidência. Ao atacar esse arranjo, Michelle acabou minando não apenas a estratégia, mas também sua própria projeção como potencial vice — um movimento que, na prática, fragiliza ainda mais um nome que já vinha perdendo tração.

Por fim, a pesquisa Atlas trouxe más notícias para o governo: a aprovação de Lula caiu para 48,6%, a desaprovação subiu para 50,7% e sua vantagem em cenários de segundo turno encolheu drasticamente — de 8–9 pontos para apenas 2 pontos contra Tarcísio de Freitas. Entre os candidatos mais competitivos, Tarcísio permanece como o menos rejeitado e, relativamente, o menos conhecido, o que amplia seu potencial de crescimento nos próximos meses e o consolida como uma carta poderosa no baralho da oposição. É uma tendência que pode se aprofundar conforme uma candidatura alternativa se materialize — algo que pode ocorrer apenas no fim do primeiro trimestre de 2026. Vale notar que a segurança pública segue despontando como prioridade absoluta do eleitorado, como antecipei neste espaço, favorecendo a oposição e aumentando a probabilidade de uma alternância de política econômica no ano que vem — movimento que pode ser estruturalmente transformador para os ativos de risco.

· 01:43 — Um início de mês cauteloso

Os mercados americanos iniciaram a semana em compasso mais defensivo, com Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq devolvendo parte dos ganhos acumulados no fim de novembro. O movimento reflete tanto uma correção das altas recentes quanto a cautela típica que antecede a decisão de juros do Federal Reserve — evento que tende a dominar o noticiário e reduzir a importância da sazonalidade historicamente favorável de dezembro. Em meio ao ajuste, ativos de tecnologia e metais preciosos, como a prata, exibiram desempenho mais firme, enquanto o Bitcoin voltou a recuar. Do lado macro, o ISM industrial decepcionou ao cair novamente em novembro, indicando um setor ainda enfraquecido por custos elevados e incertezas internas e externas.

No varejo, a leitura da Black Friday e da Cyber Monday trouxe sinais claros de um consumidor americano ainda disposto a gastar, sobretudo no ambiente digital. Dados da Adobe mostram que os gastos online no feriado prolongado devem ter ultrapassado US$ 40 bilhões, incluindo um recorde projetado de US$ 14,2 bilhões apenas na Cyber Monday. As vendas digitais cresceram cerca de 9% na Black Friday, enquanto o varejo físico avançou de forma mais moderada, refletindo fluxo menor de clientes. O início da temporada de compras parece positivo, ainda que pressionado por preços mais altos decorrentes das tarifas. Houve também ruídos pontuais, como falhas no Shopify, mas nada que alterasse a tendência. A agenda corporativa segue carregada ao longo da semana, com balanços de nomes relevantes como CrowdStrike, Marvell, Pure Storage e American Eagle, que devem ajudar a calibrar o sentimento do mercado.

· 02:36 — Dois grupos no segmento de inteligência artificial

O setor de tecnologia atravessa uma divisão cada vez mais evidente: enquanto empresas conectadas ao ecossistema de IA do Google ganham tração, aquelas mais expostas à OpenAI enfrentam pressão crescente. No mercado, a estratégia que vem ganhando corpo é quase explícita, impulsionada pela percepção de que o Gemini 3 superou o ChatGPT em performance justamente no momento em que a OpenAI segue queimando caixa em ritmo elevado, sem clareza sobre quando atingirá rentabilidade. Esse ambiente mais adverso tem respingado em seus principais parceiros: o SoftBank, que deve chegar a 11% de participação na empresa, viu suas ações recuarem 40% em novembro; a Microsoft enfrentou dias de volatilidade pelo grau de exposição ao negócio; e a Oracle registrou aumento relevante em seus spreads de crédito após anunciar um contrato de US$ 300 bilhões para ampliar infra destinada à OpenAI.

Apesar de um breve alívio observado em um pregão particularmente positivo na última sexta-feira — quando empresas ligadas indiretamente à OpenAI, como Nvidia, AMD, Oracle e CoreWeave, performaram melhor — o quadro estrutural permanece intacto. A OpenAI segue diante do mesmo desafio central: transformar serviços de IA extremamente caros e intensivos em infraestrutura em receita recorrente, previsível e lucrativa, enquanto ainda depende fortemente de parceiros para financiar a expansão. Ter reunido uma ampla coalizão de investidores e fornecedores não elimina a competição — e, neste momento, a Alphabet se consolida como seu concorrente mais forte, tanto em capacidade técnica quanto em escala financeira e clareza estratégica.

· 03:25 — Chance de invasão

O anúncio de Donald Trump de que o espaço aéreo venezuelano deveria ser tratado como “totalmente fechado” elevou significativamente a tensão regional e reacendeu temores de uma ação militar iminente dos EUA contra o regime de Nicolás Maduro. Caracas reagiu, classificando a medida como violação do direito internacional, enquanto o gesto se somou a outros sinais recentes de escalada — incluindo bombardeios americanos no Caribe, reforço militar na área e declarações de Trump sugerindo a possibilidade de ataques terrestres. A pressão política também cresceu em Washington após vir à tona que o secretário de Defesa teria autorizado o uso de força letal em uma operação antidrogas mesmo após o alvo ter sido neutralizado, alimentando o debate interno sobre os limites da resposta americana.

Ainda assim, apesar da retórica mais agressiva e da sensação de que o clima poderia deteriorar rapidamente, a segunda-feira terminou sem qualquer movimento militar concreto. Trump reduziu o tom de parte de suas falas, embora continue deixando em aberto a possibilidade de alguma ação futura, ao mesmo tempo em que certas interações pragmáticas seguem funcionando — como as operações da Chevron no país. No campo político, a provável viagem de María Corina Machado à Noruega para receber o Prêmio Nobel da Paz adiciona um novo foco de tensão para o governo Maduro. Enquanto isso, a população venezuelana segue fazendo o que historicamente aprendeu a fazer: manter a rotina mesmo com nuvens mais carregadas no horizonte.

· 04:18 — Vai elevar

O Banco do Japão intensificou os sinais de que pode elevar os juros ainda em dezembro, após Kazuo Ueda afirmar que a instituição “avaliará os prós e contras” de um novo aumento à luz da melhora da atividade econômica e do avanço dos preços. A fala levou o mercado a precificar cerca de 80% de probabilidade de que a taxa básica suba para 0,75% na reunião dos dias 18 e 19 — o maior patamar em 17 anos. A reação foi imediata: o iene ganhou força e os rendimentos dos títulos japoneses de 2 e 10 anos alcançaram os níveis mais altos desde 2008.

Essa mudança também reacende o alerta para um possível desmonte das operações de carry trade financiadas em iene, já que juros domésticos mais altos podem estimular a repatriação de recursos antes alocados em Treasuries e outros mercados globais. A escalada dos yields dos JGBs é hoje uma das principais fontes de risco sistêmico, com potencial para desencadear ajustes mais amplos nos ativos de risco após anos de ambiente global sustentado por juros excepcionalmente baixos.

· 05:03 — Momento de pressão

O mercado de soja atravessa um período de pressão relevante. Os produtores brasileiros vêm enfrentando um aumento expressivo nos custos de insumos — com destaque para fertilizantes — após uma safra 2024 já marcada por perdas, num ambiente de crédito mais restrito e financiamentos mais caros. A esses desafios se soma o efeito esperado do La Niña sobre a produção sul-americana, que tende a reduzir produtividade e limitar a expansão da área plantada, comprimindo a oferta global e abrindo espaço para um cenário de preços mais favorável na próxima safra.

Dentro desse quadro, a …

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.