Imagem: Wilson Dias/ Agência Brasil
“As reações foram muito mais intensas do que a incerteza que o evento adiciona”. Essa é a opinião do CEO e estrategista-chefe da Empiricus, Felipe Miranda, sobre o anúncio da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL- RJ) à Presidência por indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro na última sexta-feira (5).
Na visão de Miranda, a candidatura de Flávio foi uma espécie de “blefe”. “Acho que é uma estratégia muito mais negocial. Bolsonaro tenta de alguma forma recuperar o protagonismo na direita e parece focado em negociar o vice da chapa”, afirmou Miranda em live diária realizada nesta segunda-feira (8) após as notícias do final de semana.
O CEO comenta que a família Bolsonaro já teria sondado entrar com o sobrenome na vice-presidência em uma eventual candidatura do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), que teria recusado. Com o anúncio da sexta-feira (8), o centrão e aliados do governador permaneceram em uma posição de ceticismo.
“Tarcísio tem que ficar perto do bolsonarismo para pegar os votos, mas não muito perto para não ter rejeição. É um corredor estreito para atravessar”, avalia Miranda.
Escolha de Flávio Bolsonaro foi acertada?
Na sexta-feira (5), logo após o anúncio de Flávio Bolsonaro, a bolsa de valores brasileira despencou. O Ibovespa fechou o dia no vermelho a -4,53% (157 mil pontos).
O analista de macroeconomia da Empiricus Research, Matheus Spiess, comenta que a reação negativa do mercado se deve à percepção de que uma eventual candidatura de Flávio seria significativamente mais fraca do que a de outros nomes, em especial o de Tarcísio.
“Flávio carrega uma rejeição elevada, pelo desgaste associado ao bolsonarismo e a frustração do eleitorado de centro, que via em um nome alternativo uma chance de ruptura com a polarização atual. Esse quadro aumenta a chance de continuidade do lulopetismo e reduz a chance de alternância de política econômica em 2027 — alternância esta considerada essencial para uma agenda mais reformista”, escreve Spiess em sua newsletter diária.
“A reação de sexta-feira mostra como o establishment não agasalha Flávio, uma reação que causa ainda mais isolamento do bolsonarismo”, completa Miranda.
Ademais, a escolha pelo primogênito de Bolsonaro para as eleições presidenciais de 2026, segundo Miranda, é “muito arriscada”. Ele pontua que a atitude pode reduzir significativamente as chances de um indulto a Jair Bolsonaro.
O estrategista-chefe enxerga que esta poderia ser mais uma das “chantagens” da família Bolsonaro, relembrando que houve uma tentativa por parte de Eduardo Bolsonaro de negociar a liberdade de Jair em troca da redução de tarifas norte-americanas sobre o Brasil.
“O próprio Flávio já admitiu que pode desistir da candidatura caso ‘paguem o preço dele’, assumindo de forma explícita uma lógica de chantagem política que já havia sido ensaiada por seu irmão”, completa Spiess.
Apesar disso, Spiess acredita que esta narrativa deve ser sustentada até o final de março ou início de abril, próximo ao prazo de desincompatibilização.
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Outros políticos para 2026 – e união contra reeleição de Lula
Na visão de Miranda, uma união dos eleitores de centro e direita (neste caso, direcionados a pesar contra a esquerda), teria mais força se destinado a outros candidatos, como Ratinho ou Tarcísio ou Zema.
“O objetivo da centro-direita não é especificamente eleger um desses. A grande questão é quase plebiscitária: a continuidade ou não do Lula – essa é a eleição do ano que vem”, comenta.
“O voto útil arrasta eleitores em favor de outros candidatos, mas Flávio sequer passa pro segundo turno, segundo as pesquisas, o que deixaria o bolsonarismo ainda mais enfraquecido”, avalia Miranda.
Veja mais sobre as opiniões do CEO e fique por dentro os principais destaques desta semana.