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A semana começou com um pouco mais de otimismo nos mercados globais após o Senado dos EUA avançar em um acordo para encerrar o shutdown de mais de 40 dias. Embora a proposta ainda precise ser aprovada na Câmara, onde enfrenta resistência, apenas o sinal de avanço já foi suficiente para impulsionar os futuros em Nova York e levar bolsas asiáticas e europeias ao campo positivo. Caso a paralisação realmente termine, o mercado volta a ganhar visibilidade sobre indicadores econômicos represados, reduzindo a incerteza sobre a política monetária americana.
Ainda assim, o alívio convive com um cenário delicado. Na semana passada, as bolsas americanas passaram por correção, refletindo valuations esticados e dúvidas sobre a sustentabilidade do boom de investimentos em inteligência artificial — percepção reforçada pela desaceleração das receitas da TSMC. No front geopolítico, as tensões entre Japão e China se intensificaram após declarações da primeira-ministra Sanae Takaichi sobre Taiwan. Já no Brasil, a COP30 começa em Belém com expectativas mais modestas: o alinhamento global na transição energética parece mais frágil, justamente um debate no qual o Brasil poderia desempenhar um papel central.
· 00:59 — Recorde atrás de recorde
No Brasil, o Ibovespa encerrou a semana passada acumulando uma sequência histórica: já foram 13 pregões consecutivos de alta e 10 recordes seguidos, com o índice superando pela primeira vez a marca dos 154 mil pontos. O grande protagonista foi a Petrobras, que disparou quase 5% após apresentar um resultado trimestral acima das expectativas e adotar um discurso mais construtivo na teleconferência com investidores. A temporada de balanços entra na reta final, mantendo um tom positivo: as empresas listadas vêm mostrando crescimento de receita, margens saudáveis e ganho de participação de mercado, o que reforça o suporte estrutural para a Bolsa.
À frente, a agenda doméstica será determinante para o rumo da Selic. O Banco Central manteve os juros e reforçou um tom firme no combate à inflação, ajudando a ancorar o câmbio e preservar o diferencial de juros. Ainda assim, o mercado ficou menos confiante em um corte já em janeiro: março passou a ser o cenário-base. Por isso, a ata do Copom desta terça-feira (11) ganha enorme relevância. Fora isso, ainda temos vendas no varejo e volume de serviços. No campo político, pesquisas recentes apontaram uma nova queda na popularidade do governo atual — movimento que o mercado enxerga como aumento na probabilidade de alternância de poder em 2026, o que tende a fortalecer no debate eleitoral uma agenda fiscalista e reformista antes de 2027, quando uma reforma estrutural das contas públicas se torna inevitável.
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· 01:44 — A COP30 começa
O presidente Lula abre hoje oficialmente a COP30, em Belém do Pará, conferência que reúne líderes globais e especialistas para discutir estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. O encontro acontece em um contexto complexo: os EUA, maior economia do mundo, adotam postura hostil à agenda climática; figuras de peso, como Bill Gates, reduziram a prioridade dada ao tema; e, uma década após o Acordo de Paris, as metas globais seguem amplamente descumpridas. Ainda assim, há sinais positivos, como a doação anunciada pela Alemanha ao Fundo Amazônia e a possibilidade de avanços em frentes como comércio de carbono, financiamento à adaptação e definição de novas metas de longo prazo. A principal incerteza desta edição é a capacidade de preservar a coordenação internacional, já que a COP ocorre com presença reduzida de chefes de Estado e opiniões políticas bastante dispersas.
As expectativas são mais moderadas do que nas COPs mais emblemáticas, como a de Paris (COP21) e a de Dubai (COP28), especialmente porque não há um objetivo único de negociação. O foco agora é manter viva a credibilidade do processo multilateral e pavimentar o caminho para uma COP31 mais efetiva, reforçando compromissos anteriores e destravando financiamento — ponto sensível para países emergentes. Embora exista o risco de o evento produzir uma mensagem aquém do desejado, acordos pontuais ainda podem gerar resultados relevantes. Em um ambiente de tensões geopolíticas e prioridades internas conflitantes, talvez o maior ganho seja simbólico: garantir que o mundo não abandone o esforço coletivo de transição energética. O Brasil poderia ser um agente fundamental na condução desse processo.
· 02:35 — Confiança em queda
Nos EUA, a confiança do consumidor despencou para 50,3 — uma das leituras mais baixas já registradas e próxima dos níveis observados no auge da inflação em 2022. A queda reflete um cenário de demissões, atividade fraca, pressões de preços, guerra comercial e, claro, o próprio shutdown, que impede a divulgação de estatísticas oficiais e aumenta o sentimento de incerteza. Curiosamente, o único grupo que relatou melhora de humor foram investidores com grande exposição em ações, beneficiados pelo desempenho recente da bolsa. Nos próximos dias, a divulgação de balanços de companhias como Disney, Cisco, Brookfield e JD.com deve ajudar a trazer mais informações sobre a saúde corporativa, enquanto o mercado continua atento a qualquer avanço político que sinalize o fim do impasse em Washington.
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· 03:27 — O fim do shutdown no horizonte
A paralisação do governo americano chegou ao 41º dia — o mais longo shutdown da história —, mas sinais de encerramento começaram a surgir. Em uma rara sessão no domingo, o Senado avançou com um acordo que garante recursos para manter o governo funcionando ao menos até janeiro. Para destravar a votação, o texto incluiu concessões exigidas pelos democratas, como a promessa de colocar em pauta créditos ligados ao Obamacare, reverter demissões permanentes de servidores ocorridas durante a paralisação e assegurar o financiamento do programa de assistência alimentar. Mesmo com mais de 60 votos favoráveis no Senado, o pacote ainda precisa passar pela Câmara e, por fim, ser sancionado pelo presidente Trump.
A simples perspectiva de um acordo já elevou o apetite por risco nos mercados. A resolução do impasse também destravaria dados econômicos importantes, como os relatórios de emprego e inflação, essenciais para calibrar expectativas sobre a política monetária do Federal Reserve. Ainda assim, o tom cauteloso está mantido: após a forte correção nas ações de tecnologia na semana passada e com a possibilidade de atrasos legislativos, a volatilidade deve continuar elevada no curto prazo.
· 04:13 — Acumulando alguma perda
A Nvidia atravessou uma semana de maior estresse no mercado, acumulando queda superior a 9% em quatro pregões — seu pior desempenho desde abril — após declarações do CEO Jensen Huang sobre o que muitos enxergam como o único ponto realmente sensível da companhia: a China. Em visita a Taiwan, Huang afirmou que a empresa “não planeja enviar nada para a China”, lembrando que chips de alto desempenho, como os da linha Blackwell, seguem proibidos de entrar no país por restrições. Já modelos com desempenho reduzido, como o H2O, não têm despertado interesse — não por falta de demanda, mas porque o governo chinês impede que suas grandes empresas de tecnologia comprem versões limitadas dos semicondutores. Na prática, mesmo com pequenos ajustes regulatórios, a China permanece fora do mapa de vendas da Nvidia, frustrando expectativas de retomada no curto prazo.
A situação ganhou ainda mais ruído depois que Huang supostamente afirmou que a China iria vencer a corrida da IA. Diante da repercussão, o CEO tentou revisar o tom, dizendo que apenas reconheceu que o país possui boa tecnologia de IA e muitos pesquisadores qualificados. Apesar da correção, o episódio expôs novamente um ponto sensível: qualquer sinal envolvendo China — seja em política comercial, regulação ou disputa tecnológica — afeta imediatamente o humor dos investidores.
· 05:02 — O potencial da Argentina
A eleição de Milei representou uma inflexão histórica na Argentina, após décadas de intervencionismo do Estado e cinco calotes da dívida entre 1982 e 2020 — um período que destruiu a confiança dos investidores. Ao defender um choque liberal, redução do tamanho do Estado e a reconstrução do setor privado, o novo governo tem buscado restabelecer credibilidade e atrair capital estrangeiro. Seu primeiro ano foi marcado por medidas estruturais importantes: desvalorização da moeda, forte contenção de gastos, acordos com o FMI, lançamento do programa RIGI para estimular grandes investimentos e o primeiro superávit fiscal trimestral desde 2008, acompanhado da aprovação da Lei de Bases, que dá sustentação jurídica à agenda pró-mercado.
As medidas revelaram a fragilidade da economia deixada pelo modelo peronista-kirchnerista, mas também abriram uma…