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Investimentos

Hora da verdade no mercado: empregos, inflação e o teste final do otimismo; veja destaques da semana

Na metade de dezembro, a agenda da semana está carregada de indicadores econômicos relevantes no Brasil, EUA e outros países. Confira.

Por Matheus Spiess

15 dez 2025, 09:40

Atualizado em 15 dez 2025, 09:42

A semana concentra uma agenda especialmente carregada de indicadores econômicos globais, com atenção redobrada aos dados de emprego, inflação e consumo nos Estados Unidos. Esses números serão determinantes para refinar as expectativas do mercado em relação ao rumo da política monetária, sobretudo após a comunicação mais branda adotada recentemente pelo Federal Reserve. Em conjunto, os dados mais recentes apontam para uma economia americana em desaceleração gradual, ainda sustentada por um mercado de trabalho relativamente resiliente e por um consumo firme, reforçando a percepção de uma política monetária próxima do nível neutro.

No ambiente internacional, a China voltou a gerar frustração ao divulgar números fracos de vendas no varejo e sinais persistentes de fraqueza na demanda doméstica. Já na América Latina, a vitória de José Antonio Kast no Chile se insere em um movimento mais amplo de reconfiguração política na região, com avanço de agendas mais pró-mercado, o que tem ajudado a recolocar os mercados emergentes no radar dos investidores globais.

Em paralelo, o recente ajuste em ações ligadas à inteligência artificial, somado à dinâmica típica de fim de ano, marcada por maior volatilidade e preservação de resultados, reforça um ambiente mais seletivo, com rotação em direção a setores cíclicos e maior cautela em ativos que já vinham excessivamente esticados.

· 00:57 — A janela para o final de ano

No mercado doméstico, o Ibovespa encerrou a sexta-feira (12) em alta, refletindo a reação positiva dos investidores a declarações de dirigentes do Federal Reserve e o bom desempenho das ações do setor bancário, que também foram favorecidas pela retirada de autoridades brasileiras da lista de sanções da Lei Magnitsky pelos EUA. À frente, a agenda da semana ganha densidade, com a divulgação da ata do Copom, do IBC-Br e do Relatório de Política Monetária, em um momento em que o mercado segue dividido sobre a possibilidade de início do ciclo de cortes da Selic já em janeiro. A ata, que será conhecida nesta terça-feira, deve trazer mais detalhes sobre a avaliação do Banco Central a respeito da atividade econômica, da trajetória da inflação e dos efeitos da política monetária restritiva, com atenção especial à dinâmica do mercado de trabalho.

No campo político, entramos na última semana de trabalhos do Legislativo em 2025, com uma pauta carregada no Congresso, o que tende a elevar o grau de ruído e pode dificultar o avanço da agenda econômica. Entre os temas centrais estão a votação do projeto que reduz incentivos fiscais — considerado peça-chave para o fechamento do Orçamento de 2026 —, o PL da Dosimetria em análise no Senado, propostas relacionadas à segurança pública, possíveis processos de cassação de mandatos e a regulamentação da reforma tributária. Já no horizonte eleitoral, o noticiário recente tem sinalizado um ambiente um pouco mais favorável a candidaturas moderadas para 2026, com o fortalecimento de nomes mais ao centro nas pesquisas. A disputa tende a ser definida pela capacidade de conquistar esse eleitorado, o que coloca em evidência candidatos com maior potencial de crescimento e menor rejeição, características determinantes tanto para o desfecho político quanto para a precificação dos ativos.

· 01:48 — Mais uma virada na América do Sul

José Antonio Kast venceu o segundo turno das eleições presidenciais no Chile com uma margem expressiva — 58,2% dos votos contra 41,8% da candidata da coalizão de esquerda — e assumirá a presidência após derrotar o bloco governista. A vitória foi ampla e homogênea, com Kast liderando em todas as regiões do país, refletindo o claro desgaste do governo de Gabriel Boric, marcado por desaceleração econômica,  e deterioração da segurança pública. Em sua terceira tentativa presidencial, Kast conseguiu capturar o desejo por mudança ao apresentar uma plataforma centrada no combate ao crime, no endurecimento das políticas de segurança e no controle migratório, além de posições conservadoras em temas sociais. Embora tenha sido alvo de críticas por declarações passadas mais acaloradas, o candidato adotou um tom mais moderado ao longo da campanha e celebrou o resultado como um “mandato claro” para restaurar a ordem, a previsibilidade e o funcionamento do Estado. Não por acaso, cresce a leitura de que o Chile de 2025 antecipa, em muitos aspectos, o Brasil de 2026, especialmente pelo fato de a segurança pública ter se tornado o eixo central da decisão do eleitor — algo que venho destacando neste espaço há meses.

O resultado chileno se insere em um movimento mais amplo de virada política na América Latina, com o avanço de lideranças de direita ou de perfil mais liberal em países como Argentina, Bolívia e Equador. A vitória de Kast foi rapidamente celebrada por figuras como Javier Milei e por autoridades americanas, reforçando a percepção de uma mudança regional de humor político. Ainda assim, o novo presidente encontrará um Congresso fragmentado, o que tende a impor limites institucionais às propostas mais duras e exigir maior pragmatismo na condução da agenda. De todo modo, o Chile inaugura seu governo mais conservador desde o retorno à democracia em 1990, em um ambiente regional de reconfiguração política no qual poucos governos de esquerda ainda apresentam chances relevantes de continuidade eleitoral.

Esse movimento de rejeição aos incumbentes não é novidade para quem acompanha esta newsletter. Tenho chamado atenção para esse fenômeno há mais de dois anos. Na América do Sul, ele se combina com uma busca crescente por governos percebidos como mais pró-mercado, reformistas e comprometidos com algum grau de disciplina fiscal. O Brasil pode, em tese, se inserir nessa mesma tendência, mas isso dependerá fundamentalmente da capacidade de organização da oposição. Como venho argumentando reiteradamente, as eleições brasileiras tendem a ser definidas menos pelo desempenho do governo e mais pela qualidade, coesão e viabilidade da alternativa que se apresentar. O que parecia uma inflexão positiva desde o fim de outubro, com a pauta da segurança pública ganhando protagonismo, foi desorganizado pela entrada de Flávio Bolsonaro na corrida presidencial. Flávio é visto como um nome menos competitivo e com maior rejeição potencial do que outras alternativas, como Tarcísio de Freitas ou Ratinho Jr. Se a oposição insistir em se fragmentar, priorizando disputas internas em vez de convergir para um nome viável e agregador, o Brasil corre o risco de ficar à margem dessa tendência regional. Ainda assim, permanece aberta a possibilidade de uma reorganização mais racional no início do próximo ano.

· 02:35 — Nova pressão sobre os nomes de tecnologia

Nos Estados Unidos, o otimismo em torno da inteligência artificial enfrentou um revés significativo com os resultados abaixo das expectativas de empresas-chave do setor. As ações da Broadcom caíram 11%, refletindo a frustração do mercado com seu desempenho, enquanto a Oracle também viu suas ações em queda, pressionadas por investimentos em IA muito mais altos do que o esperado. A principal preocupação dos investidores é que esses pesados gastos não gerem o retorno desejado, com a exposição da Oracle à OpenAI agora sendo vista como uma possível fonte de risco. O aumento no custo da proteção contra inadimplência de sua dívida, que atingiu níveis não vistos desde a crise de 2008, refletiu essa crescente apreensão. Como resultado, o setor de tecnologia sofreu uma perda de 1,6% no Nasdaq ao longo da última semana.

Em contraste, outros setores do mercado mostraram sinais de resiliência, com destaque para o setor financeiro. O índice Dow Jones teve um avanço de 1%, impulsionado por grandes bancos e empresas de pagamentos que se beneficiaram do corte de juros do Fed. No entanto, a volatilidade permanece alta, com dados importantes de emprego e inflação nos EUA programados para esta semana, os quais serão determinantes para ajustar as expectativas sobre a política monetária, enquanto o Fed continua dividido e o debate político sobre sua sucessão intensifica a incerteza.

· 03:29 — Insumos críticos

Os Estados Unidos avançam na formação de uma nova coalizão internacional voltada a assegurar o acesso a minerais críticos, insumos estratégicos tanto para a expansão da infraestrutura de inteligência artificial quanto para aplicações na indústria de defesa. A iniciativa surge como resposta direta ao elevado grau de concentração da China nessas cadeias de suprimentos e ao recente aperto imposto por Pequim nos controles de exportação, movimento que ampliou a percepção de risco entre empresas e governos ocidentais.

Batizada de “Pax Silica”, a articulação reúne países como Singapura, Austrália, Japão, Coreia do Sul e Israel, com o objetivo de diversificar fontes de fornecimento e reduzir a dependência chinesa. Chama atenção, no entanto, a ausência de aliados tradicionais dos Estados Unidos — como o Canadá e a maior parte da União Europeia —, com exceção da Holanda, o que reforça o caráter seletivo e geopolítico da iniciativa. O Brasil teria potencial para se encaixar de forma quase natural nessa aliança, dadas as relevantes reservas de terras raras de que dispõe, mas até aqui ainda não conseguiu transformar essa vantagem geológica em uma estratégia consistente de exploração e inserção nas cadeias globais de valor.

· 04:13 — Usando os ativos russos

A União Europeia caminha para decidir pela utilização de cerca de US$ 247 bilhões em ativos pertencentes ao banco central da Rússia, atualmente sob custódia no sistema financeiro europeu. A iniciativa encerraria o modelo frágil de renovações semestrais dessas sanções de congelamento dos ativos e abriria caminho para que esses recursos sejam utilizados como garantia de um empréstimo estimado em aproximadamente US$ 193 bilhões destinado ao financiamento da Ucrânia. O objetivo central é assegurar uma fonte de recursos estável e de longo prazo para Kiev, ao mesmo tempo em que se reduz o risco político de uma eventual devolução dos ativos por países com posições mais próximas ao Kremlin, como Hungria ou Eslováquia.

A proposta, no entanto, não está isenta de controvérsias. Há questionamentos jurídicos relevantes, resistência do Euroclear — a instituição belga que detém os ativos — e ações judiciais movidas pela Rússia, que classifica a medida como expropriação ilegal. Ainda assim, em Bruxelas prevalece a avaliação de que o custo político e financeiro da inação seria maior. Caso seja aprovada, a decisão representará um reforço significativo da capacidade financeira da Ucrânia ao longo do conflito e ampliará o poder de pressão e barganha da União Europeia sobre Moscou, ao transformar ativos congelados em um instrumento estratégico de política econômica e geopolítica.

· 05:01 — O fluxo para emergentes

Ao longo de 2025, o Brasil tem se inserido de forma favorável em um movimento mais amplo de diversificação global de portfólios, em um contexto que se mostra particularmente construtivo para os mercados emergentes — o melhor dos últimos 15 anos. É verdade que persistem ruídos relevantes no curto prazo, como a fragilidade fiscal, tensões diplomáticas marcadas por viés ideológico e a antecipação do debate político em torno das eleições de 2026. Esses fatores limitam o desempenho dos ativos e adicionam volatilidade, mas não alteram a tendência estrutural. Contudo, o que está em curso não é uma história isolada do Brasil, e sim de um mundo em transformação, no qual investidores começam a reduzir a concentração histórica de capital nos EUA e a buscar alternativas em economias emergentes. Nesse processo, o Brasil se beneficia por seu peso nos principais índices, elevada liquidez e atratividade relativa.

O pano de fundo dessa rotação global combina três elementos centrais

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.