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O movimento global de alta das bolsas perdeu fôlego, com investidores adotando uma postura mais cautelosa diante da incerteza sobre a trajetória da política monetária do Federal Reserve, apesar de novos dados mais fracos de atividade, e da forte correção nas ações da Palantir, após questionamentos sobre seu valuation. Embora o S&P 500 tenha fechado em leve alta no pregão anterior, os contratos futuros do índice — e também do Nasdaq — recuam nesta manhã, refletindo um natural movimento de realização de lucros após a forte valorização recente. Em paralelo, o anúncio de um acordo de US$ 38 bilhões entre Amazon e OpenAI ainda alimenta o entusiasmo em torno do tema de inteligência artificial, ao garantir à criadora do ChatGPT acesso a centenas de milhares de GPUs da Nvidia pelos data centers da AWS.
No ambiente macroeconômico, a paralisação do governo nos Estados Unidos suspendeu parte dos dados oficiais, aumentando a importância de indicadores privados para leitura da economia. Pesquisas do próprio Federal Reserve apontam que o crédito não tem sido um freio significativo à atividade, o que sugere que os cortes de juros têm caráter mais preventivo do que estimulativo. Na Europa, os sinais recentes seguem positivos, com recuperação gradual da atividade e melhora da confiança, preparando terreno para um crescimento mais firme em 2026. Já na Ásia, predominou um movimento de correção: as bolsas recuaram após investidores realizarem lucros em ações ligadas à IA, enquanto o petróleo operou em queda após a Opep+ anunciar aumento de produção em dezembro e uma pausa no início de 2026.
· 00:52 — Os 150 mil pontos
No Brasil, o Ibovespa iniciou novembro em terreno positivo, registrando a nona alta consecutiva e o sexto recorde nominal seguido, ao encerrar o pregão pela primeira vez acima da marca dos 150 mil. O ambiente segue favorável aos ativos locais, impulsionado pelo corte de juros nos EUA, pela continuidade do enfraquecimento do dólar ao longo de todo o ano e pela expectativa de uma temporada de resultados robusta, com destaque para Itaú, hoje após o fechamento, e Petrobras, na quinta-feira. Na agenda macro, a produção industrial do IBGE deve mostrar queda de 0,4% em setembro, reforçando os sinais de desaceleração da economia e mantendo vivo o cenário de primeiro corte da Selic em janeiro de 2026. Ainda assim, o Copom deve manter os juros em 15% nesta quarta-feira, sem acenos prematuros de afrouxamento.
No campo fiscal e político, o Senado avançou com a proposta que amplia a faixa de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil. O senador Renan Calheiros apresentou seu parecer com ajustes apenas de redação, evitando que o texto volte à Câmara e garantindo condições para sanção até 31 de dezembro, com vigência a partir de 2026. Para compensar o impacto estimado de R$ 4 bilhões, não previsto corretamente antes pelos deputados, Renan propôs um projeto paralelo que eleva a tributação sobre “bets”, bancos e fintechs, com arrecadação prevista de quase R$ 5 bilhões em 2026 e cerca de R$ 18 bilhões em três anos, retomando pontos da antiga MP alternativa ao IOF, que havia caducado. Por outro lado, a Câmara aprovou a exclusão de até R$ 5 bilhões por ano em gastos de defesa nacional do cálculo do resultado primário e do limite do arcabouço — mais um enfraquecimento da regra fiscal, já bastante desgastada. Em última instância, o motivo pelo qual os juros permanecem elevados por tanto tempo é justamente a falta de compromisso com o orçamento. Sem âncora fiscal, a política monetária é forçada a cumprir o papel de duas. E, lamentavelmente, a solução estrutural desse problema provavelmente ficará para 2027, após as eleições.
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· 01:47 — Entre o otimismo com tecnologia e o pessimismo com o fiscal
Nos Estados Unidos, novembro começou com força para as gigantes de tecnologia. O anúncio de um acordo de US$ 38 bilhões entre Amazon e OpenAI — pelo qual a AWS fornecerá infraestrutura e centenas de milhares de GPUs Nvidia ao longo dos próximos sete anos — impulsionou o Nasdaq e ajudou a suavizar o mau humor do restante do mercado, já que mais de 300 empresas do S&P 500 encerraram o pregão em queda. O entusiasmo com inteligência artificial segue como um dos poucos motores positivos para as bolsas, e a temporada de resultados pode reforçar esse apetite por risco, com balanços relevantes no fim da semana, como AMD, Super Micro, Pfizer e Uber. Em paralelo, o ISM Manufacturing veio abaixo das expectativas e apontou retração na indústria, fortalecendo a percepção de que o ciclo de cortes de juros deve continuar.
Enquanto isso, porém, o impasse que sustenta a paralisação do governo segue sem desfecho. Democratas e republicanos divergem sobre a extensão dos subsídios de saúde criados durante a pandemia — e sem medidas de compensação fiscal (o acordo é o mais caro da história). Com parte dos indicadores oficiais suspensos, dados privados ganharam maior papel na avaliação do cenário econômico. Ainda assim, o ambiente atual ainda me parece diferente de bolhas. Isso porque hoje as empresas exibem posições de caixa robustas, investidores estão menos alavancados e, mesmo com o boom de IA, o ciclo de investimento está distante de uma euforia especulativa.
· 02:31 — O parecer sobre as tarifas
A Suprema Corte dos EUA inicia nesta semana a análise de um dos julgamentos econômicos mais relevantes dos últimos anos: o processo que definirá se Donald Trump ultrapassou seus limites constitucionais ao impor tarifas sobre produtos de mais de 100 países sem aprovação do Congresso. À época, o governo justificou a medida com base na Lei de Poderes de Emergência Econômica, argumentando que o aumento dos déficits comerciais e o enfraquecimento da base industrial americana representavam um risco à soberania. Pequenas empresas afetadas pelos custos de importação, acompanhadas por 12 estados governados por democratas, contestaram as tarifas e obtiveram vitórias em tribunais inferiores — agora cabe à Suprema Corte dar a palavra final, em uma decisão que deve ser tomada com urgência.
Se o tribunal decidir contra Trump, parte dos mais de US$ 100 bilhões arrecadados com tarifas poderá ter de ser devolvida, o que abriria uma série de questionamentos legais e logísticos. Além disso, diversos acordos comerciais firmados durante seu mandato, construídos com base no uso das tarifas como instrumento de pressão e negociação, podem ser colocados em xeque. Por outro lado, a Corte também pode validar integralmente a medida ou adotar uma posição intermediária, reconhecendo a legalidade sob bases restritas e deixando espaço para outras formas de taxação. Países, empresas e investidores aguardam: o desfecho pode redefinir os limites do poder presidencial e alterar a dinâmica das relações econômicas internacionais.
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· 03:29 — Perdendo o fôlego
As vendas de veículos elétricos na China começaram a perder fôlego, levantando um sinal de alerta no maior mercado automotivo do planeta e pressionando especialmente a Tesla, que depende do país para aproximadamente 36% de suas entregas globais. Montadoras como NIO e XPeng registraram desempenho recorde em outubro, mas o quadro não é homogêneo: a Li Auto viu suas vendas despencarem 38% na comparação anual, e até mesmo a BYD, líder do setor, só apresentou crescimento graças ao aumento das exportações. No mercado doméstico, suas vendas caíram 24%. Estimativas do setor sugerem que a Tesla comercializou cerca de 438 mil veículos na China até setembro, queda de 5% em relação ao mesmo período de 2024.
A perspectiva para os próximos trimestres tampouco é confortável. Nos EUA, como já comentei neste espaço, o crédito fiscal de US$ 7.500, que ajudou a impulsionar as vendas da Tesla para níveis recordes, expirou no fim de setembro. Na China, os incentivos à compra de veículos elétricos também vêm sendo reduzidos e devem sofrer novo corte em 2026, quando a isenção de impostos para veículos de nova energia será reduzida pela metade. Ainda é difícil dimensionar o impacto total dessa mudança, mas investidores já demonstram preocupação com a possibilidade de uma queda mais acentuada nas vendas, especialmente no primeiro semestre do ano que vem.
· 04:16 — Desempenho enfraquecido
Nvidia e Apple demonstram que um desempenho enfraquecido na China não tem sido suficiente para impedir valorizações históricas em bolsa. As vendas da Apple na região vêm caindo em oito dos últimos nove trimestres, enquanto a Nvidia foi praticamente excluída do mercado chinês de IA por conta das restrições de exportação impostas pelos EUA. Apesar disso, o último balanço impulsionou a Apple a novos recordes de mercado, e a Nvidia já acumula mais de US$ 500 bilhões em pedidos para suas GPUs Blackwell e Rubin — mesmo sem saber se poderá comercializá-las no país asiático.
No caso da Apple, o fenômeno reflete a força de sua marca, a alta fidelidade dos consumidores e a expansão contínua das receitas com Serviços, que compensam um ciclo de atualização de iPhones cada vez mais associado à idade dos aparelhos, e não às novidades tecnológicas. A Nvidia, por sua vez, surfa o maior ciclo de investimento corporativo em inteligência artificial da história, impulsionado por gigantes globais com balanços sólidos e capacidade praticamente ilimitada de capex. Em suma, o que antes era visto como um risco — forte exposição à China — hoje se traduz em um rótulo simples: empresas com presença global e alto potencial de crescimento, capazes de entregar resultados extraordinários mesmo em ambientes adversos.
· 05:04 — Uma montanha de caixa
A Berkshire Hathaway encerrou o terceiro trimestre com a maior reserva de caixa de sua história — US$ 381 bilhões — após 12 trimestres consecutivos vendendo mais ações do que comprando. O movimento sinaliza uma postura cautelosa, não apenas em relação ao boom da inteligência artificial, mas também diante dos valuations elevados do mercado. Mesmo a participação na Apple, que atingiu recordes históricos, foi substancialmente reduzida. Nesse contexto, o chamado “Indicador Buffett” — que compara o valor total das ações ao PIB dos Estados Unidos — já supera 220%, um patamar que o próprio investidor considera bem acima do razoável.
Apesar desse conservadorismo, os resultados operacionais da Berkshire mostraram…