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Os mercados globais iniciaram a semana reagindo a sinais de possível mudança na postura dos Estados Unidos em relação à China. Até mesmo porque, apesar do ruído, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que os presidentes Donald Trump e Xi Jinping ainda deverão se encontrar em breve — declaração que foi rapidamente interpretada pelos investidores como um indicativo de distensão na retórica comercial.
Esse alívio foi suficiente para impulsionar o maior rali das bolsas americanas desde maio, revertendo parte das perdas acentuadas registradas na última sexta-feira. Contudo, novas declarações de Bessent nesta manhã reacenderam a volatilidade: bolsas e criptomoedas voltaram a recuar, o dólar se fortaleceu e os rendimentos dos títulos soberanos caíram, sinalizando um mercado ainda cauteloso diante de um cenário instável.
Nesse ambiente, o discurso de Jerome Powell hoje, aliado ao início da temporada de resultados do terceiro trimestre com os grandes bancos americanos, ganha importância adicional — sobretudo porque as apostas de um corte de 25 pontos-base no FOMC de outubro já estão praticamente integralmente precificadas.
No campo geopolítico, houve avanços significativos no cessar-fogo em Gaza, com a libertação dos 20 reféns israelenses restantes pelo Hamas, em um acordo mediado por Trump com apoio de Egito, Turquia e Catar.
O episódio foi carregado de simbolismo: Trump discursou no Parlamento israelense e celebrou “o amanhecer de um novo Oriente Médio”. Apesar do progresso, permanecem incertezas importantes sobre o governo de Gaza no pós-guerra e sobre o destino de Netanyahu.
No front corporativo, a OpenAI anunciou mais uma parceria estratégica, desta vez com a Broadcom, para desenvolver 10 gigawatts de chips de IA personalizados, ampliando sua ofensiva por capacidade computacional após acordos recentes com Oracle, Nvidia e AMD.
Na Europa, o ambiente político e econômico segue delicado: bolsas acompanham o mau humor vindo da Ásia, após Pequim impor sanções a entidades americanas ligadas à sul-coreana Hanwha Ocean; o governo francês tenta estabilizar sua base parlamentar para aprovar o orçamento; e o Japão vive incertezas políticas após o colapso de uma aliança de 26 anos, que pode redefinir sua liderança.
No mercado de commodities, metais preciosos seguem em evidência — com o ouro superando US$ 4.100 por onça e a prata atingindo um recorde histórico acima de US$ 53 — impulsionados pela busca por ativos de proteção. Já o petróleo enfrenta pressões baixistas diante da perspectiva de um superávit maior que o previsto, segundo a Agência Internacional de Energia, que projeta aumento relevante dos estoques globais.
· 00:57 — Brasil entre ruídos e oportunidades
No Brasil, o principal destaque da agenda doméstica desta terça-feira é a divulgação dos dados de serviços, que muito provavelmente já terão sido publicados quando você estiver lendo estas linhas. Após seis meses consecutivos de alta, a expectativa para agosto era de estabilidade no volume de serviços medido pelo IBGE.
Caso o resultado se confirme, o dado pode indicar uma desaceleração relevante na atividade do setor, aliviando as pressões inflacionárias de serviços — componente que tem recebido atenção especial do Copom. Um número em linha ou abaixo das projeções reforçaria o espaço para um eventual corte de juros em dezembro ou, no mais tardar, nas primeiras reuniões do Comitê em 2026, caso o cenário macroeconômico se mantenha benigno.
Ontem, o mercado local reagiu positivamente, acompanhando o movimento de recuperação dos ativos de risco no exterior. O alívio veio após o presidente dos Estados Unidos adotar um tom mais moderado em relação à China, revertendo parcialmente a aversão a risco que marcou a sexta-feira.
No campo político, porém, o ambiente segue ruidoso. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participa hoje de uma audiência no Senado para defender o projeto de isenção do Imposto de Renda, que corre risco de sofrer alterações na tramitação. Paralelamente, a equipe econômica discute com o presidente Lula alternativas de arrecadação após a derrota da Medida Provisória do IOF na Câmara, na semana passada — um revés que abriu uma estimativa de rombo de R$ 46 bilhões até 2026 no Orçamento federal.
Esse quadro fiscal frágil aumenta o receio de que o governo recorra a medidas de baixa qualidade, com impacto negativo sobre a credibilidade das contas públicas. Para completar, membros do governo voltaram a criticar publicamente os juros elevados, pressionando o Banco Central por cortes mais acelerados — um tipo de ingerência política que, ainda que os cortes estejam no radar, envia sinalizações negativas ao mercado.
Apesar desses ruídos políticos e fiscais, o Brasil continua a exibir alguns fatores de suporte importantes para os ativos locais. A combinação de expectativa de cortes de juros à frente, valuations ainda deprimidos e um posicionamento relativamente leve de investidores estrangeiros mantém o país em uma posição atrativa dentro do universo emergente. Em um ambiente global de maior apetite por risco, esses elementos tendem a sustentar a boa performance dos mercados domésticos no curto prazo, ainda que a trajetória fiscal continue sendo um ponto de atenção relevante para o futuro.
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· 01:45 — E os jogos começaram…
Após um fim de semana marcado por um abrandamento no tom das declarações políticas, os mercados globais iniciaram a semana em clima de maior otimismo, revertendo parte do pessimismo gerado pela escalada da guerra comercial entre EUA e China na sexta-feira anterior.
Bastou Donald Trump afirmar que “não se preocupem com a China” para que investidores aproveitassem as quedas recentes como oportunidade de compra, reacendendo o apetite por risco em Wall Street.
Os principais índices registraram fortes ganhos: o Dow Jones avançou 588 pontos (+1,3%), o S&P 500 subiu 1,6% e o Nasdaq ganhou 2,2%. O movimento foi acompanhado por novas máximas no ouro e pelo primeiro recorde da prata desde 1980, refletindo a busca por proteção diante de um ambiente ainda volátil.
É possível interpretar a reação como mais um capítulo do chamado “TACO trade” — padrão no qual Trump eleva a tensão para, em seguida, sinalizar disposição para negociar — em meio à expectativa de uma possível reunião com Xi Jinping durante a APEC, em novembro. A volatilidade, medida pelo VIX, recuou 12% no dia, mas especialistas alertam que o movimento parece mais uma recuperação técnica do que o início de um novo ciclo de alta sustentável.
Essa leitura cautelosa se apoia em fatores estruturais que permanecem desafiadores. A SentimenTrader destacou que recuperações rápidas após picos de volatilidade e quebras de momentum costumam formar “armadilhas”: historicamente, o S&P 500 tende a manter ganhos no curto prazo, mas a taxa de sucesso cai significativamente após dois ou três meses.
Além disso, a guerra comercial intermitente adiciona incerteza à condução da política monetária americana, uma vez que tarifas adicionais podem reacender pressões inflacionárias, tornando mais delicada a tarefa do Federal Reserve de equilibrar estímulo econômico e controle de preços. Paralelamente, a paralisação do governo dos EUA — que já entra no 14º dia — começa a gerar impactos concretos: funcionários federais estão sem salários, operações públicas foram suspensas e cresce o temor de demissões em massa e prejuízos ao PIB, caso o impasse político se prolongue. Embora paralisações anteriores tenham produzido efeitos econômicos temporários, a combinação atual de incerteza fiscal, choques comerciais e transição monetária acende alertas adicionais entre investidores e formuladores de política.
Em meio a esse pano de fundo, a atenção dos mercados se volta para a temporada de resultados corporativos, que começa nesta semana e pode oferecer um contraponto às preocupações macroeconômicas. Os grandes bancos americanos — JPMorgan, Citigroup, Goldman Sachs e Wells Fargo — abrem a safra de balanços, funcionando como um importante termômetro da saúde financeira da economia.
As expectativas são otimistas: analistas elevaram as projeções de lucro por ação (LPA) ao longo dos últimos meses, com destaque para o Citigroup entre os bancos globais e o Citizens Financial entre os regionais. O setor financeiro deve registrar crescimento de lucros de 14,25% no 3º trimestre, bem acima da média dos últimos anos, e os investidores estarão atentos às mensagens sobre alocação de capital e receitas com taxas. Nesse contexto, a temporada de resultados pode, ainda que temporariamente, suavizar as preocupações com a política comercial e fiscal, oferecendo suporte aos mercados.
· 02:36 — Foi um TACO ou não?
A guerra comercial entre Estados Unidos e China voltou a ganhar intensidade, desta vez com foco no setor marítimo. Pequim anunciou sanções a cinco entidades americanas vinculadas à gigante sul-coreana Hanwha Ocean e ameaçou adotar novas medidas retaliatórias em resposta às restrições impostas por Washington ao transporte marítimo chinês.
O embate marítimo é parte de uma disputa estratégica mais ampla: ambos os países já haviam implementado tarifas portuárias especiais um contra o outro, enquanto os EUA buscam apoio de aliados — especialmente a Coreia do Sul — para revitalizar sua indústria naval e reduzir a dependência logística de cadeias dominadas pela China. Em paralelo, Pequim rejeitou as acusações americanas de falta de diálogo sobre as recentes restrições à exportação de terras raras, alegando manter canais de comunicação abertos.
Já o secretário do Tesouro, Scott Bessent, acusou a China de deliberadamente enfraquecer a economia global ao impor controles sobre insumos críticos, elevando ainda mais a temperatura das negociações. A escalada ocorre em um momento delicado, às vésperas de uma aguardada reunião entre Donald Trump e Xi Jinping, aumentando a incerteza sobre os rumos da relação bilateral.
Apesar desse pano de fundo tenso, os mercados americanos reagiram de maneira surpreendentemente positiva na segunda-feira.
O S&P 500 avançou 1,6%, registrando sua melhor sessão desde maio, após a forte correção da sexta-feira provocada pela ameaça de Trump de impor tarifas de 100% sobre produtos chineses. O impulso veio principalmente do setor de semicondutores, cujo índice setorial saltou quase 5%, refletindo o entusiasmo persistente com o ciclo de investimentos em inteligência artificial, que tem funcionado como importante amortecedor para choques macroeconômicos.
No campo político, tanto Trump quanto Xi têm sinalizado que a “bola está no campo do outro” em relação à próxima rodada de tarifas, alternando declarações conciliatórias com ameaças de retaliação. Pequim afirmou que aguardará os próximos passos de Washington antes de reagir formalmente, enquanto muitos interpretam a postura de Trump como possivelmente mais retórica — caracterizando a situação como mais um exemplo do chamado “TACO trade” (Trump Always Chickens Out), padrão no qual o presidente eleva a tensão apenas para recuar posteriormente, muitas vezes gerando movimentos de volatilidade de curto prazo nos mercados.
· 03:29 — Um Nobel pela inovação
Três economistas foram laureados com o Prêmio Nobel de Economia de 2025 por seus trabalhos pioneiros que ajudaram a esclarecer como a inovação atua como força propulsora do crescimento econômico. Joel Mokyr, professor da Northwestern University, recebeu metade do prêmio por suas pesquisas sobre os fundamentos institucionais, culturais e tecnológicos que tornam possível um crescimento sustentado ao longo do tempo. Ele destacou como fatores como ambiente institucional estável, cultura favorável ao progresso científico e infraestrutura tecnológica adequada criam as condições para que inovações floresçam e gerem ciclos de desenvolvimento.
A outra metade foi concedida conjuntamente a Philippe Aghion, da London School of Economics e do INSEAD, e Peter Howitt, da Brown University, pelo desenvolvimento da teoria do crescimento baseada na destruição criativa, inspirada nas ideias de Joseph Schumpeter. Eles mostraram como o avanço econômico resulta de um processo contínuo de inovação, no qual novas tecnologias substituem as antigas, elevando a produtividade e transformando a estrutura econômica. O comitê ressaltou que os premiados responderam de forma elegante a uma das questões mais fundamentais da disciplina: por que ocorre o crescimento econômico e quais condições permitem que ele se sustente — ao mesmo tempo em que ajudam a explicar por que tantos países fracassam ao impor barreiras à inovação ou atrasar a adoção de novas tecnologias.
Trata-se de um Nobel inequivocamente “neo-schumpeteriano” e extremamente atual, num momento em que muitos países parecem esquecer a importância de reduzir fricções institucionais, regulatórias e culturais que impedem o avanço tecnológico — condição indispensável para um crescimento robusto e de longo prazo. A mensagem ecoa no Brasil, que historicamente tem buscado expandir sua economia priorizando soluções de curto prazo e pouco sustentáveis, em vez de investir de maneira consistente em produtividade e inovação, os verdadeiros vetores de desenvolvimento.
· 04:12 — Nova parceria estratégica
As ações da Broadcom registraram uma alta expressiva após a empresa anunciar uma parceria estratégica com a OpenAI para desenvolver e implementar 10 gigawatts de aceleradores de inteligência artificial personalizados, destinados a data centers em larga escala.
O cronograma prevê que os primeiros sistemas entrem em operação no segundo semestre de 2026, com a conclusão integral do projeto prevista para o final de 2029. Embora os termos financeiros não tenham sido detalhados, estamos falando de um acordo na casa dos bilhões de dólares. A Broadcom será responsável por fornecer todo o portfólio de soluções de conectividade — incluindo tecnologias Ethernet e PCIe — reforçando sua posição de liderança no fornecimento de infraestrutura crítica para IA. Para a OpenAI, o movimento representa a chance de levar diretamente ao hardware os aprendizados adquiridos no desenvolvimento de modelos avançados, desbloqueando novos níveis de eficiência, desempenho e integração tecnológica.
Esse anúncio se insere em um contexto de forte expansão da OpenAI no ecossistema de semicondutores e infraestrutura computacional. Na semana passada, a companhia havia fechado um investimento com a AMD, que poderá garantir até 10% de participação na fabricante de chips, em uma estratégia clara de assegurar o fornecimento de hardware essencial para sustentar a corrida global por capacidade computacional. A aliança com a Broadcom aprofunda essa ofensiva, sinalizando o ritmo acelerado de investimentos necessários para viabilizar seus projetos cada vez mais ambiciosos.
Para a Broadcom, o acordo atua como um importante catalisador, consolidando sua presença em um dos setores mais estratégicos e dinâmicos da economia — a infraestrutura que dá suporte à revolução da inteligência artificial.
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· 05:04 — Uma outra boa tese secular
Na segunda-feira (13), o JPMorgan anunciou a iniciativa Security and Resiliency, um ambicioso programa de US$ 1,5 trilhão a ser implementado ao longo de dez anos, voltado para o fortalecimento de setores considerados estratégicos para a segurança nacional e a competitividade tecnológica dos Estados Unidos.
Dentro desse plano, o maior banco americano pretende investir até US$ 10 bilhões em capital próprio, por meio de participações diretas e capital de risco, concentrando esforços em quatro pilares fundamentais: manufatura avançada, defesa, independência energética e tecnologias de fronteira. Neste último grupo, ganham destaque projetos relacionados à inteligência artificial, cibersegurança e computação quântica — áreas vistas como essenciais para sustentar a liderança tecnológica americana nas próximas décadas.
A decisão do JPMorgan funciona como…