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Investimentos

Ibovespa hoje: Temporada de resultado nos EUA, discurso de Powell, e Haddad no Senado em pauta nesta terça (14)

Grandes bancos americanos abrem safra de balanços e funcionam como termômetro da saúde financeira da economia

Por Matheus Spiess

14 out 2025, 09:41

Atualizado em 14 out 2025, 09:42

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Imagem: Freepik

Os mercados globais iniciaram a semana reagindo a sinais de possível mudança na postura dos Estados Unidos em relação à China. Até mesmo porque, apesar do ruído, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que os presidentes Donald Trump e Xi Jinping ainda deverão se encontrar em breve — declaração que foi rapidamente interpretada pelos investidores como um indicativo de distensão na retórica comercial.

Esse alívio foi suficiente para impulsionar o maior rali das bolsas americanas desde maio, revertendo parte das perdas acentuadas registradas na última sexta-feira. Contudo, novas declarações de Bessent nesta manhã reacenderam a volatilidade: bolsas e criptomoedas voltaram a recuar, o dólar se fortaleceu e os rendimentos dos títulos soberanos caíram, sinalizando um mercado ainda cauteloso diante de um cenário instável.

Nesse ambiente, o discurso de Jerome Powell hoje, aliado ao início da temporada de resultados do terceiro trimestre com os grandes bancos americanos, ganha importância adicional — sobretudo porque as apostas de um corte de 25 pontos-base no FOMC de outubro já estão praticamente integralmente precificadas.

No campo geopolítico, houve avanços significativos no cessar-fogo em Gaza, com a libertação dos 20 reféns israelenses restantes pelo Hamas, em um acordo mediado por Trump com apoio de Egito, Turquia e Catar.

O episódio foi carregado de simbolismo: Trump discursou no Parlamento israelense e celebrou “o amanhecer de um novo Oriente Médio”. Apesar do progresso, permanecem incertezas importantes sobre o governo de Gaza no pós-guerra e sobre o destino de Netanyahu.

No front corporativo, a OpenAI anunciou mais uma parceria estratégica, desta vez com a Broadcom, para desenvolver 10 gigawatts de chips de IA personalizados, ampliando sua ofensiva por capacidade computacional após acordos recentes com Oracle, Nvidia e AMD. 

Na Europa, o ambiente político e econômico segue delicado: bolsas acompanham o mau humor vindo da Ásia, após Pequim impor sanções a entidades americanas ligadas à sul-coreana Hanwha Ocean; o governo francês tenta estabilizar sua base parlamentar para aprovar o orçamento; e o Japão vive incertezas políticas após o colapso de uma aliança de 26 anos, que pode redefinir sua liderança.

No mercado de commodities, metais preciosos seguem em evidência — com o ouro superando US$ 4.100 por onça e a prata atingindo um recorde histórico acima de US$ 53 — impulsionados pela busca por ativos de proteção. Já o petróleo enfrenta pressões baixistas diante da perspectiva de um superávit maior que o previsto, segundo a Agência Internacional de Energia, que projeta aumento relevante dos estoques globais.

· 00:57 — Brasil entre ruídos e oportunidades

No Brasil, o principal destaque da agenda doméstica desta terça-feira é a divulgação dos dados de serviços, que muito provavelmente já terão sido publicados quando você estiver lendo estas linhas. Após seis meses consecutivos de alta, a expectativa para agosto era de estabilidade no volume de serviços medido pelo IBGE.

Caso o resultado se confirme, o dado pode indicar uma desaceleração relevante na atividade do setor, aliviando as pressões inflacionárias de serviços — componente que tem recebido atenção especial do Copom. Um número em linha ou abaixo das projeções reforçaria o espaço para um eventual corte de juros em dezembro ou, no mais tardar, nas primeiras reuniões do Comitê em 2026, caso o cenário macroeconômico se mantenha benigno.

Ontem, o mercado local reagiu positivamente, acompanhando o movimento de recuperação dos ativos de risco no exterior. O alívio veio após o presidente dos Estados Unidos adotar um tom mais moderado em relação à China, revertendo parcialmente a aversão a risco que marcou a sexta-feira.

No campo político, porém, o ambiente segue ruidoso. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participa hoje de uma audiência no Senado para defender o projeto de isenção do Imposto de Renda, que corre risco de sofrer alterações na tramitação. Paralelamente, a equipe econômica discute com o presidente Lula alternativas de arrecadação após a derrota da Medida Provisória do IOF na Câmara, na semana passada — um revés que abriu uma estimativa de rombo de R$ 46 bilhões até 2026 no Orçamento federal.

Esse quadro fiscal frágil aumenta o receio de que o governo recorra a medidas de baixa qualidade, com impacto negativo sobre a credibilidade das contas públicas. Para completar, membros do governo voltaram a criticar publicamente os juros elevados, pressionando o Banco Central por cortes mais acelerados — um tipo de ingerência política que, ainda que os cortes estejam no radar, envia sinalizações negativas ao mercado.

Apesar desses ruídos políticos e fiscais, o Brasil continua a exibir alguns fatores de suporte importantes para os ativos locais. A combinação de expectativa de cortes de juros à frente, valuations ainda deprimidos e um posicionamento relativamente leve de investidores estrangeiros mantém o país em uma posição atrativa dentro do universo emergente. Em um ambiente global de maior apetite por risco, esses elementos tendem a sustentar a boa performance dos mercados domésticos no curto prazo, ainda que a trajetória fiscal continue sendo um ponto de atenção relevante para o futuro.

· 01:45 — E os jogos começaram…

Após um fim de semana marcado por um abrandamento no tom das declarações políticas, os mercados globais iniciaram a semana em clima de maior otimismo, revertendo parte do pessimismo gerado pela escalada da guerra comercial entre EUA e China na sexta-feira anterior.

Bastou Donald Trump afirmar que “não se preocupem com a China” para que investidores aproveitassem as quedas recentes como oportunidade de compra, reacendendo o apetite por risco em Wall Street.

Os principais índices registraram fortes ganhos: o Dow Jones avançou 588 pontos (+1,3%), o S&P 500 subiu 1,6% e o Nasdaq ganhou 2,2%. O movimento foi acompanhado por novas máximas no ouro e pelo primeiro recorde da prata desde 1980, refletindo a busca por proteção diante de um ambiente ainda volátil.

É possível interpretar a reação como mais um capítulo do chamado “TACO trade” — padrão no qual Trump eleva a tensão para, em seguida, sinalizar disposição para negociar — em meio à expectativa de uma possível reunião com Xi Jinping durante a APEC, em novembro. A volatilidade, medida pelo VIX, recuou 12% no dia, mas especialistas alertam que o movimento parece mais uma recuperação técnica do que o início de um novo ciclo de alta sustentável.

Essa leitura cautelosa se apoia em fatores estruturais que permanecem desafiadores. A SentimenTrader destacou que recuperações rápidas após picos de volatilidade e quebras de momentum costumam formar “armadilhas”: historicamente, o S&P 500 tende a manter ganhos no curto prazo, mas a taxa de sucesso cai significativamente após dois ou três meses.

Além disso, a guerra comercial intermitente adiciona incerteza à condução da política monetária americana, uma vez que tarifas adicionais podem reacender pressões inflacionárias, tornando mais delicada a tarefa do Federal Reserve de equilibrar estímulo econômico e controle de preços. Paralelamente, a paralisação do governo dos EUA — que já entra no 14º dia — começa a gerar impactos concretos: funcionários federais estão sem salários, operações públicas foram suspensas e cresce o temor de demissões em massa e prejuízos ao PIB, caso o impasse político se prolongue. Embora paralisações anteriores tenham produzido efeitos econômicos temporários, a combinação atual de incerteza fiscal, choques comerciais e transição monetária acende alertas adicionais entre investidores e formuladores de política.

Em meio a esse pano de fundo, a atenção dos mercados se volta para a temporada de resultados corporativos, que começa nesta semana e pode oferecer um contraponto às preocupações macroeconômicas. Os grandes bancos americanos — JPMorgan, Citigroup, Goldman Sachs e Wells Fargo — abrem a safra de balanços, funcionando como um importante termômetro da saúde financeira da economia.

As expectativas são otimistas: analistas elevaram as projeções de lucro por ação (LPA) ao longo dos últimos meses, com destaque para o Citigroup entre os bancos globais e o Citizens Financial entre os regionais. O setor financeiro deve registrar crescimento de lucros de 14,25% no 3º trimestre, bem acima da média dos últimos anos, e os investidores estarão atentos às mensagens sobre alocação de capital e receitas com taxas. Nesse contexto, a temporada de resultados pode, ainda que temporariamente, suavizar as preocupações com a política comercial e fiscal, oferecendo suporte aos mercados.

· 02:36 — Foi um TACO ou não?

A guerra comercial entre Estados Unidos e China voltou a ganhar intensidade, desta vez com foco no setor marítimo. Pequim anunciou sanções a cinco entidades americanas vinculadas à gigante sul-coreana Hanwha Ocean e ameaçou adotar novas medidas retaliatórias em resposta às restrições impostas por Washington ao transporte marítimo chinês.

O embate marítimo é parte de uma disputa estratégica mais ampla: ambos os países já haviam implementado tarifas portuárias especiais um contra o outro, enquanto os EUA buscam apoio de aliados — especialmente a Coreia do Sul — para revitalizar sua indústria naval e reduzir a dependência logística de cadeias dominadas pela China. Em paralelo, Pequim rejeitou as acusações americanas de falta de diálogo sobre as recentes restrições à exportação de terras raras, alegando manter canais de comunicação abertos.

Já o secretário do Tesouro, Scott Bessent, acusou a China de deliberadamente enfraquecer a economia global ao impor controles sobre insumos críticos, elevando ainda mais a temperatura das negociações. A escalada ocorre em um momento delicado, às vésperas de uma aguardada reunião entre Donald Trump e Xi Jinping, aumentando a incerteza sobre os rumos da relação bilateral.

Apesar desse pano de fundo tenso, os mercados americanos reagiram de maneira surpreendentemente positiva na segunda-feira.

O S&P 500 avançou 1,6%, registrando sua melhor sessão desde maio, após a forte correção da sexta-feira provocada pela ameaça de Trump de impor tarifas de 100% sobre produtos chineses. O impulso veio principalmente do setor de semicondutores, cujo índice setorial saltou quase 5%, refletindo o entusiasmo persistente com o ciclo de investimentos em inteligência artificial, que tem funcionado como importante amortecedor para choques macroeconômicos.

No campo político, tanto Trump quanto Xi têm sinalizado que a “bola está no campo do outro” em relação à próxima rodada de tarifas, alternando declarações conciliatórias com ameaças de retaliação. Pequim afirmou que aguardará os próximos passos de Washington antes de reagir formalmente, enquanto muitos interpretam a postura de Trump como possivelmente mais retórica — caracterizando a situação como mais um exemplo do chamado “TACO trade” (Trump Always Chickens Out), padrão no qual o presidente eleva a tensão apenas para recuar posteriormente, muitas vezes gerando movimentos de volatilidade de curto prazo nos mercados.

· 03:29 — Um Nobel pela inovação

Três economistas foram laureados com o Prêmio Nobel de Economia de 2025 por seus trabalhos pioneiros que ajudaram a esclarecer como a inovação atua como força propulsora do crescimento econômico. Joel Mokyr, professor da Northwestern University, recebeu metade do prêmio por suas pesquisas sobre os fundamentos institucionais, culturais e tecnológicos que tornam possível um crescimento sustentado ao longo do tempo. Ele destacou como fatores como ambiente institucional estável, cultura favorável ao progresso científico e infraestrutura tecnológica adequada criam as condições para que inovações floresçam e gerem ciclos de desenvolvimento.

A outra metade foi concedida conjuntamente a Philippe Aghion, da London School of Economics e do INSEAD, e Peter Howitt, da Brown University, pelo desenvolvimento da teoria do crescimento baseada na destruição criativa, inspirada nas ideias de Joseph Schumpeter. Eles mostraram como o avanço econômico resulta de um processo contínuo de inovação, no qual novas tecnologias substituem as antigas, elevando a produtividade e transformando a estrutura econômica. O comitê ressaltou que os premiados responderam de forma elegante a uma das questões mais fundamentais da disciplina: por que ocorre o crescimento econômico e quais condições permitem que ele se sustente — ao mesmo tempo em que ajudam a explicar por que tantos países fracassam ao impor barreiras à inovação ou atrasar a adoção de novas tecnologias.

Trata-se de um Nobel inequivocamente “neo-schumpeteriano” e extremamente atual, num momento em que muitos países parecem esquecer a importância de reduzir fricções institucionais, regulatórias e culturais que impedem o avanço tecnológico — condição indispensável para um crescimento robusto e de longo prazo. A mensagem ecoa no Brasil, que historicamente tem buscado expandir sua economia priorizando soluções de curto prazo e pouco sustentáveis, em vez de investir de maneira consistente em produtividade e inovação, os verdadeiros vetores de desenvolvimento.

· 04:12 — Nova parceria estratégica

As ações da Broadcom registraram uma alta expressiva após a empresa anunciar uma parceria estratégica com a OpenAI para desenvolver e implementar 10 gigawatts de aceleradores de inteligência artificial personalizados, destinados a data centers em larga escala.

O cronograma prevê que os primeiros sistemas entrem em operação no segundo semestre de 2026, com a conclusão integral do projeto prevista para o final de 2029. Embora os termos financeiros não tenham sido detalhados, estamos falando de um acordo na casa dos bilhões de dólares. A Broadcom será responsável por fornecer todo o portfólio de soluções de conectividade — incluindo tecnologias Ethernet e PCIe — reforçando sua posição de liderança no fornecimento de infraestrutura crítica para IA. Para a OpenAI, o movimento representa a chance de levar diretamente ao hardware os aprendizados adquiridos no desenvolvimento de modelos avançados, desbloqueando novos níveis de eficiência, desempenho e integração tecnológica.

Esse anúncio se insere em um contexto de forte expansão da OpenAI no ecossistema de semicondutores e infraestrutura computacional. Na semana passada, a companhia havia fechado um investimento com a AMD, que poderá garantir até 10% de participação na fabricante de chips, em uma estratégia clara de assegurar o fornecimento de hardware essencial para sustentar a corrida global por capacidade computacional. A aliança com a Broadcom aprofunda essa ofensiva, sinalizando o ritmo acelerado de investimentos necessários para viabilizar seus projetos cada vez mais ambiciosos.

Para a Broadcom, o acordo atua como um importante catalisador, consolidando sua presença em um dos setores mais estratégicos e dinâmicos da economia — a infraestrutura que dá suporte à revolução da inteligência artificial.

· 05:04 — Uma outra boa tese secular

Na segunda-feira (13), o JPMorgan anunciou a iniciativa Security and Resiliency, um ambicioso programa de US$ 1,5 trilhão a ser implementado ao longo de dez anos, voltado para o fortalecimento de setores considerados estratégicos para a segurança nacional e a competitividade tecnológica dos Estados Unidos.

Dentro desse plano, o maior banco americano pretende investir até US$ 10 bilhões em capital próprio, por meio de participações diretas e capital de risco, concentrando esforços em quatro pilares fundamentais: manufatura avançada, defesa, independência energética e tecnologias de fronteira. Neste último grupo, ganham destaque projetos relacionados à inteligência artificial, cibersegurança e computação quântica — áreas vistas como essenciais para sustentar a liderança tecnológica americana nas próximas décadas.

A decisão do JPMorgan funciona como…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.