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Os mercados globais iniciaram a sexta-feira em compasso de espera, operando com leve cautela à medida que os investidores aguardam a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) nos EUA (também temos a prévia de inflação no Brasil). A leitura deve apontar uma ligeira aceleração da inflação, mas sem força suficiente para alterar a expectativa predominante de que o Federal Reserve anunciará um novo corte de juros na próxima semana. O relatório, adiado pela paralisação parcial do governo americano, volta a oferecer uma referência importante sobre o ritmo de atividade da maior economia do mundo — agora em meio a um cenário de incerteza política crescente, marcado pela expectativa de um encontro entre Donald Trump e Xi Jinping que pode redefinir o equilíbrio comercial entre as duas maiores potências globais.
A confirmação da reunião, prevista para a próxima quinta-feira, durante a cúpula da APEC, deu impulso às bolsas asiáticas, que reagiram com otimismo à possibilidade de uma reaproximação entre Washington e Pequim. Esse movimento, porém, contrasta com o comportamento mais contido das bolsas europeias e a estabilidade do petróleo, após fortes ganhos na véspera. Embora o mercado enxergue sinais positivos para um acordo comercial parcial, prevalece a prudência, refletindo o histórico errático de Trump em negociações internacionais — o presidente chegou a suspender conversas com o Canadá por divergências tarifárias. No campo das commodities, o ouro interrompe uma sequência de nove semanas de valorização, acompanhando o alívio momentâneo das tensões geopolíticas e a melhora moderada no sentimento global de risco.
· 00:56 — Foco na prévia da inflação
No Brasil, o Ibovespa e o real encerraram o pregão de ontem em alta, impulsionados pela valorização do petróleo. O destaque ficou por conta das ações da Petrobras, que acompanharam a forte alta de 5% do barril, movimento que já comentei, após os Estados Unidos anunciarem sanções contra as gigantes russas Rosneft e Lukoil. O foco doméstico, no entanto, se voltou para a divulgação do IPCA-15 de outubro, a prévia da inflação oficial, que surpreendeu positivamente ao registrar alta de 0,18%, abaixo da expectativa de 0,24%. O resultado reforça a leitura de desaceleração inflacionária e consolida a percepção de que o Banco Central poderá apresentar uma comunicação potencialmente mais flexível na reunião da semana que vem, abrindo espaço para início de cortes já na primeira ou segunda reunião de 2026. Embora a inflação ainda permaneça em patamar elevado, o processo de convergência segue em curso, o que tende a criar um ambiente gradualmente mais favorável aos ativos.
Sob essa ótica, é possível argumentar que o mercado ainda não precificou plenamente o potencial de um ciclo de cortes mais prolongado, optando por uma postura mais conservadora. Essa assimetria oferece oportunidades para o investidor paciente — mas com ressalvas. O principal risco segue sendo o quadro fiscal, especialmente diante das eleições de 2026, que deverão influenciar o ritmo e a profundidade da queda da Selic. A própria autoridade monetária reconhece que a persistência dos juros elevados decorre, em grande medida, da desancoragem das expectativas fiscais e da perda de credibilidade na política orçamentária. Nesse contexto, o governo adiou para a próxima semana o envio ao Congresso dos dois projetos de lei que substituirão a MP 1.303, derrubada pela Câmara, com votação prevista entre terça e quarta-feira. Em paralelo, o presidente da Câmara, Hugo Motta, sinalizou interesse em votar um projeto que prevê corte linear de 10% nas isenções fiscais, em mais uma tentativa de recompor receitas e reforçar o discurso de responsabilidade fiscal — peça-chave para que o ciclo de afrouxamento monetário seja sustentável em 2026 e 2027.
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· 01:49 — Alguma surpresa na inflação?
Os mercados americanos encerraram o pregão de ontem em alta, sustentados pela expectativa em torno da divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) de setembro — que será publicado hoje apesar da paralisação do governo. O dado é crucial não apenas para orientar a política monetária. A projeção do mercado aponta para uma alta mensal de 0,4% e acúmulo de 3,1% em 12 meses, superando os 2,9% de agosto e marcando a primeira leitura acima de 3% neste ano. Ainda assim, o diagnóstico predominante é de inflação sob controle, apesar de elevada, o que reforça a leitura de que o Federal Reserve poderá iniciar o ciclo de cortes de juros já na semana que vem, independentemente de pequenas surpresas nos números.
· 02:38 — Ultrapassando uma nova marca
A dívida federal bruta dos EUA ultrapassou a marca de US$ 38 trilhões, apenas dois meses depois de ter superado os US$ 37 trilhões — um avanço em ritmo inédito fora de períodos excepcionais, como o da pandemia. O país carrega agora uma dívida equivalente a 119% do PIB e um déficit anual superior a 7%, o que já resultou em três rebaixamentos consecutivos da nota de crédito soberano. O desequilíbrio fiscal se aprofunda em meio à ausência de medidas efetivas de contenção de gastos, já que programas de grande apelo popular — como Medicare e Medicaid, além do orçamento de defesa — seguem praticamente intocáveis. O custo do endividamento também preocupa: o pagamento de juros já é a terceira maior despesa do governo federal, pressionando o orçamento e restringindo o espaço para investimentos produtivos.
Além disso, projetos de gastos mais amplos, como o One Big Beautiful Bill, ampliaram ainda mais a deterioração fiscal, enquanto o país enfrenta uma paralisação parcial do governo, a segunda mais longa da história. O cenário expõe a dificuldade do Congresso e da Casa Branca em aprovar reformas estruturais e estabelecer limites de despesa, alimentando o ceticismo sobre a sustentabilidade fiscal americana no médio prazo. Nesse ambiente de endividamento crescente, juros elevados e impasse político, investidores buscam refúgio em ativos de proteção, como o ouro, em meio ao temor de um dólar estruturalmente mais fraco e de uma possível desaceleração da economia.
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· 03:21 — Meio de mandato
A Argentina chega a um momento decisivo com as eleições legislativas de meio de mandato deste domingo, que servirão como um teste crucial para o poder político de Javier Milei e seu movimento libertário, o La Libertad Avanza. Embora tenha obtido avanços significativos no combate à inflação, o presidente enfrenta um cenário econômico e político delicado, marcado por desemprego ainda elevado, desaceleração da atividade e um escândalo de corrupção envolvendo sua irmã, que abalou a confiança de parte do eleitorado. Milei, que não concorre diretamente nesta eleição, busca garantir ao menos um terço das cadeiras na Câmara dos Deputados, o suficiente para assegurar poder de veto sobre o Congresso — uma meta que parecia viável meses atrás, mas que agora enfrenta maior resistência diante do desgaste econômico e político. Ainda assim, há sinais de que o pior momento da queda de popularidade já tenha passado, abrindo margem para uma recuperação gradual de sua base de apoio.
Em meio à incerteza, os EUA assumiram papel ativo na estabilização do cenário argentino. O presidente Donald Trump prometeu um pacote de US$ 20 bilhões em apoio financeiro, condicionado à vitória de parlamentares aliados a Milei, enquanto o Tesouro americano passou a intervir no mercado cambial para conter a desvalorização do peso — que atingiu mínima histórica — por meio da venda direta de dólares, dentro de um acordo de estabilização firmado entre Washington e Buenos Aires. A medida faz parte de uma estratégia mais ampla dos americanos para reafirmar sua influência na América do Sul e reduzir o avanço chinês na região, ampliando o acesso a recursos estratégicos. Apesar desse respaldo, o histórico de calotes e dependência externa do país impõe cautela. O futuro político de Milei e a credibilidade de seu programa econômico liberal dependerão diretamente do desfecho das urnas — e de sua capacidade de manter o ímpeto reformista em um contexto de fragilidade política.
· 04:14 — Um novo plano quinquenal
O novo 15º Plano Quinquenal da China (2026–2030), aprovado nesta semana pela liderança do Partido Comunista, consolida a estratégia de autossuficiência tecnológica, segurança econômica e crescimento de “alta qualidade”, em um contexto de enfraquecimento do consumo interno, crise imobiliária e prolongamento das tensões comerciais com os Estados Unidos. A principal mudança em relação ao plano anterior é o foco ampliado na redução das desigualdades sociais, vista por Pequim como peça essencial para reaquecer a demanda doméstica — hoje o elo mais frágil da economia chinesa. Apesar de exportações e investimentos industriais ainda sustentarem um crescimento anual em torno de 4% a 5%, o consumo das famílias permanece contido: as vendas no varejo cresceram apenas 3% em setembro, refletindo um ambiente de confiança abalada. O colapso do setor imobiliário — com desvalorizações de até 40% em alguns mercados — corroeu a poupança das famílias e reduziu sua disposição para gastar, aprofundando o descompasso estrutural entre produção e demanda interna. Diante disso, o governo tenta criar novos mecanismos de geração de renda e estímulo ao consumo, sem abandonar o controle centralizado de sua política econômica.
Ao mesmo tempo, o plano reforça a ambição de posicionar a China na fronteira das tecnologias estratégicas do século XXI. O país pretende dobrar os investimentos em áreas como inteligência artificial, semicondutores, energia verde e manufatura avançada nos próximos cinco anos, combinando o peso de seu vasto mercado interno com o poder de coordenação do Estado para financiar e direcionar a inovação. A meta é transformar o país em uma referência global em tecnologias emergentes, reduzindo sua vulnerabilidade a sanções e à dependência de fornecedores ocidentais. Essa política industrial robusta, porém, tem um custo: ao privilegiar o investimento estatal e a indústria pesada em detrimento do consumo e dos serviços, Pequim corre o risco de perpetuar os desequilíbrios estruturais que já limitam o seu dinamismo — um modelo que sustenta crescimento, mas que segue longe de um ciclo virtuoso doméstico.
· 05:02 — Iniciativas espaciais
As gigantes europeias de defesa — Airbus, Leonardo e Thales — anunciaram a criação de uma joint venture espacial destinada a enfrentar a hegemonia da SpaceX, de Elon Musk, no mercado global. A nova companhia, que contará com 25 mil funcionários e terá a Airbus como acionista majoritária, com 35% de participação, nasce com o objetivo de desenvolver satélites e sistemas de comunicação capazes de rivalizar com o Starlink, a constelação de internet via satélite da SpaceX. A iniciativa tem o respaldo político de líderes como Emmanuel Macron, que defendem o fortalecimento da autonomia tecnológica europeia e a redução da dependência em relação aos Estados Unidos. Trata-se do primeiro movimento concreto da União Europeia na tentativa de reconstruir sua soberania estratégica em setores considerados críticos para a segurança, a defesa e o futuro digital do continente.
Enquanto a Europa busca recuperar terreno, a SpaceX segue expandindo sua liderança no setor. A empresa completou com sucesso o 11º teste do foguete Starship, lançado do Texas e pousado no Oceano Índico, consolidando seu domínio tecnológico e operacional. A capacidade de reutilização de componentes do foguete reforçou o…