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Investimentos

Inflação sob os holofotes com IPCA-15 e CPI dos EUA; veja os destaques desta sexta-feira (24)

Fique por dentro dos principais destaques do mercado nesta sexta-feira (24).

Por Matheus Spiess

24 out 2025, 09:34

Atualizado em 24 out 2025, 09:34

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Imagem: iStock/ gesrey

Os mercados globais iniciaram a sexta-feira em compasso de espera, operando com leve cautela à medida que os investidores aguardam a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) nos EUA (também temos a prévia de inflação no Brasil). A leitura deve apontar uma ligeira aceleração da inflação, mas sem força suficiente para alterar a expectativa predominante de que o Federal Reserve anunciará um novo corte de juros na próxima semana. O relatório, adiado pela paralisação parcial do governo americano, volta a oferecer uma referência importante sobre o ritmo de atividade da maior economia do mundo — agora em meio a um cenário de incerteza política crescente, marcado pela expectativa de um encontro entre Donald Trump e Xi Jinping que pode redefinir o equilíbrio comercial entre as duas maiores potências globais.

A confirmação da reunião, prevista para a próxima quinta-feira, durante a cúpula da APEC, deu impulso às bolsas asiáticas, que reagiram com otimismo à possibilidade de uma reaproximação entre Washington e Pequim. Esse movimento, porém, contrasta com o comportamento mais contido das bolsas europeias e a estabilidade do petróleo, após fortes ganhos na véspera. Embora o mercado enxergue sinais positivos para um acordo comercial parcial, prevalece a prudência, refletindo o histórico errático de Trump em negociações internacionais — o presidente chegou a suspender conversas com o Canadá por divergências tarifárias. No campo das commodities, o ouro interrompe uma sequência de nove semanas de valorização, acompanhando o alívio momentâneo das tensões geopolíticas e a melhora moderada no sentimento global de risco.

· 00:56 — Foco na prévia da inflação

No Brasil, o Ibovespa e o real encerraram o pregão de ontem em alta, impulsionados pela valorização do petróleo. O destaque ficou por conta das ações da Petrobras, que acompanharam a forte alta de 5% do barril, movimento que já comentei, após os Estados Unidos anunciarem sanções contra as gigantes russas Rosneft e Lukoil. O foco doméstico, no entanto, se voltou para a divulgação do IPCA-15 de outubro, a prévia da inflação oficial, que surpreendeu positivamente ao registrar alta de 0,18%, abaixo da expectativa de 0,24%. O resultado reforça a leitura de desaceleração inflacionária e consolida a percepção de que o Banco Central poderá apresentar uma comunicação potencialmente mais flexível na reunião da semana que vem, abrindo espaço para início de cortes já na primeira ou segunda reunião de 2026. Embora a inflação ainda permaneça em patamar elevado, o processo de convergência segue em curso, o que tende a criar um ambiente gradualmente mais favorável aos ativos.

Sob essa ótica, é possível argumentar que o mercado ainda não precificou plenamente o potencial de um ciclo de cortes mais prolongado, optando por uma postura mais conservadora. Essa assimetria oferece oportunidades para o investidor paciente — mas com ressalvas. O principal risco segue sendo o quadro fiscal, especialmente diante das eleições de 2026, que deverão influenciar o ritmo e a profundidade da queda da Selic. A própria autoridade monetária reconhece que a persistência dos juros elevados decorre, em grande medida, da desancoragem das expectativas fiscais e da perda de credibilidade na política orçamentária. Nesse contexto, o governo adiou para a próxima semana o envio ao Congresso dos dois projetos de lei que substituirão a MP 1.303, derrubada pela Câmara, com votação prevista entre terça e quarta-feira. Em paralelo, o presidente da Câmara, Hugo Motta, sinalizou interesse em votar um projeto que prevê corte linear de 10% nas isenções fiscais, em mais uma tentativa de recompor receitas e reforçar o discurso de responsabilidade fiscal — peça-chave para que o ciclo de afrouxamento monetário seja sustentável em 2026 e 2027.

· 01:49 — Alguma surpresa na inflação?

Os mercados americanos encerraram o pregão de ontem em alta, sustentados pela expectativa em torno da divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) de setembro — que será publicado hoje apesar da paralisação do governo. O dado é crucial não apenas para orientar a política monetária. A projeção do mercado aponta para uma alta mensal de 0,4% e acúmulo de 3,1% em 12 meses, superando os 2,9% de agosto e marcando a primeira leitura acima de 3% neste ano. Ainda assim, o diagnóstico predominante é de inflação sob controle, apesar de elevada, o que reforça a leitura de que o Federal Reserve poderá iniciar o ciclo de cortes de juros já na semana que vem, independentemente de pequenas surpresas nos números.

· 02:38 — Ultrapassando uma nova marca

A dívida federal bruta dos EUA ultrapassou a marca de US$ 38 trilhões, apenas dois meses depois de ter superado os US$ 37 trilhões — um avanço em ritmo inédito fora de períodos excepcionais, como o da pandemia. O país carrega agora uma dívida equivalente a 119% do PIB e um déficit anual superior a 7%, o que já resultou em três rebaixamentos consecutivos da nota de crédito soberano. O desequilíbrio fiscal se aprofunda em meio à ausência de medidas efetivas de contenção de gastos, já que programas de grande apelo popular — como Medicare e Medicaid, além do orçamento de defesa — seguem praticamente intocáveis. O custo do endividamento também preocupa: o pagamento de juros já é a terceira maior despesa do governo federal, pressionando o orçamento e restringindo o espaço para investimentos produtivos.

Além disso, projetos de gastos mais amplos, como o One Big Beautiful Bill, ampliaram ainda mais a deterioração fiscal, enquanto o país enfrenta uma paralisação parcial do governo, a segunda mais longa da história. O cenário expõe a dificuldade do Congresso e da Casa Branca em aprovar reformas estruturais e estabelecer limites de despesa, alimentando o ceticismo sobre a sustentabilidade fiscal americana no médio prazo. Nesse ambiente de endividamento crescente, juros elevados e impasse político, investidores buscam refúgio em ativos de proteção, como o ouro, em meio ao temor de um dólar estruturalmente mais fraco e de uma possível desaceleração da economia.

· 03:21 — Meio de mandato

A Argentina chega a um momento decisivo com as eleições legislativas de meio de mandato deste domingo, que servirão como um teste crucial para o poder político de Javier Milei e seu movimento libertário, o La Libertad Avanza. Embora tenha obtido avanços significativos no combate à inflação, o presidente enfrenta um cenário econômico e político delicado, marcado por desemprego ainda elevado, desaceleração da atividade e um escândalo de corrupção envolvendo sua irmã, que abalou a confiança de parte do eleitorado. Milei, que não concorre diretamente nesta eleição, busca garantir ao menos um terço das cadeiras na Câmara dos Deputados, o suficiente para assegurar poder de veto sobre o Congresso — uma meta que parecia viável meses atrás, mas que agora enfrenta maior resistência diante do desgaste econômico e político. Ainda assim, há sinais de que o pior momento da queda de popularidade já tenha passado, abrindo margem para uma recuperação gradual de sua base de apoio.

Em meio à incerteza, os EUA assumiram papel ativo na estabilização do cenário argentino. O presidente Donald Trump prometeu um pacote de US$ 20 bilhões em apoio financeiro, condicionado à vitória de parlamentares aliados a Milei, enquanto o Tesouro americano passou a intervir no mercado cambial para conter a desvalorização do peso — que atingiu mínima histórica — por meio da venda direta de dólares, dentro de um acordo de estabilização firmado entre Washington e Buenos Aires. A medida faz parte de uma estratégia mais ampla dos americanos para reafirmar sua influência na América do Sul e reduzir o avanço chinês na região, ampliando o acesso a recursos estratégicos. Apesar desse respaldo, o histórico de calotes e dependência externa do país impõe cautela. O futuro político de Milei e a credibilidade de seu programa econômico liberal dependerão diretamente do desfecho das urnas — e de sua capacidade de manter o ímpeto reformista em um contexto de fragilidade política.

· 04:14 — Um novo plano quinquenal

O novo 15º Plano Quinquenal da China (2026–2030), aprovado nesta semana pela liderança do Partido Comunista, consolida a estratégia de autossuficiência tecnológica, segurança econômica e crescimento de “alta qualidade”, em um contexto de enfraquecimento do consumo interno, crise imobiliária e prolongamento das tensões comerciais com os Estados Unidos. A principal mudança em relação ao plano anterior é o foco ampliado na redução das desigualdades sociais, vista por Pequim como peça essencial para reaquecer a demanda doméstica — hoje o elo mais frágil da economia chinesa. Apesar de exportações e investimentos industriais ainda sustentarem um crescimento anual em torno de 4% a 5%, o consumo das famílias permanece contido: as vendas no varejo cresceram apenas 3% em setembro, refletindo um ambiente de confiança abalada. O colapso do setor imobiliário — com desvalorizações de até 40% em alguns mercados — corroeu a poupança das famílias e reduziu sua disposição para gastar, aprofundando o descompasso estrutural entre produção e demanda interna. Diante disso, o governo tenta criar novos mecanismos de geração de renda e estímulo ao consumo, sem abandonar o controle centralizado de sua política econômica.

Ao mesmo tempo, o plano reforça a ambição de posicionar a China na fronteira das tecnologias estratégicas do século XXI. O país pretende dobrar os investimentos em áreas como inteligência artificial, semicondutores, energia verde e manufatura avançada nos próximos cinco anos, combinando o peso de seu vasto mercado interno com o poder de coordenação do Estado para financiar e direcionar a inovação. A meta é transformar o país em uma referência global em tecnologias emergentes, reduzindo sua vulnerabilidade a sanções e à dependência de fornecedores ocidentais. Essa política industrial robusta, porém, tem um custo: ao privilegiar o investimento estatal e a indústria pesada em detrimento do consumo e dos serviços, Pequim corre o risco de perpetuar os desequilíbrios estruturais que já limitam o seu dinamismo — um modelo que sustenta crescimento, mas que segue longe de um ciclo virtuoso doméstico.

· 05:02 — Iniciativas espaciais

As gigantes europeias de defesa — Airbus, Leonardo e Thales — anunciaram a criação de uma joint venture espacial destinada a enfrentar a hegemonia da SpaceX, de Elon Musk, no mercado global. A nova companhia, que contará com 25 mil funcionários e terá a Airbus como acionista majoritária, com 35% de participação, nasce com o objetivo de desenvolver satélites e sistemas de comunicação capazes de rivalizar com o Starlink, a constelação de internet via satélite da SpaceX. A iniciativa tem o respaldo político de líderes como Emmanuel Macron, que defendem o fortalecimento da autonomia tecnológica europeia e a redução da dependência em relação aos Estados Unidos. Trata-se do primeiro movimento concreto da União Europeia na tentativa de reconstruir sua soberania estratégica em setores considerados críticos para a segurança, a defesa e o futuro digital do continente.

Enquanto a Europa busca recuperar terreno, a SpaceX segue expandindo sua liderança no setor. A empresa completou com sucesso o 11º teste do foguete Starship, lançado do Texas e pousado no Oceano Índico, consolidando seu domínio tecnológico e operacional. A capacidade de reutilização de componentes do foguete reforçou o…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.