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Os mercados iniciam a semana em clima de cautela, à espera da retomada dos dados econômicos atrasados pelo shutdown nos EUA — entre eles, o payroll de setembro, que será divulgado na quinta-feira, quando o Brasil estará em feriado — e do balanço altamente aguardado da Nvidia (NVDC34), peça central para medir o apetite por tecnologia e inteligência artificial. No front externo, permanecem as incertezas envolvendo negociações comerciais dos EUA, o agravamento das tensões entre China e Japão e indicadores mais fracos na Ásia e na Europa, reforçando a narrativa de desaceleração.
· 00:57— Sinal trocado
No Brasil, a agenda desta semana combina dados relevantes e um pano de fundo ainda marcado por desinflação consistente e sinais divergentes de atividade. Teremos Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, fala do presidente do BC, Gabriel Galípolo, e divulgação do IBC-Br — que ocorre em um momento em que o IPCA de outubro (+0,09%) reforçou a qualidade do processo desinflacionário, com recuo nos núcleos e nos serviços. Do lado da atividade, porém, o quadro permanece misto: o varejo voltou a mostrar fraqueza em setembro, enquanto o setor de serviços acelerou.
No front comercial, as atenções seguem voltadas às negociações entre Brasil e Estados Unidos depois do decreto de Trump, que retirou a tarifa básica de 10% sobre diversos produtos agropecuários — como carne bovina, banana, café e tomate — mas manteve a sobretaxa punitiva de 40% aplicada exclusivamente ao Brasil, mesmo com exceções pontuais. O movimento beneficiou concorrentes diretos, como Colômbia e Vietnã, que tiveram tarifas zeradas, enquanto produtos brasileiros — especialmente o café, que responde por 34% do mercado americano — seguem em desvantagem competitiva. Embora a revisão tarifária já esteja valendo para operações fechadas desde 13 de novembro, o resultado ficou aquém do esperado por Brasília, que continua pedindo uma pausa temporária de 90 dias e aguarda uma resposta formal de Trump.
No Legislativo, a semana será naturalmente esvaziada pelo feriado de quinta-feira, mas a Câmara tenta avançar amanhã na votação da Lei Antifacção, enquanto a Comissão de Assuntos Econômicos deve analisar a proposta que dobra a taxação sobre bets e eleva a tributação das fintechs. No campo político, a reorganização da oposição ganha tração: a convergência em torno de uma candidatura única começa a se delinear ao redor do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas — cenário que venho destacando aqui desde 2023 e que agora se torna mais visível no xadrez eleitoral.
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· 01:47 — Aguardando pela Nvidia
Wall Street volta-se nesta semana para a divulgação dos resultados da Nvidia, cuja performance se consolidou como um verdadeiro termômetro do apetite por inteligência artificial — especialmente após a recente correção no setor e o aumento das dúvidas sobre valuations e níveis de capex. O calendário corporativo também será intenso entre as grandes varejistas, com Walmart, Home Depot e Target, oferecendo uma leitura crucial sobre a resiliência do consumidor americano. Paralelamente, após o fim do longo shutdown, o fluxo de indicadores econômicos começa a ser restabelecido.
Mesmo com mais de 80% das empresas do S&P 500 superando as expectativas, o mercado adotou um comportamento mais criterioso: disciplina financeira passou a ser valorizada, enquanto excessos são rapidamente penalizados. A volatilidade segue elevada — na última sexta-feira, o Nasdaq chegou a recuar quase 2% durante o pregão antes de virar para alta, enquanto S&P e Dow encerraram no campo negativo — num ambiente de carência de dados que deve mudar nos próximos dias.
· 02:34 — Entre acordos e recuos
Os EUA e a Suíça estão próximos de concluir um acordo para reduzir tarifas de 39% para 15%. Em contrapartida, a Suíça se compromete a investir US$ 200 bilhões na economia americana ao longo do mandato de Trump — sendo US$ 70 bilhões já no próximo ano — além de ampliar a compra de aeronaves da Boeing. No mesmo movimento, a Casa Branca editou uma ordem executiva eliminando tarifas recíprocas sobre itens essenciais como café, carne bovina, bananas, abacates e tomates, após firmar acordos preliminares com Equador, Guatemala, Argentina e El Salvador. A iniciativa busca conter a pressão sobre o custo dos alimentos, que se tornou um tema político sensível após recentes vitórias democratas em pleitos locais.
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· 03:26 — Outro sinal de mudança
No domingo, 16 de novembro, aproximadamente 13 milhões de chilenos foram às urnas em uma eleição presidencial marcada por forte polarização e por um ambiente social dominado pelo medo crescente da criminalidade e da imigração. A disputa ocorre após anos particularmente turbulentos em um país historicamente estável — maior produtor global de cobre e uma das economias mais desenvolvidas da América Latina. Durante o governo do presidente Gabriel Boric, jovem líder de esquerda eleito em 2021 após ondas de protestos contra a desigualdade, o Chile rejeitou duas propostas de reforma constitucional: a primeira, vista como excessivamente progressista por tentar incorporar “cosmovisões” diversas ao texto; a segunda, considerada conservadora demais por preservar elementos da Constituição herdada do regime de Augusto Pinochet. O resultado desse processo frustrado, somado às dificuldades econômicas e ao avanço da violência, deixou Boric profundamente impopular. Hoje, 50% dos eleitores apontam a criminalidade como principal problema do país, enquanto 30% destacam a imigração, segundo o instituto Activa.
Esse contexto levou a um resultado eleitoral que confirma um movimento que tenho destacado há mais de um ano: a guinada política da América do Sul. Depois da Argentina com Javier Milei em 2023 e da Bolívia com Paz em 2025, o Chile agora caminha para um segundo turno favorável à direita. No primeiro turno, Jeannette Jara — candidata de esquerda e apoiada por Boric — ficou em primeiro lugar com 26,85% dos votos, representando continuidade e, portanto, o desgaste do incumbente. Mas o dado realmente relevante está no conjunto: a direita chilena obteve seu melhor desempenho desde a redemocratização, conquistando mais da metade do Congresso e empurrando a esquerda para seu pior resultado em décadas. José Antonio Kast, nome da direita, ficou em segundo lugar com 23,93%, seguido por Franco Parisi (19,71%), Johannes Kaiser (13,94%) e Evelyn Matthei (12,46%) — todos de direita. Essa combinação torna o segundo turno, em dezembro, amplamente favorável a Kast (deve ganhar com mais de 55% dos votos). O Chile torna-se, assim, mais um capítulo de uma transformação regional que deve se aprofundar: Peru e Colômbia tendem a seguir caminho semelhante em 2026, e o Brasil pode se inserir nessa dinâmica.
· 04:15 — Crise diplomática no Oriente
A crise diplomática entre China e Japão ganhou intensidade após as declarações da primeira-ministra Sanae Takaichi, que classificou qualquer uso de força chinesa contra Taiwan como uma possível ameaça existencial ao Japão — interpretação que abriria espaço legal para apoio militar a aliados. A resposta de Pequim foi imediata e contundente: editoriais alinhados ao regime passaram a falar em “retaliação substancial”, o Exército de Libertação Popular alertou que o Japão poderia “se tornar um campo de batalha” em caso de envolvimento no Estreito de Taiwan, e o embaixador japonês foi convocado para uma reprimenda formal. Paralelamente, a China passou a emitir alertas de viagem e estudo a seus cidadãos, aumentando o risco econômico para setores sensíveis do Japão, como varejo e cosméticos, o que levou empresas como Shiseido e Pan Pacific a registrarem quedas superiores a 10% na bolsa.
Esse desdobramento coloca em risco o esforço de reconciliação que vinha sendo construído entre Takaichi e Xi Jinping, após um encontro recente que havia sinalizado intenção de estabilizar as relações. A reação chinesa — que chegou a incluir, ainda que removida depois, uma ameaça explícita feita pelo cônsul-geral em Osaka — reflete a profunda sensibilidade de Pequim ao tema de Taiwan e reforça que o governo espera nada menos do que uma retratação completa do Japão. Diante desse ambiente de retórica inflamada, pressões econômicas e crescente desconfiança mútua, o encontro entre os dois líderes no G20 dificilmente produzirá avanços, e o cenário mais provável é o de tensões persistentes entre China e Japão ao longo dos próximos anos, com impactos potenciais sobre fluxos comerciais, turismo e percepção de risco na região.
· 05:08 — Centro das atenções
Na semana passada, o setor de computação quântica voltou a ganhar destaque após a divulgação dos resultados das principais empresas do segmento, ainda que a reação imediata do mercado tenha sido marcada por ceticismo. D-Wave, Rigetti e IonQ sofreram quedas superiores a 10% em um único pregão, um movimento que reflete a aversão dos investidores diante da elevada volatilidade típica de tecnologias emergentes e ligadas à IA. Embora a visão estrutural permaneça positiva, o entusiasmo de curto prazo arrefeceu, levando inclusive a revisões baixistas de target.
Apesar disso, os avanços tecnológicos…