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Investimentos

Mercado espera payroll e reza pelos resultados da Nvidia: Veja o que deve ser destaque nesta semana

A semana abre em clima de cautela nos EUA, diante da retomada após o shutdown. Veja quais são os destaques no Brasil e internacionais.

Por Matheus Spiess

17 nov 2025, 09:23

Atualizado em 17 nov 2025, 09:24

mercado eua usa bolsas dolar

Imagem: iStock.com/Sinenkiy

Os mercados iniciam a semana em clima de cautela, à espera da retomada dos dados econômicos atrasados pelo shutdown nos EUA — entre eles, o payroll de setembro, que será divulgado na quinta-feira, quando o Brasil estará em feriado — e do balanço altamente aguardado da Nvidia (NVDC34), peça central para medir o apetite por tecnologia e inteligência artificial. No front externo, permanecem as incertezas envolvendo negociações comerciais dos EUA, o agravamento das tensões entre China e Japão e indicadores mais fracos na Ásia e na Europa, reforçando a narrativa de desaceleração.

· 00:57— Sinal trocado

No Brasil, a agenda desta semana combina dados relevantes e um pano de fundo ainda marcado por desinflação consistente e sinais divergentes de atividade. Teremos Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, fala do presidente do BC, Gabriel Galípolo, e divulgação do IBC-Br — que ocorre em um momento em que o IPCA de outubro (+0,09%) reforçou a qualidade do processo desinflacionário, com recuo nos núcleos e nos serviços. Do lado da atividade, porém, o quadro permanece misto: o varejo voltou a mostrar fraqueza em setembro, enquanto o setor de serviços acelerou. 

No front comercial, as atenções seguem voltadas às negociações entre Brasil e Estados Unidos depois do decreto de Trump, que retirou a tarifa básica de 10% sobre diversos produtos agropecuários — como carne bovina, banana, café e tomate — mas manteve a sobretaxa punitiva de 40% aplicada exclusivamente ao Brasil, mesmo com exceções pontuais. O movimento beneficiou concorrentes diretos, como Colômbia e Vietnã, que tiveram tarifas zeradas, enquanto produtos brasileiros — especialmente o café, que responde por 34% do mercado americano — seguem em desvantagem competitiva. Embora a revisão tarifária já esteja valendo para operações fechadas desde 13 de novembro, o resultado ficou aquém do esperado por Brasília, que continua pedindo uma pausa temporária de 90 dias e aguarda uma resposta formal de Trump.

No Legislativo, a semana será naturalmente esvaziada pelo feriado de quinta-feira, mas a Câmara tenta avançar amanhã na votação da Lei Antifacção, enquanto a Comissão de Assuntos Econômicos deve analisar a proposta que dobra a taxação sobre bets e eleva a tributação das fintechs. No campo político, a reorganização da oposição ganha tração: a convergência em torno de uma candidatura única começa a se delinear ao redor do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas — cenário que venho destacando aqui desde 2023 e que agora se torna mais visível no xadrez eleitoral.

· 01:47 — Aguardando pela Nvidia

Wall Street volta-se nesta semana para a divulgação dos resultados da Nvidia, cuja performance se consolidou como um verdadeiro termômetro do apetite por inteligência artificial — especialmente após a recente correção no setor e o aumento das dúvidas sobre valuations e níveis de capex. O calendário corporativo também será intenso entre as grandes varejistas, com Walmart, Home Depot e Target, oferecendo uma leitura crucial sobre a resiliência do consumidor americano. Paralelamente, após o fim do longo shutdown, o fluxo de indicadores econômicos começa a ser restabelecido.

Mesmo com mais de 80% das empresas do S&P 500 superando as expectativas, o mercado adotou um comportamento mais criterioso: disciplina financeira passou a ser valorizada, enquanto excessos são rapidamente penalizados. A volatilidade segue elevada — na última sexta-feira, o Nasdaq chegou a recuar quase 2% durante o pregão antes de virar para alta, enquanto S&P e Dow encerraram no campo negativo — num ambiente de carência de dados que deve mudar nos próximos dias. 

· 02:34 — Entre acordos e recuos

Os EUA e a Suíça estão próximos de concluir um acordo para reduzir tarifas de 39% para 15%. Em contrapartida, a Suíça se compromete a investir US$ 200 bilhões na economia americana ao longo do mandato de Trump — sendo US$ 70 bilhões já no próximo ano — além de ampliar a compra de aeronaves da Boeing. No mesmo movimento, a Casa Branca editou uma ordem executiva eliminando tarifas recíprocas sobre itens essenciais como café, carne bovina, bananas, abacates e tomates, após firmar acordos preliminares com Equador, Guatemala, Argentina e El Salvador. A iniciativa busca conter a pressão sobre o custo dos alimentos, que se tornou um tema político sensível após recentes vitórias democratas em pleitos locais.

· 03:26 — Outro sinal de mudança

No domingo, 16 de novembro, aproximadamente 13 milhões de chilenos foram às urnas em uma eleição presidencial marcada por forte polarização e por um ambiente social dominado pelo medo crescente da criminalidade e da imigração. A disputa ocorre após anos particularmente turbulentos em um país historicamente estável — maior produtor global de cobre e uma das economias mais desenvolvidas da América Latina. Durante o governo do presidente Gabriel Boric, jovem líder de esquerda eleito em 2021 após ondas de protestos contra a desigualdade, o Chile rejeitou duas propostas de reforma constitucional: a primeira, vista como excessivamente progressista por tentar incorporar “cosmovisões” diversas ao texto; a segunda, considerada conservadora demais por preservar elementos da Constituição herdada do regime de Augusto Pinochet. O resultado desse processo frustrado, somado às dificuldades econômicas e ao avanço da violência, deixou Boric profundamente impopular. Hoje, 50% dos eleitores apontam a criminalidade como principal problema do país, enquanto 30% destacam a imigração, segundo o instituto Activa.

Esse contexto levou a um resultado eleitoral que confirma um movimento que tenho destacado há mais de um ano: a guinada política da América do Sul. Depois da Argentina com Javier Milei em 2023 e da Bolívia com Paz em 2025, o Chile agora caminha para um segundo turno favorável à direita. No primeiro turno, Jeannette Jara — candidata de esquerda e apoiada por Boric — ficou em primeiro lugar com 26,85% dos votos, representando continuidade e, portanto, o desgaste do incumbente. Mas o dado realmente relevante está no conjunto: a direita chilena obteve seu melhor desempenho desde a redemocratização, conquistando mais da metade do Congresso e empurrando a esquerda para seu pior resultado em décadas. José Antonio Kast, nome da direita, ficou em segundo lugar com 23,93%, seguido por Franco Parisi (19,71%), Johannes Kaiser (13,94%) e Evelyn Matthei (12,46%) — todos de direita. Essa combinação torna o segundo turno, em dezembro, amplamente favorável a Kast (deve ganhar com mais de 55% dos votos). O Chile torna-se, assim, mais um capítulo de uma transformação regional que deve se aprofundar: Peru e Colômbia tendem a seguir caminho semelhante em 2026, e o Brasil pode se inserir nessa dinâmica.

· 04:15 — Crise diplomática no Oriente

A crise diplomática entre China e Japão ganhou intensidade após as declarações da primeira-ministra Sanae Takaichi, que classificou qualquer uso de força chinesa contra Taiwan como uma possível ameaça existencial ao Japão — interpretação que abriria espaço legal para apoio militar a aliados. A resposta de Pequim foi imediata e contundente: editoriais alinhados ao regime passaram a falar em “retaliação substancial”, o Exército de Libertação Popular alertou que o Japão poderia “se tornar um campo de batalha” em caso de envolvimento no Estreito de Taiwan, e o embaixador japonês foi convocado para uma reprimenda formal. Paralelamente, a China passou a emitir alertas de viagem e estudo a seus cidadãos, aumentando o risco econômico para setores sensíveis do Japão, como varejo e cosméticos, o que levou empresas como Shiseido e Pan Pacific a registrarem quedas superiores a 10% na bolsa.

Esse desdobramento coloca em risco o esforço de reconciliação que vinha sendo construído entre Takaichi e Xi Jinping, após um encontro recente que havia sinalizado intenção de estabilizar as relações. A reação chinesa — que chegou a incluir, ainda que removida depois, uma ameaça explícita feita pelo cônsul-geral em Osaka — reflete a profunda sensibilidade de Pequim ao tema de Taiwan e reforça que o governo espera nada menos do que uma retratação completa do Japão. Diante desse ambiente de retórica inflamada, pressões econômicas e crescente desconfiança mútua, o encontro entre os dois líderes no G20 dificilmente produzirá avanços, e o cenário mais provável é o de tensões persistentes entre China e Japão ao longo dos próximos anos, com impactos potenciais sobre fluxos comerciais, turismo e percepção de risco na região.

· 05:08 — Centro das atenções

Na semana passada, o setor de computação quântica voltou a ganhar destaque após a divulgação dos resultados das principais empresas do segmento, ainda que a reação imediata do mercado tenha sido marcada por ceticismo. D-Wave, Rigetti e IonQ sofreram quedas superiores a 10% em um único pregão, um movimento que reflete a aversão dos investidores diante da elevada volatilidade típica de tecnologias emergentes e ligadas à IA. Embora a visão estrutural permaneça positiva, o entusiasmo de curto prazo arrefeceu, levando inclusive a revisões baixistas de target.

Apesar disso, os avanços tecnológicos…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.