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Os mercados globais iniciam o dia em estado de cautela, à espera de uma bateria de indicadores relevantes nos Estados Unidos que deve testar a forte aposta — hoje próxima de 90% segundo o CME Group — de que o Federal Reserve volte a cortar juros já na próxima reunião. Na Ásia, o PMI de serviços da China apontou expansão moderada em novembro, com destaque para o avanço expressivo dos novos pedidos externos — o melhor desde fevereiro de 2023 — impulsionado pela redução das tensões comerciais com os EUA. Já o Japão permanece no centro do radar global, diante da volatilidade crescente no mercado de juros local, que tem provocado episódios de contágio em outros ativos internacionais. As bolsas da região mostraram desempenho misto, com novas perdas na China e alta no Japão.
Na Europa, os principais índices caminham de forma desigual, refletindo um ambiente mais construtivo antes dos dados americanos e das decisões de política monetária do Fed e do Banco do Japão. A inflação da zona do euro subiu levemente para 2,2%, movimento visto como benigno por permanecer muito próximo da meta oficial. Os PMIs divulgados pela manhã reforçaram a sinalização de melhora gradual da atividade, enquanto o PPI avançou 0,1% em outubro, em linha com o esperado. Investidores seguem atentos aos discursos de dirigentes do BCE, incluindo Christine Lagarde, em busca de pistas sobre a trajetória futura dos juros. No mercado de energia, o petróleo voltou a subir após a Rússia e os Estados Unidos não conseguirem avançar em negociações sobre a guerra na Ucrânia — fator que reacende temores sobre oferta.
· 00:57 — Novo dia, nova máxima
No Brasil, o Ibovespa renovou ontem seu recorde nominal ao encerrar o pregão acima dos 161 mil pontos, apoiado tanto pelo retorno do apetite ao risco no exterior quanto por fatores domésticos que reforçaram o humor do mercado. O primeiro deles foi a nova pesquisa AtlasIntel/Bloomberg, que comentei em detalhes ontem, indicando Tarcísio de Freitas apenas dois pontos atrás de Lula em um eventual segundo turno — um movimento bem recebido pelos investidores por aumentar a percepção de competitividade eleitoral da oposição em 2026 e, consequentemente, de maior probabilidade de mudança na orientação econômica. Esse efeito é reforçado pela deterioração recente da avaliação do governo e pela consolidação da segurança pública como principal preocupação do eleitorado, tema associado à oposição.
O segundo vetor veio da atividade: a produção industrial de outubro frustrou ao crescer apenas 0,1%, com queda relevante na manufatura e um nível de produção ainda cerca de 1% abaixo do observado em meados de 2024. Esses dados reforçam a expectativa de corte da Selic já em janeiro, embora o ciclo como um todo permaneça condicionado ao risco fiscal, como temos discutido recorrentemente. Sobre o tema fiscal, inclusive, no campo legislativo, o Congresso avançou com o projeto que eleva a tributação de bets e fintechs, contribuindo para o tom positivo. Em paralelo, governo e cúpula do Congresso chegaram a um acordo para incluir no Orçamento de 2026 um calendário de liberação de 60% a 66% das emendas parlamentares, destravando a votação do Orçamento, marcada para amanhã. O texto final será apresentado hoje na CMO, após negociações discretas que seguiram avançando apesar do conflito institucional.
Ainda assim, o clima político segue negativo. Davi Alcolumbre cancelou a sabatina de Jorge Messias ao STF e acusou o governo de omissão por não enviar a formalização da indicação, o que comprometeu o cronograma previsto. A relação desgastada também dificulta ajustes no projeto Antifacção, alterado na Câmara pelo relator Guilherme Derrite em uma versão vista como derrota para o Planalto. A tendência é que o Senado modifique o texto, o que forçará seu retorno à Câmara; se os deputados rejeitarem as mudanças, a versão original será encaminhada para sanção — e mesmo vetos presidenciais podem ser derrubados pelo Congresso. Por fim, uma ligação de 40 minutos entre Lula e Donald Trump trouxe algum alívio, com ambos discutindo temas comerciais pendentes e a redução de tarifas ainda vigentes sobre produtos brasileiros.
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· 01:43 — Reacendendo o apetite
Nos EUA, a recente recuperação do Bitcoin — que avançou cerca de 6% e voltou a romper a marca de US$ 90 mil — reacendeu o apetite por risco em Wall Street, favorecendo especialmente o segmento de tecnologia e os ativos de maior volatilidade. O movimento se refletiu nos principais índices: o Nasdaq subiu 0,6%, o S&P 500 ganhou 0,3% e o Dow Jones avançou 0,4%. Entre os ETFs temáticos, destaque para aqueles voltados a tecnologia, momentum e semicondutores. Para os entusiastas do mercado cripto, a estabilização das criptomoedas funciona como um verdadeiro termômetro do sentimento de risco — quanto mais rápido o mercado cripto encontra piso e volta a subir, maior a probabilidade de um rali até o fim do ano.
As “Sete Magníficas” também tiveram um dia positivo, com exceção da Tesla, mas quem roubou a cena foi a Apple, que voltou a encurtar a distância para a Nvidia na disputa pelo posto de maior empresa listada do mundo. As ações da gigante subiram 1,1%, apoiadas por sinais de demanda mais forte pela linha do iPhone 17, que pode retomar um crescimento de vendas em dois dígitos. No radar dos investidores, a agenda segue carregada: resultados de Salesforce, Snowflake, Dollar Tree e Five Below, além de indicadores importantes — como o relatório de emprego da ADP, o PMI de serviços do ISM e os preços de importação e exportação — que serão fundamentais para calibrar expectativas sobre inflação e o ritmo da atividade econômica nos EUA.
· 02:32 — E a Amazon também avança…
A Amazon apresentou o Trainium3, seu novo chip de inteligência artificial, como parte de uma estratégia clara para disputar espaço com o hardware avançado de Nvidia e Google e reforçar sua relevância entre as gigantes da computação. Apesar de a AWS seguir líder absoluta em computação e armazenamento em nuvem, a empresa ainda encontra obstáculos para atrair os desenvolvedores de IA mais sofisticados — muitos dos quais optam por Google ou Microsoft, que operam em sintonia mais próxima com o ecossistema da OpenAI. De acordo com a Amazon, o Trainium3 foi projetado para treinar modelos de IA de forma mais eficiente e com menor custo do que as GPUs tradicionais da Nvidia. Ainda assim, o chip esbarra em um desafio importante: a ausência de um ecossistema de software tão maduro quanto o que sustenta as GPUs concorrentes, componente decisivo para viabilizar a adoção rápida e facilitar o desenvolvimento de aplicações pelos clientes. Independentemente disso, trata-se de mais um passo firme de outra gigante na direção da fronteira da inteligência artificial.
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· 03:25 — Correção pesada
A American Bitcoin protagonizou, na terça-feira (2), uma das quedas mais abruptas já vistas no setor: perdeu 51% do valor em apenas 26 minutos. O movimento não apenas aprofundou a crise dos projetos ligados à família Trump — que vêm acumulando fortes perdas ao longo de 2025 — como também se tornou o símbolo do momento delicado vivido pelo mercado cripto na virada do ano. Embora o Bitcoin tenha recuado cerca de 25% nos últimos dois meses, os ativos associados aos Trump sofreram correções significativamente maiores, refletindo preocupações com governança, liquidez e confiança. Ainda assim, o Bitcoin ensaia uma recuperação modesta na quarta-feira, atingindo a máxima de duas semanas, enquanto o mercado tenta estabilizar-se.
Esse pano de fundo turbulento marcou a transição para um dezembro violento. No fim de novembro — apelidado de Painvember pela comunidade cripto — o Bitcoin mantinha relativa estabilidade em torno de US$ 90 mil. Mas a calmaria durou pouco: ao amanhecer de 1º de dezembro, o ativo já havia despencado abaixo de US$ 85 mil, arrastando consigo todo o mercado. O Ethereum devolveu os ganhos do feriado e encerrou o mês com a maior saída já registrada dos ETFs à vista. Mais de US$ 200 bilhões evaporaram do valor total das criptomoedas, ações sensíveis ao Bitcoin, como Coinbase e MARA Holdings, sofreram quedas acentuadas, e a Strategy — maior detentora corporativa de Bitcoin — precisou provisionar US$ 1,44 bilhão em caixa para evitar a venda forçada de criptoativos. Não à toa, o episódio foi descrito como um clássico evento de liquidez: rápido, doloroso e amplificado pelo efeito manada.
A conjuntura permanece desafiadora. O Bitcoin já acumula queda superior a 30% desde a máxima histórica de outubro. Ventos contrários macroeconômicos seguem no radar: a valorização abrupta do iene — que desfaz operações de carry trade e provocou quedas bruscas em 2024 — voltou a pressionar ativos de risco, reacendendo temores de nova onda de liquidações. Com incertezas adicionais sobre a trajetória de juros do Fed, o mercado segue altamente sensível a choques e deve permanecer sujeito a movimentos agressivos nas próximas semanas.
· 04:16 — O problema dos jovens
O desemprego juvenil voltou a ganhar protagonismo no debate internacional, alcançando níveis historicamente elevados e evidenciando um contraste profundo entre países desenvolvidos e economias em desenvolvimento. Nas nações avançadas, quatro em cada cinco jovens de 24 a 29 anos conseguem um emprego remunerado regular; nos países mais vulneráveis, essa proporção cai para apenas um em cinco. A raiz desse descompasso combina fatores persistentes: os efeitos duradouros da pandemia, que atrasou a entrada de milhões de jovens no mercado de trabalho; a desaceleração provocada pelas disputas comerciais globais; e, sobretudo, o avanço acelerado da inteligência artificial, que tem substituído justamente as vagas de nível inicial — tradicional porta de entrada dos recém-formados. Embora as origens variem entre África, Ásia e América do Sul, o padrão se repete: aumento de jovens sem estudo, emprego ou treinamento; redução das oportunidades formais; e uma sensação crescente de frustração entre os trabalhadores que chegam agora à vida adulta.
Essas pressões já transbordam para o campo social e geopolítico. Países tão distintos quanto Quênia, Marrocos, Peru e Nepal registram protestos da Geração Z motivados por desemprego, corrupção, custo de vida e deterioração das perspectivas econômicas. Ao mesmo tempo, a falta de oportunidades alimenta novas ondas migratórias em direção à Europa e à América do Norte, impulsionadas pela percepção de “ausência de futuro”, visto também no Brasil. Em regimes autoritários ou em ambientes politicamente frágeis, há ainda o risco de erosão do contrato social: muitos jovens deixam de atribuir desigualdade a falhas individuais e passam a culpabilizar a escassez de oportunidades e a piora econômica — movimento cada vez mais evidente na China, onde o termo “involução” simboliza a sensação de estagnação e impotência. O resultado é um cenário global mais instável, no qual o desemprego juvenil se torna um vetor relevante de tensão política, social e migratória, com impactos indiretos sobre risco país, fluxos de capitais e percepção internacional de diversas economias.
· 05:09 — Não é tão calamitoso como se teme
As ações da Nvidia vêm sendo negociadas próximas aos níveis de valuation mais baixos de sua história recente — após recuarem mais de 10% desde a máxima de novembro — movimento que, apesar de parecer negativo à primeira vista, pode abrir uma janela interessante para investidores otimistas. O múltiplo preço/lucro futuro gira hoje em torno de 25 vezes, patamar muito semelhante ao observado em outubro de 2023 e julho de 2022. Nas duas ocasiões, o mercado rapidamente reprecificou a ação, levando o P/L de volta para a faixa de 30 a 40 vezes em um intervalo de três a seis meses, tradicionalmente associado a fortes recuperações. Soma-se a isso o fato de a Nvidia negociar com o maior desconto já registrado em relação à Broadcom — cerca de 40% — indicando que o mercado pode estar penalizando a empresa de forma excessiva diante do temor de perda de participação na corrida da IA.
Grande parte dessas preocupações deriva do avanço…