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Investimentos

Petróleo em baixa, payroll adiado pelo shutdown e repercussão da isenção de IR: Veja os destaques do dia

Petróleo caminha para uma queda semanal próxima a 8% enquanto aguarda reunião da OPEP+; saiba o que move o mercado nesta quinta

Por Matheus Spiess

03 out 2025, 10:03

Atualizado em 03 out 2025, 10:03

urso touro mercado ibovespa ações 2t25 trimestre resultado

Imagem: iStock/ @Eoneren

Os futuros americanos abriram a sexta-feira em leve alta, dando sequência ao tom positivo de uma semana histórica que levou Nasdaq, S&P 500 e Dow Jones a novos recordes — impulsionados principalmente pelo entusiasmo com a inteligência artificial.

O início do dia, no entanto, é marcado pela incerteza em torno do shutdown do governo dos EUA, que levou ao adiamento da divulgação do payroll, um dos indicadores mais relevantes para orientar a política monetária do Federal Reserve.

A ausência desses dados adiciona ruído ao cenário de juros, justamente em um momento em que a baixa percepção de risco de desemprego tem sido um dos principais fatores de sustentação da expansão econômica americana.

Embora paralisações costumem apenas redistribuir a atividade entre períodos — ou seja, o que se perde em um mês tende a ser compensado no seguinte —, há riscos mais estruturais: se parte dos funcionários for efetivamente demitida, e não apenas afastada temporariamente, essas perdas deixam de ser recuperadas, afetando de forma mais duradoura o crescimento do PIB.

A expectativa é de que o Senado possa retomar hoje as negociações com fim do feriado de Yom Kippur, mas até o momento não há sinais concretos de resolução.

Nos mercados internacionais, o clima é de otimismo moderado. As bolsas globais estendem a sequência positiva pelo sexto pregão consecutivo, com destaque para o setor de tecnologia e para o embalo proporcionado pelo avanço da IA.

Na Ásia, o pregão foi misto, com mercados chineses e sul-coreanos fechados por feriados — no Japão, Hitachi e Fujitsu foram destaques de alta após anunciarem novos acordos com a OpenAI e a Nvidia, respectivamente.

Entre os ativos, o ouro segue em alta, o petróleo recua antes da reunião da OPEP+ (caminha para uma queda semanal próxima de 8%) e o iene enfraquece diante da comunicação ambígua do Banco do Japão.

Na Europa, os índices avançam apoiados nas apostas de flexibilização monetária pelo Fed, mesmo com a paralisação do governo americano ainda em curso. Dados alternativos mais fracos de emprego reforçaram as expectativas de corte de juros nos EUA, enquanto o BCE deve manter sua política inalterada na reunião de outubro. Já no Brasil, a aprovação da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda representou uma vitória política relevante para o governo Lula e reacendeu preocupações fiscais. 

· 00:51 — Isenção do IR para salários de até R$ 5 mil

Por aqui, a aprovação do projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil mensais se destacou no radar do mercado. A vitória política do governo Lula na Câmara — onde a proposta foi aprovada por unanimidade — abriu caminho para uma tramitação acelerada no Senado. A expectativa é de que os senadores votem o texto diretamente no plenário, possivelmente em regime de urgência, evitando alterações que obrigariam o retorno à Câmara.

Não é novidade que há mérito em uma reforma ampla do Imposto de Renda — o próprio projeto aprovado reconhece a necessidade de uma atualização estrutural futura, após mais de uma década de congelamento da tabela, desde o governo Dilma. O problema está menos na direção e mais na forma: pode tratar-se de mais um “puxadinho” tributário, solução parcial e improvisada que se soma a um sistema já marcado por remendos sucessivos. Sim, foi o possível no atual contexto político, mas o episódio evidencia dois pontos centrais:

  • i) a baixa densidade estrutural dos projetos que vêm sendo aprovados, muitos dos quais empurram para 2027 — após as eleições — a necessidade de um ajuste fiscal profundo; e
  • ii) o potencial uso eleitoreiro de uma medida meritória, com impactos diretos sobre a percepção dos investidores quanto às eleições de 2026.

Do ponto de vista fiscal e macroeconômico, o projeto deve gerar efeitos relevantes. Embora as medidas compensatórias criem, em princípio, um equilíbrio de curto prazo, o aumento de renda disponível tende a pressionar a inflação — justamente no momento em que o país começava a flertar com um ciclo de cortes de juros mais consistente.

Vale lembrar que a principal raiz dos juros elevados no Brasil é fiscal: a dívida bruta passou de 71,7% do PIB em 2022 para uma projeção de 82,7% em 2026, um salto de 11 pontos percentuais, enquanto o déficit nominal médio gira em torno de 8,5% do PIB — um dos maiores do mundo, superado na América Latina apenas pela Bolívia.

Para comparação, EUA, França e Reino Unido operam déficits de 5% a 6% do PIB. O gasto público federal real (acima da inflação) crescerá cerca de 17% no atual mandato, quase o dobro da expansão observada entre 2014 e 2022, de 9%. A combinação de forte expansão fiscal e arrecadação elevada — via estímulos e tributação de baixa elasticidade — pressiona a inflação, mantém os juros reais curtos em torno de 10% e abre a curva. Pequenos ajustes de despesa poderiam reduzir substancialmente os juros reais, mas o governo vigente segue na direção contrária.

A situação se agrava com o surgimento de novas ideias de forte impacto fiscal, como a proposta de tarifa zero para ônibus urbanos. Embora fontes da equipe econômica avaliem que sua implementação imediata seja “remota”, admitem que a medida pode ser incorporada ao programa de reeleição de Lula (ou de seu sucessor) em 2026. Idealizada por Haddad ainda em 2012, quando era prefeito de São Paulo, a proposta teria custo estimado de R$ 60 bilhões e ilustra bem a falta de convicção fiscalista do governo.

Em paralelo, a tração política crescente de Lula preocupa investidores que apostavam em alternância de poder. Caso essa possibilidade se reduza, o prêmio de risco pode aumentar significativamente: em 2027, o país precisará de um ajuste fiscal da ordem de R$ 250 bilhões, que só poderá vir do controle de despesas obrigatórias.

A partir de amanhã, o calendário entra oficialmente na janela de 12 meses para as eleições de 2026, marcadas para 4 de outubro. Cada vez mais, o processo eleitoral tende a influenciar diretamente a precificação dos ativos. Nesse contexto, o maior desafio da oposição está em sua capacidade de organização — fator que, mais do que medidas pontuais do governo, determinará a viabilidade de uma alternância de poder.

· 01:48 — Mercados seguem em alta mesmo com shutdown

Apesar da paralisação do governo americano, os mercados de ações seguiram firmes, demonstrando resiliência diante do impasse político em Washington. Na quinta-feira, os três principais índices de Wall Street renovaram recordes históricos: o Dow Jones avançou 0,2%, o S&P 500 teve alta de 0,1% e o Nasdaq, mais sensível ao desempenho do setor de tecnologia, subiu 0,4%.

Com isso, S&P 500 e Nasdaq atingiram o 30º recorde de fechamento no ano, enquanto o Dow Jones registrou seu 10º. Historicamente, episódios de shutdown costumam gerar apenas ruídos de curto prazo, sem efeitos duradouros sobre os mercados — e, até aqui, essa tendência tem se mantido.

Ainda assim, a indefinição sobre a duração da paralisação adiciona uma camada de incerteza: se prolongado, o bloqueio pode atingir até 750 mil servidores federais, reduzindo a renda disponível de famílias, pressionando o consumo e reacendendo preocupações sobre a capacidade do governo americano de gerir sua política fiscal. Esse cenário pode aumentar a volatilidade não apenas nos mercados acionários, mas também nos de títulos e câmbio. Já vimos esse filme antes…

Além disso, um dos efeitos mais imediatos do shutdown é a interrupção da divulgação de dados oficiais, peças-chave para orientar a política monetária do Federal Reserve. Relatórios importantes, como o de bens duráveis e os pedidos de seguro-desemprego, foram suspensos, assim como o payroll de setembro — indicador que poderia consolidar hoje as apostas em novos cortes de juros neste mês. Com a lacuna informacional, investidores e analistas têm recorrido a dados alternativos, como os relatórios da ADP e da Challenger, Gray & Christmas, que apontam para um mercado de trabalho em ritmo moderado, com menor dinamismo nas contratações e poucas demissões, além de uma expectativa mais fraca para a criação de vagas sazonais no varejo no fim do ano. Indicadores privados, como o PMI de Serviços do ISM, seguem no calendário e devem oferecer algum sinal de atividade, ainda que limitado. 

· 02:37 — A Tesla voltou?

A Tesla alcançou um marco expressivo ao estabelecer um novo recorde de vendas no terceiro trimestre de 2025. A montadora de Elon Musk comercializou cerca de 497 mil veículos no período, um crescimento de 7,4% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior e um resultado superior às projeções do mercado.

O desempenho foi impulsionado principalmente pela corrida dos consumidores para aproveitar o crédito tributário federal de US$ 7.500, que expirou em 30 de setembro, antecipando compras que poderiam ocorrer ao longo dos próximos meses. Esse fator, no entanto, também sinaliza um provável arrefecimento das vendas no curto prazo, já que o fim do subsídio deve reduzir o ritmo de demanda.

Além disso, a Tesla já vinha enfrentando ventos contrários importantes: a intensificação da concorrência no mercado global de veículos elétricos e o crescente desgaste da imagem de Musk, cuja atuação política polarizadora tem gerado ruído entre consumidores e investidores — ainda que ele tenha alcançado o status inédito de primeiro meio trilionário do mundo.

Enquanto isso, o setor de veículos autônomos avança de forma consistente. A Waymo, da Alphabet, obteve autorização para testar até oito carros autônomos em Manhattan e no centro do Brooklyn até setembro de 2025, com possibilidade de ampliação posterior. A medida representa um passo relevante para a tecnologia, uma vez que Nova York é conhecida por ser um dos ambientes urbanos mais complexos e regulados dos Estados Unidos. A empresa já soma mais de 10 milhões de viagens autônomas realizadas em cidades como São Francisco e Austin, e segue expandindo seu alcance geográfico com planos de iniciar operações em Atlanta, Miami, Washington e Filadélfia.

Essa estratégia reforça o posicionamento da Waymo como uma das principais candidatas a liderar a corrida pela mobilidade autônoma nos EUA, em um mercado que, embora ainda incipiente, pode redefinir a indústria automotiva na próxima década.

· 03:23 — Disrupção no comércio

Ao longo de 2025, o comércio global foi marcado por um comportamento atípico dos estoques nos Estados Unidos, que impactou significativamente os fluxos internacionais. Diante da perspectiva de novas tarifas, atacadistas americanos anteciparam importações de forma seletiva, o que gerou ondas de estocagem desiguais entre os diferentes setores e provocou distorções relevantes no ritmo das trocas comerciais.

Ainda que as tensões entre Washington e seus principais parceiros tenham aumentado, o quadro global está longe de se assemelhar ao ambiente protecionista da década de 1930: enquanto os EUA erguem barreiras, as demais grandes economias mantêm um comércio relativamente fluido entre si, preservando a integração de cadeias produtivas complexas e assegurando um nível consistente de intercâmbio internacional.

As medidas americanas, contudo, reverberam de forma ampla sobre cadeias de suprimentos longas e interconectadas, amplificando seus efeitos além das fronteiras imediatas. A menor demanda dos EUA por produtos acabados chineses, por exemplo, reduz a necessidade da China por componentes fabricados na Coreia do Sul, afetando diferentes elos produtivos em cascata.

Paralelamente, práticas de redirecionamento de exportações por meio de países terceiros, utilizadas para contornar tarifas (algo que os EUA, se identificarem, prometeram punir), podem inflar artificialmente os dados de comércio, enquanto oscilações cambiais tendem a valorizar o montante em dólar das exportações destinadas a outros mercados.

Apesar dessas distorções, os volumes de exportação de China, União Europeia, Japão e Coreia do Sul permanecem próximos dos recordes do boom pós-pandemia quando se exclui o comércio com os EUA — um sinal de que a economia global, em sua maior parte, segue resiliente e bem conectada.

· 04:15 — EUA vs. Venezuela

O governo Trump vem adotando uma postura cada vez mais assertiva em relação à Venezuela, aproximando-se de um confronto direto que pode resultar em uma mudança de regime patrocinada pelos Estados Unidos — justamente o tipo de intervenção externa que o próprio presidente havia prometido evitar. Mais recentemente, Washington mobilizou uma operação militar de grande escala no Caribe, oficialmente apresentada como parte de uma ofensiva antidrogas.

Na prática, porém, trata-se de um posicionamento militar robusto: sete navios de guerra, um submarino nuclear, mais de dois mil fuzileiros navais e aviões de vigilância foram deslocados para a região. A Marinha americana já realizou um ataque letal contra uma embarcação supostamente ligada ao tráfico, matando integrantes do grupo criminoso “Tren de Aragua”.

Paralelamente, o governo americano passou a classificar Nicolás Maduro como chefe de cartel e estuda enquadrar seu regime como “Estado patrocinador do terror” — medida que abriria espaço legal para ações mais agressivas. Outras decisões reforçam esse movimento: a recompensa pela captura de Maduro foi elevada para US$ 50 milhões e o Departamento de Defesa recebeu autorização para empregar força militar contra cartéis na Venezuela e no México.

Embora Trump apresente impulsos ambíguos sobre intervenções, figuras influentes como Marco Rubio têm liderado uma ofensiva mais dura, apostando que uma pressão militar intensa possa provocar fissuras internas no regime e levar enfim à queda do ditador chavista venezuelano.

Os riscos associados a essa estratégia são expressivos. Apesar da vitória da oposição nas eleições de 2024 e de sua disposição em assumir o poder (na figura de Edmundo González), a maioria não aposta em uma transição tranquila. O cenário mais plausível é de que uma eventual mudança ocorra dentro do próprio regime, possivelmente por meio da ascensão de uma liderança militar alternativa.

Mesmo nesse caso, fica o alerta para um processo prolongado, instável e potencialmente violento, dado o histórico de desconfiança entre militares e oposição. Além dos riscos operacionais e políticos, há a possibilidade de um efeito reverso: ações militares limitadas dos EUA poderiam fortalecer Maduro internamente, estimulando o nacionalismo e unindo parte da população em torno do regime diante de uma ameaça externa, em um eco das intervenções americanas do século XX na América Latina.

Ainda assim, três vetores parecem orientar o cálculo estratégico da Casa Branca:

  • atender ao eleitorado preocupado com o tráfico de drogas;
  • avançar a agenda ideológica de setores republicanos que veem a queda de Maduro como primeiro passo para enfraquecer Cuba e Nicarágua; e
  • reafirmar a hegemonia dos EUA em uma região onde a China ampliou sua influência econômica.

Nesse contexto, a Venezuela se transforma em um palco simbólico e estratégico, no qual política doméstica, ideologia e geopolítica se entrelaçam — elevando de forma considerável o risco de uma escalada militar.

· 05:02 — Intensificando a segurança

A Dinamarca intensificou de forma expressiva seu aparato de segurança após uma sequência de incursões de drones de grande porte, que autoridades locais associam a tentativas russas de desestabilização. Logo antes de sediar uma importante cúpula da União Europeia em Copenhague, já encerrada, o país recebeu reforço militar de aliados da OTAN, incluindo recursos antidrones da Suécia, Alemanha e França, além do envio da fragata alemã Hamburg. Aproximadamente 75 militares europeus e um helicóptero francês foram mobilizados para proteger aeroportos, instalações estratégicas e áreas sensíveis na capital, em resposta a episódios recentes que chegaram a interromper temporariamente operações aéreas. Embora a investigação oficial ainda não tenha identificado a origem das incursões, a primeira-ministra Mette Frederiksen atribuiu-as à Rússia — acusação que o Kremlin nega categoricamente.

Esse aumento da vigilância ocorre em ambiente….

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.