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Investimentos

Risco fiscal pesa sobre o Ibovespa, enquanto ouro bate novos recordes; veja os destaques desta quarta (8)

Desempenho do metal é reflexo de busca dos investidores por porto seguro e falta de confiança no dólar

Por Matheus Spiess

08 out 2025, 09:29

Atualizado em 08 out 2025, 09:29

ouro mercado

Imagem: Edição CanvaPro

O preço do ouro ultrapassou a marca de US$ 4.000 por onça pela primeira vez na história, em meio a um ambiente global marcado por elevada incerteza econômica e política. A paralisação do governo americano, que já dura mais de uma semana, somada a preocupações com a sustentabilidade fiscal dos EUA, a independência do Federal Reserve, o comércio internacional e as crescentes tensões geopolíticas, levou investidores a intensificar a busca por ativos considerados portos seguros.

Assim, o metal caminha para registrar seu melhor desempenho anual desde a década de 1970, período em que a inflação acelerada e o fim do padrão-ouro provocaram uma valorização histórica. Acontece que o ouro vem sendo visto como um porto mais confiável que o dólar, refletindo as dúvidas crescentes sobre a moeda americana e sua capacidade de preservar valor num cenário de pressões fiscais e instabilidade política.

Nos demais mercados, o clima é de maior cautela. Em Wall Street, os principais índices encerraram ontem uma sequência de oito pregões consecutivos de alta, pressionados pelo impasse político nos EUA e pela expectativa em torno da ata do Federal Reserve, marcada para hoje.

Na Ásia, as bolsas acompanharam o tom negativo de Nova York, com quedas moderadas no Japão, Hong Kong e Taiwan, em mais um dia sem negociações na China e na Coreia do Sul devido ao feriado da Golden Week.

Na Europa, em contrapartida, os mercados abriram em alta nesta manhã, refletindo um otimismo cauteloso diante das negociações para a formação de um novo governo na França, após a recente crise política.

Entre as commodities, o petróleo voltou a operar em alta, enquanto investidores aguardam os dados semanais de estoques nos EUA e avaliam o impacto do aumento de produção anunciado pela Opep+. No Brasil, o risco fiscal entrou novamente no radar e tem pressionado os ativos neste início de outubro.

· 00:57 — Mau humor no Ibovespa

Por aqui, o Ibovespa registrou ontem sua maior queda em quase dois meses, refletindo a crescente preocupação dos investidores com o cenário fiscal brasileiro (havia espaço para alguma realização de lucro).

O movimento ocorreu em meio à tramitação da Medida Provisória que busca alternativas ao aumento do IOF, peça considerada estratégica pela Fazenda para reforçar a arrecadação e sustentar o equilíbrio das contas públicas. A MP, no entanto, corre risco de perder a validade à meia-noite de hoje, após ter sido aprovada por uma margem apertada na Comissão Mista (13 votos a 12), mesmo após passar por alterações relevantes no texto.

Essas concessões reduziram a projeção de receitas para 2026 de R$ 20,9 bilhões para cerca de R$ 17 bilhões. Entre as mudanças, destacam-se a manutenção das isenções para LCAs e LCIs — cuja tributação de 5% poderia render R$ 2,6 bilhões ao governo —, a retirada do aumento da alíquota sobre apostas esportivas de 12% para 18%, que representaria cerca de R$ 1,7 bilhão, e a fixação do IR sobre JCP em 18%, abaixo dos 20% inicialmente previstos.

Embora relevante, esse ruído fiscal é modesto se comparado à preocupação maior dos mercados: o risco de que o governo Lula avance em medidas de caráter populista que pressionem ainda mais as contas públicas. Um exemplo emblemático é a proposta de gratuidade nas passagens de ônibus, que, embora tenha sido descartada no curto prazo por técnicos da Fazenda, está sendo mapeada a pedido direto do presidente — informação confirmada por Fernando Haddad ontem.

Esse debate fiscal ocorre em um momento em que a popularidade do governo Lula voltou a subir, reduzindo a distância entre aprovação e desaprovação para apenas um ponto percentual — o melhor resultado desde janeiro. De acordo com a pesquisa mais recente, 48% da população aprovam o governo e 49% desaprovam.

Esse movimento positivo também tem contado, ironicamente, com a ajuda da oposição: a atuação da ala mais radical da direita, liderada por Eduardo Bolsonaro, tem contribuído para a recuperação da imagem do governo — no episódio recente envolvendo Trump, com quem Lula manteve, até agora, uma relação amistosa. Entramos agora na janela de 12 meses que antecede as eleições municipais, período no qual notícias relacionadas a pesquisas e percepções sobre uma possível alternância de poder costumam aumentar a volatilidade dos mercados.

A probabilidade de que uma agenda econômica menos comprometida com o ajuste fiscal ganhe espaço no debate político vem aumentando — um movimento que tende a pesar sobre os ativos domésticos, sobretudo porque uma nova rodada de reformas fiscais será inevitável em 2027. Em 2025, é improvável que surjam avanços estruturais significativos nessa frente — o foco tende a se deslocar apenas em 2026, a menos que a oposição consiga se reorganizar antes do previsto, o que, até aqui, tem se mostrado um desafio. Diante desse cenário, a recomendação é clara: o investidor deve preparar-se para um ambiente de maior oscilação política e fiscal, com impactos potenciais relevantes sobre os preços dos ativos domésticos.

· 01:45 — Na expectativa pela ata do Fomc

Nos Estados Unidos, os mercados acionários enfrentaram um pregão desafiador, em contraste com a contínua escalada do ouro, impulsionada por um ambiente de incertezas políticas e econômicas.

Um dos principais destaques foi a disparada de mais de 200% nas ações da Trilogy Metals, após o governo Trump anunciar um investimento de US$ 35,6 milhões para adquirir 10% da companhia.

O movimento faz parte de uma estratégia para fortalecer o fornecimento doméstico de minerais essenciais do Alasca, revertendo decisões ambientais do governo Biden. A medida também reflete a crescente preocupação dos EUA em reduzir a dependência externa, especialmente da China, que ainda responde por cerca de 70% da produção global de terras raras.

No mercado acionário americano, os índices encerraram em baixa: o Nasdaq recuou 0,7%, o S&P 500 caiu 0,4% — interrompendo uma sequência de sete altas consecutivas — e o Dow Jones perdeu 0,2%.

No setor de tecnologia, a Oracle foi duramente penalizada após uma reportagem revelar margens de lucro bem menores que o esperado em seu negócio de computação em nuvem com chips Nvidia, com perdas estimadas em cerca de US$ 100 milhões em três meses.

A ação chegou a cair 7,1% ao longo do dia e fechou em queda de 2,4%, arrastando consigo o setor de tecnologia e contribuindo para a fraqueza do S&P 500, num sinal claro de que a rentabilidade dos investimentos em inteligência artificial ainda se encontra em estágios iniciais.

No cenário macroeconômico, a atenção dos investidores se volta para a divulgação da ata da última reunião do Federal Reserve, prevista para hoje. Em setembro, o banco central americano realizou seu primeiro corte de juros do ano, reduzindo a taxa básica em 25 pontos-base, para a faixa de 4,00% a 4,25%.

As expectativas de mercado apontam para uma probabilidade de 96% de um novo corte de mesma magnitude no final de outubro e 85% de chance de mais uma redução em dezembro. Apesar disso, dirigentes do Fed têm sinalizado uma postura mais prudente: a inflação permanece acima da meta de 2% e há dúvidas sobre a real necessidade de estímulos adicionais diante de uma economia ainda resiliente.

A paralisação do governo americano, que interrompeu a divulgação de dados oficiais de emprego, aumentou a incerteza, obrigando a autoridade monetária a calibrar suas decisões com informações mais limitadas. Nesse contexto, a ata ganha importância adicional, podendo oferecer sinais sobre como o Fed está avaliando o comportamento da inflação e do mercado de trabalho, em um momento em que restam apenas duas reuniões até o fim do ano.

· 02:34 — Surpresa?

A Tesla surpreendeu o mercado ao anunciar versões mais acessíveis de seus dois principais modelos, em uma estratégia clara para sustentar o ritmo de vendas diante do fim dos incentivos fiscais federais de US$ 7.500 para veículos elétricos nos Estados Unidos.

O novo Model Y terá preço inicial de US$ 39.900, cerca de 11% mais barato que a versão básica anterior, enquanto o Model 3 começará em US$ 36.900. Ambos ficam abaixo da marca simbólica de US$ 40.000, um patamar que Elon Musk vem citando desde 2013 como meta estratégica para ampliar o acesso à marca e conquistar novos segmentos de consumidores.

A decisão ocorre após um terceiro trimestre excepcional, impulsionado pela corrida de clientes para aproveitar os créditos fiscais antes de sua expiração. No entanto, vale a atenção para um ponto importante: esses novos veículos não são modelos inéditos, mas versões simplificadas dos já existentes, com menor autonomia, acabamento mais básico e menos opções de personalização.

Ou seja, trata-se mais de um ajuste de portfólio do que de uma inovação capaz de expandir significativamente o público da marca, o que reduziu o impacto da surpresa.

A reação do mercado financeiro foi dividida. Por um lado, a iniciativa foi vista como um movimento positivo para preservar as entregas trimestrais e reforçar a competitividade da Tesla frente aos fabricantes chineses de veículos elétricos de baixo custo, cuja presença global vem crescendo rapidamente.

Por outro, os descontos são relativamente modestos — em torno de US$ 5.000 — e podem pressionar as margens de lucro, ao mesmo tempo em que incentivam consumidores a migrar para versões mais baratas, sem gerar um aumento proporcional na base de novos compradores.

A ausência de um modelo totalmente novo, que muitos investidores esperavam como catalisador de um novo ciclo de crescimento, frustrou parte do mercado. O reflexo foi imediato: as ações da Tesla encerraram o pregão de terça-feira em queda de 4,5%, sinalizando a postura mais cautelosa dos investidores em relação à estratégia comercial da companhia neste novo contexto mais competitivo e desafiador.

· 03:28 — Mudança de planos

A Agência Internacional de Energia (AIE) promoveu uma revisão significativa em suas projeções para a expansão das energias renováveis nos EUA até 2030, reduzindo-as pela metade — de 500 para 250 gigawatts — em resposta às mudanças de política implementadas pelo governo Trump.

De acordo com o relatório Renewables 2025, a nova legislação intitulada “One Big Beautiful Bill” altera profundamente os principais pilares de incentivo ao setor. Entre as medidas adotadas estão a eliminação antecipada dos créditos fiscais federais, em vigor desde 1992 e peça central para viabilizar economicamente projetos renováveis; a imposição de novas restrições à importação de equipamentos; a suspensão de novos arrendamentos para energia eólica offshore; e a limitação de autorizações para projetos solares e eólicos em terras federais. Em conjunto, essas iniciativas tornam o ambiente menos previsível e menos estimulante para novos investimentos, reduzindo a velocidade de expansão da capacidade renovável americana num momento em que o setor vinha ganhando tração global.

No plano internacional, o quadro geral permanece positivo, ainda que um pouco menos robusto. A AIE projeta que a capacidade global de geração renovável deverá dobrar até 2030, com um acréscimo de 4.600 gigawatts — sendo cerca de 80% provenientes da energia solar e a maior parte do restante de fontes eólicas. Apesar do crescimento expressivo, a previsão foi ajustada para baixo em aproximadamente 5%, reflexo sobretudo de mudanças políticas nos dois principais motores da transição energética: Estados Unidos e China. No caso chinês, a substituição das tarifas fixas de longo prazo por um modelo de leilões com contratos por diferença tende a provocar uma desaceleração temporária no ritmo de novas instalações no segundo semestre de 2025. Ainda assim, a China continuará ocupando posição central nesse movimento, respondendo por cerca de 60% de toda a expansão global prevista, e devendo alcançar suas metas de energia solar e eólica para 2035 com cinco anos de antecedência, consolidando-se como o centro da nova onda de crescimento renovável.

· 04:19 — A corrida do ouro não para

Geralmente mencionado como uma das principais recomendações desta newsletter, o ouro foi o grande protagonista dos mercados ontem, ao atingir novos recordes históricos e desviar os holofotes das bolsas de valores.

Os contratos futuros ultrapassaram a marca simbólica de US$ 4.000 por onça-troy pela primeira vez, coroando a melhor trajetória do metal desde 1979, com valorização superior a 50% apenas em 2025. Essa escalada impressionante reflete a intensificação da busca global por ativos de refúgio diante de um ambiente político e econômico excepcionalmente conturbado.

Três acontecimentos, em particular, ajudaram a impulsionar os preços:

  • a paralisação do governo americano, já no oitavo dia e comprometendo a divulgação de indicadores econômicos importantes;
  • a renúncia do primeiro-ministro francês, que aprofundou a crise política e fiscal na França; e
  • a ascensão de Sanae Takaichi no Japão, cuja postura favorável a políticas fiscais expansionistas pressionou o iene e os títulos soberanos japoneses.

Somam-se a isso os cortes de juros promovidos pelo Federal Reserve, que reduzem a atratividade de ativos tradicionais com rendimento e tornam o ouro relativamente mais competitivo.

A alta do metal é alimentada tanto por investidores individuais quanto por grandes instituições. Bancos centrais vêm ampliando suas reservas há meses, em um movimento coordenado de diversificação e proteção diante de tensões comerciais e riscos geopolíticos crescentes. Investidores institucionais e de varejo também têm direcionado recursos para ETFs lastreados em ouro, buscando blindar portfólios contra um cenário de dólar mais fraco e possível correção nos mercados acionários globais.

Figuras de peso, como Ken Griffin e Ray Dalio, reforçam essa visão: Dalio, por exemplo, sugere alocações relevantes da carteira em ouro como estratégia de proteção. Paralelamente, o bitcoin também renovou máximas acima de US$ 125 mil, indicando que a busca por alternativas está se espalhando por diferentes classes de ativos, mesmo as mais diferentes.

Em um contexto de instabilidade política internacional, juros em queda e dúvidas crescentes sobre a capacidade dos governos de manter a disciplina fiscal, o ouro reafirma seu papel histórico como porto seguro — e, neste momento, como um dos ativos mais observados pelos investidores globais.

· 05:03 — Um renascimento digno de nota

A energia nuclear, que por décadas permaneceu à margem do debate energético global devido a preocupações com segurança, vive hoje um renascimento inequívoco. Sua participação na matriz elétrica mundial recuou de 17% em 1996 para 9% em 2024, refletindo anos de estagnação e desconfiança. No entanto, avanços tecnológicos e regulatórios — especialmente no campo da segurança — combinados à crescente urgência por fontes de energia de baixo carbono, reacenderam o interesse de governos e empresas. Um catalisador adicional vem das…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.