Trump reacendeu as tensões comerciais com a China ao ameaçar a imposição de tarifas de 100%, provocando uma forte correção nos mercados globais na sexta-feira. No entanto, ao adotar um tom mais conciliador no fim de semana, contribuiu para uma melhora perceptível no sentimento dos investidores nesta segunda-feira.
Dados econômicos da China referentes a setembro surpreenderam positivamente, com exportações e importações superando as projeções do mercado — as exportações avançaram 8,3%, no ritmo mais acelerado dos últimos seis meses —, evidenciando a capacidade de Pequim de redirecionar seus fluxos comerciais para outros destinos diante de barreiras impostas pelos EUA.
Essa trégua parcial teve reflexos imediatos nos ativos globais: os futuros de ações e do petróleo subiram, o mercado de ouro registrou alívio e as criptomoedas se recuperaram de uma queda recorde de US$ 19 bilhões, ocorrida após o anúncio inicial das tarifas. Ainda assim, o principal risco para os mercados não reside necessariamente nas tarifas adicionais em si, mas na imprevisibilidade crescente da política comercial americana, que já começa a influenciar decisões de investimento e produção de empresas nos Estados Unidos.
No panorama internacional, uma série de eventos adiciona complexidade ao ambiente. Na França, Macron reconduziu Sébastien Lecornu ao cargo de primeiro-ministro e anunciou um novo gabinete na tentativa de conter a crise política e avançar com a aprovação do orçamento de 2026, em meio à ameaça de uma moção de censura por parte de Marine Le Pen.
No Japão, a dissolução da coalizão governista elevou as incertezas em torno de novos estímulos fiscais, pressionando os títulos públicos locais.
No Oriente Médio, Trump viaja para formalizar um acordo de paz em Gaza, após o Hamas libertar sete reféns, movimento que contribuiu para reduzir tensões no mercado de petróleo.
Já na Ásia, as bolsas recuaram diante das dúvidas sobre a durabilidade da trégua comercial entre Washington e Pequim, mesmo com investidores aproveitando oportunidades de compra na queda.
A combinação de uma política comercial volátil, instabilidade política na França e no Japão e oscilações bruscas em commodities e criptoativos indica que, após meses de relativa calmaria, os mercados globais voltaram a navegar em meio à turbulência marcada por maior incerteza e volatilidade.
· 00:53 — Preparando o canhão
No Brasil, a semana passada foi marcada por uma nova intensificação das preocupações fiscais, reforçada pela derrota do governo com a derrubada da Medida Provisória alternativa ao IOF — um revés que abrirá um rombo de aproximadamente R$ 46,5 bilhões nas contas públicas até o final de 2026. Esse episódio agravou a percepção de fragilidade fiscal num momento em que o governo já enfrenta dificuldades para apresentar soluções consistentes de arrecadação e controle de gastos.
A semana que se inicia traz uma agenda econômica relevante, com dados que ajudarão a medir o ritmo da atividade em agosto: volume de serviços (terça-feira), vendas no varejo (quarta-feira) e IBC-Br (quinta-feira).
Na manhã de hoje, o Boletim Focus trouxe uma notícia parcialmente positiva, ao mostrar nova queda nas expectativas de inflação para 2025. No front legislativo, os holofotes se voltam para a audiência de terça-feira na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, que discutirá o projeto de isenção do Imposto de Renda — já aprovado por unanimidade na Câmara.
A tramitação deve durar cerca de um mês e poderá sofrer ajustes de redação, retornando, assim, à Câmara dos Deputados. Além disso, na quinta-feira, o Congresso analisará a LDO de 2026 em meio a um ambiente de incertezas fiscais crescentes.
Paralelamente, o governo prepara um pacote voltado à baixa renda e à classe média, antecipando pautas que deverão embalar a campanha de 2026. Medidas como tarifa zero no transporte público e o fim da jornada 6×1 estão no radar — propostas de forte apelo eleitoral, mas insustentáveis. Lula, ao que tudo indica, começa a posicionar seu arsenal populista para a disputa eleitoral, seja para si, seja para seu sucessor, usando temas de alto impacto político como bandeiras antecipadas de campanha.
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· 01:41 — Esperando pelo início da temporada de resultados
Com o prolongamento da paralisação do governo americano e a escalada das tensões comerciais entre EUA e China, os mercados financeiros voltam suas atenções para um novo catalisador: a temporada de resultados do terceiro trimestre.
Os grandes bancos americanos — JPMorgan, Goldman Sachs, Wells Fargo, Citi, Bank of America e Morgan Stanley — abrem a safra de balanços, acompanhados por empresas de referência como Johnson & Johnson e American Express.
Em um momento em que dados macro oficiais estão atrasados por conta do shutdown, esses resultados ganham peso adicional como termômetro da saúde financeira do sistema bancário e do comportamento do consumidor americano.
Paralelamente, falas de dirigentes do Federal Reserve, a divulgação do Livro Bege e os encontros anuais do FMI e do Banco Mundial ajudarão a moldar as expectativas sobre os próximos passos da política monetária. O pano de fundo, no entanto, é de maior incerteza: na sexta-feira, os mercados globais foram sacudidos pela pior queda desde abril, após Trump anunciar a intenção de impor tarifas adicionais de 100% sobre produtos chineses e cancelar um encontro com Xi Jinping, reacendendo uma guerra comercial mais agressiva.
A resposta dos investidores foi imediata. O S&P 500 caiu 2,7%, o Nasdaq recuou 3,6% e o Dow Jones perdeu quase 880 pontos, em um movimento liderado por fortes quedas em empresas de semicondutores, montadoras e multinacionais com forte exposição ao mercado chinês.
Em contrapartida, ações de mineradoras de terras raras dispararam, refletindo a expectativa de maior intervenção estatal americana para garantir acesso a esses insumos estratégicos. O episódio destacou que o principal risco, neste momento, não está apenas no impacto direto das tarifas, mas na imprevisibilidade crescente da política comercial dos EUA — um fator capaz de desorganizar cadeias de suprimentos críticas e reacender pressões inflacionárias domésticas.
Nesse contexto, a temporada de balanços assume protagonismo como fonte primária de informação para investidores, compensando parcialmente a ausência de indicadores oficiais e ajudando a calibrar expectativas em um ambiente de volatilidade elevada e visibilidade reduzida.
· 02:38 — Provocações
Após um breve período de relativa trégua, as tensões comerciais entre Estados Unidos e China voltaram a se intensificar de forma significativa. O presidente Donald Trump anunciou a imposição de uma tarifa adicional de 100% sobre produtos chineses, além da implementação de restrições à exportação de “todos os softwares críticos” a partir de 1º de novembro.
A medida foi uma resposta direta ao endurecimento da postura de Pequim, que na semana passada introduziu controles inéditos sobre a exportação de metais de terras raras. De acordo com as novas regras, empresas estrangeiras que desejarem exportar produtos contendo esses insumos precisarão obter aprovação prévia das autoridades chinesas.
Trump acusou a China de explorar seu “monopólio” sobre o setor, que concentra cerca de 60% da mineração e mais de 90% do processamento global desses 17 metais — fundamentais para tecnologias sensíveis e estratégicas, como semicondutores, sistemas de mísseis, smartphones e veículos elétricos.
A decisão chinesa quebrou um entendimento firmado em junho, que previa flexibilização das restrições, e foi interpretada como um movimento calculado para ampliar o poder de barganha de Pequim nas negociações comerciais com Washington.
A reação dos mercados foi imediata. Com a suspensão do encontro previamente planejado entre Trump e Xi Jinping, investidores buscaram refúgio em ativos considerados mais seguros, como o ouro, enquanto ações de mineradoras americanas de terras raras registraram fortes altas — refletindo expectativas de uma política industrial mais assertiva para reduzir a dependência dos EUA em relação à China.
A escalada também repercutiu entre aliados estratégicos, como a Alemanha, que iniciou conversas com a União Europeia para ampliar a produção de terras raras no continente e mitigar vulnerabilidades geopolíticas e econômicas.
O episódio evidencia que, apesar de eventuais momentos de distensão, a rivalidade estrutural entre as duas maiores economias do mundo permanece intensa, com potencial para gerar impactos significativos sobre cadeias globais de suprimentos e setores tecnológicos estratégicos.
· 03:25 — Apenas o início
Israel iniciou a retirada parcial de suas tropas do norte da Faixa de Gaza como parte do cessar-fogo mediado pelos EUA, ao qual tanto Tel Aviv quanto o Hamas aderiram nesta semana. A decisão abriu caminho para o retorno de dezenas de milhares de palestinos deslocados à região, que foi severamente devastada por intensos bombardeios ao longo do conflito. De acordo com os termos do acordo, os 20 reféns israelenses ainda mantidos em cativeiro estão sendo libertos nesta segunda-feira (sete já foram liberados), em troca da soltura de prisioneiros ex-integrantes do Hamas.
Israel continuará controlando aproximadamente metade do território e se comprometeu a permitir um fluxo significativamente maior de ajuda humanitária para o enclave, que abriga cerca de 2,2 milhões de pessoas. A libertação dos primeiros reféns foi conduzida discretamente pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha e ocorreu pouco antes da chegada do presidente Donald Trump a Israel, onde participará da cerimônia oficial de assinatura do acordo, mediado também por Egito, Catar e Turquia. A medida alimenta expectativas de um desfecho para um conflito que desestabilizou a região.
· 04:12 — Empolgação com convicção, mas não sem alguns custos…
A empolgação que cerca a inteligência artificial se apoia na convicção de que os investimentos realizados hoje pavimentarão ganhos substanciais de produtividade e crescimento econômico ao longo do tempo.
A construção de data centers, o fortalecimento de infraestrutura tecnológica e os avanços em pesquisa e desenvolvimento funcionam como motores diretos da atividade econômica, uma vez que o investimento é um dos principais componentes do PIB. Esse movimento já tem contribuído de forma relevante para sustentar o crescimento dos EUA neste momento, ao estimular setores como construção civil, tecnologia e serviços especializados. Além de mobilizar cadeias produtivas complexas, esses investimentos geram empregos e ampliam a demanda por mão de obra qualificada, impulsionando a economia.
No curto prazo, no entanto, os impactos são mais ambíguos e podem inclusive conter o crescimento em determinados segmentos. O redirecionamento de capital para projetos intensivos em IA tende a pressionar custos e a deslocar recursos de outras áreas produtivas.
Para ilustrar, o aumento da demanda energética dos data centers tem provocado elevações significativas nos preços regionais de eletricidade. Essa alta encarece a vida dos consumidores, que passam a ter menos renda disponível para outros bens e serviços, e eleva os custos de empresas com uso intensivo de energia, comprometendo sua competitividade.
Em casos extremos, negócios produtivos hoje podem ser inviabilizados para abrir espaço a um setor que só entregará retornos econômicos plenos no futuro. Essa transição tecnológica, embora promissora, pode criar um “vazio” temporário na trajetória de crescimento, exigindo atenção redobrada aos seus efeitos distributivos e setoriais — um lembrete de que a inovação, apesar de benéfica no longo prazo, raramente ocorre sem fricções no presente.
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· 05:09 — Uma valorização excepcional
O ouro atravessa um ciclo de valorização excepcional, já tendo ultrapassado a marca de US$ 4.000 por onça, dobrando de preço em menos de dois anos, impulsionado por uma combinação incomum e poderosa de fatores macroeconômicos e geopolíticos. A queda das taxas de juros reduz o custo de oportunidade de manter o metal, enquanto a inflação persistentemente elevada reforça seu papel como reserva de valor. A desvalorização do dólar amplia ainda mais sua atratividade global. A conjuntura política em Washington — marcada pela turbulência institucional, pelos ataques de Trump ao Federal Reserve e por um ciclo de afrouxamento monetário — recria um ambiente reminiscentemente inflacionário dos anos 1970, historicamente favorável ao ouro como ativo de proteção. Ao mesmo tempo, investidores privados voltaram com força ao mercado: ETFs adicionaram mais de 100 toneladas do metal em setembro, o maior volume em mais de três anos. Agora, se apenas 1% das alocações privadas em Treasuries migrassem para ouro, o preço poderia se aproximar de US$ 5.000 por onça.
Essa tendência é reforçada por uma…