Imagem: Divulgação/ The White House
O fim do mandato de Jerome Powell como presidente do Federal Reserve, o banco central dos EUA, está previsto para maio de 2026. Contudo, Donald Trump tem ameaçado “demitir” o banqueiro repetidamente nos últimos meses, insatisfeito com a resistência da autarquia em abaixar as taxas de juros.
Nesses ataques, o republicano sempre apontou o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, como uma opção viável para o posto, graças ao seu posicionamento ativo em defesa da aplicação de tarifas comerciais mais expressivas.
No entanto, o nome de Bessent para a cadeira de presidente do Fed “saiu de cena”. Segundo o presidente dos EUA, o secretário afirmou que “quer ficar onde está”.
Na visão do analista de macroeconomia da Empiricus Research, Matheus Spiess, “Trump eliminou do páreo um nome com significativa influência política e econômica, sugerindo que a sucessão de Jerome Powell está longe de ser trivial.”
Saída de diretora do Fed acalorou a discussão
Na sexta-feira (2), após a renúncia da diretora do Fed Adriana Kugler, a discussão sobre a sucessão de Powell voltou a se intensificar.
Kugler havia sido nomeada pelo ex-presidente Joe Biden e seu mandato expirava em cinco meses. A saída abre espaço para que Trump nomeie alguém que estará elegível como substituto de Powell no próximo ano
Por enquanto, o analista explica que a disputa continuará concentrada entre figuras alinhadas ideologicamente à cartilha de Trump, com nomes como:
- Christopher Waller, atual governador do Fed;
- Kevin Hassett, diretor do Conselho Econômico Nacional;
- Kevin Warsh, ex-diretor do Fed.
Trump disse ao canal de notícias norte-americano CNBC que “ambos os Kevins seriam bons”. O analista Matheus Spiess apresenta outra percepção sobre a lista:
“Nomes diferentes, mesma afinidade: todos vistos como possíveis agentes de uma inflexão institucional profunda. A questão, portanto, não é apenas ‘quem será’, mas ‘quão independente será’. Acredito que Kevin Warsh seja o favorito, pois traria menos fricção.”
Mudanças na presidência do Fed preocupam o mercado
Segundo o analista da Empiricus, para além da troca de comando, o que se delineia é um projeto de reengenharia do próprio Fed.
“O plano inclui cortes de pessoal, a reorganização dos bancos regionais e, sobretudo, uma redefinição da missão da autoridade monetária: o Fed passaria a operar sob nova lógica, mais atrelada aos interesses da Casa Branca do que ao manual ortodoxo de política econômica.”
Um dos nomes listados, Kevin Warsh, chamou isso de uma “mudança de regime”. O efeito colateral seria imediato, segundo o analista, com o rompimento da coesão institucional do comitê e a politização de uma instituição historicamente guiada pela tecnocracia.
“O FOMC se aproximaria, assim, do modelo da Suprema Corte americana — polarizado, instável e sujeito a guerras de nomeações.”
Spiess enxerga que a sucessão de Powell pode ser uma “peça-chave não apenas da política monetária, mas da própria batalha eleitoral e da estabilidade dos mercados.”
Desentendimentos entre Trump e Powell sobre os juros
Desde que assumiu a presidência, em janeiro deste ano, Trump critica o posicionamento do Fed de não cortar os juros. “Powell não cortou os juros prudentemente, porque não sabemos os impactos das tarifas na maneira como estão sendo aplicadas”, afirma o analista.
Na última reunião do FOMC, finalizada na última quarta-feira (30 de julho), a decisão final foi de manter a taxa. Apesar disso, dois diretores de política monetária se mostraram a favor da redução nos juros. “É natural que o corte seja bem recebido pelo mercado, contanto que isso esteja pautado por decisões técnicas, não pela politização de opiniões”, comenta Spiess.
O analista completa que há um medo de ingerência política sobre o Fed, o que mina a credibilidade da independência da autoridade monetária.