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Investimentos

Volatilidade à vista: Mercados atravessam dia sob influência geopolítica e de indicadores econômicos

Ouro segue nos holofotes com escalada das tensões comerciais entre EUA e China e discurso cauteloso de Powell

Por Matheus Spiess

15 out 2025, 09:39

Atualizado em 15 out 2025, 09:39

mercados internacionais geopolítica guerras ata do fed

2024, o ano da geopolítica. Imagem: Freepik

Os mercados globais atravessam a quarta-feira (15) sob a influência simultânea de fatores geopolíticos, expectativas de política monetária e indicadores econômicos ambíguos, resultando em um ambiente de alta volatilidade.

O ouro foi o protagonista de ontem: impulsionado pela busca dos investidores por ativos de proteção em meio à escalada das tensões comerciais entre EUA e China e pelo discurso cauteloso de Jerome Powell, o metal atingiu um novo recorde histórico de fechamento, cotado a mais de US$ 4.160 por onça.

O presidente do Federal Reserve sinalizou que um novo corte de 25 pontos-base na taxa de juros deve ocorrer na próxima reunião, destacando a desaceleração no ritmo de contratações e priorizando o mercado de trabalho em detrimento de preocupações inflacionárias — atualmente com núcleo em 2,9%, nível considerado apenas “ligeiramente elevado”.

Powell também indicou que o programa de aperto quantitativo deverá ser encerrado em breve. Essas declarações reforçaram o otimismo dos mercados futuros, mas foram parcialmente contrabalançadas pelo aumento das tensões geopolíticas: Trump ameaçou suspender o comércio de óleo de cozinha com Pequim, classificando a recusa chinesa em comprar soja americana como um “ato economicamente hostil”, depois do governo chinês ter intensificado os controles sobre exportações de terras raras, replicando a estratégia dos EUA sobre semicondutores e elevando o tom do embate estratégico entre as duas potências.

Na Ásia e na Europa, os mercados reagiram de forma construtiva, aproveitando o impulso vindo dos sinais de flexibilização monetária americana. As bolsas asiáticas encerraram a sessão em alta, revertendo as perdas da véspera, com destaque para o desempenho das ações de tecnologia.

Na Europa, o movimento também é positivo nesta manhã, especialmente em Paris: a bolsa francesa superou os pares após o primeiro-ministro Sébastien Lecornu anunciar o adiamento da reforma previdenciária para depois das eleições de 2027 — uma medida que assegura apoio político no curto prazo, embora aumente o risco fiscal.

Já na China, os dados de inflação reforçaram o quadro de demanda interna fraca: os preços ao consumidor caíram 0,3% e ao produtor recuaram 2,3%, marcando o 36º mês consecutivo de deflação na porta de fábrica — a sequência mais longa desde as reformas de mercado dos anos 1970. O governo chinês tem recorrido a estímulos direcionados, mas a recuperação tende a ser lenta, limitada pela crise imobiliária, pelo consumo anêmico e pela deterioração das relações comerciais.

Nos EUA, os mercados futuros operam em alta, sustentados por expectativas praticamente de novos cortes de juros em outubro e dezembro e por uma safra de resultados trimestrais, com destaque para Bank of America e Morgan Stanley.

· 00:54 — A persistente dança das inconsistências fiscais

No Brasil, a agenda traz hoje as vendas no varejo referentes a agosto, que devem indicar uma moderação no ritmo de crescimento. No conceito ampliado, a expectativa é de alta de 0,7%, após avanço de 1,3% em julho; já o varejo restrito deve subir 0,2%, revertendo a queda de 0,3% registrada no mês anterior. O resultado vem na esteira do setor de serviços, que apresentou crescimento de 0,1% em agosto, levemente acima das projeções de estabilidade — sinalizando continuidade da expansão econômica, embora em um compasso mais moderado.

De todo modo, a atividade doméstica segue em território positivo, o que dificulta a trajetória de cortes de juros por parte do Banco Central, que precisa calibrar o afrouxamento monetário em uma economia resiliente.

Ao mesmo tempo, os ativos locais continuam a enfrentar ventos fiscais contrários. Apesar de um ambiente global mais favorável — com perspectiva de cortes de juros e dólar mais fraco, beneficiando mercados emergentes —, as incertezas fiscais internas seguem pesando sobre o sentimento dos investidores. Sobre o tema, o governo adiou a votação do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026, enquanto busca alternativas para compensar a queda de receita provocada pela derrubada da MP alternativa ao IOF.

Paralelamente, apresentou ao Tribunal de Contas da União (TCU) sua defesa em relação à prática de perseguir o piso da meta fiscal, amplamente criticada pela Corte. O argumento central do TCU permanece robusto e justificado: criar cerca de R$ 90 bilhões em exceções orçamentárias à meta e, ainda assim, mirar o piso do arcabouço representa uma estratégia questionável, que demanda correção.

Para completar, surgiu mais um fator de ruído: o governo estuda uma operação de crédito de R$ 20 bilhões com Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e instituições privadas para socorrer os Correios. A operação, que teria garantias da União, seria condicionada a medidas de ajuste na gestão da estatal. A empresa enfrenta uma deterioração acelerada de resultados: desde 2022 acumula prejuízos crescentes.

A necessidade projetada é de R$ 10 bilhões já em 2025 e mais R$ 10 bilhões em 2026, destinados a capital de giro e medidas de reestruturação. A operação de salvamento, além de sinalizar a fragilidade da estatal, gerou ruído adicional no mercado, reforçando preocupações com a sustentabilidade fiscal do governo (se for salvar outras estatais).

· 01:43 — Ambiente volátil

O mercado americano viveu uma sessão volátil ontem, marcada por nova queda após comentários de Donald Trump sobre o comércio com a China. O S&P 500 chegou a caminhar para sua maior recuperação desde abril, mas encerrou o pregão em leve queda de 0,1%, enquanto o Nasdaq recuou 0,8%. O Dow Jones, por sua vez, subiu 203 pontos (+0,4%), registrando sua maior reversão intradiária desde 30 de abril. O movimento de alta perdeu força quando Trump indicou que a recusa da China em comprar soja americana era um “ato economicamente hostil” e que os EUA consideravam suspender o comércio de óleo de cozinha como retaliação. As declarações renovaram os temores de escalada da guerra comercial.

Autoridades americanas tentaram conter os ânimos: o Representante Comercial dos EUA, Jamieson Greer, afirmou que o país não aceitará que a China mantenha um regime que lhe permita vetar cadeias de suprimentos estratégicas, e classificou a postura chinesa como uma “grande escalada”. Agora, mesmo que a ameaça de Trump acabe sendo apenas ruído de curto prazo, o episódio reforça que o risco geopolítico seguirá embutido nos preços dos ativos enquanto não houver sinais concretos de avanço nas negociações.

A turbulência ofuscou o início positivo da temporada de balanços dos grandes bancos e antecede uma agenda relevante: hoje serão divulgados resultados de companhias como ASML, Bank of America e United Airlines, além do Livro Bege, que trará relatos regionais sobre a economia americana.

· 02:37 — O começo de temporada

A nova temporada de resultados corporativos nos EUA teve início em ritmo acelerado, marcada pela divulgação de números sólidos dos principais bancos de Wall Street. JPMorgan Chase, Citigroup, Wells Fargo, BlackRock e Goldman Sachs apresentaram resultados trimestrais acima das expectativas, reforçando a percepção de resiliência financeira mesmo em um ambiente de incertezas macroeconômicas.

O mercado estava particularmente atento aos sinais sobre a saúde do consumidor, e os dados vieram positivos: carteiras de crédito robustas e declarações otimistas das lideranças indicam que fatores de pressão, como tarifas comerciais e políticas migratórias, ainda não tiveram impacto relevante sobre os níveis de inadimplência.

O JPMorgan, por exemplo, revisou para baixo sua projeção de inadimplência líquida em cartões, de 3,6% para 3,3%, destacando a “resiliência contínua do consumidor” como principal razão para o ajuste. A instituição ponderou, no entanto, que seu público tende a ter pontuações de crédito mais altas do que a média, o que pode atenuar eventuais sinais de fragilidade.

No mercado acionário, a reação foi heterogênea: Wells Fargo disparou 7,2% e liderou os ganhos do S&P 500, seguida por Citigroup (+3,9%) e BlackRock (+3,4%), enquanto JPMorgan e Goldman Sachs registraram quedas de 1,9% e 2%, respectivamente. No agregado, o ETF SPDR S&P Bank avançou 3%, refletindo um otimismo comedido.

Ao mesmo tempo, as expectativas para os resultados do terceiro trimestre seguem elevadas, com aproximadamente 12% das empresas do S&P 500 divulgando seus balanços só nesta semana.

Diferentemente do padrão histórico, o mercado não revisou para baixo suas projeções de lucro por ação nos meses que antecederam a temporada — um movimento incomum que contribuiu para a recuperação dos mercados em setembro.

Este foi o primeiro ano desde 2023 em que não houve cortes nas estimativas, que normalmente variariam entre -3% e -4%. Ainda assim, tarifas mais elevadas podem começar a pressionar os resultados corporativos e o consumo, enquanto os investimentos maciços em inteligência artificial, embora tenham impulsionado o mercado, levantam preocupações sobre o aumento do endividamento empresarial para financiar projetos de capital. Apesar desses desafios, as estimativas iniciais de lucro por ação para o S&P 500 em 2026 estão em trajetória ascendente.

· 03:22 — Tensões comerciais persistem

As tensões comerciais entre Estados Unidos e China voltaram a ganhar intensidade após declarações de Donald Trump, que classificou a recusa de Pequim em comprar soja americana como um “ato economicamente hostil” e sinalizou que considera suspender o comércio de óleo de cozinha com o país como forma de retaliação.

O episódio ocorre em um momento em que as relações entre China e União Europeia também se deterioram: Bruxelas discute a possibilidade de exigir que empresas chinesas compartilhem tecnologia com companhias europeias como condição para manterem operações no bloco. A escalada geopolítica repercutiu nos mercados. Paralelamente, o Fundo Monetário Internacional adotou um tom mais prudente ao comentar o cenário global, destacando os riscos decorrentes de níveis elevados de endividamento, inflação persistente e crescimento mais fraco. Ainda assim, revisou para cima sua projeção de expansão global para 2025, de 3% para 3,2%.

Em resposta às crescentes restrições comerciais, Pequim deu início a medidas retaliatórias, impondo uma “taxa portuária” de US$ 1,7 milhão ao porta-contêineres americano Matson Waikiki, que atracou recentemente no Porto de Xangai. Essa ação é um indicativo de que a China pode ampliar seu escopo de retaliações para além de tarifas e controles de investimento, passando a atingir cadeias logísticas — o que teria potencial para elevar custos de transporte e pressionar cadeias globais de suprimentos. 

· 04:15 — Uma grande derrota para Macron

O primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, recém-reconduzido ao cargo, demonstrou abertura para suspender a reforma previdenciária que eleva a idade mínima de aposentadoria — uma das medidas econômicas centrais de Macron — como gesto de pacificação política. Em um discurso de 30 minutos em Paris, Lecornu fez um apelo direto aos parlamentares para que evitem uma crise fiscal e se comprometeu a construir, em conjunto com o Legislativo, um acordo orçamentário que devolva estabilidade ao país. Trata-se de uma inflexão relevante na estratégia do governo frente ao impasse parlamentar, ainda que simbolize uma derrota para Macron.

Nesse contexto, o posicionamento do Partido Socialista tornou-se determinante. Ocupando um papel estratégico na Assembleia Nacional, seus líderes condicionaram o apoio ao governo à suspensão da reforma previdenciária. Paralelamente, tanto a direita, liderada por Marine Le Pen, quanto a esquerda anunciaram a intenção de apresentar moções de desconfiança contra Lecornu hoje, aumentando a pressão. A percepção de que o risco de eleições antecipadas diminuiu trouxe alívio aos mercados, mas essa possibilidade ainda não saiu completamente do radar dos investidores.

· 05:01 — Movimento Estratégico em Infraestrutura Paulista: A Aquisição da EMAE pela Sabesp

No início do mês, a Sabesp anunciou a aquisição da EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), em um movimento de grande relevância estratégica para o setor de infraestrutura paulista. Criada nos anos 1990, a EMAE consolidou-se como um ativo híbrido, atuando simultaneamente na geração hidrelétrica — com 961 MW de capacidade instalada — e na gestão hídrica em áreas críticas da Região Metropolitana de São Paulo. A empresa é responsável por sistemas fundamentais, como os reservatórios Billings e Guarapiranga e o sistema Alto Tietê, pilares da segurança hídrica estadual. Com concessões de longo prazo, de até 18 anos, e receitas anuais em torno de R$ 2 bilhões indexadas à inflação, a companhia combina previsibilidade financeira e atratividade para investidores de perfil de infraestrutura. A operação tem impacto direto sobre duas empresas listadas relevantes já mencionadas aqui: de um lado, marca a saída da Eletrobras, simplificando seu portfólio; de outro, reforça a estratégia da Sabesp — cujo principal acionista privado é a Equatorial — de expandir sua presença em ativos para o abastecimento e a transição hídrica do estado.

Para a Sabesp, a aquisição de 70% da EMAE por R$ 1,1 bilhão representa um…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.