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O estilista e empresário Giorgio Armani morreu na semana passada, aos 90 anos. Fim de uma era. O mestre da elegância discreta se foi, mas deixou lições que vão muito além da moda.
Ética, disciplina, integridade. Foi assim que construiu sua vida, sua marca e sua fortuna. Morreu como o terceiro homem mais rico da Itália, segundo a Forbes, com um patrimônio estimado em 12 bilhões de dólares.
A primeira loja da Armani em São Paulo ficava na esquina da Oscar Freire com a Bela Cintra, nos Jardins, a poucos metros do apartamento onde passei minha adolescência e juventude.
Sempre que passava em frente à loja, a vitrine me chamava atenção. O corte, a simplicidade, o ar de sofisticação. Algo impactava aquele adolescente que só pensava em acompanhar o Corinthians e ouvir heavy metal.
Intuitivamente, eu sentia que havia ali algo maior do que roupa.
Mais tarde, já trabalhando, minha mãe comprou um paletó xadrez naquela mesma loja. Eu o usava com orgulho. Não era apenas uma roupa. Era a materialização da elegância.
O cinema também ajudou a eternizar Armani. American Gigolo, com Richard Gere, e The Untouchables levaram seus ternos às telas. Esses filmes marcaram minha adolescência e apresentaram uma nova estética de masculinidade: sobriedade, confiança, presença.
A mesma elegância estava no jeito de Armani trabalhar. Ética invejável. Discrição absoluta. Nada de escândalos ou polêmicas, tão comuns no mundo da moda. Nada de atalhos. Apenas foco e disciplina.
Nos negócios, manteve a empresa independente quando tantos se venderam a conglomerados. Não por teimosia, mas por convicção. E, ao mesmo tempo, planejou a sucessão sem deixar nada ao acaso.
Esse rigor deu resultado. Prestígio global, fortuna bilionária, legado preservado.
Na vida pessoal, a mesma postura. Elegância simples, sem exagero. Sua vida falava por ele.
Seu cuidado com o futuro foi além. No testamento, Armani instruiu os herdeiros a vender uma participação inicial de 15% da empresa, dando prioridade a gigantes europeus que ele próprio admirava, como LVMH, Essilor-Luxottica ou L’Oréal.
O comitê executivo da Giorgio Armani disse em comunicado que os documentos confirmam “a intenção do Sr. Armani de salvaguardar a continuidade estratégica, a coesão corporativa e a estabilidade financeira para o desenvolvimento de longo prazo.”
Nem tudo foi perfeito, porém. O enorme sucesso do estilista empresário teve o seu custo. Em sua última entrevista, ao Financial Times, em agosto, Armani revelou o único arrependimento:
“Ter passado horas demais trabalhando e não tempo suficiente com amigos e família.”
Armani partiu. Mas deixou uma mensagem clara. É possível ter sucesso sem trair princípios. Crescer e deixar um legado sem abrir mão da própria essência.
E é disso que se trata tanto investir como empreender. Não é correr atrás de modismos ou ganhos fáceis. É consistência, disciplina e visão de longo prazo. No fim, é isso que sustenta o verdadeiro legado.