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Os mercados acionários norte-americanos seguem, por enquanto, relativamente indiferentes à paralisação do governo, sustentados sobretudo pela força do setor de tecnologia e pelo entusiasmo persistente em torno da inteligência artificial.
No entanto, essa complacência pode não durar: caso o bloqueio orçamentário se estenda, os efeitos econômicos começarão a se intensificar. Salários de funcionários federais poderão ser suspensos já nos próximos dias, a Casa Branca considera demissões permanentes e, historicamente, períodos prolongados de paralisação estão associados a quedas significativas no sentimento do consumidor.
A incerteza também afeta a política monetária: o Federal Reserve está operando com dados econômicos defasados — como o relatório de empregos de setembro ainda não divulgado — a menos de três semanas da próxima decisão de juros. Diante desse quadro, o mercado reduziu para 82% a probabilidade de dois cortes adicionais ainda este ano, e os balanços dos grandes bancos, esperados para a próxima semana, devem ganhar protagonismo como indicador indireto da saúde financeira das famílias americanas.
No Japão, o colapso da coalizão governista às vésperas da posse de Sanae Takaichi abre um novo ciclo de instabilidade política.
Na França, Emmanuel Macron deve anunciar ainda hoje seu novo primeiro-ministro.
No Oriente Médio, Donald Trump anunciou que o Hamas devolverá os reféns israelenses no início da próxima semana, após a assinatura da primeira fase de um acordo de cessar-fogo — um passo que reduziu tensões geopolíticas e pressionou para baixo os preços do petróleo.
Já nos EUA, empresas de mineração de terras raras dispararam em bolsa após novas restrições de exportação impostas pela China, em um movimento estratégico que antecede a aguardada reunião entre Trump e Xi Jinping.
Na América Latina, a venezuelana María Corina Machado, líder da oposição ao regime de Maduro, foi agraciada com o Nobel da Paz, enquanto no Peru, a destituição de Dina Boluarte levou José Jeri à presidência (terceiro presidente em apenas três anos).
· 00:58 — Buscando por alternativas
No Brasil, em um dia de agenda mais esvaziada, os investidores voltaram suas atenções para a busca do governo por substitutos à MP alternativa ao IOF, que caducou na quarta-feira e abriu mais uma frente de incerteza fiscal.
Nesse contexto, o Ibovespa voltou a recuar, mesmo diante de um IPCA levemente abaixo das expectativas. A leitura qualitativa do dado foi positiva: a média dos núcleos ficou abaixo do piso do intervalo histórico e o índice de difusão veio inferior à média do período. Esses sinais sugerem que o aperto monetário prolongado começa a surtir efeito sobre a dinâmica inflacionária.
Isso poderia, em tese, oferecer alguma margem adicional para a antecipação do ciclo de cortes de juros — possibilidade hoje considerada apenas para a primeira ou segunda reunião do Banco Central em 2026. Se os próximos indicadores confirmarem esse alívio, não se pode descartar completamente a hipótese de um corte já em dezembro, ainda que o BC tenha mantido um discurso bastante conservador, justificado pelas expectativas de inflação ainda bastante desancoradas.
No front fiscal, porém, a situação continua delicada. A equipe econômica trabalha, na prática, em um “plano B do plano B”, numa sequência de improvisos e soluções paliativas para compensar a perda de receita da MP caducada.
Em um movimento que parece mais do que mera coincidência, Cristiano Zanin desengavetou uma ação protocolada em abril de 2023 que questiona a constitucionalidade da prorrogação da desoneração da folha de pagamentos aprovada pelo Congresso há quase dois anos. O montante envolvido é idêntico ao valor estimado da MP perdida. Não seria a primeira vez que o governo recorre ao Judiciário após derrotas no Legislativo.
Outras alternativas em avaliação incluem uma nova elevação do IOF e a reedição de normas que limitam compensações tributárias. Além disso, bloqueios e contingenciamentos adicionais devem ser anunciados no Orçamento de 2025, com prazo até 22 de novembro, quando sai o próximo Relatório Bimestral de Receitas e Despesas.
No campo político, o presidente Lula pondera entre confiança pessoal e cálculo estratégico na escolha do sucessor de Luís Roberto Barroso no STF. Jorge Messias, chefe da AGU e figura próxima ao núcleo petista — conhecido nacionalmente como “Bessias” no episódio da ligação entre Dilma e Lula vazada por Sérgio Moro — desponta como favorito no critério de confiança. Já Rodrigo Pacheco, ex-presidente do Senado, ganha força como alternativa política.
Paralelamente, a derrota da MP do IOF acirrou a polarização entre Fernando Haddad e Tarcísio de Freitas: o ministro acusou o governador de articular contra o governo, enquanto Tarcísio respondeu duramente, posicionando-se, aos olhos do Planalto, como o principal adversário para 2026. Cada vez mais o vetor eleitoral para o ano que vem poderá fazer preço sobre os ativos.
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· 01:41 — Mercado de destaque
O Brasil consolidou-se como o mercado de crescimento mais dinâmico da OpenAI na América Latina, refletindo a rápida disseminação da inteligência artificial no país.
Hoje, mais de 50 milhões de brasileiros utilizam mensalmente o ChatGPT, trocando aproximadamente 140 milhões de mensagens por dia — um volume que posiciona o país como um dos principais polos de uso global.
Esse movimento ocorre em paralelo a tendências internacionais: a Índia, apoiada por sua vasta comunidade de desenvolvedores, já se tornou a segunda maior base de usuários da empresa no mundo, enquanto a Austrália emerge como um importante centro de adoção empresarial na região Ásia-Pacífico.
Para acompanhar essa expansão, a OpenAI inaugurou um escritório em São Paulo, que servirá não apenas como base operacional, mas também como centro estratégico de disseminação tecnológica. O espaço funcionará como hub de treinamento para educadores, organizações sem fins lucrativos e pequenas empresas, além de ponto de encontro para a comunidade de desenvolvedores em rápido crescimento.
Parece haver uma energia real em torno da IA no país: startups estão surgindo em ritmo acelerado e grandes corporações já incorporam essas ferramentas em suas operações, sinalizando um ecossistema fértil para inovação e adoção em larga escala. É um grande potencial para o país no futuro.
· 02:36 — Volatilidade em alto nível
Nos EUA, as ações encerraram a quinta-feira em leve queda, após um início de sessão animador que levou os índices a renovarem máximas intradiárias. O ímpeto inicial foi sustentado pelos resultados trimestrais positivos da PepsiCo e da Delta Air Lines, mas o movimento não se sustentou ao longo do dia.
Paralelamente, o sentimento dos investidores atingiu níveis de otimismo pouco vistos desde 2024. A pesquisa da Investors Intelligence mostrou alta dos otimistas para 57,7% e queda dos pessimistas para 15,4% — a menor leitura em mais de um ano. Esse clima de confiança elevada acendeu alerta com o excesso de otimismo (sinal clássico de problema). Ainda assim, dados históricos sugerem que comprar ações em máximas recordes não costuma ser uma estratégia ruim para investidores de longo prazo, já que os retornos subsequentes do S&P 500 tendem a ser apenas ligeiramente inferiores à média histórica.
No campo macroeconômico, na falta de dados oficiais ainda por conta do shutdown, as atenções se voltam para a pesquisa de Sentimento do Consumidor da Universidade de Michigan, que será divulgada nesta sexta-feira. A projeção é de uma leve queda, para 54,5 pontos, refletindo o aumento das expectativas de inflação das famílias.
Segundo análise recente do Federal Reserve de Boston, essa elevação é mais preocupante do que em episódios anteriores, pois não está concentrada em itens voláteis, como alimentos ou combustíveis, mas reflete uma percepção mais generalizada e persistente de pressão inflacionária. Parte desse movimento está associada à expectativa de preços mais altos para produtos importados, em função das tarifas impostas pela administração Trump. Essa tendência aumenta o risco de as expectativas permanecerem acima da meta de 2% do Fed por um período prolongado, o que representaria um desafio adicional para a condução da política monetária americana.
· 03:29 — A temporada de resultados se aproxima
Os resultados do setor de tecnologia assumem o protagonismo neste mês, com investidores ansiosos por sinais concretos de que os investimentos bilionários em inteligência artificial começam a se traduzir em crescimento de receita e lucro. A expectativa é alta após meses de forte valorização das ações ligadas à IA — reflexo de um fluxo inédito de capital para uma tecnologia que, embora promissora, ainda carece de comprovação plena como geradora consistente de resultados financeiros.
Hoje, grande parte desse entusiasmo gira em torno de dois polos centrais: Nvidia e OpenAI. O mercado, contudo, quer ver provas. A Amazon divulgará seus números na semana de 21 de outubro, seguida por Apple, Microsoft e Meta na semana seguinte. Das sete gigantes conhecidas como “Magnificent Seven”, cinco já negociam com múltiplos preço/lucro futuros acima das médias de cinco anos — um patamar que alimenta debates sobre a formação ou não de uma bolha no setor de IA.
Para atender às expectativas, as big techs precisarão demonstrar um avanço robusto nas receitas ligadas à computação em nuvem — áreas vistas como o principal canal de monetização da IA. Isso inclui a Azure (Microsoft), o Google Cloud (Alphabet) e a AWS (Amazon), que são peças-chave para dar sustentação à narrativa de que a IA não é apenas uma aposta de longo prazo, mas já começa a impactar positivamente os resultados operacionais. Além disso, investidores observarão atentamente os planos de investimento em infraestrutura, já que essas empresas se comprometeram a destinar dezenas de bilhões de dólares para ampliar sua capacidade computacional. A temporada de balanços começa com os grandes bancos na próxima semana e deve ganhar força com os resultados das gigantes de tecnologia logo em seguida.
· 04:14 — Terror sem fim
Como tenho comentado nos últimos dias, a crise política francesa atingiu um novo patamar de gravidade com a renúncia de Sébastien Lecornu, o quarto primeiro-ministro a deixar o cargo em apenas 13 meses (o quinto se aumentarmos o horizonte para 24 meses) — um sinal claro da paralisia institucional que tomou conta da França. Sua saída expôs de forma contundente o impasse provocado por uma Assembleia Nacional fragmentada em três blocos irreconciliáveis (esquerda, centro e direita), sem que nenhum deles tenha força suficiente para formar uma maioria estável.
Diante desse cenário, a elite empresarial francesa já se move nos bastidores para tentar influenciar os rumos da sucessão, cortejando Olivier Faure, líder mais moderado do Partido Socialista, cuja legenda detém votos decisivos no parlamento. Pressionado pelo calendário orçamentário, Emmanuel Macron prometeu nomear um novo primeiro-ministro na tarde de hoje, sexta-feira, uma vez que o projeto de orçamento de 2026 precisa ser apresentado até segunda-feira.
Caso isso não ocorra, será necessário recorrer a um mecanismo de emergência para manter o financiamento do governo. Essa turbulência institucional é, em grande parte, consequência da decisão arriscada de Macron de convocar eleições antecipadas no ano passado, que acabou cristalizando a divisão tripla do parlamento e tornando o país ingovernável.
O gatilho imediato da crise foi o orçamento de 2026, em um contexto fiscal delicado: o déficit francês atingiu 5,8% do PIB em 2024, enquanto a dívida pública escalou para 113% do PIB — os maiores níveis desde a Segunda Guerra Mundial.
Lecornu foi incapaz de construir uma coalizão para implementar cortes de gastos impopulares e enfrentar a deterioração fiscal. As negociações indicaram a possibilidade de um acordo para formar um governo minoritário de centro-esquerda, liderado pelos socialistas, condicionado a concessões relevantes: suspensão da reforma da previdência aprovada em 2023, aumento de impostos sobre riqueza e empresas e revisão de políticas fiscais centrais de Macron.
Mesmo assim, qualquer arranjo desse tipo seria politicamente frágil, enfrentando resistência significativa do centro. A alternativa do presidente seria dissolver o parlamento e convocar eleições antecipadas, mas as pesquisas sugerem que seu bloco seria duramente derrotado, enquanto o Rally Nacional, de Marine Le Pen, sairia fortalecido — ainda que provavelmente sem alcançar maioria absoluta.
Nenhum dos caminhos disponíveis oferece uma saída fácil. Uma nova eleição legislativa poderia simplesmente reproduzir o atual bloqueio institucional ou inaugurar um cenário inédito de coabitação entre Macron e um primeiro-ministro de direita, com potenciais consequências profundas para a política fiscal francesa, a coesão da União Europeia e o apoio europeu à Ucrânia.
Enquanto isso, a economia já começa a sentir os efeitos da paralisia: investimentos empresariais recuam pelo segundo ano consecutivo, as famílias aumentam a poupança por precaução e estima-se que a crise já tenha custado cerca de 0,5 ponto percentual do PIB. A ironia é evidente: Macron chegou ao poder em 2017 com a promessa de construir uma base centrista, mas suas escolhas políticas acabaram fortalecendo os adversários. Agora, a França se encaminha para 18 meses de instabilidade crônica ou, alternativamente, para um acerto de contas que pode aproximar Marine Le Pen e Jordan Bardella do poder.
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· 05:03 — É uma bolha?
O debate sobre uma possível bolha no setor de inteligência artificial ganhou destaque nesta semana, à medida que instituições financeiras de peso manifestaram preocupações crescentes. O FMI e o Banco da Inglaterra alertaram que uma eventual reversão do atual otimismo poderia provocar correções significativas nos mercados, hoje amplamente impulsionados pelos investimentos em IA. Para ambas as instituições, valuations elevados e expectativas excessivamente otimistas representam um risco concreto à estabilidade financeira global. Nessa mesma direção, Jamie Dimon, do JPMorgan, reconheceu o caráter transformador da tecnologia, mas advertiu que muitos investidores poderiam sofrer perdas expressivas, já que o mercado estaria subestimando os riscos e atribuindo valores excessivos às empresas ligadas à IA.
Por outro lado, alguns dos maiores bancos de investimento adotam uma leitura mais…