Nvidia (Imagem: Reprodução)
Os mercados internacionais seguem em compasso de espera para a divulgação do resultado da Nvidia, prevista para esta noite, um evento que deve ditar o tom do curto prazo e colocar à prova os valuations elevados das gigantes de tecnologia.
O pano de fundo, no entanto, está longe de ser estável, com o mercado ainda repercutindo a o anúncio de Donald Trump sobre a destituição de Lisa Cook de sua posição no Federal Reserve, em uma medida sem precedentes que reforça sua ofensiva contra a independência da autoridade monetária e sua pressão por cortes de juros mais agressivos. Cook, por sua vez, declarou que pretende permanecer no posto e contestar judicialmente a decisão.
Além desse embate institucional, Trump tem ampliado medidas de caráter intervencionista — que vão de tarifas arbitrárias a iniciativas de participação em empresas estratégicas —, em um estilo de governança comparável mais ao modelo de economias emergentes do que à tradição pró-mercado americana.
No restante do cenário global, os mercados asiáticos encerraram a sessão de forma mista, com quedas expressivas na China e em Hong Kong, contrastando com os avanços registrados no Japão, na Coreia do Sul e em Taiwan.
Na Europa, os índices também operam sem direção definida nesta manhã, divididos entre a expectativa em torno dos números da Nvidia e o aumento das tensões políticas na França, onde cresce a possibilidade de queda do primeiro-ministro e dissolução do parlamento.
Já o petróleo busca estabilidade após as recentes quedas, em meio aos desdobramentos da guerra na Ucrânia. No conjunto, esse mosaico mantém os investidores em estado de alerta, reforçando a necessidade de cautela na precificação dos ativos globais.
· 00:53 — A sombra do déficit gêmeo
No Brasil, o Ibovespa encerrou o pregão de ontem em queda, refletindo a combinação de fatores externos e internos que elevaram a aversão ao risco. Lá fora, investidores reagiram às incertezas em torno da independência do Federal Reserve, após a ofensiva política de Donald Trump contra a instituição. Aqui, o foco se voltou para a divulgação de novos dados de inflação. Como antecipávamos, a prévia de agosto apontou deflação, mas em intensidade menor do que esperávamos: o índice recuou 0,14% na comparação mensal. A leitura, contudo, trouxe sinais incômodos — núcleos de inflação ainda pressionados e aceleração nos preços de serviços. Sinal amarelo.
Assim, ainda que agosto deva consolidar uma deflação formal, o nível do indicador segue incômodo, com expectativas de inflação desancoradas e um mercado de trabalho robusto — fatores que justificam a necessidade de manutenção de uma política monetária contracionista. Nesse sentido, os dados do Caged, que serão divulgados hoje, podem ajudar a complementar a leitura do nível de atividade: um resultado mais fraco seria positivo para reforçar a expectativa de cortes de juros.
Ainda que o cenário abra espaço para um início de flexibilização em dezembro e ao longo de 2026, a resistência trazida pela desancoragem das expectativas continuará exigindo juros elevados, dada a ausência de uma âncora fiscal confiável. O problema não se restringe ao déficit nominal, hoje em torno de 8% do PIB, mas também à deterioração das contas externas: em julho, o déficit em conta corrente alcançou 3,5% do PIB em 12 meses, mais que o dobro da mínima recente registrada em fevereiro. Embora o Investimento Estrangeiro Direto cubra grande parte do buraco, a tendência de piora preocupa e sinaliza a necessidade de desaceleração do crescimento.
Do contrário, corremos o risco de sustentar novamente por tempo demais os “déficits gêmeos”, quando desequilíbrios fiscais e externos se retroalimentam. Não é um cenário desejável, sobretudo em economias emergentes, onde tais soluções tendem a ser ainda menos sustentáveis. Sem uma solução estrutural até 2027, após as eleições, o Brasil pode ver sua vulnerabilidade aumentar de forma perigosa, com riscos de pressão cambial e deterioração do desempenho dos ativos locais. Vale lembrar: a valorização do real em 2025 decorreu muito mais da fraqueza global do dólar do que de méritos domésticos. Sem um ajuste profundo que reduza a absorção interna e reancore expectativas, seguiremos expostos a choques e à turbulência de um quadro fiscal e externo cada vez mais frágil. A janela até 2027, portanto, tende a ser longa e instável.
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· 01:45 — Mercados à espera do balanço da Nvidia
Nos EUA, o pregão de ontem foi marcado por um clima de tranquilidade, com ganhos moderados nos principais índices após um início de sessão mais arrastado. O S&P 500 e o Nasdaq encerraram o dia em alta de 0,4%, puxados principalmente pelo bom desempenho das empresas de tecnologia. O destaque, entretanto, ficou para as ações de menor capitalização, refletidas no índice Russell 2000, que avançou 0,8%. Esse cenário de calmaria, contudo, pode ter vida curta: nesta noite, a Nvidia divulgará seus aguardados resultados trimestrais — um evento que tende a definir o humor do mercado no curto prazo e servir como teste para os valuations elevados das big techs.
As expectativas em torno da fabricante de chips são particularmente elevadas. Com seus papéis negociando a múltiplos esticados, o consenso aponta para um crescimento expressivo no trimestre encerrado em julho: as vendas devem ter avançado quase 53%, alcançando US$ 45,8 bilhões, enquanto o lucro ajustado por ação deve subir para US$ 1, frente aos US$ 0,68 registrados no mesmo período do ano anterior. Para sustentar os preços atuais, a Nvidia precisará não apenas superar as estimativas de lucros, mas também apresentar projeções ainda mais otimistas para os próximos trimestres. A companhia encerra a temporada de balanços das chamadas “Magnificent Seven” e dividirá os holofotes com empresas como CrowdStrike, Snowflake, HP, Chewy, Foot Locker e Abercrombie & Fitch, que também divulgam resultados hoje.
· 02:38 — Trump rouba a cena com a nova briga no Fed
A decisão de Donald Trump de destituir Lisa Cook do Conselho de Governadores do Federal Reserve desencadeou uma crise institucional sem precedentes. Pela legislação vigente, o presidente só pode afastar membros do Fed por “justa causa”, conceito tradicionalmente restrito a casos de má conduta grave cometidos durante o exercício do mandato. Trump justificou sua medida com base em acusações de fraude hipotecária encaminhadas ao Departamento de Justiça, mas os fatos alegados remontam a um período anterior à nomeação de Cook em 2022 e não resultaram em qualquer condenação judicial. Por esse motivo, especialistas jurídicos questionam se há respaldo legal para a remoção. Cook afirmou que irá contestar a decisão nos tribunais e deve solicitar uma liminar para permanecer no cargo no curto prazo.
A controvérsia tende a chegar à Suprema Corte, que poderá redefinir os limites do poder presidencial sobre o Federal Reserve e, potencialmente, comprometer a independência da instituição. Caso Trump consiga substituir Cook por um aliado mais favorável a cortes de juros, formaria maioria no conselho, enfraquecendo a posição do atual presidente, Jerome Powell. O mercado financeiro, até aqui, reagiu com relativa complacência: as bolsas permaneceram estáveis, mas os rendimentos dos Treasuries de longo prazo subiram, refletindo o receio de que a autonomia do Fed esteja se deteriorando. O episódio é visto como algo que vai além de uma disputa individual: representa mais um passo na tentativa de Trump de subordinar o banco central à Casa Branca, ampliando as incertezas políticas e institucionais nos Estados Unidos.
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· 03:29 — Problema francês
Na França, a decisão do primeiro-ministro François Bayrou de convocar um voto de confiança em 8 de setembro, novamente em torno da questão orçamentária, colocou seu governo minoritário em situação delicada e sob risco real de queda. Os principais partidos de oposição já sinalizaram que votarão contra, cenário que pode precipitar novas eleições e abrir espaço para que a direita conquiste maioria absoluta. A instabilidade política gerou reação imediata nos mercados: o rendimento dos títulos franceses de 10 anos avançou, o spread em relação à dívida alemã alcançou o maior patamar desde abril e o índice CAC 40 acumulou o segundo dia consecutivo de perdas.
O contraste com a Itália, que têm mostrado progresso no processo de ajuste fiscal, evidencia a vulnerabilidade das contas públicas francesas. Trata-se de um problema recorrente, agravado ao longo dos anos e acelerado de forma marcante pela pandemia, que ampliou gastos e desequilíbrios. A França, assim como diversas outras economias, acumula déficits persistentes e dificuldades em avançar em direção a orçamentos sustentáveis. O desafio é claro: alinhar um caminho de convergência fiscal que permita reduzir desequilíbrios estruturais e restaurar a confiança dos investidores, sem o qual o custo de financiamento do país tende a permanecer pressionado.
· 04:14 — Sanha protecionista
Como comentei já ontem, os Estados Unidos decidiram dobrar para 50% a tarifa sobre determinadas importações vindas da Índia, colocando o país entre os mais penalizados pela política comercial de Donald Trump — em patamar semelhante ao do Brasil. A justificativa oficial para a medida foi a tentativa de punir Nova Déli por suas compras de petróleo russo. O impacto econômico potencial é expressivo: estima-se que as exportações indianas para os EUA possam encolher até 60%, com risco de reduzir em quase 1% o PIB do país. No caso brasileiro, os efeitos são mais limitados e heterogêneos, ainda que existam desdobramentos indiretos a serem monitorados. Para a economia americana, o efeito inflacionário imediato é marginal, mas a mensagem transmitida pela imprevisibilidade da política comercial adiciona incerteza às cadeias globais de suprimentos e reforça o risco de desorganização estrutural do comércio.
Além da Índia, o setor de móveis passou a ser alvo da atenção da Casa Branca. Trump abriu uma investigação para avaliar a imposição de tarifas adicionais com o argumento de estimular a produção doméstica. O simples anúncio já afetou empresas americanas que dependem fortemente de importações: ações de companhias como Wayfair e Williams-Sonoma recuaram, enquanto fabricantes com maior base produtiva local, como Ethan Allen e La-Z-Boy, registraram leves altas. Ainda assim, como tenho falado há algum tempo, a realocação da produção para dentro dos EUA não ocorrerá de forma imediata: demandará tempo, investimentos e, inevitavelmente, resultará em preços mais altos para o consumidor. O episódio é mais um exemplo de como o protecionismo de Trump produz efeitos assimétricos, criando vencedores e perdedores dentro da própria economia americana e reforçando a incerteza no ambiente global.
· 05:02 — Nvidia dita o humor
Os investidores globais voltam suas atenções nesta quarta-feira para a divulgação dos resultados da Nvidia, apontada como o grande evento desta temporada de balanços. A expectativa é de números robustos, em linha com a revisão para cima das metas de preço por parte de diversos analistas, sustentada pelo otimismo em relação à continuidade do boom da inteligência artificial. De acordo com estimativas de mercado, as vendas da companhia no trimestre encerrado em julho devem ter avançado quase 53%, alcançando US$ 45,8 bilhões, enquanto o lucro ajustado por ação deve chegar a US$ 1, ante US$ 0,68 no mesmo período do ano anterior. O entusiasmo reflete a percepção consolidada no mercado de que a Nvidia permanece como peça central e quase insubstituível na construção da chamada revolução da IA.
Esse momento favorável, no entanto, não elimina riscos. A companhia segue…