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Investimentos

Bolsa de valores: Expectativas se concentram em resultados da Nvidia; veja os destaques desta quarta (27)

Tarifas dos EUA sobre a Índia, demissão do Fed e votação de confiança na França também são destaques. Leia mais.

Por Matheus Spiess

27 ago 2025, 09:20

Atualizado em 27 ago 2025, 09:20

Nvidia (Imagem: Reprodução)

Nvidia (Imagem: Reprodução)

Os mercados internacionais seguem em compasso de espera para a divulgação do resultado da Nvidia, prevista para esta noite, um evento que deve ditar o tom do curto prazo e colocar à prova os valuations elevados das gigantes de tecnologia.

O pano de fundo, no entanto, está longe de ser estável, com o mercado ainda repercutindo a o anúncio de Donald Trump sobre a destituição de Lisa Cook de sua posição no Federal Reserve, em uma medida sem precedentes que reforça sua ofensiva contra a independência da autoridade monetária e sua pressão por cortes de juros mais agressivos. Cook, por sua vez, declarou que pretende permanecer no posto e contestar judicialmente a decisão.

Além desse embate institucional, Trump tem ampliado medidas de caráter intervencionista — que vão de tarifas arbitrárias a iniciativas de participação em empresas estratégicas —, em um estilo de governança comparável mais ao modelo de economias emergentes do que à tradição pró-mercado americana.

No restante do cenário global, os mercados asiáticos encerraram a sessão de forma mista, com quedas expressivas na China e em Hong Kong, contrastando com os avanços registrados no Japão, na Coreia do Sul e em Taiwan.

Na Europa, os índices também operam sem direção definida nesta manhã, divididos entre a expectativa em torno dos números da Nvidia e o aumento das tensões políticas na França, onde cresce a possibilidade de queda do primeiro-ministro e dissolução do parlamento.

Já o petróleo busca estabilidade após as recentes quedas, em meio aos desdobramentos da guerra na Ucrânia. No conjunto, esse mosaico mantém os investidores em estado de alerta, reforçando a necessidade de cautela na precificação dos ativos globais.

· 00:53 — A sombra do déficit gêmeo

No Brasil, o Ibovespa encerrou o pregão de ontem em queda, refletindo a combinação de fatores externos e internos que elevaram a aversão ao risco. Lá fora, investidores reagiram às incertezas em torno da independência do Federal Reserve, após a ofensiva política de Donald Trump contra a instituição. Aqui, o foco se voltou para a divulgação de novos dados de inflação. Como antecipávamos, a prévia de agosto apontou deflação, mas em intensidade menor do que esperávamos: o índice recuou 0,14% na comparação mensal. A leitura, contudo, trouxe sinais incômodos — núcleos de inflação ainda pressionados e aceleração nos preços de serviços. Sinal amarelo.

Assim, ainda que agosto deva consolidar uma deflação formal, o nível do indicador segue incômodo, com expectativas de inflação desancoradas e um mercado de trabalho robusto — fatores que justificam a necessidade de manutenção de uma política monetária contracionista. Nesse sentido, os dados do Caged, que serão divulgados hoje, podem ajudar a complementar a leitura do nível de atividade: um resultado mais fraco seria positivo para reforçar a expectativa de cortes de juros.

Ainda que o cenário abra espaço para um início de flexibilização em dezembro e ao longo de 2026, a resistência trazida pela desancoragem das expectativas continuará exigindo juros elevados, dada a ausência de uma âncora fiscal confiável. O problema não se restringe ao déficit nominal, hoje em torno de 8% do PIB, mas também à deterioração das contas externas: em julho, o déficit em conta corrente alcançou 3,5% do PIB em 12 meses, mais que o dobro da mínima recente registrada em fevereiro. Embora o Investimento Estrangeiro Direto cubra grande parte do buraco, a tendência de piora preocupa e sinaliza a necessidade de desaceleração do crescimento.

Do contrário, corremos o risco de sustentar novamente por tempo demais os “déficits gêmeos”, quando desequilíbrios fiscais e externos se retroalimentam. Não é um cenário desejável, sobretudo em economias emergentes, onde tais soluções tendem a ser ainda menos sustentáveis. Sem uma solução estrutural até 2027, após as eleições, o Brasil pode ver sua vulnerabilidade aumentar de forma perigosa, com riscos de pressão cambial e deterioração do desempenho dos ativos locais. Vale lembrar: a valorização do real em 2025 decorreu muito mais da fraqueza global do dólar do que de méritos domésticos. Sem um ajuste profundo que reduza a absorção interna e reancore expectativas, seguiremos expostos a choques e à turbulência de um quadro fiscal e externo cada vez mais frágil. A janela até 2027, portanto, tende a ser longa e instável.

· 01:45 — Mercados à espera do balanço da Nvidia

Nos EUA, o pregão de ontem foi marcado por um clima de tranquilidade, com ganhos moderados nos principais índices após um início de sessão mais arrastado. O S&P 500 e o Nasdaq encerraram o dia em alta de 0,4%, puxados principalmente pelo bom desempenho das empresas de tecnologia. O destaque, entretanto, ficou para as ações de menor capitalização, refletidas no índice Russell 2000, que avançou 0,8%. Esse cenário de calmaria, contudo, pode ter vida curta: nesta noite, a Nvidia divulgará seus aguardados resultados trimestrais — um evento que tende a definir o humor do mercado no curto prazo e servir como teste para os valuations elevados das big techs.

As expectativas em torno da fabricante de chips são particularmente elevadas. Com seus papéis negociando a múltiplos esticados, o consenso aponta para um crescimento expressivo no trimestre encerrado em julho: as vendas devem ter avançado quase 53%, alcançando US$ 45,8 bilhões, enquanto o lucro ajustado por ação deve subir para US$ 1, frente aos US$ 0,68 registrados no mesmo período do ano anterior. Para sustentar os preços atuais, a Nvidia precisará não apenas superar as estimativas de lucros, mas também apresentar projeções ainda mais otimistas para os próximos trimestres. A companhia encerra a temporada de balanços das chamadas “Magnificent Seven” e dividirá os holofotes com empresas como CrowdStrike, Snowflake, HP, Chewy, Foot Locker e Abercrombie & Fitch, que também divulgam resultados hoje.

· 02:38 — Trump rouba a cena com a nova briga no Fed

A decisão de Donald Trump de destituir Lisa Cook do Conselho de Governadores do Federal Reserve desencadeou uma crise institucional sem precedentes. Pela legislação vigente, o presidente só pode afastar membros do Fed por “justa causa”, conceito tradicionalmente restrito a casos de má conduta grave cometidos durante o exercício do mandato. Trump justificou sua medida com base em acusações de fraude hipotecária encaminhadas ao Departamento de Justiça, mas os fatos alegados remontam a um período anterior à nomeação de Cook em 2022 e não resultaram em qualquer condenação judicial. Por esse motivo, especialistas jurídicos questionam se há respaldo legal para a remoção. Cook afirmou que irá contestar a decisão nos tribunais e deve solicitar uma liminar para permanecer no cargo no curto prazo.

A controvérsia tende a chegar à Suprema Corte, que poderá redefinir os limites do poder presidencial sobre o Federal Reserve e, potencialmente, comprometer a independência da instituição. Caso Trump consiga substituir Cook por um aliado mais favorável a cortes de juros, formaria maioria no conselho, enfraquecendo a posição do atual presidente, Jerome Powell. O mercado financeiro, até aqui, reagiu com relativa complacência: as bolsas permaneceram estáveis, mas os rendimentos dos Treasuries de longo prazo subiram, refletindo o receio de que a autonomia do Fed esteja se deteriorando. O episódio é visto como algo que vai além de uma disputa individual: representa mais um passo na tentativa de Trump de subordinar o banco central à Casa Branca, ampliando as incertezas políticas e institucionais nos Estados Unidos.

· 03:29 — Problema francês

Na França, a decisão do primeiro-ministro François Bayrou de convocar um voto de confiança em 8 de setembro, novamente em torno da questão orçamentária, colocou seu governo minoritário em situação delicada e sob risco real de queda. Os principais partidos de oposição já sinalizaram que votarão contra, cenário que pode precipitar novas eleições e abrir espaço para que a direita conquiste maioria absoluta. A instabilidade política gerou reação imediata nos mercados: o rendimento dos títulos franceses de 10 anos avançou, o spread em relação à dívida alemã alcançou o maior patamar desde abril e o índice CAC 40 acumulou o segundo dia consecutivo de perdas.

O contraste com a Itália, que têm mostrado progresso no processo de ajuste fiscal, evidencia a vulnerabilidade das contas públicas francesas. Trata-se de um problema recorrente, agravado ao longo dos anos e acelerado de forma marcante pela pandemia, que ampliou gastos e desequilíbrios. A França, assim como diversas outras economias, acumula déficits persistentes e dificuldades em avançar em direção a orçamentos sustentáveis. O desafio é claro: alinhar um caminho de convergência fiscal que permita reduzir desequilíbrios estruturais e restaurar a confiança dos investidores, sem o qual o custo de financiamento do país tende a permanecer pressionado.

· 04:14 — Sanha protecionista

Como comentei já ontem, os Estados Unidos decidiram dobrar para 50% a tarifa sobre determinadas importações vindas da Índia, colocando o país entre os mais penalizados pela política comercial de Donald Trump — em patamar semelhante ao do Brasil. A justificativa oficial para a medida foi a tentativa de punir Nova Déli por suas compras de petróleo russo. O impacto econômico potencial é expressivo: estima-se que as exportações indianas para os EUA possam encolher até 60%, com risco de reduzir em quase 1% o PIB do país. No caso brasileiro, os efeitos são mais limitados e heterogêneos, ainda que existam desdobramentos indiretos a serem monitorados. Para a economia americana, o efeito inflacionário imediato é marginal, mas a mensagem transmitida pela imprevisibilidade da política comercial adiciona incerteza às cadeias globais de suprimentos e reforça o risco de desorganização estrutural do comércio.

Além da Índia, o setor de móveis passou a ser alvo da atenção da Casa Branca. Trump abriu uma investigação para avaliar a imposição de tarifas adicionais com o argumento de estimular a produção doméstica. O simples anúncio já afetou empresas americanas que dependem fortemente de importações: ações de companhias como Wayfair e Williams-Sonoma recuaram, enquanto fabricantes com maior base produtiva local, como Ethan Allen e La-Z-Boy, registraram leves altas. Ainda assim, como tenho falado há algum tempo, a realocação da produção para dentro dos EUA não ocorrerá de forma imediata: demandará tempo, investimentos e, inevitavelmente, resultará em preços mais altos para o consumidor. O episódio é mais um exemplo de como o protecionismo de Trump produz efeitos assimétricos, criando vencedores e perdedores dentro da própria economia americana e reforçando a incerteza no ambiente global.

· 05:02 — Nvidia dita o humor

Os investidores globais voltam suas atenções nesta quarta-feira para a divulgação dos resultados da Nvidia, apontada como o grande evento desta temporada de balanços. A expectativa é de números robustos, em linha com a revisão para cima das metas de preço por parte de diversos analistas, sustentada pelo otimismo em relação à continuidade do boom da inteligência artificial. De acordo com estimativas de mercado, as vendas da companhia no trimestre encerrado em julho devem ter avançado quase 53%, alcançando US$ 45,8 bilhões, enquanto o lucro ajustado por ação deve chegar a US$ 1, ante US$ 0,68 no mesmo período do ano anterior. O entusiasmo reflete a percepção consolidada no mercado de que a Nvidia permanece como peça central e quase insubstituível na construção da chamada revolução da IA.

Esse momento favorável, no entanto, não elimina riscos. A companhia segue…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.