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Investimentos

Brasil e EUA dão sinais de aproximação e efeito dominó do crédito; como Ibovespa deve se comportar hoje?

Em encontro no Brasil, o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado dos EUA trouxeram sinais diplomáticos positivos. Leia mais.

Por Matheus Spiess

17 out 2025, 09:38

Atualizado em 17 out 2025, 09:38

bolsa de valores b3 mercado ações ativos gráfico (1)

Imagem: iStock.com/Torsten Asmus

As ações de bancos globais registraram fortes quedas ontem (16), refletindo uma onda renovada de preocupações com a qualidade do crédito nos EUA e o efeito desses temores sobre o apetite por risco. O gatilho veio das perdas reportadas por Western Alliance e Zions, que envolveram fraudes e exposição à falência da fornecedora de autopeças First Brands. Esses episódios reacenderam receios sobre a saúde do sistema bancário americano, especialmente em um contexto de juros elevados e maior frequência de eventos de crédito. O impacto foi imediato: o índice VIX — conhecido como o “termômetro do medo” — saltou 20%, e as ações bancárias sofreram quedas acentuadas na Ásia, Europa e EUA, gerando um efeito dominó global.

No campo geopolítico, houve algum alívio: Donald Trump confirmou viagem à Coreia do Sul, com possibilidade de encontro com Xi Jinping, e avançou em negociações com Vladimir Putin em busca de um cessar-fogo na guerra da Ucrânia. Esses gestos diplomáticos suavizaram parcialmente o pessimismo, mas não foram suficientes para conter a aversão global a risco. Como resultado, as bolsas encerraram a semana em queda: o Hang Seng teve sua pior performance desde abril, índices europeus recuam nesta manhã e os futuros americanos caem. Ativos defensivos — como ouro e iene — foram os principais beneficiados, enquanto o Bitcoin falhou em cumprir seu papel de “porto seguro”, acumulando perdas expressivas. Embora muitos considerem esses movimentos exagerados, fica o alerta de que o ambiente atual — marcado por tensões comerciais, temores de bolha em IA, paralisação do governo americano e riscos de crédito — impõe limites claros ao fôlego dos mercados no curto prazo.

· 00:57 — Buscando alternativas

No Brasil, a reunião entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, trouxe sinais diplomáticos positivos a partir de Washington. Vieira classificou o encontro como construtivo, destacando que se tratou do início de um processo de reaproximação bilateral entre Brasil e Estados Unidos, que deve culminar em uma reunião entre Lula e Trump — possivelmente durante a cúpula do G20, no fim de novembro, ou até antes disso. Apesar do tom construtivo no front internacional, o Ibovespa encerrou em queda, refletindo o mau humor externo e a persistente incerteza fiscal doméstica. O IBC-Br subiu menos do que o esperado, abrindo alguma margem para cortes de juros em um horizonte mais próximo do que projetam as estimativas mais conservadoras. Mesmo assim, a política monetária ainda carrega o fardo de compensar a ausência de uma âncora fiscal robusta — uma dinâmica que mantém os juros elevados por mais tempo do que seria necessário.

Nesse contexto, o governo segue sem apresentar um plano concreto para recompor a arrecadação após a derrubada da medida provisória que serviria de alternativa ao aumento do IOF. A indefinição, somada à falta de medidas fiscais críveis, amplia as fragilidades estruturais das contas públicas e pressiona os ativos domésticos. Para agravar, novas projeções do Senado indicam que a reforma do Imposto de Renda resultará em uma renúncia fiscal de R$ 16 bilhões até 2028 — sinal preocupante diante do cenário atual. Paralelamente, uma possível solução parcial pode vir do julgamento no STF sobre a desoneração da folha de pagamentos, que poderá aliviar parte do rombo, mas tende a acirrar a tensão entre Executivo e Congresso. O resultado é um ambiente em que a política monetária continua sendo o principal instrumento de contenção de riscos, enquanto a frente fiscal permanece sem oferecer clareza.

· 01:44 — Risco de crédito

Os mercados encerraram a sessão de ontem em baixa, refletindo a reemergência dos temores em torno dos riscos de crédito nos Estados Unidos. O Dow Jones recuou 0,7%, o S&P 500 caiu 0,6% e o Nasdaq cedeu 0,5%. O setor financeiro liderou as perdas, com o ETF SPDR S&P Bank registrando queda expressiva de 5,4%, após declarações de Jamie Dimon, CEO do JPMorgan, que comparou os recentes problemas no mercado de crédito a “baratas”, sugerindo que novos problemas podem estar escondidos. Ele se referia às falências recentes da Tricolor Holdings e da First Brands, que reacenderam preocupações sobre inadimplência corporativa. O temor foi intensificado por novos episódios em bancos regionais: o Zions anunciou uma baixa contábil de US$ 50 milhões relacionada a ações judiciais envolvendo dois clientes corporativos, enquanto o Western Alliance informou estar processando um tomador por fraude, após ele não fornecer garantias de primeira linha. Ainda que não seja possível generalizar esses casos, o sentimento de risco aumentou significativamente.

Para piorar a situação, o ambiente político em Washington adicionou mais volatilidade ao mercado. Pela décima vez, fracassou no Senado a votação para aprovar o orçamento federal. Esse impasse fiscal, que acarreta o shutdown, amplia a percepção de incerteza em um momento já sensível para o sistema financeiro. No radar corporativo, a divulgação dos resultados de American Express, Fifth Third, Huntington, Regions Financial, SLB, State Street e Truist nesta sexta-feira poderá fornecer novos sinais sobre a saúde do crédito ao consumidor, a qualidade dos ativos bancários e o apetite por risco do setor — indicadores relevantes para avaliar se os temores recentes se limitarão a casos pontuais ou se podem ganhar dimensão mais ampla.

· 02:17 — Dilatando o horizonte temporal

Os EUA devem ampliar de dois para cinco anos o prazo para a implementação das tarifas sobre importação de peças automotivas, atendendo à pressão das montadoras. A medida é classificada como pontual e não representa um recuo mais amplo na política comercial em relação à China. O Departamento de Comércio deve oficializar a extensão em breve, em documentos que também detalham novas tarifas sobre caminhões importados. A decisão é considerada uma vitória para o setor automobilístico, que vinha pressionando o governo Trump diante do impacto das tarifas recordes nos custos de produção.

O alívio tarifário ocorre após meses de lobby de empresas como Ford e General Motors, que alegam enfrentar desvantagens competitivas em relação a rivais japonesas, como a Toyota, beneficiadas por custos menores e tarifas reduzidas no âmbito do acordo EUA–Japão. Antes da mudança, as montadoras americanas podiam compensar parcialmente a tarifa de 25% sobre peças importadas, mas esse benefício seria reduzido progressivamente até ser extinto. Além disso, Trump já havia imposto tarifas de 25% sobre veículos montados, mantendo exceções apenas para modelos que atendessem aos requisitos de conteúdo regional do acordo comercial norte-americano (EUA, Canadá e México).

· 03:22 — A bola de neve fiscal

De acordo com os dados mais recentes, o déficit orçamentário dos Estados Unidos registrou uma queda de 2,3% no ano fiscal de 2025, atingindo ainda expressivos US$ 1,775 trilhão — uma redução de US$ 41 bilhões em relação ao exercício anterior. Esse resultado surpreende por ter ocorrido mesmo diante de um aumento significativo de US$ 118 bilhões na arrecadação, impulsionado principalmente pelas tarifas comerciais implementadas por Donald Trump. Trata-se da primeira redução anual desde 2022, quando o encerramento dos programas emergenciais relacionados à pandemia provocou uma queda temporária nos gastos do governo. A melhora fiscal, embora modesta em termos absolutos, surge em meio a um debate global cada vez mais intenso sobre a sustentabilidade das contas públicas nas economias avançadas, num ambiente de endividamento elevado e custos crescentes de financiamento.

Apesar das expectativas de cortes de juros pelos principais bancos centrais, a trajetória dos gastos com juros permanece ascendente nas nações do G10. O motivo é simples: grandes volumes de dívida estão sendo rolados a taxas mais altas, enquanto novos déficits continuam sendo financiados em condições mais onerosas. Projeções indicam que, até 2029, os custos com juros deverão subir, em média, 0,5 ponto percentual do PIB. Esse aumento ocorre sobre orçamentos já altamente comprometidos com despesas obrigatórias, limitando a capacidade de ajuste fiscal. O resultado é um quadro de déficits persistentes, curvas de juros mais inclinadas e prêmios de risco elevados — um ambiente que pressiona a sustentabilidade fiscal e aumenta a vulnerabilidade de países estruturalmente mais frágeis. Caso os títulos soberanos — tradicionalmente tratados como “ativos livres de risco” — percam essa característica, as consequências podem ser amplas: elevação dos custos de financiamento para governos, empresas e famílias, redução da eficácia da política monetária e maior probabilidade de episódios de instabilidade financeira. É uma bola de neve…

· 04:16 — A Autoridade Internacional de Transição

Tony Blair, ex-primeiro-ministro britânico, voltou a ocupar um papel central nas negociações internacionais ao assumir a liderança da proposta ocidental para o futuro de Gaza (já se passaram 18 anos desde que deixou o cargo). Blair teve participação direta na mediação do recente cessar-fogo entre Israel e o Hamas e agora integra o chamado “Conselho da Paz”, órgão previsto no acordo de trégua para garantir um desfecho duradouro para o conflito. Seu protagonismo atual se apoia em um histórico político expressivo. Entre 1997 e 2007, Blair conduziu o Reino Unido por uma década de forte expansão econômica e reformas sociais. No entanto, sua trajetória foi profundamente marcada pela decisão de apoiar os EUA na invasão do Iraque em 2003 — medida impopular. Mesmo assim, Blair conquistou prestígio internacional por sua atuação na intervenção em Kosovo em 1999, e sua relação com o Oriente Médio se manteve constante: no próprio dia em que deixou o cargo, foi nomeado enviado especial para a região  pela ONU, EUA, União Europeia e Rússia, posição que manteve até 2015, permanecendo ligado às negociações entre Israel e Palestina.

Sua atual proposta para Gaza é resultado de mais de uma década de trabalho e articulação política. No plano de 21 pontos divulgado recentemente, Blair sugere a criação de uma Autoridade Internacional de Transição para administrar Gaza de forma interina, com o objetivo de transferir gradualmente o controle para a Autoridade Palestina. A proposta também prevê a formação de uma Força Internacional de Estabilização, encarregada de manter a segurança e neutralizar o poder do Hamas, sem recorrer a incentivos para a migração da população local — um ponto sensível em outras propostas ocidentais. Essas ideias serviram de base para o plano americano desenvolvido neste mês por Steve Witkoff e Jared Kushner, com apoio de diversos países árabes, que prevê Donald Trump como presidente do Conselho da Paz e Blair como um de seus membros. Embora o plano ainda não seja definitivo, a Autoridade Palestina já manifestou apoio à participação ativa de Blair. Se essa nomeação se concretizar, o ex-premiê britânico terá voltado ao palco internacional para exercer influência decisiva em uma das questões geopolíticas mais complexas do século XXI.

· 05:03 — Iniciativa nuclear

As Forças Armadas dos Estados Unidos enfrentam um desafio estratégico crescente no fornecimento de energia para seus sistemas de defesa, que estão se tornando cada vez mais sofisticados e exigentes. Os geradores portáteis atualmente utilizados, com capacidade de cerca de 800 kW, atendem bem a instalações tradicionais, mas já não são suficientes para alimentar as armas de alta energia, radares avançados e demais tecnologias que comporão o arsenal militar do futuro. Esse quadro é agravado por uma infraestrutura elétrica envelhecida, redes sobrecarregadas e vulnerabilidades a interrupções provocadas por ataques cibernéticos e outras ameaças externas. Diante desse cenário, Washington está dobrando sua aposta na…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.