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Às vésperas do fim da trégua tarifária entre Estados Unidos e China, marcada para o dia 12 de agosto (uma postergação pode acontecer, embora ainda não formalizada), os mercados asiáticos preferiram enxergar o copo meio cheio. Dados surpreendentemente fortes da balança comercial chinesa serviram de combustível: em julho, as exportações saltaram 7,2% e as importações avançaram 4,1% na comparação anual — resultados acima das projeções do mercado, puxados por maior demanda da União Europeia e de economias emergentes. O déficit comercial dos EUA com a China, por sua vez, caiu para apenas US$ 9,5 bilhões — o menor patamar em décadas. E por falar em comércio, Trump tratou de devolver a volatilidade aos mercados: ameaçou impor tarifas de 100% sobre empresas de semicondutores que não produzirem dentro dos EUA e voltou a mirar os países que seguem importando petróleo russo, como a Índia.
Na Europa, o Banco da Inglaterra decidiu, como esperado, cortar os juros em 25 pontos-base, reduzindo a taxa para 4%. A votação dividida refletiu o malabarismo que a autoridade monetária precisa fazer: equilibrar uma inflação ainda incômoda com sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho. Mesmo assim, a decisão reforça o pano de fundo global de flexibilização monetária, algo que, em tese, deveria favorecer os mercados emergentes. As bolsas europeias, por ora, operam de forma mista, reagindo a uma enxurrada de balanços corporativos do segundo trimestre.
Nos Estados Unidos, o Fed segue em modo “preparar o terreno” para um possível corte em setembro, o que ajuda a manter a pressão descendente sobre o dólar (bom para nossos ativos). Por aqui, os olhos se voltam para o resultado da Petrobras, que será divulgado de noite e pode surpreender positivamente, inclusive com dividendos.
· 00:56 — Esperar para ver
No Brasil, os ativos domésticos voltaram a apresentar uma dinâmica mais favorável — o que, convenhamos, parece menos reflexo de Brasília e mais consequência do que acontece lá fora. Em meio a ruídos políticos persistentes no âmbito local, quem continua ditando o rumo do mercado local são os fluxos e os ventos internacionais. Ontem (7), por exemplo, tivemos uma conjunção curiosa: o início oficial das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros coincidiu com um pregão positivo, em que o Ibovespa subiu 1,04%, fechando aos 134.538 pontos. A explicação está no desempenho robusto de empresas relevantes do índice, cujos resultados trimestrais vieram acima do esperado e animaram o investidor. Em paralelo, o dólar recuou para R$ 5,46, acompanhando o ambiente externo mais benigno, com dólar mais fraco em nível global — um movimento bem-vindo após um julho de mau humor (mesmo com Brasília fazendo o possível para atrapalhar, agosto oferece algum alívio).
No radar de curto prazo, a grande expectativa gira em torno da Petrobras, que divulga seus resultados após o fechamento de hoje. O foco está nos dividendos — e não por acaso: o governo conta com esses recursos para fechar as contas do ano, o que aumenta a chance de distribuição e, por consequência, o entusiasmo dos investidores. No geral, a temporada de balanços no Brasil tem surpreendido positivamente, sustentando a recente recuperação dos ativos, ainda que tímida. Mas o pano de fundo segue tenso. Ontem, o presidente Lula voltou a ventilar a ideia de reunir os BRICS para discutir o “tarifaço”, movimento que, na prática, beira a provocação — especialmente considerando que parte da escalada tarifária é atribuída, justamente, ao tom antiamericano adotado pelo Planalto. Toda vez que o governo ensaia flertar novamente com essa retórica, o mercado se enrijece: teme novas retaliações dos EUA e precifica risco político em dólar. Por ora, enquanto não houver retaliação formal do lado brasileiro, o ambiente tende a manter algum grau de estabilidade — ainda mais com os sinais de abertura no diálogo, como a possível reunião entre Fernando Haddad e Scott Bessent na próxima semana. Um movimento de distensão seria bem-vindo. Afinal, entre uma guerra comercial e clima de pacificação, o investidor prefere a segunda.
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· 01:41 — Resultados corporativos e menor pressão da atividade
Os mercados americanos encerraram o pregão em alta, impulsionados pelas notícias envolvendo a Apple, que conseguiram eclipsar as tensões comerciais renovadas e a repercussão negativa de um leilão morno de títulos do Tesouro. Foram US$ 42 bilhões em papéis de 10 anos com demanda abaixo do esperado, o que levou a uma alta nos rendimentos e acendeu o alerta sobre uma possível aversão crescente a novos carregamentos de dívida americana. Ainda assim, o pano de fundo inflacionário segue dando sinais encorajadores — com queda nos aluguéis e arrefecimento de algumas pressões de preços —, o que reforça a tese de que o Federal Reserve poderá retomar o ciclo de corte de juros (entre setembro e outubro), alimentando o apetite por risco.
No plano estrutural, as recompras de ações seguem a pleno vapor, sustentando os índices próximos às máximas históricas, enquanto os resultados corporativos americanos continuam superando os pares europeus. No noticiário empresarial, a Disney entregou um balanço misto: superou as projeções de lucro e anunciou novos acordos no segmento de streaming esportivo, mas sua divisão de entretenimento — tradicional carro-chefe — amargou queda no lucro operacional e prejuízo na área de estúdios. A agenda desta quinta-feira promete mais volatilidade, com a divulgação de resultados de gigantes como Eli Lilly, Shell, Toyota, Gilead e ConocoPhillips, além de dados sobre produtividade do trabalho e seguro-desemprego, que devem servir como termômetro adicional para calibrar as expectativas sobre os próximos passos do Fed.
· 02:37 — O que a Apple fez?
O ambiente para os fabricantes americanos vem se tornando cada vez mais disfuncional, à medida que o governo Trump intensifica sua ofensiva tarifária em nome de uma retórica nacionalista que, na prática, combina improviso com protecionismo seletivo. Além das alíquotas amplas que entraram em vigor nesta semana, o presidente resolveu mirar agora o setor de semicondutores, propondo uma tarifa de 100% sobre chips produzidos fora dos Estados Unidos. Mas, em uma coreografia já conhecida, a rigidez da regra vem acompanhada de exceções cirurgicamente desenhadas: algumas das maiores exportadoras para o mercado americano foram poupadas, em um movimento que reduz o impacto econômico direto, mas amplifica a complexidade tarifária. O resultado é um cenário de negócios cada vez mais imprevisível, onde o custo da incerteza se soma ao da tarifa. Nesse contexto confuso, os investimentos em inteligência artificial continuam a avançar com velocidade, sustentando a narrativa de crescimento, mas levantando questionamentos sobre a viabilidade dos retornos no médio prazo — prometer bilhões é fácil; transformá-los em caixa, nem tanto.
Enquanto isso, a Apple protagonizou o grande destaque do dia. A companhia anunciou um novo aporte de US$ 100 bilhões em manufatura e pesquisa nos EUA, elevando para US$ 600 bilhões o volume de recursos prometidos até 2029 dentro do seu “Programa de Manufatura Americana” (AMP). A iniciativa tem um propósito claro: sinalizar alinhamento com Washington, justamente em um momento em que a empresa enfrenta críticas por ter deslocado parte da sua produção para a Índia — país que, aliás, tinha acabado de ultrapassar a China como principal exportador de smartphones para os EUA. A movimentação da Apple soa como uma tentativa de se blindar de futuras represálias comerciais, em um xadrez tarifário cada vez mais instável. Não por acaso, o anúncio veio poucas horas após Trump dobrar a aposta contra Nova Délhi, elevando para 50% a tarifa sobre produtos indianos, sob a justificativa de que o país continua a importar petróleo russo — crítica que soa estranha, considerando a continuidade do comércio entre EUA e Rússia em setores estratégicos. Ao fim, o jogo geopolítico de tarifas vai se sofisticando, mas não necessariamente amadurecendo. E os investidores, como sempre, tentam encontrar lucidez em meio ao barulho.
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· 03:23 — Novo capítulo tarifário
Enquanto o noticiário internacional concentra suas lentes nas novas tarifas em si, é nos bastidores que se articulam os efeitos colaterais mais perigosos — e menos discutidos — da cruzada protecionista de Donald Trump. À meia-noite, entraram oficialmente em vigor os aumentos tarifários sobre quase todos os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos, reacendendo fricções diplomáticas. A Suíça, por exemplo, foi alvo de uma das maiores penalidades entre países desenvolvidos e já ameaça retaliar com o cancelamento de uma encomenda bilionária de caças — um sinal claro de que o protecionismo norte-americano começa a contaminar outras frentes geopolíticas.
Simultaneamente, Trump voltou seus holofotes para a Índia, impondo uma tarifa adicional de 25% sobre os produtos do país em retaliação à manutenção das compras de petróleo russo. O gesto inflamou os ânimos em Nova Délhi, gerando rara convergência entre governo e oposição: ambos classificaram a medida como uma demonstração de força vazia e abusiva. Para completar o pacote, o presidente anunciou a intenção de aplicar uma tarifa de 100% sobre os semicondutores fabricados fora dos EUA — exceto, é claro, para as empresas que aceitarem repatriar sua produção ao território americano. Trata-se de uma engenharia tarifária ao custo de um ambiente cada vez mais instável para investidores e cadeias produtivas globais.
· 04:18 — Pressão sobre Putin
O prazo do ultimato imposto pelos Estados Unidos à Rússia para que aceite um cessar-fogo na guerra da Ucrânia se encerra nesta sexta-feira, elevando a temperatura no xadrez geopolítico. A Casa Branca sinalizou a possibilidade concreta de um encontro entre Donald Trump, Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky já na próxima semana. Embora os detalhes logísticos ainda estejam indefinidos, o próprio Trump disse ver uma perspectiva muito boa para uma cúpula trilateral — o tipo de gesto que, se concretizado, pode redesenhar a dinâmica do conflito com um aceno de trégua.
Enquanto isso, Trump prometeu anunciar nas próximas 24 a 36 horas um novo pacote de “sanções secundárias” ligadas ao petróleo russo, com alvos ainda não especificados. Nos bastidores, a pressão por uma solução diplomática ganha fôlego. Uma nova pesquisa Gallup revelou que 70% dos ucranianos entrevistados no início de julho já defendem um acordo negociado para encerrar a guerra. Os termos de uma eventual paz passariam inevitavelmente por concessões territoriais — tema ainda sensível, mas que volta ao radar com força. Pela primeira vez desde janeiro, surgem indícios mais concretos sobre o que Moscou aceitaria como contrapartida para encerrar as hostilidades, e a pressão sobre aliados estratégicos da Rússia, como a Índia, tende a se intensificar. O cenário caminha, portanto, para um impasse menos militar e mais diplomático — o que pode trazer um alívio para os mercados globais.
· 05:09 — Enquanto o cenário mudava, a entrega veio
A Iguatemi divulgou resultados operacionais consistentes no segundo trimestre de 2025, mesmo em um período contábil marcado por efeitos não recorrentes e importantes movimentos de fusões e aquisições. A companhia reforçou sua presença em ativos estratégicos ao adquirir participações adicionais nos shoppings Pátio Paulista e Higienópolis, ao mesmo tempo em que promoveu a saída de operações menos prioritárias, como o Market Place e o Galleria. Ainda assim, o grande destaque do trimestre veio da operação em si: as vendas totais atingiram R$ 6,3 bilhões, um crescimento de 27,4% em relação ao mesmo período do ano passado — sendo 14,4% apenas na base comparável. A taxa de ocupação chegou a 96,4%, um dos maiores níveis históricos, enquanto a inadimplência foi praticamente irrelevante (apenas 0,3%).
Os indicadores reforçam a qualidade e a resiliência do portfólio da Iguatemi, com destaque para…