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Investimentos

Como Ibovespa deve digerir as tarifas em meio à boa temporada de resultados? Veja os destaques de hoje (7)

Banco da Inglaterra decide cortar juros e Trump ameaça impor novas tarifas a outros países e setores. Fique por dentro.

Por Matheus Spiess

07 ago 2025, 09:30

Atualizado em 07 ago 2025, 09:30

mercado ibovespa ações bolsa b3

Imagem: iStock.com/sankai

Às vésperas do fim da trégua tarifária entre Estados Unidos e China, marcada para o dia 12 de agosto (uma postergação pode acontecer, embora ainda não formalizada), os mercados asiáticos preferiram enxergar o copo meio cheio. Dados surpreendentemente fortes da balança comercial chinesa serviram de combustível: em julho, as exportações saltaram 7,2% e as importações avançaram 4,1% na comparação anual — resultados acima das projeções do mercado, puxados por maior demanda da União Europeia e de economias emergentes. O déficit comercial dos EUA com a China, por sua vez, caiu para apenas US$ 9,5 bilhões — o menor patamar em décadas. E por falar em comércio, Trump tratou de devolver a volatilidade aos mercados: ameaçou impor tarifas de 100% sobre empresas de semicondutores que não produzirem dentro dos EUA e voltou a mirar os países que seguem importando petróleo russo, como a Índia. 

Na Europa, o Banco da Inglaterra decidiu, como esperado, cortar os juros em 25 pontos-base, reduzindo a taxa para 4%. A votação dividida refletiu o malabarismo que a autoridade monetária precisa fazer: equilibrar uma inflação ainda incômoda com sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho. Mesmo assim, a decisão reforça o pano de fundo global de flexibilização monetária, algo que, em tese, deveria favorecer os mercados emergentes. As bolsas europeias, por ora, operam de forma mista, reagindo a uma enxurrada de balanços corporativos do segundo trimestre.

Nos Estados Unidos, o Fed segue em modo “preparar o terreno” para um possível corte em setembro, o que ajuda a manter a pressão descendente sobre o dólar (bom para nossos ativos). Por aqui, os olhos se voltam para o resultado da Petrobras, que será divulgado de noite e pode surpreender positivamente, inclusive com dividendos. 

· 00:56 — Esperar para ver

No Brasil, os ativos domésticos voltaram a apresentar uma dinâmica mais favorável — o que, convenhamos, parece menos reflexo de Brasília e mais consequência do que acontece lá fora. Em meio a ruídos políticos persistentes no âmbito local, quem continua ditando o rumo do mercado local são os fluxos e os ventos internacionais. Ontem (7), por exemplo, tivemos uma conjunção curiosa: o início oficial das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros coincidiu com um pregão positivo, em que o Ibovespa subiu 1,04%, fechando aos 134.538 pontos. A explicação está no desempenho robusto de empresas relevantes do índice, cujos resultados trimestrais vieram acima do esperado e animaram o investidor. Em paralelo, o dólar recuou para R$ 5,46, acompanhando o ambiente externo mais benigno, com dólar mais fraco em nível global — um movimento bem-vindo após um julho de mau humor (mesmo com Brasília fazendo o possível para atrapalhar, agosto oferece algum alívio).

No radar de curto prazo, a grande expectativa gira em torno da Petrobras, que divulga seus resultados após o fechamento de hoje. O foco está nos dividendos — e não por acaso: o governo conta com esses recursos para fechar as contas do ano, o que aumenta a chance de distribuição e, por consequência, o entusiasmo dos investidores. No geral, a temporada de balanços no Brasil tem surpreendido positivamente, sustentando a recente recuperação dos ativos, ainda que tímida. Mas o pano de fundo segue tenso. Ontem, o presidente Lula voltou a ventilar a ideia de reunir os BRICS para discutir o “tarifaço”, movimento que, na prática, beira a provocação — especialmente considerando que parte da escalada tarifária é atribuída, justamente, ao tom antiamericano adotado pelo Planalto. Toda vez que o governo ensaia flertar novamente com essa retórica, o mercado se enrijece: teme novas retaliações dos EUA e precifica risco político em dólar. Por ora, enquanto não houver retaliação formal do lado brasileiro, o ambiente tende a manter algum grau de estabilidade — ainda mais com os sinais de abertura no diálogo, como a possível reunião entre Fernando Haddad e Scott Bessent na próxima semana. Um movimento de distensão seria bem-vindo. Afinal, entre uma guerra comercial e clima de pacificação, o investidor prefere a segunda.

· 01:41 — Resultados corporativos e menor pressão da atividade

Os mercados americanos encerraram o pregão em alta, impulsionados pelas notícias envolvendo a Apple, que conseguiram eclipsar as tensões comerciais renovadas e a repercussão negativa de um leilão morno de títulos do Tesouro. Foram US$ 42 bilhões em papéis de 10 anos com demanda abaixo do esperado, o que levou a uma alta nos rendimentos e acendeu o alerta sobre uma possível aversão crescente a novos carregamentos de dívida americana. Ainda assim, o pano de fundo inflacionário segue dando sinais encorajadores — com queda nos aluguéis e arrefecimento de algumas pressões de preços —, o que reforça a tese de que o Federal Reserve poderá retomar o ciclo de corte de juros (entre setembro e outubro), alimentando o apetite por risco.

No plano estrutural, as recompras de ações seguem a pleno vapor, sustentando os índices próximos às máximas históricas, enquanto os resultados corporativos americanos continuam superando os pares europeus. No noticiário empresarial, a Disney entregou um balanço misto: superou as projeções de lucro e anunciou novos acordos no segmento de streaming esportivo, mas sua divisão de entretenimento — tradicional carro-chefe — amargou queda no lucro operacional e prejuízo na área de estúdios. A agenda desta quinta-feira promete mais volatilidade, com a divulgação de resultados de gigantes como Eli Lilly, Shell, Toyota, Gilead e ConocoPhillips, além de dados sobre produtividade do trabalho e seguro-desemprego, que devem servir como termômetro adicional para calibrar as expectativas sobre os próximos passos do Fed.

· 02:37 — O que a Apple fez?

O ambiente para os fabricantes americanos vem se tornando cada vez mais disfuncional, à medida que o governo Trump intensifica sua ofensiva tarifária em nome de uma retórica nacionalista que, na prática, combina improviso com protecionismo seletivo. Além das alíquotas amplas que entraram em vigor nesta semana, o presidente resolveu mirar agora o setor de semicondutores, propondo uma tarifa de 100% sobre chips produzidos fora dos Estados Unidos. Mas, em uma coreografia já conhecida, a rigidez da regra vem acompanhada de exceções cirurgicamente desenhadas: algumas das maiores exportadoras para o mercado americano foram poupadas, em um movimento que reduz o impacto econômico direto, mas amplifica a complexidade tarifária. O resultado é um cenário de negócios cada vez mais imprevisível, onde o custo da incerteza se soma ao da tarifa. Nesse contexto confuso, os investimentos em inteligência artificial continuam a avançar com velocidade, sustentando a narrativa de crescimento, mas levantando questionamentos sobre a viabilidade dos retornos no médio prazo — prometer bilhões é fácil; transformá-los em caixa, nem tanto.

Enquanto isso, a Apple protagonizou o grande destaque do dia. A companhia anunciou um novo aporte de US$ 100 bilhões em manufatura e pesquisa nos EUA, elevando para US$ 600 bilhões o volume de recursos prometidos até 2029 dentro do seu “Programa de Manufatura Americana” (AMP). A iniciativa tem um propósito claro: sinalizar alinhamento com Washington, justamente em um momento em que a empresa enfrenta críticas por ter deslocado parte da sua produção para a Índia — país que, aliás, tinha acabado de ultrapassar a China como principal exportador de smartphones para os EUA. A movimentação da Apple soa como uma tentativa de se blindar de futuras represálias comerciais, em um xadrez tarifário cada vez mais instável. Não por acaso, o anúncio veio poucas horas após Trump dobrar a aposta contra Nova Délhi, elevando para 50% a tarifa sobre produtos indianos, sob a justificativa de que o país continua a importar petróleo russo — crítica que soa estranha, considerando a continuidade do comércio entre EUA e Rússia em setores estratégicos. Ao fim, o jogo geopolítico de tarifas vai se sofisticando, mas não necessariamente amadurecendo. E os investidores, como sempre, tentam encontrar lucidez em meio ao barulho.

· 03:23 — Novo capítulo tarifário

Enquanto o noticiário internacional concentra suas lentes nas novas tarifas em si, é nos bastidores que se articulam os efeitos colaterais mais perigosos — e menos discutidos — da cruzada protecionista de Donald Trump. À meia-noite, entraram oficialmente em vigor os aumentos tarifários sobre quase todos os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos, reacendendo fricções diplomáticas. A Suíça, por exemplo, foi alvo de uma das maiores penalidades entre países desenvolvidos e já ameaça retaliar com o cancelamento de uma encomenda bilionária de caças — um sinal claro de que o protecionismo norte-americano começa a contaminar outras frentes geopolíticas.

Simultaneamente, Trump voltou seus holofotes para a Índia, impondo uma tarifa adicional de 25% sobre os produtos do país em retaliação à manutenção das compras de petróleo russo. O gesto inflamou os ânimos em Nova Délhi, gerando rara convergência entre governo e oposição: ambos classificaram a medida como uma demonstração de força vazia e abusiva. Para completar o pacote, o presidente anunciou a intenção de aplicar uma tarifa de 100% sobre os semicondutores fabricados fora dos EUA — exceto, é claro, para as empresas que aceitarem repatriar sua produção ao território americano. Trata-se de uma engenharia tarifária ao custo de um ambiente cada vez mais instável para investidores e cadeias produtivas globais.

· 04:18 — Pressão sobre Putin

O prazo do ultimato imposto pelos Estados Unidos à Rússia para que aceite um cessar-fogo na guerra da Ucrânia se encerra nesta sexta-feira, elevando a temperatura no xadrez geopolítico. A Casa Branca sinalizou a possibilidade concreta de um encontro entre Donald Trump, Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky já na próxima semana. Embora os detalhes logísticos ainda estejam indefinidos, o próprio Trump disse ver uma perspectiva muito boa para uma cúpula trilateral — o tipo de gesto que, se concretizado, pode redesenhar a dinâmica do conflito com um aceno de trégua.

Enquanto isso, Trump prometeu anunciar nas próximas 24 a 36 horas um novo pacote de “sanções secundárias” ligadas ao petróleo russo, com alvos ainda não especificados. Nos bastidores, a pressão por uma solução diplomática ganha fôlego. Uma nova pesquisa Gallup revelou que 70% dos ucranianos entrevistados no início de julho já defendem um acordo negociado para encerrar a guerra. Os termos de uma eventual paz passariam inevitavelmente por concessões territoriais — tema ainda sensível, mas que volta ao radar com força. Pela primeira vez desde janeiro, surgem indícios mais concretos sobre o que Moscou aceitaria como contrapartida para encerrar as hostilidades, e a pressão sobre aliados estratégicos da Rússia, como a Índia, tende a se intensificar. O cenário caminha, portanto, para um impasse menos militar e mais diplomático — o que pode trazer um alívio para os mercados globais.

· 05:09 — Enquanto o cenário mudava, a entrega veio

A Iguatemi divulgou resultados operacionais consistentes no segundo trimestre de 2025, mesmo em um período contábil marcado por efeitos não recorrentes e importantes movimentos de fusões e aquisições. A companhia reforçou sua presença em ativos estratégicos ao adquirir participações adicionais nos shoppings Pátio Paulista e Higienópolis, ao mesmo tempo em que promoveu a saída de operações menos prioritárias, como o Market Place e o Galleria. Ainda assim, o grande destaque do trimestre veio da operação em si: as vendas totais atingiram R$ 6,3 bilhões, um crescimento de 27,4% em relação ao mesmo período do ano passado — sendo 14,4% apenas na base comparável. A taxa de ocupação chegou a 96,4%, um dos maiores níveis históricos, enquanto a inadimplência foi praticamente irrelevante (apenas 0,3%).

Os indicadores reforçam a qualidade e a resiliência do portfólio da Iguatemi, com destaque para…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.