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Investimentos

Demissão no Fed e IPCA-15 devem ser destaques no mercado nesta terça-feira (26); confira

A decisão de Trump de demitir Lisa Cook, do Federal Reserve, acendeu o alerta do mercado sobre a independência financeira do banco cental. Leia mais.

Por Matheus Spiess

26 ago 2025, 09:19

Atualizado em 26 ago 2025, 09:19

mercado ibovespa ações bolsa b3

Imagem: iStock.com/koto_feja

A decisão inédita de Donald Trump de anunciar a demissão de Lisa Cook, membro votante do Federal Reserve, acendeu um alerta imediato sobre a independência do banco central americano e trouxe instabilidade aos mercados globais nesta manhã. O presidente justificou sua medida alegando acusações de fraude hipotecária, mas Cook se recusou a renunciar, ressaltando que o cargo possui mandato fixo e que Trump não tem autoridade legal para destituí-la. O caso inevitavelmente seguirá para a Justiça e, caso prevaleça a posição da Casa Branca, abrirá espaço para que o presidente indique outro nome ao conselho, ampliando sua influência política sobre uma instituição que, até aqui, era vista como pilar de autonomia técnica. No curto prazo, a reação dos mercados foi imediata, com queda do dólar, mas a recuperação parcial sugere que os investidores ainda tratam o episódio como um ruído transitório — ainda que o risco de ingerência política sobre a condução da política monetária permaneça no radar, em um momento em que as apostas de corte de juros em setembro ganham força.

No exterior, os reflexos foram igualmente visíveis. Bolsas na Ásia e na Europa recuaram, refletindo o temor de que a politização do Fed se some às tensões geopolíticas já em curso. A China praticamente zerou suas importações de energia dos EUA em resposta ao novo pacote tarifário, redirecionando compras para a Rússia, enquanto na Europa o anúncio de um voto de confiança pelo primeiro-ministro francês, François Bayrou, ampliou a instabilidade política e pressionou os índices regionais.

No mercado de commodities, o petróleo recua após ter alcançado máxima de três semanas, com investidores monitorando os ataques ucranianos contra instalações energéticas russas e a entrada em vigor da tarifa adicional de 25% que os EUA passarão a aplicar sobre produtos da Índia ligados ao petróleo russo. O quadro atual mostra um ambiente de incerteza que molda diretamente o humor dos investidores.

· 00:56 — Cuidado com o fiscal

No Brasil, o destaque do dia fica por conta da divulgação da prévia da inflação oficial, o IPCA-15, que deve registrar deflação em agosto. O movimento reforça a sequência de revisões baixistas já observadas nas expectativas de inflação para 2025, captadas pelo relatório Focus, e que agora também se estendem para 2026 e 2027. Esse quadro vem alimentando as apostas de que o Banco Central poderá iniciar um ciclo de cortes de juros mais cedo do que se imaginava. Vale, no entanto, um alerta importante: a leitura deste mês do IPCA-15 sofre influência pontual do bônus de Itaipu nas contas de energia. Ainda assim, o dado terá peso simbólico, já que representará a primeira queda mensal desde julho de 2023 e, pela primeira vez desde fevereiro, colocará a inflação acumulada abaixo de 5% em 12 meses. Esse recuo ajuda a consolidar um ambiente de menor percepção de risco inflacionário, fator que pode viabilizar um corte da Selic já em dezembro — sobretudo se os Estados Unidos iniciarem seu próprio afrouxamento em setembro. O grande obstáculo, entretanto, segue sendo o quadro fiscal doméstico, agravado pelas tensões diplomático-comerciais com os EUA e pelo risco crescente de ingerência política sobre o Federal Reserve, que mina a credibilidade da política monetária americana e, por consequência, reduz sua eficácia em nível global.

Aliás, no plano fiscal, a situação permanece frágil. A oposição articula com o Centrão para derrubar medidas compensatórias que financiariam a isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil, criando o risco de mais uma bomba fiscal para o governo. Como venho apontando há algum tempo, a perda de governabilidade, especialmente após o desgaste com o Congresso no episódio do IOF, expõe o Executivo a novos impasses. Seja como for, ainda que os orçamentos de 2025 e 2026 sejam frágeis e artificiais, o mercado tende a tratá-los como secundários, já que a discussão fiscal de maior relevância só virá em 2027, no pós-eleições. 

Nesse contexto, investidores monitoram de perto o surgimento de alternativas políticas reformistas, fiscalistas e pró-mercado. Não à toa, as sinalizações de fortalecimento da candidatura de Tarcísio de Freitas e sua maior exposição pública podem ajudar a sustentar o bom humor dos ativos locais. O governador de São Paulo adotou ontem um discurso enfático sobre o momento histórico do país, defendendo que o Brasil precisa avançar “40 anos em quatro”, em alusão a Juscelino Kubitschek, e citando a agenda de Javier Milei, na Argentina, como exemplo de reformas estruturais urgentes voltadas ao controle fiscal e à redução da máquina administrativa. O tema das reformas, aliás, ganhou tração no fim de semana com três grandes editoriais defendendo a reforma administrativa, que pode se tornar a marca da presidência de Hugo Motta na Câmara dos Deputados. Esse debate tende a ganhar força nos próximos meses, na medida em que nos aproximamos das eleições de 2026, ainda que sua implementação efetiva só seja viável no ciclo político de 2027. Chegar até lá, porém, não será nada tranquilo.

· 01:47 — Ajuste

Nos EUA, a recuperação observada nos mercados após o discurso de Jerome Powell em Jackson Hole, na última sexta-feira (22), perdeu intensidade ao longo de ontem (25). O entusiasmo inicial, que havia sustentado a percepção de cortes de juros já em setembro, deu lugar a uma postura mais cautelosa. Isso porque, embora Powell tenha sinalizado essa possibilidade, reforçou que qualquer decisão dependerá da leitura dos próximos indicadores econômicos, deixando claro que a política monetária não segue um roteiro pré-estabelecido. Nesse contexto, dados como o PCE — indicador de inflação favorito do Fed — e o relatório de emprego (payroll) de agosto ganham relevância ainda maior para a calibragem das expectativas sobre a política monetária.

Além da esfera macroeconômica, o mercado volta suas atenções para a Nvidia, que divulgará seus resultados trimestrais na quarta-feira. A expectativa é de forte volatilidade, dado o peso da companhia tanto para o setor de inteligência artificial quanto para os principais índices acionários americanos. Historicamente, os papéis da Nvidia registram variação média de 7,4% após a publicação de balanços. 

· 02:31 — A independência do Fed sob ataque direto

O presidente Donald Trump anunciou a destituição da governadora do Federal Reserve, Lisa Cook, sob a alegação de que ela teria cometido fraude em documentos de hipoteca. A decisão, divulgada em carta publicada no Truth Social, foi apresentada como uma questão de “honestidade e integridade”, depois que o Departamento de Justiça sinalizou a intenção de investigar o caso. Cook, contudo, reagiu de imediato, afirmando que Trump não possui autoridade legal para removê-la, uma vez que seu mandato vai até 2038 e só poderia ser interrompido por justa causa devidamente comprovada em processo legal. Seu advogado classificou a medida como ilegal e já anunciou que recorrerá judicialmente, possivelmente levando a disputa até a Suprema Corte, o que promete prolongar ainda mais a tensão institucional.

O episódio intensifica a pressão de Trump sobre o Federal Reserve e acende preocupações adicionais sobre a independência do banco central americano. Caso consiga emplacar a destituição, o presidente teria a oportunidade de consolidar maioria no Conselho de Governadores do Fed, abrindo espaço para reforçar sua agenda de cortes de juros com vistas a estimular a economia. Trata-se, portanto, de um ataque direto à autonomia da política monetária, com repercussões imediatas nos mercados: os futuros do S&P 500 recuaram, o dólar apresentou forte volatilidade e o ouro chegou a subir, refletindo a percepção de risco institucional. Para investidores, o episódio evidencia a delicada fragilidade do equilíbrio entre política monetária e ingerência política nos EUA, ainda que parte do mercado mantenha a aposta de que o Senado e os tribunais servirão como barreiras de contenção às investidas de Trump.

· 03:23 — Novos atritos comerciais

Os EUA confirmaram que, a partir desta terça-feira (26), entrarão em vigor tarifas adicionais de 25% sobre produtos importados da Índia, colocando o país em posição semelhante à do Brasil, que já enfrenta uma alíquota efetiva de 50%. Assim como no caso brasileiro, alguns setores considerados foram poupados, incluindo ferro, aço, alumínio, cobre e veículos. A medida deriva de ordem executiva assinada por Donald Trump no início de agosto, sob a justificativa de que a Índia continua importando petróleo russo, de forma direta ou indireta. O movimento se insere no contexto de negociações de paz estagnadas entre Rússia e Ucrânia e enquadra Nova Délhi no grupo de países atingidos pelas chamadas “tarifas secundárias” dos EUA — instrumentos criados para punir parceiros comerciais que mantêm vínculos com Moscou.

O pacote, no entanto, não se limita à Índia. Trump também elevou o tom em relação a outras frentes: ameaçou impor tarifas de até 200% à China caso Pequim não garanta o fornecimento de ímãs estratégicos para a indústria americana e cogita sancionar autoridades da União Europeia em resposta à Lei de Serviços Digitais, que em Washington é interpretada como um mecanismo de restrição às Big Techs americanas. Essas retaliações poderiam incluir desde restrições de vistos até novas tarifas sobre serviços digitais — um tipo de ofensiva que o Brasil já experimentou em momentos anteriores (sanções contra indivíduos). Em linhas gerais, a escalada tarifária reforça o caráter protecionista da atual política comercial americana e reaquece o risco de tensões globais, em um cenário que tende a aumentar a incerteza para investidores.

· 04:18 — Risco de inflação

Na semana passada, o Walmart surpreendeu positivamente o mercado ao reportar vendas trimestrais de US$ 177,4 bilhões, superando as expectativas em meio a um ambiente desafiador de tarifas mais altas e incerteza econômica. O CEO Doug McMillon destacou que o impacto das tarifas tem sido gradual, permitindo ajustes relativamente contidos no comportamento do consumidor. Ainda assim, os custos de reposição vêm aumentando semana após semana, afetando especialmente famílias de baixa e média renda, que já demonstram menor tolerância a preços mais elevados em itens discricionários. Para enfrentar esse cenário, a companhia adotou uma estratégia pragmática: aumentou em cerca de 10% os preços de parte dos produtos importados, reduziu pedidos de itens de maior valor sujeitos a tarifas e antecipou compras de mercadorias com maior potencial de venda. É um jeito de diluir o impacto, claro.

A grande vantagem competitiva do Walmart segue sendo sua escala. A empresa consegue negociar condições mais favoráveis com fornecedores, diluindo parte dos custos e preservando margens em um ambiente de pressão. Esse diferencial tem sustentado não apenas sua resiliência, mas também ganhos de participação de mercado, com as vendas avançando 4,8% em relação ao ano anterior. O desempenho foi reforçado pela expansão contínua do e-commerce e por políticas agressivas de preços, que mantêm a empresa competitiva mesmo em um cenário adverso. Apesar dos resultados, é razoável esperar que os efeitos das tarifas continuem a se intensificar ao longo dos próximos meses, especialmente no varejo americano como um todo, onde nem todas as companhias possuem a escala necessária para absorver choques.

· 05:02 — Prestando atenção no mercado

O mercado brasileiro atravessa hoje uma conjuntura que combina múltiplos vetores favoráveis e alimenta expectativas de um rali nos ativos locais. De um lado, há sinais cada vez mais claros de desaceleração da atividade econômica, enquanto o Banco Central já interrompeu o ciclo de aperto monetário. Do outro, cresce a perspectiva de cortes de juros pelo Federal Reserve, movimento que, somado a valuations domésticos ainda bastante depreciados em relação aos padrões históricos, reforça o apetite pelo Brasil. O fluxo estrangeiro segue próximo de mínimas históricas e o posicionamento técnico não está sobrecarregado, abrindo espaço para novos ingressos. Além disso, às vésperas de uma eleição presidencial, aumenta a percepção de que qualquer gesto mais concreto em direção a uma política econômica responsável e a um ajuste fiscal crível pode disparar uma forte compressão dos prêmios de risco. Nesse cená-rio, muitos gestores já encaram o Brasil como uma aplicação quase inevitável.

Ainda assim, convém reconhecer que…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.