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Investimentos

Ibovespa: Clima instável deve estender-se até negociações de Lula e Trump; veja os destaques desta semana

Trump demonstrou abertura para conversar com Lula perto do início do tarifaço de 50% sobre exportações brasileiras.

Por Matheus Spiess

04 ago 2025, 09:47

Atualizado em 04 ago 2025, 09:47

mundo globo economia mercado

Imagem: iStock/ Nuthawut Somsuk

A semana passada foi marcada por uma confluência densa de fatores — geopolítica incendiária, indicadores econômicos sensíveis e decisões de política monetária — que mantiveram os investidores em estado de alerta. No Brasil, o principal destaque veio do campo comercial: Donald Trump indicou abertura para conversar com Lula, à beira da entrada em vigor do tarifaço de 50% sobre exportações brasileiras, previsto para esta quarta-feira (6). Apesar de alguns produtos estratégicos terem escapado, a situação segue instável. E, mais do que isso, há também risco de comunicação: a resposta do governo brasileiro, que voltou a flertar com a retórica inflamada no fim de semana, pode escalar o impasse num momento em que o bom senso recomendaria contenção.

Já nos EUA, o payroll muito abaixo do esperado reacendeu as apostas de corte de juros — agora com parte do mercado precificando até três reduções ainda em 2025. A notícia foi acompanhada pela saída de Adriana Kugler do Fed, abrindo espaço para mais uma indicação de Trump ao comitê, e pela controversa demissão da comissária do Bureau of Labor Statistics, Erika McEntarfer, após a divulgação dos dados — um gesto que soou, para muitos, como interferência direta na tecnocracia econômica.

A agenda econômica da semana é mais esvaziada, com atenção voltada a dados de serviços nos EUA, à decisão de juros na Inglaterra e à balança comercial da China. Enquanto isso, a temporada de resultados corporativos caminha para sua reta final nos Estados Unidos, com 29 empresas do S&P 500 ainda por divulgar seus números. Na Europa, os mercados tentam se recompor da forte queda registrada na sexta-feira, após o anúncio de novas tarifas por parte da Casa Branca. O fraco dado de emprego americano, porém, trouxe algum alívio pontual ao reaquecer as expectativas de corte de juros pelo Fed. Já na Ásia, a semana começou com mercados divididos: altas modestas em China e Hong Kong contrastaram com perdas no Japão, em um pregão morno, sem catalisadores locais relevantes, mas respaldado por futuros em alta nos EUA. No geral, o pano de fundo segue instável. Mesmo os respiros do mercado parecem mais uma pausa tática do que um sinal claro de reversão estrutural.

· 00:51 — Pragmatismo maduro ou populismo barato?

No Brasil, a semana traz uma combinação de resultados corporativos relevantes e uma agenda política cada vez mais ruidosa. Entre os balanços, ganham destaque os números de Petrobras, Itaú, Embraer e B3, que devem ajudar a calibrar o humor do investidor em relação aos fundamentos da Bolsa. No campo dos indicadores, o Caged será divulgado hoje (4), depois da taxa mínima de desemprego registrada na semana passada, enquanto a ata do Copom, amanhã, tende a reforçar uma comunicação já conhecida — com pouca margem para surpresas, mas útil para entender os próximos passos da política monetária. Ainda assim, são outros vetores que merecem mais atenção. Brasília retoma hoje seus trabalhos em clima político deteriorado. O recesso terminou sem reconciliação entre Congresso e governo, após uma derrota do Legislativo imposta pelo STF. A pauta é extensa, com votação da LDO e isenção do IR, em um ambiente de tensão entre os Poderes. Tudo indica que os próximos meses serão marcados por atritos constantes e resistência crescente ao governo.

No front comercial, a tensão com os EUA segue em alta. Criou-se a expectativa de um possível telefonema entre Trump e Lula antes da entrada em vigor das novas tarifas nesta quarta-feira. Seria uma oportunidade sensata de abrir diálogo e mitigar danos, mas o fim de semana trouxe mais barulho do que serenidade: durante o encontro nacional do PT, em Brasília, o presidente Lula voltou a adotar tom provocador em relação aos americanos — uma escolha retórica inadequada, dadas as circunstâncias. Agora, prepara-se um novo pronunciamento em cadeia nacional, que pode, mais uma vez, gerar sinais ambíguos ao mercado. Estamos presos em uma ciranda populista, com o lulopetismo à esquerda e o bolsonarismo à direita, que inviabiliza qualquer debate sério sobre as fragilidades estruturais do país, começando pela questão fiscal. 

Nos bastidores, há expectativa de uma conversa entre Fernando Haddad e Scott Bessent, secretário do Tesouro americano, ainda nesta semana. O governo brasileiro busca excluir cacau e manga do tarifaço (a carne bovina, por sua vez, tem menos chance de escapar, dada sua produção relevante nos EUA, mas ao menos a alíquota final poderia ser eventualmente menor). No curto prazo, o que se antecipava já ocorreu: a popularidade de Lula melhorou marginalmente, mas a reprovação segue alta — os 40% de avaliação “ruim/péssimo” inalterados. Como já discuti aqui, os ganhos políticos são pontuais, limitados e sustentados sobre uma base frágil. Persistir na escalada da guerra comercial seria um erro estratégico, que pode custar caro (dólar estouraria). Desde a semana passada, o mercado já demonstra desconforto crescente com o que vem se configurando como o risco de um quarto mandato do presidente Lula. Para 2026, o campo está aberto a uma alternativa mais moderada, capaz de unir centro, centro-direita e ao menos parte do eleitorado bolsonarista. Os nomes de Tarcísio de Freitas e Ratinho Jr. surgem como possibilidades — mas o caminho até lá está longe de ser trivial. Se há uma certeza, é a de que tédio não fará parte do roteiro.

· 01:43 — Um mercado de trabalho bem mais fraco do que o esperado

Nos EUA, os mercados encerraram a semana passada sob forte tensão, pressionados por uma tempestade de sinais negativos que reacenderam os temores sobre a saúde da economia americana. Três fatores se combinaram para empurrar os índices acionários para baixo: o fim da trégua tarifária imposta por Trump e, principalmente, um relatório de emprego francamente decepcionante. O payroll de julho trouxe a criação líquida de apenas 73 mil vagas, muito aquém das expectativas, enquanto as revisões dos meses anteriores eliminaram 258 mil postos de trabalho que antes constavam nas estatísticas. Com isso, a média móvel trimestral — que era de 150 mil — despencou para apenas 35 mil vagas, revelando uma desaceleração aguda do mercado de trabalho, que vinha até então resistindo com certa resiliência. A taxa de desemprego subiu para 4,2%, puxada por um número recorde de novos entrantes na força de trabalho — o que suaviza o diagnóstico, mas não elimina a preocupação. 

Ainda não se pode falar em crise instalada, mas o conjunto da obra reforça a percepção de um resfriamento consistente da economia, que levou a uma forte queda de quase 30 pontos-base nas taxas de juros de curto prazo — movimento raro, equivalente a três desvios-padrão históricos. Esse ajuste reabre a porta para cortes de juros ainda este ano, após uma sequência de dados mais firmes que vinham mantendo o Fed na defensiva. A ironia, porém, é que o alívio monetário agora volta ao radar não pelo controle da inflação, mas pelo risco de recessão. Trata-se de um equilíbrio delicado. Em paralelo, a temporada de balanços segue intensa, com grandes nomes como Palantir, Disney, BioNTech, McDonald’s, Yum! Brands, Pfizer, Shell, Eli Lilly, Fox, Uber, Airbnb, Super Micro, AMD e Caterpillar trazendo resultados ao longo da semana — ainda que, em meio a um ambiente macro cada vez mais frágil, o peso das divulgações corporativas possa perder protagonismo frente à narrativa econômica.

· 02:35 — Risco institucional

Mais do que os números frios, o que realmente inquietou os mercados foi a reação do presidente americano diante das más notícias do mercado de trabalho. Em vez de reconhecer o sinal de alerta emitido pelo fraco relatório de emprego, Donald Trump escolheu atirar no mensageiro: anunciou, pelas redes sociais, a demissão de Erika McEntarfer, comissária do Bureau of Labor Statistics. Trata-se de um cargo historicamente técnico e blindado contra interferência política — ou ao menos era. A dispensa, motivada por um dado estatístico desfavorável, escancarou a fragilidade institucional crescente mesmo na maior economia do mundo. Soou como algo que esperaríamos de um líder populista latino-americano em crise de popularidade — não do presidente dos Estados Unidos. A consequência imediata é a erosão da confiança nos dados oficiais. Se esse padrão se consolidar, não teremos como confiar plenamente na integridade dos dados econômicos. E essa é uma rachadura que ultrapassa governos e ciclos eleitorais: minar a credibilidade técnica é péssimo.

A crise institucional, no entanto, não para por aí. Trump voltou a mirar no presidente do Fed, Jerome Powell. Ao mesmo tempo, ganhou margem para moldar o Comitê de Política Monetária a seu gosto com a saída antecipada de Adriana Kugler, cujo mandato expiraria apenas no fim de janeiro de 2026. A renúncia abre espaço para que Trump indique um nome alinhado a sua agenda, com viés mais dovish, ampliando a dissidência interna e criando, na prática, um “shadow Fed”: um novo membro vocal, com influência de mercado proporcional à expectativa de um novo mandato presidencial. Esse tipo de interferência, que em teoria deveria ser impensável nos EUA, vai se normalizando — e com isso, a política monetária vai perdendo eficácia e previsibilidade. Quando a credibilidade da autoridade monetária se dilui, os juros necessários para produzir o mesmo efeito sobre a inflação tendem a subir. Sabemos por experiência própria o que acontece quando a política monetária se torna refém.

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· 03:22 — A independência do banco central é importante

Quando um banco central se submete à vontade política do governo, o resultado quase sempre é desastroso. A pressão por juros artificialmente baixos, embora sedutora no curto prazo, costuma vir acompanhada de expansão monetária excessiva — e, com ela, inflação persistente. Trata-se de um velho roteiro cujas consequências são bem conhecidas por quem já viu este filme em economias emergentes. A boa notícia é que não estamos navegando no escuro: há ampla literatura empírica demonstrando que países com bancos centrais independentes colhem melhores resultados. De forma consistente, essas economias apresentam inflação mais baixa, maior previsibilidade e, não por acaso, crescimento estrutural mais robusto ao longo do tempo.

A razão é simples, embora frequentemente ignorada: quando famílias, empresas e investidores conseguem tomar decisões de longo prazo com base em expectativas estáveis — sobre inflação, juros e o valor da moeda —, suas escolhas tendem a ser mais eficientes, e os resultados, mais positivos. A previsibilidade fiscal e monetária não é um luxo tecnocrático, mas um ativo econômico fundamental. Economias funcionam melhor quando os agentes confiam que a inflação deste ano, do próximo e dos próximos cinco anos não será moldada por conveniências eleitorais ou caprichos de ocasião, mas por uma política monetária coerente e responsável. Em resumo, a independência dos bancos centrais não é uma formalidade institucional: é uma peça central para a saúde do ciclo econômico e a solidez dos investimentos.

· 04:16 — Enfrentamentos

O dia 1º de agosto marcaria, ao menos na teoria, o prazo final para que diversos países concluíssem acordos comerciais com os Estados Unidos e escapassem das novas tarifas anunciadas por Donald Trump. Mas o presidente americano mudou as regras: na noite da última quinta-feira, assinou um decreto que eleva significativamente as tarifas a partir de 7 de agosto. A decisão surpreendeu os mercados, já excessivamente esticados após uma valorização de quase 28% desde as mínimas de abril. Com ativos precificados para um cenário de otimismo — sustentado por lucros robustos e uma economia que parece aguentar o tranco —, bastou esse novo ruído para que aumentasse o risco de correção. E, convenhamos, uma retração de 5% não seria nem inédita nem alarmante: historicamente, o mercado americano passa por três movimentos desse tipo por ano. O problema é o momento em que isso ocorre.

No campo geopolítico, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, adotou um tom firme diante das pressões tarifárias americanas, deixando claro que não pretende interromper a importação de petróleo russo — mesmo após os EUA imporem uma tarifa de 25% sobre as exportações indianas. A decisão reforça a postura estratégica de Nova Délhi, que busca equilibrar seus interesses energéticos com uma postura de não-alinhamento explícito. E, se a Índia entrou no radar de Trump, a Rússia voltou ao centro da cena com força. Em mais um gesto coreografado com a sua retórica beligerante, o presidente americano afirmou ter reposicionado submarinos nucleares em resposta a declarações de Dmitry Medvedev, ex-presidente russo, que havia classificado as exigências americanas por um cessar-fogo na Ucrânia como um passo em direção à guerra”. O resultado é um ambiente global marcado por incerteza comercial, instabilidade diplomática e um mercado financeiro que, depois de meses de apatia diante do risco, começa a olhar para os sinais com menos indiferença.

· 05:01 — Algumas conclusões…

A Berkshire Hathaway divulgou seus resultados do segundo trimestre com mensagens claras — e nem tão sutis — para os investidores atentos. O lucro operacional superou as expectativas, beneficiado por efeitos cambiais pontuais, mas o verdadeiro destaque do balanço foi o tom deliberadamente mais cauteloso na alocação de capital. A empresa não recomprou ações próprias no trimestre, nem nas primeiras semanas de julho, rompendo com uma prática que vinha se tornando frequente…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.