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Investimentos

Super Quarta e temporada de resultados a todo vapor, com Meta, Microsoft, Bradesco e Santander; veja os destaques desta quarta (30)

Selic deve ser mantida em 15%, e o Banco Central tende a reiterar o discurso de manutenção dos juros por um “período bastante prolongado”

Por Matheus Spiess

30 jul 2025, 09:36

Atualizado em 30 jul 2025, 09:36

Copom taxa de juros onde investir super quarta mercado

Imagem: iStock/Rmcarvalho

Começamos a quarta-feira com mais um lembrete da fragilidade global — desta vez literal: um terremoto de magnitude 8,8 atingiu a Rússia e disparou alertas de tsunami pelo Pacífico. O episódio apenas se soma a um ambiente já tensionado por incertezas econômicas, geopolíticas e tarifárias. Nos EUA, novos sinais de enfraquecimento no mercado de trabalho provocaram um fechamento nas taxas de juros, gerando certo alívio para ativos de risco ao redor do mundo — inclusive no Brasil. Caso esse movimento de desaquecimento ganhe tração, pode servir como catalisador para a retomada do tão aguardado ciclo de cortes pelo Fed (bom para emergentes).

No epicentro do noticiário de hoje está a chamada “Super Quarta”: tanto o Comitê de Política Monetária (Copom) quanto o Federal Reserve anunciam suas decisões, com manutenção dos juros como ampla expectativa. Mas o que realmente importa é o tom. Jerome Powell, pressionado por dados mistos e incertezas tarifárias crescentes, deve manter sua postura cautelosa em sua coletiva que acompanha a decisão. Antes disso, os mercados digerem números importantes: o relatório de empregos da ADP e o PIB americano, ambos com potencial de influenciar a comunicação do Fed (na coletiva). A temporada de balanços também segue ganhando tração: Microsoft e Meta divulgam resultados hoje, enquanto Apple e Amazon fazem sua estreia amanhã, oferecendo um termômetro valioso para setores-chave como nuvem, e-commerce e semicondutores.

Nas demais praças globais, o dia começou com uma dose extra de prudência. Na Ásia, os mercados encerraram o pregão sem direção única após mais uma rodada inconclusiva de conversas entre EUA e China sobre tarifas — descritas, com generosidade diplomática, como “construtivas”. Na Europa, o cenário também é de indefinição: enquanto empresas divulgam seus balanços, o PIB da Zona do Euro decepcionou com um avanço de 0,1% no segundo trimestre. Em Nova York, os futuros operam no campo positivo, impulsionados pela expectativa com os balanços das big techs e pela leitura mais fraca do mercado de trabalho americano. E, como pano de fundo, segue em destaque a deterioração geopolítica: o petróleo recua após Trump impor um novo ultimato à Rússia, com ameaça de tarifas secundárias de 100% a países que importam petróleo russo — em especial, China e Índia. O cenário, no geral, permanece volátil e sensível, exigindo atenção redobrada dos investidores.

· 00:53 — Um caminho possível

Por aqui, o Ibovespa ensaiou uma recuperação e voltou a fechar em alta, interrompendo uma sequência de três quedas consecutivas provocadas pelo estresse tarifário. A melhora refletiu, sobretudo, uma leitura ligeiramente mais construtiva sobre o impasse comercial com os EUA — ainda que sem garantias concretas de solução. A alta do petróleo ontem também colaborou, sustentando os papéis da Petrobras, embora a commodity já venha devolvendo parte dos ganhos nesta manhã. Ainda assim, a dinâmica dos ativos locais segue amplamente condicionada aos fluxos estrangeiros, com pouca margem para protagonismo doméstico. Internamente, o foco está na temporada de balanços, com Santander divulgando seus números pela manhã e Bradesco ao fim do dia, além da decisão de política monetária do Copom, de noite.

Não se espera surpresa alguma: a Selic deve ser mantida em 15%, e o Banco Central tende a reiterar o discurso de manutenção dos juros por um “período bastante prolongado”. Com o fiscal cada vez mais indomado e, agora, o fator comercial adicionado à equação, não há espaço para ambiguidades. Mudar o tom, neste momento, seria contraproducente. O mercado, por sua vez, começou a precificar um desfecho menos destrutivo no embate com Washington. Ainda que não haja qualquer compromisso oficial, surgiram alguns sinais de distensão: o secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick, mencionou a possibilidade de isenção para produtos que não são cultivados no país, como café, cacau e manga — o que reforça a tese de que alimentos podem receber um tratamento tarifário diferenciado, ou até mesmo escapar.

Apesar disso, o governo brasileiro segue priorizando uma estratégia de adiamento da entrada em vigor das tarifas, enquanto tenta reabrir — com dificuldade — canais de diálogo com os americanos. Há sobre a mesa ideias alternativas, como a oferta de compromissos de investimento, a exemplo do que Japão e União Europeia já formalizaram. A Embraer, por exemplo, tem planos de expandir sua presença nos EUA com investimentos que podem ultrapassar US$ 1 bilhão — um número que, se ampliado, poderia servir de trunfo em uma negociação. Lula, inclusive, cogita acionar diretamente Donald Trump como último recurso, ainda que pairem receios de uma resposta hostil, como já ocorreu com líderes de outros países. Em resumo, ainda caminhamos em um terreno instável, mas ao menos há a percepção de que alguma via de atenuação começa a se desenhar. Enquanto isso, o tarifaço segue como o principal entrave para qualquer recuperação mais sustentada dos ativos locais no curto prazo.

· 01:44 — Qual será o tom de Powell?

A terça-feira marcou o início de uma semana carregada de dados econômicos importantes nos Estados Unidos. O relatório JOLTS mostrou que as contratações continuam em queda, embora as demissões sigam em níveis historicamente baixos — um sinal de desaquecimento gradual do mercado de trabalho. A confiança do consumidor melhorou, e o déficit comercial de bens recuou mais do que o previsto, o que deve impulsionar as expectativas para o PIB do segundo trimestre, cuja divulgação ocorre nesta quarta-feira. No entanto, a expectativa é de que esse crescimento venha mais da queda nas importações do que de um verdadeiro impulso da atividade econômica. O relatório ADP de emprego privado e o payroll de sexta-feira devem ajudar a calibrar as apostas sobre quando o Fed poderá iniciar cortes de juros.

Apesar dos dados positivos pontuais, o mercado acionário não reagiu bem: os principais índices recuaram na terça, refletindo a ansiedade dos investidores com os balanços das big techs e a decisão de juros do Fed. O S&P 500 interrompeu seis dias de alta, enquanto Dow Jones e Nasdaq também fecharam em queda. Para hoje, a expectativa é de manutenção dos juros entre 4,25% e 4,50%, mas o foco estará no discurso de Jerome Powell e nos votos de membros dissidentes como Waller e Bowman, que podem pressionar por corte já em breve. Powell deve manter uma postura cautelosa, à espera de mais clareza nos efeitos das tarifas sobre a inflação. Enquanto isso, as ações de gigantes como Amazon, Apple, Meta e Microsoft — que somam US$ 11 trilhões em valor de mercado — operam sob pressão antes dos resultados. Esses números serão cruciais para ditar o rumo dos próximos dias.

· 02:36 — Postergação

As equipes de negociação da China e dos Estados Unidos sinalizaram a intenção de estender as conversas comerciais além do prazo final de agosto, na tentativa de resolver as disputas tarifárias amplificadas desde o início da guerra comercial global promovida por Donald Trump. A trégua original, firmada em maio e com duração de 90 dias, havia levado Trump a recuar momentaneamente das tarifas mais agressivas, que ameaçavam paralisar o fluxo bilateral entre as duas maiores economias do planeta. Agora, mais uma postergação de 90 dias está em discussão. As tensões voltaram a crescer à medida que ambos os lados buscam pressionar com instrumentos estratégicos: a China explora sua posição dominante sobre minerais de terras raras em troca de concessões dos EUA em semicondutores — especialmente os mais avançados, cruciais para as ambições chinesas em inteligência artificial.

Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, os europeus tentam digerir o acordo firmado com os EUA, em meio a uma crescente percepção de perda de relevância geoeconômica do bloco. O pacto prevê que a União Europeia aceitará triplicar as tarifas — para 15% — sobre a maioria de suas exportações para os Estados Unidos, enquanto manterá seus próprios impostos sobre produtos americanos em patamares simbólicos, próximos de 1%. Diplomatas admitem que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, não teve muita margem de manobra. Ainda assim, as críticas internas começaram a ecoar — alimentadas tanto por frustrações econômicas legítimas quanto por estratégias políticas oportunistas. A leitura de que o bloco “se curvou” ganhou tração entre parlamentares, embora algumas avaliações argumentem que a indignação pública pode fazer parte do teatro diplomático necessário para agradar Trump, que gosta do papel de vencedor em qualquer mesa de negociação.

Em termos práticos, o acordo está longe de ser uma derrota definitiva para os europeus. Sim, os produtos do bloco perdem competitividade nos EUA, mas quem arca com a conta das tarifas são as empresas e os consumidores americanos. Além disso, os compromissos de investimento assumidos carecem de mecanismos concretos de enforcement (não seria a primeira vez que promessas terminam apenas no papel) e a suposta compra de energia em larga escala parece logisticamente inviável. Também não há, ao menos por ora, escalada do conflito — o que por si só já é um alívio. Setores específicos seguem sob risco, mas o pacto evitou um colapso tarifário generalizado. Em resumo, trata-se de um acordo imperfeito, mas funcional. E em um mundo movido por interesses eleitorais, é prudente desconfiar tanto do entusiasmo dos aliados quanto da histeria dos críticos. O jogo ainda está em andamento, e a narrativa definitiva dependerá de como cada parte capitalizará os próximos capítulos.

· 03:25 — Balançou

Um terremoto de magnitude 8,8 sacudiu o Extremo Oriente da Rússia na manhã desta quarta-feira, disparando alertas de tsunami em boa parte do Pacífico. O tremor, um dos mais potentes do século XXI — comparável apenas ao devastador abalo sísmico de 2011 que atingiu o Japão e provocou o desastre nuclear em Fukushima —, gerou preocupação de Tóquio a Vancouver, passando por Indonésia, Nova Zelândia, Alasca e costa oeste dos Estados Unidos. Apesar da magnitude e da amplitude dos alertas, os danos relatados até agora foram mínimos, o que pode ser considerado um alívio.

As ondas geradas pelo terremoto chegaram a até 4 metros na costa russa próxima ao epicentro, mas a baixa densidade populacional da região atenuou os impactos humanos. No Japão, país com vasta experiência em lidar com desastres naturais, o impacto foi limitado, com as autoridades mantendo as operações sob controle. No Havaí, as ondas atingiram cerca de 1,2 metro e acionaram os protocolos de emergência, mas logo foram suspensos à medida que o risco se dissipava. A mesma cautela se repetiu nas costas da Califórnia, Oregon e Washington, onde o fenômeno foi monitorado com atenção, mas sem registro de estragos relevantes.

Ainda assim, o episódio serve como lembrete da vulnerabilidade do sistema econômico global a choques exógenos de natureza geofísica — especialmente em um momento em que os mercados já operam sob estresse, seja pela tensão geopolítica, seja pela fragilidade das cadeias de suprimento. A depender da evolução dos desdobramentos e de potenciais riscos secundários (como interrupções logísticas ou pressões sobre commodities energéticas e agrícolas), o episódio pode se somar ao ambiente de incerteza que vem marcando o segundo semestre. Por ora, a reação dos mercados é de cautela comedida, mas os investidores seguem atentos. Afinal, em um cenário já suficientemente volátil, o imprevisível nunca vem em boa hora.

· 04:11 — US$ 30 trilhões?

Elon Musk voltou a mirar altíssimo. Durante uma participação virtual no encontro do Tesla Owners Silicon Valley 2025, uma espécie de clube de fãs do bilionário, o CEO da Tesla compartilhou sua visão para o futuro dos robôs humanoides: uma oportunidade de receita estimada em US$ 30 trilhões. O número parte de uma projeção hipotética em que a Tesla produziria um bilhão de unidades por ano do robô Optimus, vendidas a US$ 30 mil cada. Mesmo reconhecendo que isso ainda está distante no tempo, Musk, como de costume, prefere plantar a manchete primeiro — resolver os detalhes depois.

Apesar do número fantasioso, a empreitada tem algum lastro. A Tesla está, de fato, investindo em robôs humanoides equipados com inteligência artificial própria, usando sua expertise em manufatura e software para desenvolver o Optimus. A expectativa mais realista da empresa é produzir algumas centenas até o fim de 2025, bem abaixo dos “milhares” originalmente planejados, em parte devido à necessidade de ajustes no design. O cronograma prevê uma aceleração da produção a partir de 2026. Ou seja: o ritmo talvez não impressione, mas a ambição, sim — e Musk, fiel à sua persona, não esconde o entusiasmo em prever um mercado potencial de até 20 bilhões de robôs.

Embora o valor de mercado anunciado flerte com a megalomania, o tema não é irrelevante. A Tesla não está sozinha na aposta: o próprio CEO da Nvidia, Jensen Huang, afirmou recentemente que os robôs podem vir a ser o maior mercado global no futuro. Hoje, o segmento ainda é incipiente e carece de aplicações práticas em larga escala, mas o avanço da automação, o envelhecimento populacional em várias economias desenvolvidas e a escalada da inteligência artificial colocam a ideia na vitrine dos investimentos especulativos com algum potencial estrutural. O número de Musk pode ser inflado, mas a tese de longo prazo talvez mereça mais atenção.

· 05:08 — Os resultados das Big Techs

Entre hoje e amanhã, os holofotes se voltam às gigantes da tecnologia, à medida que novas divulgações de resultados prometem revelar até onde essas empresas estão dispostas a ir na corrida por supremacia em inteligência artificial. Mesmo diante das crescentes dúvidas sobre uma possível bolha de IA, as chamadas “Sete Magníficas” continuam expandindo seu apetite por investimentos — e quem achava que o ritmo desaceleraria pode se surpreender. Hoje é dia de Meta Platforms e Microsoft, enquanto Apple e Amazon fecham a semana na quinta-feira. Na semana passada, a Alphabet já havia elevado as apostas, projetando US$ 85 bilhões em capex neste ano.

A Meta, comandada por um Mark Zuckerberg cada vez mais obstinado em posicionar sua empresa como referência no setor, deve apresentar um…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.