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Felipe Miranda, CIO e analista-chefe da Empiricus Research, listou 10 coisas “simples, racionais e necessárias” que todo investidor deveria fazer ainda em 2025.
“Serve para quem quer começar 2026 com o pé direito, bem posicionado, protegido dos riscos e com oportunidades reais na carteira”, disse Miranda.
Abaixo, você confere as recomendações do analista:
1. Faça uma boa previdência
Se você tem renda tributável anual, é simplesmente decisão racional e quase impreterível contratar um plano de previdência PGBL equivalente a 12% desse valor, de modo a capturar isenção na cobrança de IR. Esse diferimento de imposto faz diferença lá na frente, sobretudo em investimentos de longo prazo como na previdência. Talvez essa seja a decisão financeira mais simples, efetiva e necessária para se tomar nesse final de ano.
2. Considere as small caps
Na iminência dos cortes da Selic e de juros menores no mundo, toda a renda variável tende a se beneficiar. No entanto, os ganhos costumam a ser mais contundentes no nicho das small caps, cuja sensibilidade ao custo de capital tende a ser maior. Há de se notar também que o desconto no valuation das empresas menores é mais intenso do que aquele observado nas blue chips. Diante do fenômeno, as small caps ficam sem fluxo comprador. Contudo há um nicho de empresas menores, com ritmo de crescimento dos lucros, que merece atenção. Conforme o fluxo doméstico se torne comprador de Bolsa, potencialmente nos próximos meses, esse segmento pode ser o grande destaque de 2026.
3. Faça uma doação isenta para seus filhos
Utilizando-se de lei estadual em prol da isenção de ITCMD, você pode realizar doações para quantos donatários quiser durante o ano. Em 2025, a faixa de isenção no estado de São Paulo saiu de R$ 88,400 para R$ 92,550. É uma forma eficaz de garantir uma poupança para seus filhos, por exemplo, sem incorrer em tributação de herança lá na frente. Confesso eu mesmo ainda não ter feito isso nesse ano, mas farei nas próximas semanas.
4. Aumente sua exposição em indexados, reduzindo os prefixados
Há algo curioso sobre os mercados, títulos e classes de ativos brasileiros. Normalmente, o “kit Brasil” anda junto: câmbio, Bolsa e fundos imobiliários caminharam muito bem, e até o prefixado não foi mal. A exceção foram os juros indexados. As NTN-Bs, com rendimentos reais parecidos aos de crises passadas, acumularam perdas. Parte disso vem das preocupações fiscais e institucionais no Brasil e da alta global dos juros longos. O descolamento em relação a outras classes cria uma assimetria interessante nas NTNBs longas. Em 2025, fatores técnicos também pesaram: falta de transparência afasta estrangeiros, isenções reduzem o fluxo comprador e o Tesouro ampliou a oferta. Essa correção já começou e deve continuar em 2026. Recomendamos maior exposição em títulos indexados longos e menor em prefixados.
5. Livre-se dos vieses da ancoragem e de aversão à perda
Pesquisas de Terrance Odean mostram erros comuns do investidor pessoa física: concentração excessiva, venda precoce de ganhos e manutenção de prejuízos. Ao vender o que sobe e segurar o que cai, o investidor termina com uma carteira de micos. Ele evita realizar perdas por estar preso ao preço médio de compra, esquecendo que o prejuízo já existe.
O que importa é o futuro: se a ação vai cair, vende; se vai subir, compra ou mantém. A ancoragem e a aversão à perda distorcem a racionalidade.
Virar o ano pode ser o impulso para se desfazer da ação ruim comprada cara. Investimento não é casamento eterno e é possível recuperar perdas trocando mico por empresa de qualidade. Você pode recuperar o prejuízo com a ação A comprando a ação B.
Adeus miquimba velha, feliz empresa de qualidade nova.
6. Busque seguros contra catástrofes
É difícil identificar uma bolha enquanto ela se forma, já que costuma vir acompanhada de argumentos convincentes. Mesmo quando percebida, é impossível prever quando ou como vai estourar. Ainda assim, os alertas se acumulam. Howard Marks fala em complacência com riscos, Ray Dalio vê estímulo monetário do Fed em um ambiente de bolha e CEOs de grandes bancos projetam correção de cerca de 15% nas big techs. Michael Hartnett lembra que ciclos de euforia terminam com avisos para ter cautela. Há sinais preocupantes: Mag7 e IA já representam mais de 40% do valor de mercado, valuations altos, fluxo recorde de varejo e compras sucessivas. Talvez não seja como 1999, mas é prudente não ignorar excessos.
Buscar proteção contra uma correção no setor de IA faz sentido, para preservar os ganhos de 2025. A retomada de compras mais fortes em techs deve vir após uma correção saudável. Como diz Mark Spitznagel, só há um seguro clássico contra catástrofes: puts (opções de venda) fora do dinheiro. Destinar 0,25% do capital a isso, com ativos como Nvidia, Tesla, Palantir ou Nasdaq, pode ser um seguro interessante para o momento.
7. Aproveite a correção recente das criptomoedas
Após bater recordes, as criptomoedas passaram por uma forte correção. O bitcoin caiu de US$ 125 mil para cerca de US$ 103 mil, e o ethereum recuou de US$ 4.946 para US$ 3.500. O movimento foi influenciado por preocupações com o setor tech, correlação com ativos de risco, liquidação de grandes players e menor liquidez nos EUA.
Correções assim são comuns e costumam ser seguidas por recuperações. A tendência estrutural segue positiva, com maior demanda institucional e avanços regulatórios nos EUA, Ásia e Europa. O Brasil também anunciou novas regras recentemente. Juros mais baixos e possível afrouxamento monetário do Fed favorecem os criptoativos.
O mundo cripto também sente efeitos positivos provenientes da diversificação global e da redução da exposição geral ao dólar — o impacto do chamado “debasement trade” (saída das moedas fiduciárias diante de preocupação com as trajetórias de dívida e inflação) é mais intenso sobre o ouro, mas também reverbera sobre as criptomoedas. Estamos particularmente animados com a infraestrutura a partir do ethereum e não nos surpreenderia ver sua caminhada em direção aos US$ 10 mil nos próximos anos.
8. Não incorra no medo de ficar de fora
Warren Buffett dizia que poucos estavam dispostos a enriquecer devagar. Todos querem um atalho, a dica esperta. A grande dica é que não há atalho ou dica esperta. O enriquecimento é um processo mais parecido com uma maratona. Compor capital a uma taxa razoável, por bastante tempo, deixando os juros compostos fazerem sua mágica. Vamos devagar porque temos pressa. É comum querer entrar em euforias, como IA, cripto ou ações, mas o medo de ficar de fora é tão perigoso quanto outros vieses. Árvores não crescem até o céu; o ideal é comprar barato, não após grandes altas.
A natureza humana, porém, leva a crer que o que sobe continuará subindo. No Brasil, o juro nominal ainda é de 15%, o que permite boa composição de capital. Não faz sentido abandonar o CDI por modismos. Um bom fundo DI de taxa zero segue eficiente.
A simplicidade continua sendo a maior sofisticação.
9. Reduza sua exposição ao crédito privado
Outubro marcou uma virada na performance dos ativos de crédito privado em relação às NTN-Bs. Após meses de alta, os spreads se inverteram e muitos fundos de debêntures incentivadas renderam menos que o CDI, alguns até com perdas — surpreendendo investidores que viam baixo risco na renda fixa.
O incentivo tributário e a possível perda da isenção com a MP 1303 geraram uma corrida excessiva por esses títulos. Casos como Ambipar e Braskem acenderam alerta sobre risco de crédito, enquanto spreads historicamente baixos indicavam exagero. A demanda caiu, os preços recuaram e parte dos excessos foi corrigida, mas os spreads ainda não refletem adequadamente o risco.
Resgates podem pressionar mais os preços, abrindo oportunidades futuras, embora ainda seja cedo. Diante disso, os spreads atuais não compensam o risco, e uma correção em 2026 seria natural.
10. Não incorra no medo de ficar de fora
O fim do ano é um bom momento para revisar a carteira e a exposição internacional. A maioria dos gestores recomenda cerca de 30% em ativos no exterior, mas o investidor brasileiro costuma manter pouco em moeda forte, preso ao mercado local — o chamado home bias. Com a valorização recente dos ativos brasileiros e a queda do dólar, muitos estão com menor exposição internacional e precisam reequilibrar suas carteiras.
Internacionalizar vai além de comprar dólares: inclui metais preciosos, criptomoedas, euro, franco suíço, yuan e iene. O dólar tende a enfraquecer, mas a diversificação continua essencial, principalmente com a volatilidade típica de anos eleitorais como 2026. Como lembra Howard Marks, existem investidores velhos e audaciosos, mas não velhos audaciosos. O Brasil tem muitos exemplos disso.