Imagem: Carolina Antunes/PR
A inflação ao consumidor americano de agosto mostrou números em linha com as projeções do mercado: alta de 0,3% no mês e de 2,9% em 12 meses, com o núcleo estável em 3,1%. O dado reforçou a percepção de que o processo de desinflação ainda está em andamento, mas não de forma linear — alguns segmentos, como bens duráveis, voltaram a registrar aumentos de preços após quase dois anos e meio de deflação, embora seu peso na percepção do consumidor seja menor por se tratar de compras menos frequentes. O destaque negativo ficou por conta dos alimentos, especialmente carne bovina, banana e café, que tiveram o maior avanço mensal em quase três anos, influenciados por choques de oferta e custos de importação.
Ainda assim, o quadro macroeconômico se mantém no que o mercado costuma chamar de “economia morna”: crescimento em ritmo moderado, inflação ainda acima da meta, mas sob relativo controle, e um Federal Reserve que tende a iniciar cortes graduais de juros. Esse pano de fundo, combinado com a empolgação em torno da inteligência artificial, tem dado sustentação às bolsas americanas, que renovaram máximas históricas em meio ao otimismo com o início do ciclo de afrouxamento monetário.
Nos mercados globais, a repercussão foi positiva. Na Ásia, os índices acionários avançaram de forma consistente, impulsionados pelo bom desempenho de empresas de tecnologia e pelos recordes em Wall Street. Já na Europa, os mercados operaram de maneira mais contida, pressionados pela queda da farmacêutica Novartis e pela expectativa em torno da decisão do Banco Central Europeu, que optou por manter os juros estáveis e não ofereceu clareza sobre os próximos passos da política monetária. No campo político, o cenário internacional continua tenso: a derrubada de drones russos que violaram o espaço aéreo da Polônia levou a OTAN a convocar consultas de emergência, reacendendo preocupações sobre um possível confronto direto com Moscou. No Brasil, a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão pelo STF dominou o noticiário e deve obrigar a direita a buscar novas lideranças — há um receio de novas retaliações americanas contra o Brasil.
· 00:58 — O que vem agora?
No Brasil, o Ibovespa alcançou um novo recorde nominal na quinta-feira (11), impulsionado pelo otimismo que veio de Nova York após a divulgação do índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos em linha com as expectativas do mercado. O ambiente externo, marcado pela percepção de que o Federal Reserve deve iniciar cortes graduais de juros a partir da próxima reunião, na semana que vem, ajudou a sustentar o movimento positivo dos ativos locais. Ainda assim, o avanço da bolsa poderia ter sido maior, não fosse a publicação da pesquisa Datafolha, que mostrou crescimento na aprovação do presidente Lula — de 29% em julho para 33%, o patamar mais elevado desde o fim de 2024. O dado gerou cautela entre investidores, atentos ao impacto que essa melhora de popularidade pode ter na dinâmica eleitoral de 2026, ainda que nossas análises anteriores já indicassem que tal movimento tende a ser de curto prazo. No front doméstico, o alívio com a deflação de agosto e a perspectiva de cortes na Selic até dezembro continuaram a dar suporte ao mercado, mesmo com os números do varejo e de serviços apontando alguma resiliência na atividade econômica.
Em Brasília, o foco recaiu sobre a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal, que o sentenciou a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado e outros crimes, além de confirmá-lo inelegível por oito anos — condição que já vigorava em razão da reunião com embaixadores. Embora a decisão não altere de imediato a condução da política econômica, seus efeitos de médio e longo prazo podem ser relevantes. No cenário doméstico, a condenação pressiona a direita a acelerar a busca por uma nova liderança, com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, despontando como potencial sucessor político. Seu discurso no último domingo já sinalizou esse movimento: ao adotar, neste momento, uma postura vista como mais radical, Tarcísio pavimenta a transferência do capital político de Bolsonaro e mantém aberta a possibilidade de moderar o tom no futuro. O caminho inverso — partir da moderação para tentar radicalizar depois — seria mais difícil, pois dificultaria a própria transição de liderança. No campo externo, cresce a apreensão com as reações de Donald Trump, que já expressou descontentamento com o veredito e cogita impor novas sanções ao Brasil, em um contexto em que a política internacional se entrelaça cada vez mais com a dinâmica dos mercados locais.
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· 01:26 — O corte vem aí
Os mercados acionários dos EUA renovaram recordes históricos, impulsionados pela crescente convicção de que o Federal Reserve iniciará o ciclo de cortes de juros já na reunião da semana que vem. O Dow Jones ultrapassou pela primeira vez a marca dos 46 mil pontos, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq também encerraram o pregão em máximas inéditas. Os dados de inflação de agosto mostraram avanço de 2,9% em doze meses, em linha com as expectativas, apesar da pressão adicional de tarifas em segmentos como eletrodomésticos e vestuário. Ao mesmo tempo, os pedidos de seguro-desemprego alcançaram o maior patamar em quase quatro anos e as revisões de dados mostraram criação de vagas bem abaixo do inicialmente reportado, confirmando sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho.
O quadro combinado de inflação ainda relativamente contida e mercado laboral mais frágil reforça a percepção de que o Fed terá de calibrar riscos, mas dificilmente recuará da decisão de flexibilizar a política monetária. Esse ambiente vem sendo interpretado como um estímulo duplo pelos investidores: de um lado, a inflação apresenta-se sob controle, ainda que com alguns sinais de pressão latente; de outro, a perda de tração do emprego abre espaço para cortes graduais de juros. Nesse contexto, o mercado passou a precificar três reduções de 25 pontos-base até o fim do ano, movimento que sustenta um dos ralis mais consistentes dos últimos meses. Ainda que persistam dúvidas sobre a intensidade do crescimento econômico e sobre a resiliência do mercado de trabalho, o consenso predominante é de que o Fed caminha para uma trajetória de flexibilização monetária gradual, o que tem alimentado o otimismo em relação às bolsas americanas e reforçado o apetite global por ativos de risco.
· 02:38 — Revisão das tarifas
A Suprema Corte dos Estados Unidos deve iniciar em novembro a análise sobre a legalidade de parte das tarifas atualmente em vigor, em um julgamento que pode ter desdobramentos relevantes já no primeiro semestre de 2026. Caso algumas dessas medidas sejam consideradas ilegais, o regime tarifário precisaria ser substituído por novas alíquotas — que poderiam ser tanto mais baixas quanto mais altas, a depender do país exportador e da negociação política subsequente. O impacto imediato, contudo, viria do efeito retroativo da decisão: todas as empresas que recolheram tarifas entre abril de 2025 e o veredito final teriam direito a reembolso. Segundo o secretário do Tesouro, Scott Bessent, esse movimento poderia devolver ao setor privado cerca de metade da arrecadação tarifária do período, algo equivalente a 0,5% a 0,7% do PIB, ampliando de forma relevante o déficit fiscal, o que estressaria a curva de juros.
Na prática, esse reembolso funcionaria como um verdadeiro estímulo fiscal, com efeitos semelhantes a um programa de restituição tributária. Empresas americanas, em especial as de menor porte — responsáveis por aproximadamente dois terços dos pagamentos tarifários —, receberiam injeções extraordinárias de liquidez, fortalecendo temporariamente seu caixa. O efeito colateral, no entanto, é a incerteza inflacionária: mesmo que parte das tarifas seja reduzida, os preços que já haviam subido dificilmente voltarão ao patamar anterior, devido à conhecida rigidez de preços. Se, por outro lado, a revisão resultar em alíquotas mais altas para determinados parceiros comerciais, o risco inflacionário tende a se intensificar ainda mais. Em resumo, o julgamento abre um duplo vetor de impacto: estímulo à demanda via reembolso e possível pressão de preços pelo redesenho tarifário, aumentando a complexidade do cenário econômico.
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· 03:24 — Problemas com a Coreia do Sul
Os movimentos recentes do presidente Donald Trump evidenciam um paradoxo que pode custar caro aos Estados Unidos: ao mesmo tempo em que busca atrair investimentos estrangeiros estratégicos, o governo intensifica a retórica e a prática de um endurecimento migratório que ameaça justamente esses aportes. O caso mais emblemático ocorreu na Geórgia, onde o Departamento de Segurança Interna conduziu a maior operação de imigração já registrada em um único local no país, resultando na detenção de 475 trabalhadores em uma fábrica da Hyundai em construção. O mandado previa a prisão de apenas quatro hispânicos, mas mais de 300 detidos eram cidadãos sul-coreanos, contratados por subempreiteiras. O episódio não apenas expôs a dificuldade dos EUA em suprir a demanda por mão de obra qualificada para projetos de baterias avançadas — um setor crucial na disputa tecnológica global — como também revelou a contradição de uma política migratória restritiva que, na prática, cria gargalos para os investimentos que o próprio governo diz querer atrair.
Do ponto de vista diplomático, a repercussão foi imediata e negativa. A Coreia do Sul, que já havia prometido bilhões em investimentos no território americano, classificou a ação como uma verdadeira “facada nas costas”, interpretando as detenções — amplamente noticiadas pela mídia local, com imagens de trabalhadores algemados — como um gesto hostil. O mal-estar se somou a fricções recentes, como o fim das autorizações concedidas na gestão Biden que permitiam a Samsung e a SK Hynix exportarem componentes de semicondutores para a China, substituídas agora por exigências de renovações anuais e limites quantitativos. A conjunção desses fatores acende um sinal de alerta não apenas para as relações políticas entre Washington e Seul, mas também para a percepção de risco corporativo: grupos como LG Energy Solution e a própria Hyundai, protagonistas na expansão de fábricas bilionárias em solo americano, passam a questionar a previsibilidade do ambiente de negócios nos EUA. Em um momento em que o país busca se firmar como epicentro da nova economia verde e digital, medidas contraditórias desse tipo podem comprometer não apenas a confiança dos investidores estrangeiros, mas também a sustentabilidade de uma estratégia industrial que depende, em larga medida, de capital e tecnologia externos.
· 04:11 — Resposta defensiva
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) avalia a possibilidade de uma resposta defensiva após a recente incursão de drones russos no espaço aéreo polonês — um movimento que teria sido uma provocação deliberada de Moscou. O episódio, que levou caças poloneses e aliados a derrubarem os equipamentos não tripulados durante um ataque aéreo em grande escala da Rússia contra a Ucrânia, intensificou os temores de uma escalada do conflito para além das fronteiras ucranianas. Diante da gravidade da situação, Varsóvia reagiu, solicitando aos parceiros da aliança o envio de sistemas adicionais de defesa aérea e tecnologias voltadas ao combate de drones, numa clara tentativa de reforçar sua capacidade de dissuasão e de proteção de seu território. Paralelamente, a OTAN também discute medidas de natureza política que possam fortalecer sua presença e credibilidade no flanco oriental, transmitindo um recado direto de coesão e de disposição para responder a novas violações.
Essa mobilização encontrou respaldo imediato em algumas capitais europeias, com destaque para Berlim. A Alemanha anunciou que intensificará o policiamento aéreo sobre a Polônia, ampliará o apoio militar e financeiro a Kiev e se engajará na elaboração de um novo pacote de sanções contra Moscou. Já do outro lado do Atlântico, a postura foi bem mais contida: o presidente Donald Trump sugeriu que a invasão russa poderia ter sido apenas um erro, o que evidencia uma diferença de percepção entre os EUA e seus aliados europeus. Essa divergência reforça a sensação de desalinhamento no Ocidente sobre como reagir a uma provocação, representando o teste mais sério à coesão da aliança desde a Segunda Guerra Mundial, reacendendo a discussão sobre até onde os aliados estão dispostos a ir para conter a Rússia sem precipitar um confronto direto. Os ruídos geopolíticos estão elevados.
· 05:02 — Reposicionamento
O rali recente das ações do Alibaba (NYSE: BABA) ilustra de forma eloquente a capacidade da gigante chinesa de e-commerce de se reinventar em meio ao novo ciclo de entusiasmo pela inteligência artificial. Após levantar bilhões de dólares por meio de uma emissão de títulos conversíveis, a companhia anunciou o desenvolvimento de modelos próprios de IA e a adoção de chips de fabricação interna para treinar essas tecnologias, movimento que foi recebido com entusiasmo pelo mercado.
O efeito foi imediato…