Imagem: iStock.com/Liudmila Chernetska
Após a forte queda registrada ontem, o ouro e a prata ficaram estáveis nas negociações asiáticas — vejo no movimento de terça-feira uma correção natural após as máximas históricas recentes. A volatilidade, entretanto, reacendeu o debate sobre a sustentabilidade do chamado trade de desdolarização — estratégia adotada por investidores que buscam proteção contra o dólar por meio de ativos reais —, ainda que os fundamentos que sustentaram a alta dos metais preciosos permaneçam de pé. Entre eles, destacam-se as compras consistentes de bancos centrais, a expectativa de redução das taxas de juros nos Estados Unidos e a perspectiva de um dólar mais fraco no médio prazo. Apesar da intensidade das oscilações, o impacto econômico tende a ser limitado, uma vez que o ouro representa apenas uma parcela modesta das carteiras globais. No Japão, o maior fundo negociado em bolsa lastreado no metal chegou a ser cotado acima do valor do ativo subjacente, sinalizando um mercado superaquecido e vulnerável a movimentos de venda mais abruptos por parte de investidores de varejo. Já nos Estados Unidos, mesmo com o aumento da volatilidade no crédito privado nas últimas semanas, os indicadores do setor permanecem robustos, sugerindo que o sistema financeiro continua forte diante das incertezas.
No campo político, o presidente Trump voltou a dominar o noticiário ao colocar em dúvida o encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, inicialmente previsto para este mês — gesto que elevou a cautela dos investidores diante das negociações comerciais entre as duas maiores economias do planeta. A reunião com Vladimir Putin foi oficialmente descartada, mas uma conversa entre Trump e o presidente brasileiro Lula está sendo articulada para domingo, na Malásia. Seja como for, a indefinição sobre o diálogo entre EUA e China pressionou as bolsas asiáticas, que encerraram o pregão em queda, com exceção da Coreia do Sul, e repercutiu nos mercados europeus, que operaram de forma mista. Enquanto isso, o petróleo avança, impulsionado pela expectativa de um acordo comercial entre EUA e Índia que reduziria as importações indianas de petróleo russo e ajudaria a aliviar tensões bilaterais. Paralelamente, a nova primeira-ministra japonesa anunciou a elaboração de um pacote de estímulos fiscais voltado a mitigar os efeitos da inflação, reforçando o caráter expansionista da sua política econômica e sinalizando continuidade no apoio à atividade doméstica.
· 00:57 — Sem definição
No Brasil, o Ibovespa encerrou o pregão de ontem em leve queda, refletindo um dia de menor ímpeto nos mercados globais. O ambiente fiscal local e os desdobramentos das tensões comerciais entre Estados Unidos e China continuaram no radar dos investidores, contribuindo para um clima de cautela. No noticiário corporativo, o destaque é o início da temporada de resultados, com especial atenção voltada para a Vale, que divulgou seu relatório operacional referente ao terceiro trimestre de 2025. A companhia apresentou números robustos, com produção de minério de ferro de 94,4 milhões de toneladas — em linha com o guidance — e embarques crescendo em ritmo semelhante, reforçando a consistência operacional. As ADRs da mineradora subiam levemente no pré-market de NY nesta manhã, refletindo a leitura positiva dos números.
Em Brasília, o Ministério da Fazenda iniciou o envio ao Congresso das medidas que substituirão a Medida Provisória do IOF, que perdeu a validade na Câmara. Em entrevista à GloboNews, o ministro Fernando Haddad confirmou o fatiamento das propostas originalmente contidas em uma única MP e anunciou dois novos projetos de lei: o primeiro voltado à revisão de gastos tributários, com impacto estimado entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões; e o segundo focado no aumento de arrecadação, que inclui a reedição parcial do IOF, a taxação das bets (com potencial de R$ 1,7 bilhão em 2026), o aumento da CSLL para fintechs (R$ 1,58 bilhão) e a limitação de compensações tributárias (R$ 20 bilhões entre 2025 e 2026).
Paralelamente, a reforma do IR, já aprovada na Câmara, deverá sofrer ajustes no Senado, diante de indícios de perda da neutralidade fiscal. Além disso, o ministro Alexandre de Moraes suspendeu o julgamento no STF sobre a desoneração da folha de pagamentos, após três votos favoráveis à reoneração gradual entre 2025 e 2027. O governo estima que a medida representa um impacto fiscal superior a R$ 20 bilhões, valor que poderia compensar parcialmente as perdas com a queda da MP do IOF — embora o tema deva alimentar novas tensões entre o Executivo e o Legislativo.
De fato, as incertezas fiscais continuam pesando sobre os ativos locais, mas o pano de fundo ainda oferece sustentação para a tese brasileira. A perspectiva de um dólar mais fraco, a continuidade do ciclo de cortes de juros nas principais economias e a rotação internacional de recursos em direção a mercados emergentes compõem um ambiente que tende a favorecer o desempenho dos ativos domésticos. Estimativas recentes ilustram bem esse potencial: um simples retorno à média histórica de dez anos dos fluxos para emergentes poderia adicionar cerca de US$ 588 bilhões ao segmento, dos quais aproximadamente US$ 24 bilhões — o equivalente a 4% — seriam direcionados ao Brasil. Já uma reversão à média de vinte anos implicaria entradas de até US$ 50 bilhões no mercado brasileiro. Em um cenário de real mais estável e crescimento gradual do apetite por risco, esses fluxos teriam o poder de renovar o fôlego dos ativos.
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· 01:42 — Culpa do Brasil?
Nos EUA, a Netflix registrou resultados abaixo das expectativas no terceiro trimestre, impactada por um pagamento de US$ 619 milhões para encerrar uma disputa tributária com o Brasil. Enquanto isso, a paralisação do governo dos Estados Unidos entra em sua quarta semana e já é a segunda mais longa da história, sem perspectiva clara de resolução. O impasse político elevou o pessimismo entre investidores — os contratos futuros agora projetam uma duração mediana de 44 dias para a paralisação.
Ainda assim, o mercado acionário segue sustentado por fundamentos robustos: cerca de 85% das empresas do S&P 500 vêm superando as expectativas de lucros, com destaque para 3M, Coca-Cola e GM. O Dow Jones atingiu seu 12º recorde no ano, enquanto o S&P 500 permaneceu estável. No radar dos investidores, seguem as tensões comerciais entre EUA e China, com uma possível reunião entre Trump e Xi Jinping no fim do mês, embora um acordo amplo ainda pareça distante.
· 02:32 — Um possível novo acordo bilionário e um novo navegador
A Anthropic estaria em tratativas avançadas com o Google para firmar um acordo bilionário, que ampliaria de forma expressiva seu acesso a poder computacional e a chips personalizados destinados ao treinamento de modelos de inteligência artificial. Estimado em dezenas de bilhões de dólares, o contrato permitiria à Anthropic utilizar a infraestrutura do Google — desenvolvidos especificamente para acelerar o processamento de algoritmos de aprendizado. Essa iniciativa faz parte da estratégia da companhia para sustentar o ritmo vertiginoso de pesquisa e desenvolvimento em IA generativa, um segmento em rápida expansão e de alta barreira tecnológica, no qual compete diretamente com players como a OpenAI e a Google DeepMind. Em um cenário em que escala computacional e eficiência energética se tornaram os verdadeiros diferenciais competitivos, o acesso privilegiado a hardware de ponta pode ser o fator determinante para definir quem liderará a próxima fase da revolução da IA.
Enquanto isso, a OpenAI elevou a temperatura da disputa ao lançar o ChatGPT Atlas, um navegador web próprio que integra de forma nativa as funções do seu chatbot de IA. O novo produto permite que o usuário interaja com o ChatGPT em qualquer página da internet, sem precisar copiar textos ou alternar entre abas — um movimento que representa uma ameaça direta ao domínio do Google Chrome. O anúncio foi interpretado pelo mercado como mais um passo da OpenAI rumo à consolidação de um ecossistema completo de produtos e serviços baseados em IA, reduzindo sua dependência de plataformas concorrentes. A reação foi imediata: as ações da Alphabet, controladora do Google, recuaram após a notícia, refletindo a preocupação dos investidores com o avanço da OpenAI sobre um território que, por duas décadas, pertenceu quase exclusivamente ao Google — o da própria experiência de navegação.
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· 03:21 — Encontro cancelado, mas ao menos parece haver um plano…
O segundo encontro entre Trump e Putin, que estava previsto para ocorrer na Hungria com o objetivo de discutir um possível acordo de paz para a guerra na Ucrânia, foi oficialmente cancelado após o Kremlin rejeitar a proposta americana de um cessar-fogo imediato com base nas atuais linhas de batalha. Trump havia afirmado que não desejava “uma reunião desperdiçada” e, segundo a Casa Branca, o diálogo anterior entre o secretário de Estado Marco Rubio e o chanceler russo, Sergei Lavrov, já havia sido “produtivo o suficiente” para dispensar um encontro presencial. Ainda assim, a resistência de Moscou em aceitar uma trégua antes de abordar as “causas profundas” do conflito frustrou as expectativas de avanço diplomático. Paralelamente, líderes europeus trabalham em uma proposta de paz de 12 pontos, que contempla a devolução de crianças deportadas, trocas de prisioneiros, garantias de segurança à Ucrânia, fundos de reconstrução e um processo acelerado de adesão à União Europeia. A execução do plano seria supervisionada por um conselho de paz, caso as partes chegassem a um entendimento mínimo — o que, por ora, parece distante.
Com a recusa russa, o impasse diplomático se aprofunda e a pressão internacional sobre Moscou tende a se intensificar. Líderes como Friedrich Merz, da Alemanha, e Keir Starmer, do Reino Unido, defenderam o endurecimento das sanções econômicas e o reforço da capacidade militar europeia até que o governo Putin demonstre disposição real de negociar. O prolongamento da guerra tem acelerado o processo de rearmamento no continente, estimulando uma nova onda de investimentos em tecnologia de defesa, com destaque para empresas que desenvolvem drones, satélites e softwares de inteligência militar. Mesmo sem participação direta nos combates, um número crescente de países da União Europeia tem adotado uma postura mais vigilante diante da guerra híbrida russa, marcada por ações de espionagem e desinformação. Nesse contexto, as recentes operações conjuntas da Polônia e da Romênia com a OTAN, que resultaram na prisão de indivíduos suspeitos de colaborar com agentes de Moscou, ilustram como o conflito, ainda que concentrado no leste europeu, segue redefinindo o mapa de segurança e defesa do continente.
· 04:18 — A correção do ouro
O ouro e a prata registraram uma das quedas mais acentuadas em mais de uma década, em um movimento clássico de realização de lucros após a forte valorização que havia levado ambos os metais a níveis recordes. O ajuste refletiu uma combinação de fatores: parte dos investidores avaliou que os preços haviam subido além do razoável, o dólar voltou a ganhar força, e a perspectiva de retomada — ainda que modesta — das negociações comerciais entre EUA e China reduziu a busca por proteção. As principais mineradoras do setor, como Barrick Mining, Newmont e Agnico Eagle Mines, acompanharam o movimento. Ainda assim, o desempenho no ano segue notável: o ouro acumula alta próxima de 60% em 2025, sustentado por apostas em cortes agressivos de juros pelo Fed e pelo avanço do chamado “devaluation trade” — estratégia que busca proteção diante de déficits fiscais, ameaças à independência do banco central e políticas econômicas imprevisíveis, em especial nos Estados Unidos.
Do ponto de vista estatístico, a magnitude da queda foi excepcional. Segundo Alexander Stahel, o recuo de –5,7% equivale a um evento de 4,46 desvios-padrão, algo que, em condições normais, ocorreria apenas uma vez a cada 240 mil pregões. Na prática, entretanto, movimentos entre –4,7% e –6% foram registrados 34 vezes desde 1971, revelando que mesmo um ativo historicamente associado à estabilidade pode exibir volatilidade extrema em fases de reposicionamento de mercado. Esse episódio reforça a sensibilidade dos metais preciosos às variações nas expectativas de política monetária e no apetite global por risco. Ainda que o ajuste recente tenha sido brusco, o pano de fundo estrutural — marcado por juros em trajetória de queda, déficits persistentes e instabilidade política — continua sustentando o ouro como um instrumento de proteção relevante, mesmo sujeito a correções abruptas no curto prazo.
· 05:06 — Transferência de riqueza
Grandes detentores de Bitcoin vêm transferindo parte de sua riqueza do universo descentralizado do blockchain para o sistema financeiro tradicional, impulsionados pela nova geração de fundos negociados em bolsa administrados por gigantes globais. Esse movimento foi possível após uma mudança regulatória implementada pelo governo Trump neste verão, que autorizou o uso de transações em espécie — mecanismo amplamente utilizado em outros ETFs, mas aprovado para produtos de Bitcoin apenas em julho. Por meio desse processo, investidores institucionais e de alta renda podem entregar seus Bitcoins diretamente ao fundo e, em troca, receber cotas equivalentes, sem a necessidade de vender o ativo e, portanto, sem gerar imposto sobre ganho de capital. Na prática, um ativo digital de alta volatilidade passa a ser convertido em um item convencional dentro de um portfólio de corretora, facilmente utilizável como garantia em empréstimos, instrumento sucessório ou componente de carteiras institucionais, simbolizando um passo importante na institucionalização das criptos.
Como tenho defendido há muito tempo…