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Em meio à semana do feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos, membros do Federal Reserve sinalizaram ser favoráveis a um corte de juros de 25 pontos-base na próxima reunião de decisão monetária, em dezembro.
Enquanto o mercado dos EUA se recupera do clima de incerteza dos indicadores econômicos em decorrência do shutdown, o fim da paralisação trouxe dados mais propícios ao corte. Somado a isso, as falas de alguns dirigentes do Fed viraram o tom e animaram as bolsas norte-americanas.
Na sexta-feira (21), os representantes do Fed de Nova York e de São Francisco (John Williams e Mary Daly, respectivamente) deram início a essa toada otimista, que foi reforçada nesta semana pelo diretor Christopher Waller.
Agora, o mercado atribui uma probabilidade de mais de 80% em prol da redução, conforme explica o analista de macroeconomia da Empiricus Research, Matheus Spiess.
“Esse reposicionamento se somou a indicadores mais fracos de emprego, vendas no varejo e confiança do consumidor, elevando para quase 85% as apostas, no pregão de ontem (26), de que o Fed promoverá um corte já em dezembro”, escreveu em sua coluna semanal para o portal Seu Dinheiro.
No Brasil, o Ibovespa, que é sensível aos movimentos dos juros americanos, refletiu o ânimo do mercado, assim como as bolsas europeias e asiáticas.
Juros dos EUA: Corte de dezembro vem ou não vem?
Entre os dados recentes, Spiess aponta que alguns estariam sinalizando um corte dos juros na próxima reunião de política monetária, prevista para 10 de dezembro. Entre eles, estão:
- A confiança do consumidor recuou ao maior ritmo em sete meses, atingindo 88,7 pontos, bem abaixo dos níveis observados logo após a vitória de Trump no ano passado;
- As vendas no varejo de setembro subiram apenas 0,2% na comparação com agosto (resultado mais fraco que o avanço de 0,6% do mês anterior e aquém das expectativas);
- A inflação persistente, com índice de preços ao produtor subindo 0,3% em setembro (após -0,1% em agosto) e projeções para o PCE básico — a métrica favorita do Fed estimando alta de 0,2% ou 0,3% no mês, compatível com uma inflação anual de 2,8%, acima da meta de 2%.
Por outro lado, outros dados econômicos também poderiam sinalizar que a desaceleração econômica ainda não está no patamar de demandar um corte.
Foi o caso do payroll de setembro, divulgado na semana anterior, que relatou a criação de 119 mil empregos no mês — bem acima das expectativas de 51 mil vagas, o que indicaria um mercado ainda mais aquecido do que o previsto.
Spiess chama a atenção para a aproximação da temporada de compras de fim de ano e Black Friday. “Pesquisas mostram que grande parte dos consumidores pretende manter seu nível de gastos — um sinal de que a deterioração do sentimento ainda não se materializou em queda efetiva da demanda. A Black Friday desta semana deve funcionar como termômetro importante dessa resiliência do consumo”, afirma.
Analista espera corte de juros em dezembro
Apesar de acreditar que virá um corte de juros em dezembro, o analista aponta que o ambiente para 2026 está longe de ser simples.
“Seja como for, entendo que a bagunça dos dados econômicos mais recentes provavelmente não será suficiente para alterar a visão do Fed antes da reunião de dezembro”, comenta.
Para 2025, a mudança no comando do Federal Reserve “pode significar uma guinada moderadamente mais dovish”, segundo Spiess, desde que o novo presidente mantenha o arcabouço técnico da instituição. O analista salienta que “qualquer politização seria desastrosa”, como o próprio Fed reconhece ao lembrar os erros que aceleraram a inflação nos anos 1970.
Além disso, investidores devem ficar atentos ao humor do mercado de trabalho. “Com ele mais fraco, poderia abrir espaço para mais um ou dois cortes responsáveis ao longo do próximo ano, permitindo flexibilidade para ajustes adicionais ou pausas conforme os dados evoluam”, comenta.