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Investimentos

Crise ou ruído? Investidores mostram preocupação com IA e tarifas; veja destaques desta quarta (19)

O barulho em torno das tarifas comerciais e o retorno dos investimentos em IA balança os investidores. Confira.

Por Matheus Spiess

19 nov 2025, 09:48

Atualizado em 19 nov 2025, 09:51

Imagem: iStock.com/ Galeanu Mihai

A oscilação recente dos mercados não reflete, necessariamente, uma deterioração estrutural da economia, mas sim um reforço da postura defensiva dos investidores diante de sinais isolados de fraqueza no consumo, barulho em torno das tarifas comerciais e dúvidas crescentes sobre o retorno dos investimentos em inteligência artificial. A expectativa agora se concentra na ata do Fed e, sobretudo, nos resultados da Nvidia, que se transformaram em um teste crucial para medir se o enorme volume de capital destinado à IA já começa a se traduzir em geração efetiva de valor. 

O principal risco de curto prazo está em uma sinalização mais fraca da Nvidia — que poderia amplificar a aversão ao risco no setor de tecnologia — ou em um payroll (amanhã) que altere as apostas para a reunião do Fed em dezembro. No mercado de petróleo, os preços recuam após a surpresa de aumento nos estoques americanos. 

· 00:57 — De olho nas aprovações do Congresso

No Brasil, o Ibovespa voltou a recuar ontem e alcançou o menor nível em uma semana, em meio a um aumento generalizado da aversão ao risco antes da divulgação dos resultados da Nvidia e dos dados de emprego dos EUA. Como o mercado local estará fechado nesta quinta-feira por conta do feriado, a reação a esses dois eventos só poderá ser observada na sexta-feira — o que naturalmente aumenta a cautela dos investidores, receosos de permanecer posicionados sem conseguir reagir a possíveis surpresas negativas. O índice também foi pressionado pela fraqueza do setor financeiro, que segue contaminado pelos desdobramentos da liquidação do Banco Master. O episódio deve resultar em um desembolso expressivo do Fundo Garantidor de Créditos, estimado em cerca de R$ 41 bilhões para atender 1,6 milhão de credores — trata-se da maior utilização da história do FGC, o dobro do recorde corrigido pela inflação do Bamerindus nos anos 1990, consumindo algo próximo a um terço do patrimônio do fundo. Embora o impacto seja significativo, o mercado já acompanhava o problema há meses e, com a situação agora definida, pode finalmente virar a página, ajustar processos e fortalecer a regulação para evitar episódios semelhantes no futuro.

Em paralelo, o que realmente importa para o investidor é o debate em torno do ciclo de cortes da Selic em 2026, que historicamente tende a ser subestimado pela curva futura. Caso o movimento se confirme, pode funcionar como catalisador importante para ativos de risco, ainda que o curto prazo permaneça ruidoso e altamente dependente do humor internacional. No campo político, a Câmara aprovou ontem o projeto Antifacção por ampla maioria em uma derrota para o governo Lula, que perdeu protagonismo no tema da segurança pública para a oposição. Como temos destacado, segurança pública deve ser um dos eixos centrais das eleições de 2026, e, até aqui, a oposição tem capturado melhor essa narrativa segundo as pesquisas de opinião. No Senado, por sua vez, avançou o projeto que atualiza o valor de bens móveis e imóveis no Imposto de Renda e incorpora partes da MP alternativa ao IOF, que caducou, garantindo ao governo uma arrecadação estimada entre R$ 19 bilhões e R$ 25 bilhões. A aprovação ocorre às vésperas do Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, que deve ser publicado até o fim da semana, sem expectativa de novas contenções, conforme sinalizado pela equipe econômica. Ainda assim, permanece claro que o ajuste fiscal mais estrutural só deverá ser enfrentado a partir de 2027, após as eleições.

· 01:45 — Sentimento de aversão ao risco

As bolsas americanas ampliaram o movimento de aversão ao risco, com o S&P 500 acumulando a quarta queda consecutiva em meio a preocupações sobre valuations esticados, sinais de enfraquecimento do consumo e uma probabilidade menor de corte de juros já em dezembro. O aumento do ceticismo em relação à inteligência artificial também pressionou o setor de tecnologia, especialmente na véspera dos resultados da Nvidia, enquanto balanços mais fracos — como o da Home Depot — reforçaram o humor mais defensivo. A estagnação do mercado imobiliário e o recuo das empresas de semicondutores completaram o quadro de cautela.

No âmbito macro, indicadores conflitantes do mercado de trabalho adicionaram volatilidade. Atrasos na divulgação e inconsistências geradas pelo shutdown dificultam a leitura clara da atividade, embora métricas alternativas ainda apontem para uma desaceleração gradual, e não para um enfraquecimento abrupto. Os dados de desemprego permanecem ruidosos, mas relativamente estáveis quando analisados por modelos que integram diversas fontes. Nesse ambiente, investidores seguem concentrados nos próximos gatilhos — relatório de emprego, amanhã e a ata do Fed (hoje) — que deverão orientar as expectativas para a política monetária.

· 02:36 — Mais um anúncio para a conta

A Microsoft e a Nvidia anunciaram um compromisso conjunto de até US$ 15 bilhões em investimentos na Anthropic, em um movimento que aprofunda a disputa no setor de inteligência artificial e fortalece a influência das duas gigantes sobre a principal concorrente da OpenAI. Como contrapartida, a Anthropic deverá adquirir US$ 30 bilhões em capacidade computacional na nuvem Azure, reforçando a dependência tecnológica do ecossistema Microsoft. Paralelamente, os EUA se preparam para autorizar as primeiras vendas de chips avançados de IA à Humain, startup saudita — o que amplia a competição global por acesso ao hardware mais sofisticado do mercado.

No ambiente de mercado, porém, prevalece um tom mais cauteloso. O S&P 500 registra sua pior sequência de quedas desde agosto, refletindo o aumento do ceticismo quanto ao retorno efetivo dos investimentos bilionários em IA. Muitos já alertam que uma correção nos valuations parece cada vez mais provável — e teria impacto amplo.

· 03:28 — Na expectativas pelo resultado mais importantes do mundo tech

A Nvidia apresenta seus resultados hoje, em um momento de ceticismo crescente sobre a inteligência artificial — o mais forte desde 2023, quando o lançamento do ChatGPT desencadeou uma onda de entusiasmo no setor. Depois de meses de aportes bilionários e da forte valorização das ações, investidores agora querem respostas mais concretas: a demanda por IA seguirá firme? Os projetos realmente entregarão retorno? Para o trimestre de outubro, o consenso projeta expansão de 56% na receita e lucro anual superior a US$ 70 bilhões, mas persistem dúvidas relevantes, como o ritmo de investimentos dos hyperscalers, a intensificação da concorrência e as limitações impostas pelos EUA à venda dos chips de nova geração para a China.

Nesse contexto, o mercado espera que Jensen Huang ofereça uma visão clara e otimista sobre o ciclo de demanda — especialmente após sinalizar a possibilidade de vender cerca de US$ 500 bilhões em chips Blackwell, além de lançar a próxima família Rubin. Um bom resultado tem potencial de reduzir a volatilidade recente e aliviar o temor de uma “bolha de IA”. De acordo com projeções da FactSet, a Nvidia deve reportar lucro de US$ 1,25 por ação e receita de US$ 54,8 bilhões, com a divisão de data centers crescendo 58% em relação ao ano anterior e superando US$ 48 bilhões.

· 04:11 — A população flutuante chinesa

A “população flutuante” na China — formada por indivíduos que vivem em local diferente daquele registrado no sistema hukou — tornou-se um fenômeno central para entender a dinâmica econômica e social do país. O hukou, vale lembrar, é o sistema de registro domiciliar que classifica os cidadãos como urbanos ou rurais e condiciona o acesso a serviços públicos essenciais — como educação, saúde e oportunidades de emprego — ao local onde cada pessoa está oficialmente registrada. Ao longo das últimas décadas, a flexibilização desse mecanismo permitiu a expansão impressionante desse contingente: de 6,75 milhões em 1982 para 376 milhões em 2020.

Apesar do avanço, o hukou continua impondo barreiras relevantes à mobilidade interna, dificultando o acesso de migrantes rurais a serviços básicos e perpetuando desigualdades importantes no mercado de trabalho urbano. Do ponto de vista estatístico, são considerados parte da população flutuante todos os indivíduos cujo endereço real diverge do registro oficial por mais de seis meses, excetuando apenas deslocamentos dentro da mesma jurisdição municipal.

Essa migração em massa tornou-se um dos motores mais relevantes da urbanização e do crescimento industrial chinês, ao fornecer mão de obra abundante e de baixo custo. Ainda assim, a manutenção das amarras do hukou cria um paradoxo: ao mesmo tempo em que a mobilidade interna impulsiona a economia, o próprio sistema limita ganhos de produtividade, restringe o consumo urbano e concentra desigualdades que freiam o potencial de crescimento de longo prazo. Em outras palavras, a China avança graças a essa força de trabalho móvel, mas progride abaixo do que poderia enquanto o hukou seguir funcionando como um freio estrutural ao desenvolvimento.

· 05:02 — Uma correção dura

O bitcoin devolveu em poucas semanas praticamente todo o avanço acumulado ao longo de um ano, apagando mais de US$ 1 trilhão em valor de mercado mesmo em um ambiente regulatório mais amigável sob Trump. Depois de ultrapassar US$ 100 mil no fim de 2024, a criptomoeda voltou a negociar abaixo de US$ 90 mil — patamar não visto desde o anúncio das tarifas em abril — acumulando queda de 26% desde o pico recente, o que caracteriza tecnicamente um mercado de baixa. Nesta manhã, ensaia uma leve estabilização pouco acima de US$ 91 mil.

A correção reflete uma rotação ampla de saída de ativos de risco, alimentada pelo receio de uma possível bolha de inteligência artificial e pelo aumento das incertezas geopolíticas após novas ameaças tarifárias dos EUA à China. O movimento contaminou também as bolsas: o S&P 500 já acumula quatro pregões de queda, enquanto o mercado aguarda dois catalisadores centrais — o balanço da Nvidia, capaz de redefinir o humor do setor de tecnologia, e o relatório de empregos de setembro, determinante para calibrar as apostas sobre cortes de juros em dezembro pelo Fed.

Ainda assim, vale reiterar que…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.