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Lá fora, o Japão elevou o tom de sua articulação diplomática depois que declarações da primeira-ministra Sanae Takaichi sobre um eventual conflito no Estreito de Taiwan despertaram forte reação de Pequim. Para tentar conter a escalada, Tóquio decidiu enviar um diplomata de alto escalão à China, enquanto operadoras de turismo chinesas já começaram a cancelar voos e reservas após o governo de Xi Jinping emitir um alerta de segurança aos viajantes. A mídia estatal chinesa, por sua vez, intensificou a retórica ao acusar o Japão de “retorno ao militarismo”, ampliando o desconforto político e contaminando expectativas econômicas. No pano de fundo, o ambiente global permanece marcado por aversão ao risco: o Bitcoin caiu abaixo de US$ 90 mil em meio ao aumento das apostas de baixa; reguladores de Hong Kong pressionam bancos a reavaliar garantias imobiliárias devido ao agravamento da crise do setor; e o iene renovou mínimas diante de especulações de intervenção cambial.
Nos mercados financeiros, a cautela segue dominante. Embora a Apple tenha registrado um salto de 37% nas vendas de iPhones na China com a chegada da linha 17, a melhora pontual não foi suficiente para conter o movimento de queda nas bolsas globais. O Nikkei recuou 3%, o S&P 500 perdeu um nível técnico considerado relevante e as ações de tecnologia sofreram novas correções na Ásia e na Europa — reflexo das dúvidas crescentes sobre valuations elevados e da expectativa pelo balanço da Nvidia, que deve funcionar como um teste decisivo para a narrativa de inteligência artificial. A volatilidade intradiária nos EUA permanece elevada, enquanto o mercado revisa as probabilidades de novos cortes de juros em dezembro. A agenda desta segunda metade de mês também adiciona tensão: investidores aguardam o payroll de setembro, o PCE de outubro e a prévia do PIB do 3º tri, todos com potencial para reconfigurar o cenário de curto prazo. No petróleo, os preços se estabilizaram após a OPEP reiterar que projeta um mercado equilibrado em 2026, apesar da forte onda vendedora recente.
· 00:53 — Arrefecimento de atividade
Por aqui, o Focus trouxe ontem um sinal relevante: pela primeira vez, a projeção do IPCA de 2025 (4,46%) recuou para abaixo do teto da meta, reforçando a tendência já indicada pelo IPCA de outubro, que surpreendeu para baixo. Esse comportamento mais benigno da inflação, combinado à queda de 0,24% do IBC-Br em setembro — sinal claro de perda de fôlego da atividade — deveria abrir caminho para o início do ciclo de cortes da Selic já no início de 2026, possivelmente em janeiro.
Como de hábito, o mercado tende a subestimar a extensão desse movimento: se o consenso aponta juros próximos de 12% ao fim do ano, não seria irreal considerar algo mais próximo de 11%, caso o processo de desinflação avance sem rupturas. Naturalmente, essa seria apenas a primeira etapa; a segunda dependerá de uma sinalização fiscal mais robusta após as eleições. Se o país conseguir traçar uma trajetória crível — combinando melhora fiscal, queda dos juros e um eventual rali eleitoral — não surpreende que algumas casas já projetem o Ibovespa em 200 mil pontos no fim de 2026, cenário que, embora exigente, está longe de ser impossível.
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· 01:45 — Sob pressão
As bolsas americanas começaram a semana em terreno negativo, pressionadas por três frentes simultâneas: a divulgação de balanços importantes no varejo, a falta de indicadores econômicos atualizados devido ao shutdown e, principalmente, a expectativa em torno dos resultados da Nvidia — cuja representatividade no S&P 500 transforma a divulgação de quarta-feira em um divisor de águas para o mercado. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuaram entre 1,3% e 1,4% em um movimento amplo. Agora, o foco se volta para os números de gigantes como Walmart, Target, Lowe’s, Home Depot e TJX, que devem iluminar a dinâmica do consumo às vésperas da temporada de fim de ano, fornecendo pistas sobre fluxo de clientes, comportamento de compras e equilíbrio entre despesas discricionárias e essenciais. Mais adiante, o payroll de setembro também pode mexer com as expectativas para dezembro.
· 02:38 — Decidiu vender…
O fundo de Peter Thiel decidiu zerar sua posição na Nvidia no terceiro trimestre, movimento que reforça a saída de investidores de um dos maiores ícones do ciclo de inteligência artificial. A venda ocorre num momento em que cresce o receio de uma possível bolha no setor — temor alimentado por críticas de nomes como Michael Burry e por uma série de transações multibilionárias entre fabricantes de chips, startups e operadores de data centers, que levantam dúvidas sobre a sustentabilidade desse boom. Esse clima de cautela se espalhou rapidamente pelos mercados globais. A ansiedade tende a aumentar à medida que o mercado aguarda o balanço da própria Nvidia — hoje tratada como o principal termômetro do fôlego da tese de IA.
Mesmo em meio a debates sobre bolhas, geopolitização e aversão ao risco, há apostas mais construtivas. Inclusive, há quem, depois de anos de pessimismo estrutural, hoje figure entre os maiores otimistas do mercado — projetando avanço do S&P 500 até o fim de 2026 e defendendo que um novo ciclo de lucros já começou a se delinear, sobretudo nos setores que ficaram à margem do rali recente. Ainda assim, o pregão de segunda-feira mostrou que o mercado, no curtíssimo prazo, continua priorizando proteção: os índices globais caíram de forma generalizada, sinalizando que os investidores seguem cautelosos diante das incertezas envolvendo a evolução da IA.
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· 03:24 — Instabilidade fiscal
O Reino Unido também atravessa um período de instabilidade fiscal. Mesmo após garantir 412 das 650 cadeiras nas eleições de julho de 2024, o Partido Trabalhista assumiu o poder comprometido a não elevar o imposto de renda. Porém, a piora das contas públicas e o recuo forçado nos cortes da previdência social levaram a ministra das Finanças, Rachel Reeves, a sinalizar que poderia romper essa promessa. Somente quando novas projeções indicaram uma situação fiscal menos crítica, e diante de forte resistência interna, o governo desistiu do aumento. A mudança, contudo, desagradou os mercados e gerou a maior turbulência nos títulos desde o episódio envolvendo Liz Truss, quando cortes tributários sem financiamento derrubaram seu governo.
A reação do mercado expôs um dilema central: sem maior disciplina fiscal, cresce a percepção de que o Banco da Inglaterra terá pouco espaço para começar a reduzir juros — um ponto-chave para a trajetória econômica à frente. E, mesmo com uma maioria parlamentar confortável até 2029, o governo Keir Starmer parece reticente em adotar medidas difíceis agora para produzir ganhos mais consistentes no médio prazo. Em vários países do mundo, o orçamento, antes desenhado para pavimentar o caminho até a reeleição, transformou-se num exercício de sobrevivência imediata.
· 04:12 — Transformação demográfica
A África atravessa uma transformação demográfica sem paralelo: o continente já soma aproximadamente 1,5 bilhão de habitantes — o dobro do registrado há três décadas — e pode alcançar 4 bilhões até o final do século. Esse avanço é impulsionado por taxas de natalidade persistentemente altas, melhor acesso à saúde e queda acentuada da mortalidade infantil, em um contexto em que boa parte do mundo vive estagnação ou retração populacional. A mudança tem potencial para remodelar a política internacional, a economia global e as dinâmicas culturais e ambientais, abrindo espaço tanto para um ciclo virtuoso de protagonismo econômico quanto para um cenário adverso marcado por elevada pobreza persistente, instabilidade política e fortes fluxos migratórios.
O caminho dependerá da capacidade dos países africanos de construir um ambiente mais favorável ao investimento, ao empreendedorismo e à formalização da atividade econômica. Esse movimento aumentaria a proporção da população em idade ativa e criaria uma janela demográfica propícia ao crescimento. O desafio, entretanto, é enorme. Seja como for, para países como o Brasil — capazes de fornecer alimento e energia a um mundo mais populoso — a janela de oportunidades é significativa.
· 05:01 — Usando o caixa
A Berkshire Hathaway revelou ter iniciado uma posição relevante na Alphabet, adquirindo US$ 4,3 bilhões em ações no terceiro trimestre — movimento que levou a controladora do Google a representar 1,6% do portfólio ao fim de setembro, após não constar na carteira no trimestre anterior. Em paralelo, o relatório 13-F mostrou uma rotação importante: a gestora reduziu participação em nomes tradicionais, vendendo US$ 10,6 bilhões em ações da Apple, US$ 1,9 bilhão do Bank of America e US$ 1,2 bilhão da VeriSign, ao mesmo tempo em que aumentou sua exposição à seguradora Chubb em mais US$ 1,2 bilhão, elevando o peso dessa posição para 3,3% do portfólio.
Esses ajustes sinalizam…