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Investimentos

Diplomacia em curto-circuito, Bitcoin na baixa e techs caindo: O que esperar do mercado nesta terça (18)?

Confira os destaques da Bolsa brasileira e cenário econômico internacional para esta terça-feira (18).

Por Matheus Spiess

18 nov 2025, 09:07

Atualizado em 18 nov 2025, 09:07

mercado ibovespa ações bolsa b3

Imagem: iStock.com/koto_feja

Lá fora, o Japão elevou o tom de sua articulação diplomática depois que declarações da primeira-ministra Sanae Takaichi sobre um eventual conflito no Estreito de Taiwan despertaram forte reação de Pequim. Para tentar conter a escalada, Tóquio decidiu enviar um diplomata de alto escalão à China, enquanto operadoras de turismo chinesas já começaram a cancelar voos e reservas após o governo de Xi Jinping emitir um alerta de segurança aos viajantes. A mídia estatal chinesa, por sua vez, intensificou a retórica ao acusar o Japão de “retorno ao militarismo”, ampliando o desconforto político e contaminando expectativas econômicas. No pano de fundo, o ambiente global permanece marcado por aversão ao risco: o Bitcoin caiu abaixo de US$ 90 mil em meio ao aumento das apostas de baixa; reguladores de Hong Kong pressionam bancos a reavaliar garantias imobiliárias devido ao agravamento da crise do setor; e o iene renovou mínimas diante de especulações de intervenção cambial.

Nos mercados financeiros, a cautela segue dominante. Embora a Apple tenha registrado um salto de 37% nas vendas de iPhones na China com a chegada da linha 17, a melhora pontual não foi suficiente para conter o movimento de queda nas bolsas globais. O Nikkei recuou 3%, o S&P 500 perdeu um nível técnico considerado relevante e as ações de tecnologia sofreram novas correções na Ásia e na Europa — reflexo das dúvidas crescentes sobre valuations elevados e da expectativa pelo balanço da Nvidia, que deve funcionar como um teste decisivo para a narrativa de inteligência artificial. A volatilidade intradiária nos EUA permanece elevada, enquanto o mercado revisa as probabilidades de novos cortes de juros em dezembro. A agenda desta segunda metade de mês também adiciona tensão: investidores aguardam o payroll de setembro, o PCE de outubro e a prévia do PIB do 3º tri, todos com potencial para reconfigurar o cenário de curto prazo. No petróleo, os preços se estabilizaram após a OPEP reiterar que projeta um mercado equilibrado em 2026, apesar da forte onda vendedora recente.

· 00:53 — Arrefecimento de atividade

Por aqui, o Focus trouxe ontem um sinal relevante: pela primeira vez, a projeção do IPCA de 2025 (4,46%) recuou para abaixo do teto da meta, reforçando a tendência já indicada pelo IPCA de outubro, que surpreendeu para baixo. Esse comportamento mais benigno da inflação, combinado à queda de 0,24% do IBC-Br em setembro — sinal claro de perda de fôlego da atividade — deveria abrir caminho para o início do ciclo de cortes da Selic já no início de 2026, possivelmente em janeiro. 

Como de hábito, o mercado tende a subestimar a extensão desse movimento: se o consenso aponta juros próximos de 12% ao fim do ano, não seria irreal considerar algo mais próximo de 11%, caso o processo de desinflação avance sem rupturas. Naturalmente, essa seria apenas a primeira etapa; a segunda dependerá de uma sinalização fiscal mais robusta após as eleições. Se o país conseguir traçar uma trajetória crível — combinando melhora fiscal, queda dos juros e um eventual rali eleitoral — não surpreende que algumas casas já projetem o Ibovespa em 200 mil pontos no fim de 2026, cenário que, embora exigente, está longe de ser impossível.

· 01:45 — Sob pressão

As bolsas americanas começaram a semana em terreno negativo, pressionadas por três frentes simultâneas: a divulgação de balanços importantes no varejo, a falta de indicadores econômicos atualizados devido ao shutdown e, principalmente, a expectativa em torno dos resultados da Nvidia — cuja representatividade no S&P 500 transforma a divulgação de quarta-feira em um divisor de águas para o mercado. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuaram entre 1,3% e 1,4% em um movimento amplo. Agora, o foco se volta para os números de gigantes como Walmart, Target, Lowe’s, Home Depot e TJX, que devem iluminar a dinâmica do consumo às vésperas da temporada de fim de ano, fornecendo pistas sobre fluxo de clientes, comportamento de compras e equilíbrio entre despesas discricionárias e essenciais. Mais adiante, o payroll de setembro também pode mexer com as expectativas para dezembro.

· 02:38 — Decidiu vender…

O fundo de Peter Thiel decidiu zerar sua posição na Nvidia no terceiro trimestre, movimento que reforça a saída de investidores de um dos maiores ícones do ciclo de inteligência artificial. A venda ocorre num momento em que cresce o receio de uma possível bolha no setor — temor alimentado por críticas de nomes como Michael Burry e por uma série de transações multibilionárias entre fabricantes de chips, startups e operadores de data centers, que levantam dúvidas sobre a sustentabilidade desse boom. Esse clima de cautela se espalhou rapidamente pelos mercados globais. A ansiedade tende a aumentar à medida que o mercado aguarda o balanço da própria Nvidia — hoje tratada como o principal termômetro do fôlego da tese de IA.

Mesmo em meio a debates sobre bolhas, geopolitização e aversão ao risco, há apostas mais construtivas. Inclusive, há quem, depois de anos de pessimismo estrutural, hoje figure entre os maiores otimistas do mercado — projetando avanço do S&P 500 até o fim de 2026 e defendendo que um novo ciclo de lucros já começou a se delinear, sobretudo nos setores que ficaram à margem do rali recente. Ainda assim, o pregão de segunda-feira mostrou que o mercado, no curtíssimo prazo, continua priorizando proteção: os índices globais caíram de forma generalizada, sinalizando que os investidores seguem cautelosos diante das incertezas envolvendo a evolução da IA.

· 03:24 — Instabilidade fiscal

O Reino Unido também atravessa um período de instabilidade fiscal. Mesmo após garantir 412 das 650 cadeiras nas eleições de julho de 2024, o Partido Trabalhista assumiu o poder comprometido a não elevar o imposto de renda. Porém, a piora das contas públicas e o recuo forçado nos cortes da previdência social levaram a ministra das Finanças, Rachel Reeves, a sinalizar que poderia romper essa promessa. Somente quando novas projeções indicaram uma situação fiscal menos crítica, e diante de forte resistência interna, o governo desistiu do aumento. A mudança, contudo, desagradou os mercados e gerou a maior turbulência nos títulos desde o episódio envolvendo Liz Truss, quando cortes tributários sem financiamento derrubaram seu governo.

A reação do mercado expôs um dilema central: sem maior disciplina fiscal, cresce a percepção de que o Banco da Inglaterra terá pouco espaço para começar a reduzir juros — um ponto-chave para a trajetória econômica à frente. E, mesmo com uma maioria parlamentar confortável até 2029, o governo Keir Starmer parece reticente em adotar medidas difíceis agora para produzir ganhos mais consistentes no médio prazo. Em vários países do mundo, o orçamento, antes desenhado para pavimentar o caminho até a reeleição, transformou-se num exercício de sobrevivência imediata. 

· 04:12 — Transformação demográfica

A África atravessa uma transformação demográfica sem paralelo: o continente já soma aproximadamente 1,5 bilhão de habitantes — o dobro do registrado há três décadas — e pode alcançar 4 bilhões até o final do século. Esse avanço é impulsionado por taxas de natalidade persistentemente altas, melhor acesso à saúde e queda acentuada da mortalidade infantil, em um contexto em que boa parte do mundo vive estagnação ou retração populacional. A mudança tem potencial para remodelar a política internacional, a economia global e as dinâmicas culturais e ambientais, abrindo espaço tanto para um ciclo virtuoso de protagonismo econômico quanto para um cenário adverso marcado por elevada pobreza persistente, instabilidade política e fortes fluxos migratórios.

O caminho dependerá da capacidade dos países africanos de construir um ambiente mais favorável ao investimento, ao empreendedorismo e à formalização da atividade econômica. Esse movimento aumentaria a proporção da população em idade ativa e criaria uma janela demográfica propícia ao crescimento. O desafio, entretanto, é enorme. Seja como for, para países como o Brasil — capazes de fornecer alimento e energia a um mundo mais populoso — a janela de oportunidades é significativa.

· 05:01 — Usando o caixa

A Berkshire Hathaway revelou ter iniciado uma posição relevante na Alphabet, adquirindo US$ 4,3 bilhões em ações no terceiro trimestre — movimento que levou a controladora do Google a representar 1,6% do portfólio ao fim de setembro, após não constar na carteira no trimestre anterior. Em paralelo, o relatório 13-F mostrou uma rotação importante: a gestora reduziu participação em nomes tradicionais, vendendo US$ 10,6 bilhões em ações da Apple, US$ 1,9 bilhão do Bank of America e US$ 1,2 bilhão da VeriSign, ao mesmo tempo em que aumentou sua exposição à seguradora Chubb em mais US$ 1,2 bilhão, elevando o peso dessa posição para 3,3% do portfólio.

Esses ajustes sinalizam…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.