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Investimentos

Entre o boom chinês e o payroll americano, mercado segue refém do humor alheio; veja os destaques desta semana

Veja a agenda econômica da semana com os principais eventos e dados a serem divulgados.

Por Matheus Spiess

29 set 2025, 09:38

Atualizado em 29 set 2025, 10:09

mundo noticias destaques economia

Gestores globais voltaram a aumentar sua exposição à China, atraídos pela recuperação recorde das ações locais e pelo avanço do país em setores estratégicos de alta tecnologia, como inteligência artificial. Os fluxos estrangeiros cresceram em diferentes classes de ativos, refletindo não apenas maior apetite, mas também o amplo espaço ainda disponível, já que a maioria dos fundos globais segue com posição baixa no país. Esse movimento contrasta com o cenário de realização de lucros nos Estados Unidos, onde dados mais fortes de crescimento na semana passada levaram a uma reprecificação da curva de juros, à valorização do dólar e a correções nos índices acionários. No centro das atenções, o payroll de setembro aparece como dado-chave para calibrar a intensidade dos cortes de juros do Federal Reserve, em um ambiente já permeado por incertezas adicionais, como o impacto das novas tarifas anunciadas por Donald Trump e o endurecimento do discurso da OTAN em relação à Rússia.

A semana promete forte volatilidade, guiada pela divulgação de indicadores cruciais do mercado de trabalho americano — incluindo a pesquisa JOLTS, o relatório da ADP e, sobretudo, o payroll na sexta-feira. No campo geopolítico, Xi Jinping intensifica a pressão para que os EUA adotem posição mais dura em relação a Taiwan, enquanto Benjamin Netanyahu se reúne com Trump para tratar do conflito em Gaza. Nos mercados, Ásia e Europa iniciaram a semana em alta, seguindo o tom positivo dos futuros americanos, ao passo que o ouro renovou recorde acima de US$ 3.800 por onça, sinalizando a busca por proteção em meio ao cenário global incerto. Entre as commodities, o petróleo recua após o Curdistão do Iraque retomar exportações via Turquia e diante da perspectiva de um novo aumento de produção pela OPEP+.

· 00:55 — Uma decisão preocupante para o governo

No Brasil, a semana começa com agenda carregada: dados de emprego, votações relevantes no Congresso e a expectativa em torno de uma possível conversa entre Donald Trump e o presidente Lula. No campo doméstico, o Banco Central reforçou na semana passada sua postura firme, deixando claro no Relatório de Política Monetária que os juros precisarão permanecer em território contracionista por mais tempo, diante de expectativas ainda muito desancoradas. Por outro lado, o IPCA-15 trouxe algum alívio, com núcleos e serviços em arrefecimento, sinalizando que a política monetária segue transmitindo seus efeitos. No terreno político, o encontro de hoje entre o governador Tarcísio de Freitas e o ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente em regime domiciliar, ganha atenção especial. A expectativa é de que Tarcísio formalize sua intenção de disputar a reeleição em São Paulo, movimento que poderia abrir espaço para nomes alternativos da oposição no cenário presidencial, como Ratinho Jr. Ainda assim, interpreto esse recuo do governador mais como um gesto tático do que definitivo — até porque, como venho insistindo, a possibilidade de alternância de poder em 2026 depende menos de nomes isolados e muito mais da capacidade de organização de uma oposição que, até aqui, tem se sabotado com frequência.

Em paralelo, a frente fiscal continua a ser um ponto de pressão. Além da tramitação de pautas econômicas no Congresso, o governo aguarda uma decisão crucial do TCU que pode obrigar Lula a bloquear até R$ 34 bilhões adicionais em gastos em pleno ano eleitoral. O tribunal já advertiu que trabalhar mirando apenas o piso da meta do arcabouço fiscal, e não o centro, é uma prática irregular. O problema maior, contudo, é que a própria meta já se tornou artificial, deixando de servir como referência confiável para a política fiscal. Dentro do Planalto, a Fazenda teme que uma decisão mais dura reacenda o debate sobre alterar a meta de 2026, o que seria um erro grave. Mas, realisticamente, sabemos que em 2026 o foco estará voltado para as eleições, e qualquer ajuste estrutural ficará condicionado a um eventual governo reformista a partir de 2027. No fim das contas, trata-se menos de cumprir metas improvisadas e mais de repensar profundamente a forma como organizamos o orçamento público.

· 01:43 — Depois do PCE…

Os mercados globais encerraram a última semana em tom misto, reagindo à divulgação do índice de inflação preferido do Federal Reserve, o PCE. Embora os números tenham servido para interromper a sequência de três quedas consecutivas em Wall Street, não tiveram força suficiente para levar os principais índices a território positivo no acumulado semanal. O quadro traduz a combinação de uma inflação ainda resistente com sinais ambíguos da economia americana. Em agosto, o PCE avançou 0,3%, acelerando para 2,7% na comparação anual, enquanto o núcleo — que exclui alimentos e energia — subiu 0,2% no mês e permaneceu em 2,9% em 12 meses. Ou seja, a inflação segue acima da meta de 2% perseguida pelo Fed, mas não em intensidade capaz de comprometer de imediato o consumo das famílias.

O consumo, por sinal, permanece como pilar de sustentação da economia americana, com os gastos das famílias crescendo 0,6% em agosto. Contudo, parte relevante desse avanço está concentrada nas faixas de renda mais altas, o que levanta dúvidas sobre a real resiliência da demanda agregada. Além disso, os gastos vêm crescendo em ritmo superior à renda, um desequilíbrio difícil de sustentar no médio prazo. Diante desse cenário, a atenção do mercado se volta agora para os dados de emprego que serão divulgados ao longo desta semana: o payroll do Bureau of Labor Statistics, o relatório da ADP e os PMIs do ISM para indústria e serviços. Leituras mais fracas de atividade e mercado de trabalho — não a ponto de sugerir recessão, mas suficientemente brandas para indicar arrefecimento — podem abrir espaço para cortes adicionais de juros pelo Federal Reserve, calibrando o tom de política monetária diante de uma economia que segue firme, mas não imune a sinais de desaceleração.

· 02:31 — Preparado para o “shutdown”

O governo dos Estados Unidos se vê diante da iminência de uma paralisação a partir de 1º de outubro, caso democratas e republicanos não cheguem a um acordo sobre o financiamento federal. O presidente Donald Trump convocou reuniões com as principais lideranças do Congresso para tentar destravar o impasse: de um lado, os republicanos defendem um projeto provisório “limpo”, sem anexos; de outro, os democratas exigem a recomposição das verbas cortadas na área da saúde e a prorrogação dos subsídios do Affordable Care Act. O prazo se encerra na noite de terça-feira, e cada lado já se movimenta para transferir ao adversário a responsabilidade por um eventual shutdown. Enquanto isso, jantares e encontros de bastidores mostram a Casa Branca tentando articular apoios, mas a distância entre as posições indica que o risco de paralisação é cada vez mais concreto.

Historicamente, os mercados tendem a minimizar esses episódios, partindo do pressuposto de que salários atrasados serão pagos quando o governo reabrir. Desta vez, porém, os efeitos podem ser mais profundos. O Escritório de Gestão e Orçamento orientou as agências federais a se prepararem para cortes permanentes em programas sem fontes alternativas de financiamento, o que eleva a incerteza. Os potenciais impactos incluem queda no consumo — já que centenas de milhares de funcionários ficarão temporariamente sem pagamento —, atrasos em empréstimos a pequenas empresas, suspensão de ofertas públicas iniciais (IPOs) e interrupção na divulgação de dados econômicos cruciais para investidores. Em um momento de elevada volatilidade global, a crise expõe novamente a fragilidade da articulação política em Washington e ameaça corroer a confiança na economia americana, num contexto em que estabilidade institucional deveria ser um ativo.

· 03:29 — Substituível

O Walmart, maior varejista do planeta, assumiu de forma explícita seu lugar no debate sobre os impactos da inteligência artificial no mercado de trabalho. Na semana passada, o CEO Doug McMillon afirmou que a IA vai mudar literalmente todos os empregos, destacando que a transformação envolverá tanto a eliminação de algumas funções quanto a criação de outras. Atualmente, a empresa emprega cerca de 2,1 milhões de pessoas ao redor do mundo e planeja manter esse número estável pelos próximos três anos, mesmo projetando crescimento de receita. Os primeiros a sentir de forma mais direta os efeitos da automação serão os cargos corporativos, enquanto as funções que exigem contato constante com clientes deverão passar por mudanças mais graduais, em um processo de adaptação mais lento, mas inevitável.

As declarações do executivo reforçam a percepção de que a IA não é apenas uma ferramenta incremental, mas um divisor de águas para o mundo do trabalho — visão compartilhada por outros líderes corporativos. Julie Sweet, CEO da Accenture, já afirmou que funcionários incapazes de se adaptar às novas tecnologias serão substituídos; Marc Benioff, da Salesforce, destacou que a empresa eliminou 4.000 postos de suporte com o auxílio da IA; e Jim Farley, da Ford, foi ainda mais incisivo ao prever que metade dos trabalhadores de colarinho branco dos EUA poderá ser substituída por sistemas inteligentes. Ainda assim, o entusiasmo convive com ressalvas importantes: pesquisas recentes mostram que maior uso de IA não se traduz automaticamente em ganhos de produtividade. De fato, 40% dos trabalhadores americanos afirmaram ter recebido entregas “incompletas” ou falhas de sistemas automatizados, exigindo retrabalho humano. É um lembrete de que a revolução digital, embora inevitável e transformadora, será marcada por avanços expressivos, mas também por ajustes complexos e trajetórias não lineares.

· 04:14 — Mentalidade de Guerra Fria

O presidente chinês, Xi Jinping, intensificou a ofensiva diplomática contra Washington ao exigir que o governo Trump adote uma postura mais explícita e dura em relação a Taiwan. A demanda de Pequim é que os Estados Unidos passem a declarar oficialmente que “se opõem” à independência da ilha, em contraste com a formulação vigente, segundo a qual o país apenas “não apoia” esse movimento. Essa nuance semântica, ainda que sutil, teria forte peso político: sua adoção representaria uma vitória diplomática de grande simbolismo para a China, fortalecendo sua estratégia de isolar Taiwan no cenário internacional. Até agora, no entanto, a Casa Branca não tomou decisão final sobre o tema, que compõe uma lista mais ampla de pedidos chineses em análise. Convém lembrar que a terminologia utilizada pelos EUA ao descrever sua relação com Taiwan tem sido historicamente fonte de atrito: em ocasiões recentes, simples ajustes ou remoções desse posicionamento no site do Departamento de Estado foram suficientes para provocar protestos imediatos de Pequim.

No front multilateral, Pequim aproveitou a Assembleia Geral da ONU como vitrine para lançar recados indiretos a Washington. Em discurso, o primeiro-ministro chinês exaltou o multilateralismo e advertiu contra o que chamou de “retorno à mentalidade da Guerra Fria”, atribuindo às políticas unilaterais e protecionistas — notadamente a escalada tarifária americana — parte relevante da estagnação econômica global. A retórica faz parte da estratégia de Pequim de se posicionar como campeã de uma ordem internacional cooperativa, ao mesmo tempo em que pressiona os EUA em dossiês sensíveis, como Taiwan, e busca corroer a narrativa de legitimidade da política externa americana. O ponto central, no entanto, vai além do simbolismo das palavras: não se trata apenas de um resquício psicológico da Guerra Fria. O que vivemos hoje é uma Nova Guerra Fria, reconfigurada no eixo EUA-China, marcada por rivalidade sistêmica em tecnologia, comércio e influência geopolítica.

· 05:07 — Nova ampliação

A Alibaba anunciou uma expansão expressiva de seus investimentos em inteligência artificial e infraestrutura de nuvem, reafirmando seu papel central na corrida tecnológica chinesa. Os aportes superarão os US$ 53 bilhões inicialmente projetados, em paralelo ao lançamento do novo modelo de linguagem Qwen3-Max. A notícia recuperou o fôlego para a empresa após anos de pressões regulatórias. Aliás, esse movimento dificilmente teria sido feito sem o aval de Pequim — o que sugere uma inflexão relevante na postura do governo em relação à companhia e abre espaço para uma retomada mais sólida de sua trajetória de crescimento.

Em perspectiva mais ampla, a estratégia chinesa revela…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.