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Na terça-feira (19), o mercado brasileiro viveu uma sessão de forte pressão, refletindo tanto tensões institucionais internas quanto movimentos de realização de lucros no exterior. O Ibovespa encerrou em queda, aos 134.432 pontos, enquanto o dólar subiu para R$ 5,50, colocando o real como a moeda emergente de pior desempenho do dia. O estopim doméstico foi o novo capítulo no atrito entre Brasil e EUA. O setor bancário foi o epicentro das perdas, refletindo o peso da insegurança jurídica sobre o mercado.
No cenário internacional, o humor também foi marcado pela cautela. Em Wall Street, o setor de tecnologia arrastou o S&P 500 para sua terceira queda consecutiva, com baixas expressivas em Palantir, AMD, Oracle, Nvidia e Super Micro Computer. O movimento refletiu a crescente preocupação de investidores com a possibilidade de uma bolha em inteligência artificial, após alertas de Sam Altman e estudos do MIT apontarem frustração com receitas do setor.
Na Ásia, os mercados tiveram desempenho misto: ganhos na China, após o PBoC manter os juros inalterados, contrastaram com perdas em Taiwan. Já na Europa, as bolsas seguiram a fraqueza global, agravadas pela surpresa inflacionária no Reino Unido, onde o CPI subiu para 3,8% em julho, acima do consenso de 3,7%, reavivando dúvidas sobre cortes de juros. Agora, os holofotes se voltam para a ata do Fed e para o simpósio de Jackson Hole, que podem redefinir as expectativas em torno da política monetária global.
· 00:55 — Entre aprovação duvidosa e decisões imprevisíveis
No Brasil, a nova pesquisa Genial/Quaest trouxe um alívio parcial ao governo Lula. A aprovação subiu de 43% em julho para 46% em agosto, enquanto a desaprovação recuou de 53% para 51%. Essa melhora foi sustentada por dois vetores distintos. No campo econômico, a percepção de queda nos preços dos alimentos proporcionou alívio às famílias, reduzindo a pressão sobre o custo de vida. No campo político, a postura firme de Lula diante do tarifaço imposto por Donald Trump foi interpretada como sinal de liderança e de defesa dos interesses nacionais, fortalecendo a imagem presidencial e, ao menos por ora, enfraquecendo o discurso bolsonarista nesse embate específico.
Ainda assim, os ganhos parecem frágeis. A popularidade líquida de Lula melhorou de -10 para -5, mas a rejeição ao governo permanece elevada e rígida (quase que como estrutural). A pesquisa mostra que 67% da população defende a negociação como saída para a crise, o que limita a eficácia de uma retórica de confronto permanente. Caso o impasse persista, a responsabilidade inevitavelmente recairá sobre o incumbente, revertendo parte do avanço atual. Além disso, a violência continua sendo a principal preocupação do eleitorado — uma agenda historicamente associada à direita —, sinalizando que o debate de 2026 tende a migrar de volta para pautas conservadoras. Em síntese, o levantamento melhora a fotografia de curto prazo, mas não altera o filme de longo prazo: o pêndulo político segue podendo mudar de direção.
O pano de fundo é de crescente tensão diplomático-comercial (ruim para o mercado). Enquanto o Brasil aprovou regime de urgência para projetos que buscam regular plataformas digitais e restringir conteúdos — iniciativas que podem ser lidas em Washington como provocação —, os EUA reforçaram que as tarifas contra produtos brasileiros têm caráter de segurança nacional, ainda que tenham aceitado discutir o tema no âmbito da OMC. Em outras palavras, o ambiente está longe de qualquer pacificação. Pelo contrário: a combinação de disputas jurídicas, ruídos políticos e atritos diplomáticos mantém a incerteza elevada, reforçando o clima de cautela.
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· 01:41 — Na expectativa pela ata
O mercado americano viveu uma sessão de contrastes, refletindo uma dinâmica de rotação que deu o tom do pregão. O Nasdaq recuou 1,5% e o S&P 500 perdeu 0,6%, enquanto o Dow Jones conseguiu avançar de forma quase simbólica, apenas 10 pontos, mas sem força para finalmente romper o seu recorde histórico. O dia foi marcado por um movimento claro: empresas que haviam liderado os ganhos até aqui — como Palantir, Coinbase, Oracle, Super Micro Computer e AMD — figuraram entre as principais quedas. O chamado fator momentum, que mede a continuidade de tendências, registrou um de seus piores desempenhos desde abril, revelando a fragilidade diante de choques, ainda que o volume de negociações siga saudável.
No radar dos investidores, além da volatilidade crescente, está a expectativa pela divulgação da ata da reunião de julho do Federal Reserve. O documento deve lançar luz sobre a intensidade das divisões internas a respeito da política monetária, após a rara dissidência de dois membros votantes do comitê que defenderam um corte de 25 pontos na última decisão. Por ora, o mercado continua atribuindo cerca de 85% de probabilidade a uma redução em setembro, cenário reforçado pelas pressões políticas de Donald Trump. A ata pode oferecer pistas relevantes não apenas sobre os rumos da inflação, mas também sobre tarifas e mercado de trabalho — três variáveis centrais para definir o próximo passo do banco central americano.
· 02:37 — Cuidado com a altura
As ações de grandes companhias de inteligência artificial passaram por uma forte correção, refletindo os temores de que o setor esteja esticado demais. A Palantir liderou as perdas do dia, com queda de 9,4%, acompanhada por Oracle (-5,8%), Microsoft (-1,4%) e CrowdStrike (-1,8%). O movimento não poupou as fabricantes de chips, que também registraram quedas relevantes: Nvidia recuou 3,5% e AMD, 5,4%.
Parte da pressão veio após declarações de Sam Altman, CEO da OpenAI, que alertou para o excesso de euforia dos investidores em torno da inteligência artificial, mesmo enquanto sua própria empresa caminha para atingir uma avaliação bilionária. No entanto, em alguns casos, como o da própria Palantir, a correção também pode ser explicada por realização de lucros, já que os papéis acumulam uma impressionante valorização de 118% em 2024 e de mais de 400% nos últimos 12 meses.
O impacto foi sentido no Nasdaq, que caiu 1,5% no pregão, mostrando o peso da correção das empresas de tecnologia no desempenho do índice. Agora, a grande dúvida do mercado é se essa retração representa apenas uma pausa natural após ganhos expressivos ou se marca o início de uma rotação mais ampla, com investidores migrando de ações de crescimento ligadas à IA para papéis de valor, que ficaram em segundo plano. O potencial do segmento segue inegável, mas, depois de uma alta tão acentuada, correções bruscas são parte do jogo. Cabe ao investidor estar preparado para enfrentar esses ajustes sem perder de vista a perspectiva de longo prazo.
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· 03:22 — Política energética
As políticas energéticas de Donald Trump foram apresentadas como um caminho para reduzir os custos de energia nos EUA, mas os efeitos até aqui apontam em direção oposta. Ainda que a produção de petróleo já estivesse em níveis recordes antes de sua eleição, e que o governo tenha dado novo fôlego ao uso de combustíveis fósseis e da energia nuclear, houve um enfraquecimento deliberado dos padrões de eficiência energética e dos incentivos a fontes renováveis. Estudos do think tank Energy Innovation projetam que, até 2035, a capacidade de geração poderá encolher em cerca de 340 GW, o que levaria consumidores a pagar até 18% a mais pela eletricidade. Além disso, haveria impacto negativo sobre PIB e empregos — embora esse último ponto seja alvo de controvérsia, já que a Tax Foundation prevê ganhos líquidos no mercado de trabalho em geral, sem avaliar os efeitos sobre o setor energético.
A pressão sobre os custos se intensifica diante da demanda crescente por energia, impulsionada sobretudo pelos data centers de inteligência artificial. A redução do apoio às renováveis aumenta a dependência do gás natural, fonte mais cara e de expansão mais lenta. Enquanto projetos solares e eólicos podem ser implantados em até dois anos, usinas a gás exigem prazos significativamente maiores — e ainda enfrentam gargalos de equipamentos essenciais. Nesse contexto, tarifas e restrições impostas às alternativas renováveis acabam não apenas encarecendo a energia, mas também limitando a capacidade de resposta rápida da rede elétrica. O resultado é que a promessa de “domínio energético” se converte menos em alívio e mais em ônus adicional para consumidores e empresas. Em suma, trata-se de uma política energética que, longe de ser trivial, traz efeitos práticos bastante distintos do discurso inicial.
· 04:18 — King Dollar?
Os investidores globais vêm reduzindo gradualmente sua exposição ao dólar e a ativos americanos. No entanto, apesar das críticas recorrentes ao chamado King Dollar, ainda não surgiu um substituto real capaz de assumir o mesmo papel central no sistema financeiro internacional. A China, mesmo com seu avanço econômico e relevância em setores estratégicos de tecnologia, esbarra em limitações estruturais: os rígidos controles de capital, a falta de transparência regulatória e a insegurança jurídica minam a credibilidade do yuan como moeda de reserva global. O euro, por sua vez, enfrenta o obstáculo crônico da ausência de uma união fiscal e política plena, que enfraquece a coesão do bloco. Já o ouro e o petróleo, embora funcionem como importantes ativos de proteção, permanecem essencialmente commodities, incapazes de sustentar fluxos financeiros globais de forma eficiente. As criptomoedas, por fim, ainda são marcadas por volatilidade extrema, regulação incipiente e falta de confiança institucional, o que as torna inadequadas para substituir moedas fiduciárias em escala global.
Assim, mesmo diante das fragilidades autoinfligidas pelos próprios EUA, nenhuma alternativa reúne ao mesmo tempo escala, liquidez e instituições sólidas o suficiente para desbancar o dólar. O cenário mais provável, portanto, não é o colapso da hegemonia americana, mas a formação de um sistema financeiro internacional mais fragmentado e multipolar. Nesse arranjo, o dólar continua como a moeda dominante, mas divide gradualmente espaço com o euro, o yuan, o ouro e até alguns ativos digitais em momentos específicos. Essa diversificação tende a elevar custos de transação e reduzir a vantagem dos EUA, já que outros polos de liquidez começam a ganhar relevância. Ainda assim, até que surja uma alternativa que consiga combinar a escala produtiva da China com a confiança institucional de uma Suíça, o dólar permanecerá como líder incontestável — ainda que de forma menos absoluta e mais duvidosa.
· 05:03 — E por falar em ouro…
O mercado volta suas atenções para o tradicional simpósio de Jackson Hole, onde o discurso de Jay Powell, na sexta-feira (22), pode oferecer pistas cruciais sobre a trajetória dos juros nos Estados Unidos. Um eventual corte ainda este ano segue no radar, especialmente após dados recentes indicarem enfraquecimento no mercado de trabalho e inflação sob maior controle. Juros mais baixos tendem a favorecer o ouro, ao reduzir o custo de oportunidade em relação a aplicações em títulos. Não por acaso, o metal já acumula valorização próxima de 30% em dólares em 2025, superando não apenas o desempenho das ações e das principais moedas do G-10, mas até mesmo o bitcoin. O mercado projeta agora preços em torno de US$ 3.500 a onça até o fim de 2025 e US$ 3.700 em 2026, sustentados por um conjunto de vetores que inclui o movimento de desdolarização global, as compras constantes de bancos centrais e as crescentes preocupações fiscais e políticas nos Estados Unidos.
A demanda pelo ouro encontra…