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Investimentos

Ibovespa: IPCA-15 de julho e leituras de negociações entre Brasil e EUA serão destaques nesta sexta-feira (25); confira

Os mercados globais começam a sexta-feira de olho nos eventos da próximas semanas e as tratativas tarifárias. Leia mais.

Por Matheus Spiess

25 jul 2025, 09:38

Atualizado em 25 jul 2025, 09:38

rali ibovespa ações

Imagem: iStock.com/MicroStockHub

Os mercados globais abrem esta sexta-feira (25) já mirando a próxima semana, marcada por decisões importantes de política monetária nos Estados Unidos, Brasil e outros países relevantes. No curto prazo, o pano de fundo segue dominado por uma combinação de bons resultados corporativos lá fora e incertezas no front comercial.

Nos EUA, os índices futuros apontam para um encerramento de semana positivo, embalados por uma temporada de balanços robusta — com 83% das empresas do S&P 500 superando as projeções do mercado até aqui — e pela expectativa de novos acordos comerciais. Ainda assim, nem tudo são flores: depois do tombo de Tesla ontem, a queda das ações da Intel hoje (25) após um prejuízo relevante no trimestre ajuda a esfriar os ânimos.

Já na Europa, o clima é mais carregado, com as bolsas em queda diante do receio de que a indefinição tarifária esteja começando a contaminar resultados empresariais, o que levou algumas companhias a revisar o guidance.

Na Ásia, o acordo comercial firmado entre EUA e Japão — vendido por Donald Trump como “o maior da história” — começa a gerar mais dúvidas do que entusiasmo. A suposta criação de um fundo japonês de US$ 550 bilhões para investir nos EUA ainda carece de detalhes concretos, enquanto as declarações públicas de Washington e Tóquio seguem desalinhadas quanto à origem e natureza dos recursos. A tarifa inicial de 15% sobre automóveis japoneses pode ser elevada para 25% caso os americanos julguem insatisfatória a implementação do acordo.

Aliás, diante da incerteza comercial, o BCE adotou na quinta-feira (24) um tom cauteloso: só um choque severo justificaria um novo corte de juros. Entre as commodities, o petróleo avança levemente, amparado pelo otimismo comercial e pela reabertura parcial das operações de empresas americanas na Venezuela, após um alívio nas sanções. E por aqui, enfim, uma tênue sinalização de interlocução com a Casa Branca. Ainda é pouco, mas já é algo. Só falta o presidente evitar que sua retórica agressiva e confusa destrua o que ainda mal começou. Retroceder agora seria mais desastroso do que continuar parado.

· 00:59 — Por favor, não atrapalhe

No Brasil, após um primeiro semestre de desempenho mais positivo, começamos a observar uma inflexão no sentimento. O investidor local adotou uma postura mais cautelosa, preocupado com os riscos do segundo semestre, preferindo reduzir exposição e consolidar os ganhos recentes. Nesse contexto, o Ibovespa voltou a recuar ontem (24), em movimento de correção após a alta do pregão anterior, refletindo o desconforto crescente com a ausência de visibilidade nas negociações tarifárias entre Brasil e EUA, especialmente com a proximidade do prazo de 1º de agosto, estabelecido por Donald Trump para a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros.

Até o momento, não houve avanços concretos nas tratativas. O governo brasileiro insiste em afirmar que os esforços diplomáticos continuam, mas reconhece, nos bastidores, que a Casa Branca tem se mostrado pouco responsiva — para não dizer indiferente — aos sucessivos contatos. Na agenda, o destaque fica com a divulgação do IPCA-15 de julho, cuja expectativa mediana aponta para uma aceleração de 0,26% em junho para 0,31% neste mês, o que levaria a taxa acumulada em 12 meses de 5,27% para 5,28%. Um número acima do esperado poderá comprometer a ainda frágil expectativa de cortes na Selic ainda em 2025. Por isso, os investidores estarão atentos não apenas ao número cheio, mas também à sua composição qualitativa, buscando entender se o dado carrega ou não uma mensagem benigna sobre a dinâmica inflacionária.

Em meio ao ceticismo dominante, tivemos ontem (24) uma rara sinalização de progresso: o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou ter mantido uma “longa” conversa com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. A leitura imediata é de que um canal de diálogo foi finalmente aberto — e, diante da escassez de interlocução até aqui, qualquer gesto mínimo já representa um avanço relevante. Entre os temas discutidos temos possibilidades concretas, como algum tipo de preferência dos EUA na exploração de minerais críticos no Brasil — como lítio, nióbio e terras raras —, que são peças-chave para a indústria de tecnologia, defesa, transição energética e semicondutores. Trata-se de uma classe de ativos geoeconômicos cuja oferta global é dominada pela China e está cada vez mais no centro de disputas estratégicas. Também se fala em um eventual acordo de bitributação, que buscaria equilibrar o acesso de produtos americanos ao mercado brasileiro com tarifas mais próximas de zero.

Ou seja, por mais que a negociação ainda esteja envolta em incertezas, existe, finalmente, uma mesa posta. O problema, como sempre, é o ruído político. Ontem mesmo, o presidente Lula, em visita a Minas Gerais, mais uma vez perdeu a oportunidade de permanecer em silêncio. Repetiu provocações a Donald Trump, voltou a subir o tom contra Bolsonaro e, para completar, rechaçou publicamente a ideia de discutir os tais minerais estratégicos, afirmando que “eles pertencem ao Brasil”. Uma fala que pode parecer patriótica a olhos desavisados, mas que, do ponto de vista diplomático, apenas contamina ainda mais um ambiente que exige frieza, estratégia e profissionalismo técnico. O momento exige menos ego e mais pragmatismo. Qualquer palavra fora do tom pode sabotar todo o esforço de negociação feito até aqui.

Enquanto isso, o governo já estuda medidas para contenção de danos. De um lado, avalia políticas de apoio a setores diretamente afetados por eventual tarifação. De outro, trabalha para diversificar fluxos comerciais e abrir novos mercados, mirando parceiros já bem posicionados com exportadores brasileiros, especialmente no Oriente Médio e na Ásia. Nada disso, no entanto, é capaz de evitar o curto prazo mais desafiador. Em meio a um cenário externo instável e ao agravamento do risco comercial, é natural que os ativos brasileiros passem a exigir um prêmio de risco mais elevado — ainda mais agora, quando começávamos a registrar um retorno mais robusto do capital estrangeiro e aumento da exposição por parte dos fundos locais. O tamanho desse prêmio dependerá diretamente da magnitude das tarifas eventualmente implementadas e da natureza da resposta brasileira: se técnica e econômica, ou contaminada por uma retórica populista ultrapassada e nacionalista belicosa.

A menos de 18 meses das eleições presidenciais, é cada vez mais evidente que os ativos brasileiros serão guiados por essa incerteza política crescente — não apenas em função da disputa eleitoral em si, mas também pela conta fiscal que se acumula para 2027, quando o novo governo terá que enfrentar um inevitável ajuste. A política local segue prisioneira de seus extremos: tanto o episódio atual envolvendo tarifas quanto a paralisia nas reformas estruturais são sintomas de um ambiente capturado por paixões ideológicas e personalismos despropositados. O Brasil segue precisando de menos populismo e mais pragmatismo. Talvez essa seja justamente a escolha do eleitor em 2026, cansado de tanta instabilidade. Até lá, seguimos em um ambiente volátil, mas com ativos domésticos ainda negociando com desconto elevado frente à média histórica — e com uma posição técnica que, apesar de tudo, permanece saudável.

· 01:42 — Sinais

Nos Estados Unidos, as ações da Alphabet (Google) chegaram a subir mais de 2% na máxima de ontem, embaladas por um resultado trimestral acima das expectativas. O bom desempenho da companhia teve papel relevante na renovação dos recordes do S&P 500 e do Nasdaq, que continuam a refletir o entusiasmo do mercado com o avanço da tecnologia, especialmente em temas ligados à inteligência artificial.

Após o fechamento dos mercados, os holofotes se voltaram para um evento atípico: o presidente Donald Trump visitou pessoalmente o Federal Reserve, ao lado do presidente da instituição, Jerome Powell. O encontro ocorreu sob um pano de fundo incômodo — as pressões cada vez mais explícitas da Casa Branca e de seus aliados para que o banco central reduza a taxa de juros. Alguns membros do círculo mais próximo de Trump chegaram a sugerir que as reformas no edifício-sede do Fed seriam pretexto para desgastar Powell institucionalmente. Mas a tentativa de exposição saiu pela culatra. Durante a visita, Trump tentou confrontar Powell publicamente sobre os custos da obra e acabou sendo corrigido, diante das câmeras, pelo próprio presidente do Fed. Um constrangimento típico de quem tenta politizar o que deveria ser técnico.

Apesar do ruído, é provável que as especulações sobre uma eventual troca de comando no Federal Reserve percam tração — ao menos por ora. A temporada de balanços corporativos continua em foco. Nesta manhã, os futuros americanos operam em alta, mas o humor é parcialmente contido pelo desempenho negativo da Intel no pré-market. A empresa até superou as expectativas de receita, mas amargou um prejuízo líquido de US$ 0,10 por ação, afetada por despesas extraordinárias e perdas não recorrentes. O mercado, como sempre, não perdoa surpresas negativas.

· 02:37 — Novos caminhos

Não é só o Brasil que busca abrir novas frentes comerciais. A Índia e o Reino Unido acabam de firmar um acordo de livre comércio que elimina tarifas sobre uma ampla gama de produtos — de veículos a bebidas alcoólicas — encerrando uma negociação longa entre duas economias relevantes em um momento em que o protecionismo tarifário de Donald Trump continua impondo um freio ao fluxo global de comércio.

Para o primeiro-ministro Modi, o pacto com os britânicos é uma peça estratégica dentro de um esforço maior: consolidar a Índia como alternativa confiável às cadeias de suprimentos globais que tentam se desvincular, ainda que parcialmente, da China. Trata-se do primeiro grande acordo comercial da Índia em mais de uma década — e um indicativo claro de que o país está disposto a flexibilizar antigas barreiras para atrair investimento estrangeiro e ampliar seu protagonismo nas rotas globais de produção.

Além de servir como vitrine para investidores, o acordo também funciona como degrau para negociações em andamento com a União Europeia e, em especial, com os próprios Estados Unidos. As conversas com Washington seguem em curso, mas a mensagem política está dada: em um mundo em que os EUA oscilam entre o isolacionismo e a ameaça tarifária generalizada, os parceiros comerciais vão se articulando entre si. Foram três anos de discussões árduas, envolvendo temas sensíveis como concessões migratórias, cortes tarifários e incentivos fiscais. O resultado não é apenas um tratado comercial — é mais um indício de que o mundo não está mais disposto a esperar passivamente pelos humores da Casa Branca.

· 03:21 — Uma nova guerra no radar

A Tailândia lançou um alerta preocupante: o conflito militar com o Camboja pode escalar para uma guerra. Pelo segundo dia consecutivo, foguetes e artilharia cruzaram a fronteira disputada, intensificando um embate que, até pouco tempo atrás, era contido por um frágil equilíbrio diplomático. O primeiro-ministro interino reconheceu publicamente a gravidade crescente dos confrontos, destacando o risco iminente à população civil. A crise reacende sentimentos nacionalistas dentro da Tailândia e, em paralelo, coloca ainda mais pressão sobre a liderança cambaleante.

Em meio à escalada, caças F-16 tailandeses bombardearam alvos militares em território cambojano, deixando ao menos 11 mortos e reacendendo uma disputa de fronteira que remonta a mais de um século. Ambas as nações trocam acusações sobre quem teria dado o primeiro disparo, num ciclo típico de recriminação que apenas aprofunda o impasse. Trata-se do episódio mais violento na região em cerca de 14 anos — e, infelizmente, não ocorre em um vácuo. Com guerras ainda em curso na Ucrânia e no Oriente Médio, e uma série de tragédias sendo ignoradas no continente africano, um novo foco de tensão é exatamente o que o mundo não precisava. 

· 04:15 — Irritando a China?

Taiwan se aproxima de um capítulo inusitado de sua democracia: neste sábado, os eleitores decidirão se até 31 dos 113 parlamentares serão destituídos, em um movimento já batizado pela imprensa local de “A Grande Destituição”. A ofensiva mira, em sua maioria, membros do Kuomintang (KMT), partido de oposição que atualmente controla o legislativo e atua como barreira à agenda do presidente William Lai, do Partido Democrático Progressista (DPP). O plano do DPP, que perdeu a maioria parlamentar nas últimas eleições, é claro: recuperar cadeiras cruciais, liberar pautas estratégicas — especialmente as relacionadas à defesa e à política externa — e reforçar o poder de articulação da presidência. Por trás da disputa interna, o fator geopolítico é inevitável: o KMT mantém uma postura mais aberta ao diálogo com Pequim, enquanto o DPP insiste em sustentar a autonomia da ilha, explorando a narrativa de segurança nacional como justificativa para a ofensiva política.

Ainda assim, o jogo é de alto risco. A destituição de um parlamentar exige que mais da metade do eleitorado de seu distrito compareça às urnas e que a maioria vote a favor da revogação — um obstáculo significativo em um ambiente político já saturado de polarização. E mesmo que o DPP obtenha vitórias neste sábado, isso não garante a posse imediata das cadeiras: os distritos envolvidos terão novas eleições, e muitos deles são territórios historicamente dominados pelo KMT, o que pode apenas resultar na troca de nomes dentro do mesmo partido. Caso a estratégia dê certo, Lai ganhará espaço político para avançar em sua agenda; caso falhe, o governo será forçado a moderar o tom e negociar com mais frequência. Além disso, analistas alertam que a normalização desse tipo de manobra pode institucionalizar as destituições como ferramenta política, aprofundando divisões e enfraquecendo ainda mais a já instável dinâmica política de Taiwan, país fundamental para a economia global.

· 05:08 — Efeito Sydney Sweeney

A American Eagle está tentando empurrar seu jeans de volta para o carrinho de compras dos consumidores — e, ao que tudo indica, dos investidores também. A nova campanha da varejista, estrelada pela atriz Sydney Sweeney, foi lançada nesta semana e despertou euforia no mercado: outdoors em 3D de vinte andares na Times Square e anúncios monumentais no Las Vegas Sphere. Os detalhes financeiros não foram revelados, mas pode se tratar da campanha mais cara da história da American Eagle.

O efeito imediato foi um salto de mais de 30% nas ações durante o pregão, embora os ganhos tenham sido devolvidos quase tão rapidamente quanto surgiram. A pergunta óbvia: há algo de concreto além do marketing?

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.