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ITUB4: comprar ou vender ações do Itaú?

Com dividendos mensais, entenda se vale a pena inserir as ações do maior banco privado do país no seu portfólio

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Data de publicação
18 de janeiro de 2021
Categoria
Investimentos

As ações do Itaú Unibanco (ITUB4) são indicadas nas séries As Melhores Ações da Bolsa, Double Income e Vacas Leiteiras, lideradas por Max Bohm, Felipe Miranda e Sérgio Oba, respectivamente.

Neste artigo, vamos destacar os principais pontos sobre a empresa e desenvolver o raciocínio por trás da recomendação dos nossos especialistas, aqui da Empiricus.

Para facilitar sua leitura, dividimos o conteúdo através dos seguintes tópicos:

As origens do Itaú Unibanco

Fundadas separadamente, as duas empresas que compõem o banco precisam ser contadas em duas histórias diferentes.

E o Unibanco veio primeiro.

Voltemos a 1924, em Minas Gerais. Nesse ano, a Casa Moreira Salles — loja que tinha desde louças e roupas até sapatos e bebidas em seu estoque — inaugurava um novo momento na sua história: o governo federal autorizou que ela funcionasse como uma seção bancária. Na prática, a loja passava a representar bancos importantes. Em 1940, passou a ter um banco próprio, que viraria o Unibanco em 1967.

Pulando para 1943, agora em São Paulo, Alfredo Egydio de Souza Aranha funda o Banco Central de Crédito. Em 1965, realiza a aquisição de um banco mineiro chamado Itaú e decide ficar com o nome. Ao longo das décadas seguintes, o banco faria uma grande quantidade de aquisições, do BANERJ ao BBA.

Em 2008, a história de Itaú e Unibanco converge: a fusão dos bancos origina o maior conglomerado financeiro privado do hemisfério sul e um dos 20 maiores bancos do mundo em valor de mercado.

Por dentro dos bastidores operacionais do bancão

As fontes de receita do Itaú Unibanco (ITUB3 e ITUB4) são muito variadas, mas podemos sintetizá-las em três classes: crédito, serviços e seguros.

A principal divisão, no entanto, é o tipo de cliente atendido. E, para isso, recorremos aos conceitos de varejo e atacado.

Para sermos específicos e tangibilizar as diferenças:

As pessoas físicas são divididas por renda e patrimônio; as empresas, por faturamento

E aí, em qual segmento você se encaixa?

O lucro líquido do banco de atacado é maior do que o de varejo. Assim, o banco ganha mais dinheiro realizando operações (de crédito, de investimentos) para grandes clientes corporativos e famílias ricas do que atendendo pessoas com renda menor e pequenas empresas.

Os resultados do Itaú

Agora que você já sabe as origens do maior banco da América Latina e como o seu modelo de negócios funciona, chegamos na parte mais relevante para você, investidor: o desempenho da empresa.

No 3T20, o Itaú reportou resultados neutros. Analisando os índices de inadimplência da empresa, temos o seguinte cenário:

Fonte: Itaú e Empiricus

“O índice acima de 90 dias recuou — indicando que a carteira segue saudável —, mas o que contempla de 15 a 90 dias, que mostra problemas mais recentes, deu uma leve piorada, de 1,7% no 2T20 para 1,9% no 3T20 e, com isso, acendeu uma pequena luz amarela”, ressalta Felipe Miranda, CIO da Empiricus.

Para equilibrar isso, a gestão adotou a estratégia de expandir o índice de cobertura (estoque da provisão para devedores duvidosos sobre o volume total em atraso acima de 90 dias) para um patamar “muito robusto que, no médio prazo, nos deixa absolutamente confortáveis com a situação da carteira”, conta Felipe.

A ideia, tangibilizada no gráfico abaixo, era de preparar a companhia para os piores cenários da pandemia.

Fonte: Itaú e Empiricus

Além disso, vimos a queda no nível das despesas — mais de 2% no total de despesas gerais e administrativas em 9M20, quando comparado com 9M19 — se repetir.

O lucro de R$ 5 bilhões que citamos anteriormente nos remete à esperançosa impressão de que o pior da pandemia já passou. Ainda assim, precisamos nos atentar aos fatos: o resultado é 20% maior do que o reportado no 2T20, mas ainda é 30% menor do que os R$ 7,2 bilhões do 3T19.

Saindo dos bolsos do banco, vamos falar sobre o seu. ITUB4 possui uma tendência, quase que de forma religiosa, de distribuir proventos mensalmente. Quando calculamos desde 2015, temos que o banco distribuiu R$ 7,87 por ação:

Fontes: Bloomberg e Empiricus

Em 2020, a distribuição “foi bastante reduzida devido à medida do Banco Central que limitou a distribuição de proventos dos bancos brasileiros ao mínimo exigido por lei (25% do lucro líquido auferido no período)”, explica Felipe. Assim, trata-se de um número baixo, porém fruto de um cenário incomum.

Itaú Unibanco e XP: explicando o rolo

Também no último trimestre, o Itaú anunciou que desenvolve um estudo — já em fase avançada — sobre a possibilidade de segregar sua participação na XP.

Hoje, com 46% de participação (cerca de R$ 56 bilhões, a depender do câmbio), na corretora, ITUB4 pretende criar uma nova companhia com 41% de participação na XP e embolsar os 5% restantes.

Isso é positivo para o bancão porque significa um destrave de valor próximo de R$ 6 bilhões para os seus cofres. Além disso, “o movimento deve gerar uma quantidade significativa de caixa para reforçar o balanço e até mesmo possibilitar a compra de negócios concorrentes que têm incomodado as operações do banco”, explica Felipe.

Talvez você tenha ouvido falar sobre a troca de farpas entre Itaú Unibanco e XP Investimentos nas mídias. Pois é, antes do banco divulgar sua intenção de cisão acionária, houveram alguns desentendimentos.

Lá em maio de 2017, o bancão anunciou que tinha a intenção de adquirir o controle da XP em etapas. Só que o Banco Central barrou o plano e, em agosto de 2018, o Itaú divulgou o compromisso de “abortar a missão”.

Ainda assim, garantiu uma parcela expressiva de participação na corretora — cerca de 46% no 3T20. O controle, portanto, não foi assumido.

Apesar da intenção não ter se consumado, o negócio, nem de perto, foi ruim. Na verdade, foi absurdamente lucrativo: o Itaú viu os R$ 6 bilhões que pagou por quase metade das ações da XP se transformarem em quase R$ 62 bilhões.

Lucros de 1.000% carregam muitas pessoas para outros patamares de vida. Aqui, a situação é ainda mais atípica porque o montante envolvido, desde o princípio, já estava na casa dos bilhões.

Para o bem ou para o mal, o banco acertou na veia.

Até aí, tudo bem.

Só que, em junho e julho de 2020, o jogo muda com as peças publicitárias do Itaú, que criticam a atuação das corretoras e agentes autônomos de investimentos. Mesmo com o Itaú sendo sócio da XP, as duas empresas ainda são concorrentes.

Guilherme Benchimol responde em seu LinkedIn (“tenho uma certeza: se tem algo que o banco não é, nem nunca foi, é ser feito para você”), o que torna o conflito ainda mais direto.

O final da história, já sabemos. Agora, vamos nos aprofundar nesse último aspecto, previsto para se concretizar em 2021.

A segregação da XP, se ocorrer, irá gerar uma nova sociedade de capital aberto chamada “Newco” — um nome genérico para empresas cindidas. Essa empresa deterá 41,05% das ações da XP Inc e os 5% restantes serão monetizados.

Os atuais acionistas do Itaú Unibanco terão participação acionária na Newco e deverão decidir o que fazer com sua participação na XP.

Itaú vs fintechs

É verdade que os bancões são avessos às inovações digitais? Serão, inexoravelmente, derrubados pelas fintechs, como o Nubank?

Vamos começar analisando o mercado de cartões de crédito.

O Itaú lidera este segmento com 35% do market share, mas a ascensão do Nubank é um grande alerta de risco: a fintech registrou um salto de 6 milhões de cartões para 26 milhões em pouco menos de dois anos — crescimento que excede 430% e já representa 27,5% de market share.

Além disso, a startup já vinculou seu produto com grandes empresas ao estabelecer parcerias com elas. Aqui, estamos falando de vantagens com Netflix, Spotify, Uber, Amazon e Airbnb ao usar o programa de crédito da companhia, o Nubank Rewards.

Mas, para sermos justos, precisamos ressaltar que o bancão se destaca da fintech em termos de rentabilidade: o ticket médio do crédito movimentado pelos clientes do Itaú gira em torno de R$ 2,2 mil, frente a meros R$ 468 do Nubank.

Esse cenário pode ser explicado pela idade predominante dos clientes de cada instituição, uma vez que o Itaú possui uma base mais madura e com renda mais alta, enquanto o Nubank foca nos millennials.

Partindo, agora, para o mercado de investimentos, a própria XP ameaça a atuação do bancão: o crescimento agressivo da corretora se traduziu, no 2T20, num valuation que excedia 14% do Santander e equivalia a 51% do Itaú.

No mais, inúmeras empresas adentram esse segmento, como o Nubank com a Easynvest; e o Santander com a Pi e a Toro.

Com ataques vindos de vários lados e por players fortes, precisamos nos questionar: o que o Itaú está fazendo para vencer os próximos rounds?

Para sermos sucintos, está recorrendo à máxima “se não pode vencê-los, junte-se a eles”.

Na transição para o mundo digital, o banco limitou as funções das agências e criou o aplicativo Iti, que realiza pagamentos instantâneos via QR Code. No seu braço de maquininhas, a Rede, o banco reduziu as taxas e prazos de recebimento, o que “praticamente dobrou sua base credenciada em apenas seis meses”, explica Felipe Arrais, analista da Empiricus.

Este último ponto se traduz como muita pressão contra os concorrentes do Itaú, tais como Cielo, Stone e PagSeguro.

Podemos concluir que a gestão do Itaú está ciente das dificuldades e já começou a se mexer. No entanto, o bancão precisará fazer muito mais para sair vencedor no futuro.

Entendendo a diferença entre ITUB3 e ITUB4

As empresas listadas na Bolsa de Valores possuem um ticker — código de quatro letras acompanhado de um ou dois números — que serve como um nome, com o propósito de identificá-la mesmo. Normalmente, as letras fazem alusão ao nome da companhia, enquanto os números especificam o tipo de ação comercializada.

É nesse último ponto que vamos nos ater nesta seção.

Os dois principais tipos de ação na Bolsa são os que terminam em 3 ou 4. Há, no entanto, variações de 1 a 11, ou até mesmo os BDRs, comumente acompanhados do número 34.

Então, vamos destrinchar a diferença entre ITUB3 e ITUB4.

As ações que terminam em 3 são chamadas de ordinárias (ON). A particularidade desse tipo é o direito ao voto nas assembleias da empresa. Se você for um investidor habituado a comprar uma quantidade enorme de lotes de ações e realmente quiser ser um sócio ativo nas decisões de uma companhia, então você está buscando por ações ON. Quanto mais você tiver, maior será sua influência na esfera administrativa dela.

As ações que terminam em 4, por sua vez, são chamadas de preferenciais (PN). Com elas, você possui preferência na distribuição de dividendos e, caso o pior aconteça e a empresa seja liquidada, você também está na fila VIP para o reembolso do investimento (ou do que sobrar dele).

Esses detalhes geram demandas diferentes para cada tipo, causando pequenas diferenças no preço entre dois papéis da mesma empresa. Com atenção ao último detalhe da frase anterior, se a empresa crescer muito, haverá valorização de ambos os ativos.

Nas sugestões da Empiricus, ITUB4 é priorizada porque a ideia é lucrar com a valorização do papel e com os dividendos periódicos do Itaú Unibanco. Além disso, há mais demanda pelas ações preferenciais, já que são mais úteis para a maioria dos investidores. Em outras palavras, isso significa maior liquidez para você ao comprar ITUB4 no lugar de ITUB3.

Conclusão

As ações do Itaú (ITUB4) são negociadas na casa de 12 vezes o lucro esperado para 2021, “um patamar bastante atraente mesmo depois do rali recente (as ações acumulam alta de quase 25% desde meados de outubro)”, diz Felipe.

Assim, a posição no Itaú segue firme e há expectativas de que o banco volte a entregar bons dividendos em 2021. Felipe ainda declara: “não descartamos, inclusive, distribuição extraordinária quando a limitação do regulador terminar”, o que proporciona ainda mais urgência à indicação.

Por isso, a recomendação da Empiricus é: compre ITUB4.