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Localiza (RENT3): Decifrando a dinâmica do mercado de veículos seminovos com queda da Selic no radar

A análise histórica revela que a queda da taxa Selic tende a beneficiar as ações da Localiza; mercado pode aguardar essa tendência? Veja análise.

Por Larissa Quaresma, CFA

30 maio 2025, 16:20 - atualizado em 30 maio 2025, 16:20

localiza RENT3

Imagem: Divulgação/Localiza

Ao longo da última década, observou-se uma tendência consistente de queda no spread entre o preço médio de venda e o de compra dos veículos seminovos, elemento central para a rentabilidade do modelo de negócios da Localiza (RENT3). 

Em 2014, esse diferencial atingia 92,1% — o maior da série histórica —, marcando o início de um movimento de compressão gradual, que culminou no piso de 70,2% em 2023.

Em 2024, houve uma leve recuperação para 76,5%, ainda distante dos níveis registrados na primeira metade da década passada, quando os spreads mais elevados sustentavam margens mais robustas na renovação de frota.

Revenda de carros seminovos está mais difícil: Como o cenário pode ainda destravar valor para Localiza?

A leitura desse movimento de longo prazo sugere que o ambiente para a revenda de seminovos se tornou estruturalmente mais desafiador. No entanto, ao se aplicar um modelo de fluxo de caixa descontado reverso (DCF), a mediana do spread necessário para justificar o atual valor de mercado da companhia — mantendo constante o valor presente dos fluxos de caixa projetados de 2025 a 2036 — seria de 79,5%.

Isso implica uma expectativa implícita do mercado de que o spread médio dos próximos anos será cerca de 300 pontos-base superior ao observado em 2025. Em outras palavras, o valuation atual da empresa pressupõe uma recuperação moderada, mas sustentada, da rentabilidade do mercado de seminovos — o que, se concretizado, pode destravar valor relevante para os acionistas.

Fonte(s): RI da companhia, BTG Pactual e Empiricus.

Selic para baixo e Localiza para cima?

A análise histórica revela que a queda da taxa Selic tende a beneficiar as ações da Localiza, mas, por si só, não é capaz de sustentar uma trajetória consistente de valorização.

O elemento decisivo na equação de rentabilidade da companhia é o spread entre os preços de compra e venda dos veículos seminovos — variável que determina diretamente o ganho na renovação de frota.

Exemplos marcantes disso foram os anos de 2017 e 2018, em que a ação apresentou forte desempenho mesmo com juros elevados, graças à manutenção de spreads historicamente altos.

Por outro lado, o período entre 2022 e 2024 destacou-se como um dos mais desafiadores da última década, combinando Selic elevada com compressão significativa no spread de seminovos — o que explica a performance mais volátil e, em 2024, a maior queda registrada na série.

O movimento de redução estrutural do spread, iniciado em 2018, merece atenção especial: se persistente, pode representar uma mudança duradoura no perfil de lucratividade do negócio.

Além disso, tendências de longo prazo começam a redesenhar o cenário competitivo. O avanço dos veículos elétricos e a intensificação do uso de carros por motoristas de aplicativo tendem a acelerar a depreciação dos ativos e reduzir o diferencial entre valor de compra e revenda — fatores que adicionam uma camada de complexidade à tese de investimento.

Em um ambiente cada vez mais desafiador, a capacidade da Localiza de:

  • ajustar seu modelo operacional;
  • preservar margens;
  • e explorar novas avenidas de crescimento será determinante para sustentar sua atratividade no médio e longo prazo.

Histórico de performance de RENT3 em relação à taxa Selic

Fonte(s): RI da companhia, BTG Pactual e Empiricus.

Entre 2017 e 2024, o desempenho das ações da Localiza (RENT3) esteve intimamente ligado à interação entre dois fatores determinantes para sua rentabilidade: o nível da taxa Selic e o spread entre os preços de compra e venda de veículos seminovos — componente essencial para o sucesso de seu modelo de renovação de frota.

Em 2017, mesmo diante de uma Selic ainda elevada (média de 10,1%), a ação se valorizou 106%, impulsionada por um spread expressivo de 94,5%. No ano seguinte, com a Selic em queda acentuada (6,4%) e o spread atingindo o maior nível da série histórica (96,3%), o papel manteve trajetória positiva, com alta de 36%, reforçando a sensibilidade da ação a margens elevadas nos seminovos, especialmente quando combinadas a um ambiente de juros mais benigno.

Essa mesma lógica se confirmou em 2020: apesar da pandemia e do ambiente de incerteza, a Selic em sua mínima histórica (3,0%) e o spread ainda elevado (89,5%) resultaram em valorização de 47% no ano. Por outro lado, 2021 expôs os limites dessa relação. Apesar da continuidade de juros baixos (4,4%), a queda significativa no spread para 83,4% comprometeu a rentabilidade da operação, resultando em uma retração de 23% nas ações.

A partir de 2022, o cenário tornou-se claramente desfavorável: a Selic voltou a subir e os spreads atingiram níveis historicamente baixos. Em 2023, mesmo com um leve alívio no papel (+23%), o spread atingiu o piso da série (70,2%). Em 2024, apesar de leve recuperação para 76,5%, a ação registrou sua pior performance histórica, com queda de 47%, refletindo a pressão combinada de margens comprimidas e custo de capital elevado.

RENT3: Por que é hora de investir?

Esses movimentos reforçam que, mais do que a taxa de juros isoladamente, o fator-chave para a precificação de ações RENT3 é o spread no segmento de seminovos — elemento que determina diretamente o retorno sobre capital investido na renovação da frota.

A combinação de Selic baixa com margens amplas cria o ambiente ideal para valorização, enquanto qualquer compressão nos spreads reduz de forma significativa o potencial de geração de valor.

Apesar dos ventos contrários enfrentados nos últimos anos, seguimos com uma visão construtiva para a tese de Localiza no longo prazo. O mercado já embute, de forma implícita, a expectativa de uma recuperação gradual nos spreads — e a eventual normalização da Selic deve funcionar como catalisador adicional.

A companhia permanece bem posicionada: conta com escala operacional difícil de replicar, acesso privilegiado a capital, uma estrutura de custos eficiente e um modelo de negócios com capacidade de adaptação frente a transformações estruturais — como a penetração dos veículos elétricos e a profissionalização da demanda por mobilidade, como no caso de motoristas de aplicativo. Nesse contexto, as ações da Localiza seguem entre as melhores formas de se expor ao setor de mobilidade no Brasil, mesmo em meio a um ambiente de transição.

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de ações há 10 anos, é responsável pela série As Melhores Ações da Bolsa e pela carteira mensal Empiricus 10 Ideias, além de integrar a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Ao longo da carreira, teve passagens pela Núcleo Capital, tradicional fundo de ações brasileiro, e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, aluna visitante da Stanford University e com certificações CFA, CNPI e CGA.