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Investimentos

Mercados em véspera de decisões do Fed e Copom; o que deve ser manchete econômica nesta terça (9)?

Mercados globais avançam de forma contida com a chegada da decisão de política monetária do Fed nos EUA e do Copom no Brasil.

Por Matheus Spiess

09 dez 2025, 09:19

Atualizado em 09 dez 2025, 09:19

mercado noticias petrobras

Imagem: CanvaPro

Os mercados globais avançam de forma contida, em modo de espera, à medida que se aproxima a decisão de política monetária do Federal Reserve, com o mercado atribuindo probabilidade próxima de 90% a um corte de 25 pontos-base nos juros ainda nesta semana. Nesse ambiente de cautela, os investidores acompanham atentamente os indicadores do mercado de trabalho dos Estados Unidos, com destaque para o relatório JOLTS, que ajuda a calibrar as expectativas sobre a saúde do emprego.

Os futuros de Wall Street operam em leve alta após a correção recente, movimento que também encontra suporte no forte desempenho do setor de semicondutores, impulsionado pela decisão do governo americano de autorizar a exportação dos chips H200 da Nvidia para a China, mediante a cobrança de uma tarifa de 25% — embora a medida tenha animado as ações do setor, ela também reacendeu críticas no campo político, especialmente por preocupações relacionadas à segurança nacional.

No noticiário corporativo, a semana começou agitada com a Paramount apresentando uma oferta hostil pela Warner Bros. Discovery, apoiada por grandes investidores próximos a Donald Trump e por fundos do Oriente Médio, em uma clara tentativa de inviabilizar o acordo da Netflix. Nesta manhã, as bolsas asiáticas encerraram o pregão em queda, refletindo a cautela global às vésperas da decisão do Fed.

· 00:56 — O vai e vem deve prevalecer até o ano que vem

No Brasil, após o tombo superior a 4% do Ibovespa na última sexta-feira, o mercado esboçou apenas uma leve recuperação nesta segunda, com o índice voltando à região dos 158 mil pontos. Como já discutimos, o principal foco de estresse segue concentrado na indefinição da candidatura da oposição para 2026, em meio a uma rejeição expressiva à possível candidatura de Flávio Bolsonaro — rejeição esta capturada tanto pelas pesquisas junto à sociedade quanto pela leitura dos agentes de mercado e pelos sinais emitidos pelo Centrão. Ontem, esse isolamento político ficou ainda mais evidente após a tentativa frustrada de Flávio de articular uma reunião com lideranças do grupo. Sua recente fala sobre a abertura de negociações com partidos do centro voltou a reacender o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas — ainda visto como o favorito pelos investidores —, mas o ambiente permanece altamente instável, com os ativos reagindo de forma extremamente sensível.

Flávio, por sua vez, segue sustentando sua suposta pré-candidatura — que pode ser lida tanto como um blefe quanto como um balão de ensaio — numa tentativa de recuperar algum apoio após a clara erosão do capital político da família, e a tendência é que mantenha esse posicionamento nos próximos meses para testar sua viabilidade. O vai e vem de declarações sobre sua própria pré-candidatura deve, portanto, permanecer até pelo menos março, a menos que haja uma antecipação explícita da passagem de bastão. Caso Flávio insista em permanecer no jogo até o fim, as chances de vitória do campo lulopetista aumentam, seja com o próprio Lula ou com um eventual sucessor, abrindo também espaço para o surgimento de uma terceira via de centro-direita, com nomes como Ratinho Jr. ganhando tração. Esse quadro de incerteza ajuda a explicar por que a reação do Ibovespa foi tão contida, refletindo a percepção de que 2026 tende a ser um ano difícil e marcado por elevada volatilidade.

Em sua fala irretocável na noite de ontem, a primeira desde sexta-feira, o governador Tarcísio de Freitas reafirmou sua lealdade a Bolsonaro, mas também sinalizou apoio a outros nomes relevantes da oposição, como Ratinho Jr., Caiado e Zema. Como tenho insistido, a possibilidade de uma alternância de poder e de uma mudança efetiva na condução da política econômica no próximo ano depende muito mais da organização da oposição do que de nomes isolados — e o que se observa até aqui é justamente o oposto disso. Na agenda doméstica, a reunião do Banco Central começa hoje e será concluída amanhã: a expectativa é de manutenção dos juros, mas com a possibilidade de uma comunicação menos dura, o que pode oferecer algum suporte aos ativos de risco, sobretudo em um momento em que o ambiente político, que chegou a ajudar o mercado em novembro, agora atravessa uma fase clara de congestionamento.

· 01:48 — Véspera da decisão

As bolsas americanas encerraram a segunda-feira em queda, em um ambiente de cautela generalizada às vésperas da decisão do Federal Reserve, que deve anunciar nesta quarta-feira um corte de 25 pontos-base (ou 0,25 ponto percentual) nos juros. Apesar da alta probabilidade de redução da taxa, o mercado segue bastante incerto quanto à trajetória da política monetária em 2026, uma vez que o comitê se encontra dividido. Esse clima de expectativa se refletiu nos principais índices: o Dow Jones recuou 0,5%, o S&P 500 caiu 0,4% e o Nasdaq perdeu 0,1%, evidenciando a ansiedade dos investidores diante do chamado “gráfico de pontos”, do tom do comunicado e, sobretudo, das sinalizações que virão das falas do presidente do Fed.

Apesar da maior volatilidade no curtíssimo prazo, o pano de fundo macroeconômico permanece relativamente construtivo. A inflação segue em processo de desaceleração, com o núcleo do PCE já rodando próximo de 2,3%, o que mantém viva a expectativa de novos cortes de juros à frente, mesmo diante de um mercado de trabalho ainda ambíguo. Do lado micro, os resultados corporativos continuam sólidos e há um otimismo crescente em relação a 2026. Esse conjunto de fatores sustenta uma visão positiva para o médio prazo, ainda que o elevado nível de posicionamento em ações aumente a probabilidade de episódios pontuais de volatilidade ao longo do caminho.

· 02:34 — Não tão leve assim

A fase em que as grandes empresas de tecnologia podiam ser classificadas como negócios “leves em ativos” está claramente ficando para trás. Durante muitos anos, companhias como Airbnb, Uber e diversas plataformas digitais cresceram com estruturas enxutas, baseadas essencialmente em software, marketing e escala de usuários, com necessidade relativamente baixa de investimento em ativos físicos. Esse modelo superalavancado em capital intelectual foi, por muito tempo, um dos principais motores da rentabilidade do setor. Agora, porém, ele vem sendo substituído por um novo ciclo, muito mais intensivo em infraestrutura, impulsionado sobretudo pela corrida da inteligência artificial — que demanda volumes crescentes de servidores, semicondutores, energia elétrica e, principalmente, data centers em escala industrial.

Na prática, algumas das maiores empresas de tecnologia dos Estados Unidos já passaram a se assemelhar, em termos de perfil de investimento, a companhias tradicionais do setor elétrico. A lógica por trás desse movimento é direta: a inteligência artificial transformou a tecnologia em um negócio estruturalmente intensivo em capital. Esse fenômeno é tão disseminado que, entre as 25 empresas com maior intensidade de investimentos no S&P 500, praticamente todas pertencem ao setor de utilities ou atuam diretamente na construção e operação de data centers — uma evidência clara de que a base da economia digital passou a ser, cada vez mais, física e pesada.

· 03:27 — Uma nova Doutrina Monroe

Donald Trump formalizou uma mudança relevante na orientação da política externa dos Estados Unidos ao anunciar o chamado “Corolário Trump” à histórica Doutrina Monroe, reafirmando a América Latina como área prioritária de influência estratégica de Washington. Na prática, essa diretriz se traduz em maior presença militar na região, operações de segurança mais agressivas e uma postura mais direta frente a países como Venezuela e Colômbia, ao mesmo tempo em que o governo americano reduz de forma explícita seu grau de envolvimento com a Europa — incluindo a decisão de não autorizar novos financiamentos à Ucrânia. O movimento pode beneficiar o Brasil.

Paralelamente, a nova Estratégia de Segurança Nacional divulgada pela Casa Branca adota um tom duro com o bloco europeu, ao afirmar que o continente deve ser capaz de “se sustentar sozinho” em termos de defesa e segurança. Esse reposicionamento sinaliza uma inflexão importante no eixo geopolítico global, com potenciais impactos sobre alianças históricas, a dinâmica da guerra no leste europeu e o equilíbrio de poder internacional — fatores que tendem a influenciar, de maneira indireta, os mercados, os fluxos de capitais e a percepção de risco em diferentes regiões.

· 04:12 — Retomando o ritmo, mas com cuidado

A economia japonesa caminha para uma retomada de crescimento moderado em 2026, com o consumo doméstico assumindo papel central na sustentação da atividade, à medida que os impactos do choque tarifário dos Estados Unidos tendem a se dissipar ao longo do primeiro semestre do ano. A escassez estrutural de mão de obra segue como um vetor relevante de pressão sobre os salários, favorecendo mais um ciclo de reajustes reais positivos, enquanto a inflação deve gradualmente convergir para patamares próximos de 2% até meados de 2026. Nesse ambiente, a primeira-ministra Sanae Takaichi enfrentará um desafio sensível de coordenação entre uma política fiscal mais ativa e a crescente pressão exercida pelos juros dos títulos públicos, em um contexto no qual o déficit primário deve se aproximar de 2% do PIB, ampliando os riscos associados à já elevada relação entre dívida pública e produto.

No campo monetário, a expectativa é de que o Banco do Japão mantenha o processo de normalização gradual da política, com elevação de juros em dezembro e um novo ajuste em meados de 2026, levando a taxa terminal para perto de 1%, em parte como resposta à necessidade de conter a fragilidade do iene. Ainda assim, o cenário não está isento de riscos: uma desaceleração inflacionária menos suave do que o previsto ou a persistência de choques de oferta poderiam manter pressões de custos e alimentar um quadro de estagflação moderada. Soma-se a isso a complexidade da nova ordem comercial global, na qual o Japão precisa administrar seus laços estratégicos com Estados Unidos e China em um ambiente de competição industrial cada vez mais intensa. No balanço final, as projeções apontam para um crescimento da ordem de 1% em 2026, com exportações ainda sob pressão, mas com uma recuperação gradual da atividade ancorada no fortalecimento do consumo interno.

· 05:05 — Iniciativas nucleares

A autorização para o reinício de dois reatores da usina nuclear de Kashiwazaki Kariwa, no Japão, representa um marco simbólico e estratégico desde o desastre de Fukushima, ao sinalizar, de forma clara, a reabilitação gradual da energia nuclear como um dos pilares da transição energética e da agenda de descarbonização. Em paralelo, nos Estados Unidos, uma série de decretos executivos destinados a destravar a expansão do setor nuclear provocou uma reação expressiva nas ações ligadas à indústria, especialmente entre os fabricantes de reatores, indicando uma inflexão relevante após décadas de restrições regulatórias e baixo dinamismo.

Apesar de ainda deter a maior frota de usinas nucleares em operação, os EUA ficaram para trás em relação a China e Rússia na construção de novos reatores: foram apenas dois projetos em vinte anos, contra mais de 30 na China no mesmo período. Nesse contexto, as novas diretrizes que visam quadruplicar a capacidade nuclear americana até 2050 podem representar a iniciativa mais transformadora do setor em muitas décadas, abrindo espaço para um ciclo prolongado de investimentos e sinalizando um alinhamento raro entre governo, capital privado e opinião pública em torno da energia nuclear como resposta estrutural à crescente insegurança energética global.

Esse movimento ganha ainda mais força diante do avanço consistente da…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.