Imagem: iStock.com/Thitima Uthaiburom
Os mercados globais entraram em modo defensivo após o término do shutdown nos Estados Unidos, já que a reabertura escancarou um problema mais profundo: a perda irreversível de dados essenciais, como a taxa de desemprego de outubro, deixando o Federal Reserve parcialmente “no escuro” em um momento crítico para a definição da política monetária. A falta de informações confiáveis reduziu a probabilidade de um corte de juros em dezembro e reacendeu temores sobre um possível excesso de otimismo em torno das empresas de tecnologia e inteligência artificial. O VIX disparou, ações do setor sofreram correções relevantes e membros do Fed adotaram um discurso mais cauteloso, enquanto indicadores importantes — como PPI e vendas no varejo — permanecem sem data para divulgação. Somaram-se a isso preocupações crescentes com o nível de capex das empresas do segmento de inteligência artificial.
No exterior, o ambiente de cautela ganhou novas camadas: os Estados Unidos avaliam cortes tarifários sobre alimentos por meio de acordos com países latino-americanos, medida que pode produzir efeitos incertos sobre os preços ao consumidor; e a China apresentou dados fracos de produção industrial e crédito, reforçando o temor de desaceleração. Além disso, investidores estrangeiros intensificaram saídas de mercados asiáticos ligados à IA, enquanto as bolsas europeias recuam nesta manhã diante das dúvidas sobre juros globais e da fraqueza da demanda chinesa. O petróleo voltou a subir após um ataque ucraniano a instalações russas, adicionando volatilidade.
· 00:53 — Mais uma correção depois do rali recente
No Brasil, o Ibovespa voltou a encerrar o pregão em leve queda, acompanhando o mau humor dos mercados globais e estendendo o movimento de correção iniciado na véspera, após uma sequência excepcional de 12 recordes consecutivos. Nem mesmo a sinalização positiva vinda de Washington — onde o chanceler Mauro Vieira afirmou que os EUA devem responder nos próximos dias à proposta brasileira de uma trégua tarifária de 90 dias — foi suficiente para animar os investidores. Ao mesmo tempo, as vendas no varejo de setembro reafirmaram uma desaceleração mais nítida do consumo: alta modesta de 0,2% no varejo ampliado e queda de 0,3% no núcleo, com composição frágil e desempenho abaixo das expectativas. Esse movimento reforça um viés desinflacionário e mantém no radar a possibilidade de corte da Selic em janeiro, ainda que o espaço total desse ciclo seja limitado pelas fragilidades fiscais.
Esse pano de fundo ressalta a necessidade urgente de uma agenda de reformas estruturais em 2027. A incapacidade recorrente do País de respeitar regras fiscais torna essencial rever mecanismos de indexação de despesas, corrigir distorções, incluir militares no ajuste previdenciário, redesenhar benefícios como seguro-desemprego e abono salarial, enfrentar supersalários e evitar novas “bombas fiscais”. Entre os desafios mais sensíveis está a política de salário mínimo, cujos aumentos reais recorrentes pressionam de forma insustentável a Previdência e a assistência social, corroendo rapidamente parte dos ganhos obtidos com a reforma de 2019. A dificuldade, porém, é de natureza política: falta coesão social, prevalecem incentivos de curto prazo e o peso crescente das emendas parlamentares — já acima de 20% da despesa discricionária — distorce prioridades e fragiliza o planejamento público.
O quadro se complica com práticas parafiscais que elevam a demanda e pressionam a política monetária, num ambiente em que a dívida pública supera 80% do PIB, muito acima do período pré-crise de 2014–2016. Isso significa que choques menores hoje podem gerar consequências tão graves quanto as de uma década atrás. Sem reformas efetivas, o ajuste tende a ocorrer via inflação, sobretudo quando o Banco Central, mesmo diante de expectativas desancoradas, reduzir os juros. Recuperar superávits primários torna-se, portanto, indispensável: tentar baixar juros “na marra” apenas pioraria o problema em nível estrutural. Embora o mercado ainda demonstre certa complacência, crises fiscais, quando chegam, tendem a ser abruptas — razão pela qual uma discussão séria e madura em 2026 será decisiva para o futuro do País.
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· 01:41 — Assimilando o fim do shutdown
Os mercados não reagiram com o alívio esperado ao fim do shutdown mais longo da história americana. O que poderia ser uma trégua acabou rapidamente ofuscado por três fatores: a forte realização de lucros em empresas de inteligência artificial após um longo rali, o enfraquecimento das apostas em um corte de juros pelo Federal Reserve em dezembro e a ausência prolongada de dados econômicos oficiais, consequência direta dos 43 dias de paralisação. O S&P 500 caiu 1,7%, o Dow Jones perdeu quase 800 pontos e o Nasdaq, mais exposto ao setor de tecnologia, recuou 2,3%, em um movimento típico de rotação para setores negociados a múltiplos mais razoáveis. Com mais de 40 dias sem estatísticas confiáveis, cresce a incerteza sobre a conjuntura econômica, e as chances de corte de juros já recuaram para algo próximo de 52%, em meio a sinais de inflação resistente e projeções de desaceleração mais clara em 2026.
O ambiente também foi agravado pela confirmação de que o relatório de empregos de outubro será publicado sem a taxa de desemprego — um reflexo direto do apagão estatístico provocado pelo shutdown — e pela queda expressiva do Bitcoin abaixo de US$ 100 mil, acompanhando a aversão global ao risco. No plano político e comercial, Trump anunciou que prepara cortes tarifários e novos acordos com países da América Latina para tentar reduzir os preços de alimentos nos EUA. Ainda assim, a combinação entre a guerra comercial em curso, a piora das condições de emprego e o aumento recente das demissões reforça as preocupações com o cenário macroeconômico.
· 02:34 — Outra abordagem energética
A Chevron anunciou uma expansão relevante de sua atuação em geração de energia elétrica, de olho no avanço acelerado da demanda imposta pelos data centers de inteligência artificial. Em parceria com a GE Vernova e o fundo Engine No. 1, a companhia planeja instalar, até 2027, uma usina no oeste do Texas capaz de fornecer 2,5 gigawatts de energia fora da rede — volume suficiente para abastecer quase dois milhões de residências — com possibilidade de ampliação para 5 gigawatts conforme a demanda evolua. O projeto, que segue em negociações exclusivas com um cliente de grande porte, deve ter decisão final de investimento no início de 2026 e ilustra o crescente apetite dos hiperescaladores de IA por soluções energéticas estáveis.
Paralelamente, a Chevron revisou sua projeção de capex, reduzindo o intervalo para US$ 18 bilhões a US$ 21 bilhões ao ano até 2030, mesmo após considerar a aquisição da Hess. A companhia pretende elevar a produção de petróleo e gás em até 3% ao ano e destaca sua capacidade de manter dividendos, investimentos e recompras. A estratégia, mais disciplinada do que a adotada pela Exxon Mobil, reforça o posicionamento da Chevron como uma fornecedora essencial de energia em um mundo cada vez mais dependente da infraestrutura digital e do consumo energético.
· 03:23 — Ritmo mais fraco
Os dados mais recentes reforçam que a economia chinesa entrou no último trimestre do ano em um ritmo mais fraco. A produção industrial perdeu fôlego, os investimentos caíram em um patamar sem precedentes e o consumo permaneceu anêmico, aprofundando a desaceleração que já vinha sendo observada nos meses anteriores. A queda inesperada das exportações amplia essa vulnerabilidade, especialmente se a demanda doméstica não reagir. Ainda assim, a resposta dos mercados foi contida, e as autoridades chinesas sinalizaram que, por ora, pretendem apenas assegurar a execução das políticas já anunciadas, sem pressa para novos estímulos.
Mesmo em um cenário mais desafiador, há sinais de interesse renovado por parte de investidores globais e chineses. Contudo, segmentos mais sensíveis seguem sob forte pressão. A crise imobiliária prolongada na China continental e em Hong Kong já produziu centenas de bilhões de dólares em defaults, e parte desse impacto começa a recair sobre bancos asiáticos que detinham projetos imobiliários como garantia. Mais de US$ 1 bilhão em empréstimos lastreados em imóveis correm o risco de inadimplência, evidenciando a deterioração de ativos antes considerados seguros.
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· 04:18 — Crise hídrica
Como se os atritos sociais internos e as tensões geopolíticas e econômicas já não fossem suficientes, o Irã agora enfrenta uma crise hídrica que alcançou um nível crítico. De acordo com o presidente Masoud Pezeshkian, o país pode ser forçado a evacuar Teerã — capital que abriga cerca de 10 milhões de pessoas — caso não haja chuva até dezembro.
A gravidade do cenário é resultado de décadas de má gestão dos recursos hídricos e de práticas agrícolas ineficientes, agravadas pela limitação de acesso a tecnologias modernas devido às sanções internacionais. A falta de água se soma a recorrentes interrupções no fornecimento de energia e gás, ampliando o risco de instabilidade social e intensificando a pressão sobre a capacidade do regime de manter sua própria sustentação política.
· 05:06 — Caminhando para o fim da temporada de resultados
À medida que nos aproximamos da reta final da temporada de resultados do 3º trimestre de 2025 no Brasil, considero oportuno revisitar alguns nomes que vêm figurando em nossas recomendações desde o fim de 2023. Embora a safra doméstica não tenha replicado o brilho observado nos Estados Unidos — algo natural diante do nível ainda elevado dos juros locais, que limita grandes surpresas positivas — o período esteve longe de ser irrelevante. Muitas companhias demonstraram resiliência notável em meio a um ambiente macroeconômico desafiador, enquanto outras superaram expectativas e confirmaram nossa tese construtiva. Em síntese, tratou-se de uma temporada boa dentro do contexto.
A Axia Energia (AXIA6), antiga Eletrobras, apresentou…