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Investimentos

Mercados globais em modo defensivo com Fed no ‘escuro’ pós-shutdown; veja os destaques da semana

Os mercados globais entraram em modo defensivo após o término do shutdown nos EUA escancarar um problema mais profundo. Entenda.

Por Matheus Spiess

14 nov 2025, 09:28

Atualizado em 14 nov 2025, 09:28

bolsa de valores b3 mercado ações ativos gráfico

Imagem: iStock.com/Thitima Uthaiburom

Os mercados globais entraram em modo defensivo após o término do shutdown nos Estados Unidos, já que a reabertura escancarou um problema mais profundo: a perda irreversível de dados essenciais, como a taxa de desemprego de outubro, deixando o Federal Reserve parcialmente “no escuro” em um momento crítico para a definição da política monetária. A falta de informações confiáveis reduziu a probabilidade de um corte de juros em dezembro e reacendeu temores sobre um possível excesso de otimismo em torno das empresas de tecnologia e inteligência artificial. O VIX disparou, ações do setor sofreram correções relevantes e membros do Fed adotaram um discurso mais cauteloso, enquanto indicadores importantes — como PPI e vendas no varejo — permanecem sem data para divulgação. Somaram-se a isso preocupações crescentes com o nível de capex das empresas do segmento de inteligência artificial.

No exterior, o ambiente de cautela ganhou novas camadas: os Estados Unidos avaliam cortes tarifários sobre alimentos por meio de acordos com países latino-americanos, medida que pode produzir efeitos incertos sobre os preços ao consumidor; e a China apresentou dados fracos de produção industrial e crédito, reforçando o temor de desaceleração. Além disso, investidores estrangeiros intensificaram saídas de mercados asiáticos ligados à IA, enquanto as bolsas europeias recuam nesta manhã diante das dúvidas sobre juros globais e da fraqueza da demanda chinesa. O petróleo voltou a subir após um ataque ucraniano a instalações russas, adicionando volatilidade.

· 00:53 — Mais uma correção depois do rali recente

No Brasil, o Ibovespa voltou a encerrar o pregão em leve queda, acompanhando o mau humor dos mercados globais e estendendo o movimento de correção iniciado na véspera, após uma sequência excepcional de 12 recordes consecutivos. Nem mesmo a sinalização positiva vinda de Washington — onde o chanceler Mauro Vieira afirmou que os EUA devem responder nos próximos dias à proposta brasileira de uma trégua tarifária de 90 dias — foi suficiente para animar os investidores. Ao mesmo tempo, as vendas no varejo de setembro reafirmaram uma desaceleração mais nítida do consumo: alta modesta de 0,2% no varejo ampliado e queda de 0,3% no núcleo, com composição frágil e desempenho abaixo das expectativas. Esse movimento reforça um viés desinflacionário e mantém no radar a possibilidade de corte da Selic em janeiro, ainda que o espaço total desse ciclo seja limitado pelas fragilidades fiscais.

Esse pano de fundo ressalta a necessidade urgente de uma agenda de reformas estruturais em 2027. A incapacidade recorrente do País de respeitar regras fiscais torna essencial rever mecanismos de indexação de despesas, corrigir distorções, incluir militares no ajuste previdenciário, redesenhar benefícios como seguro-desemprego e abono salarial, enfrentar supersalários e evitar novas “bombas fiscais”. Entre os desafios mais sensíveis está a política de salário mínimo, cujos aumentos reais recorrentes pressionam de forma insustentável a Previdência e a assistência social, corroendo rapidamente parte dos ganhos obtidos com a reforma de 2019. A dificuldade, porém, é de natureza política: falta coesão social, prevalecem incentivos de curto prazo e o peso crescente das emendas parlamentares — já acima de 20% da despesa discricionária — distorce prioridades e fragiliza o planejamento público.

O quadro se complica com práticas parafiscais que elevam a demanda e pressionam a política monetária, num ambiente em que a dívida pública supera 80% do PIB, muito acima do período pré-crise de 2014–2016. Isso significa que choques menores hoje podem gerar consequências tão graves quanto as de uma década atrás. Sem reformas efetivas, o ajuste tende a ocorrer via inflação, sobretudo quando o Banco Central, mesmo diante de expectativas desancoradas, reduzir os juros. Recuperar superávits primários torna-se, portanto, indispensável: tentar baixar juros “na marra” apenas pioraria o problema em nível estrutural. Embora o mercado ainda demonstre certa complacência, crises fiscais, quando chegam, tendem a ser abruptas — razão pela qual uma discussão séria e madura em 2026 será decisiva para o futuro do País.

· 01:41 — Assimilando o fim do shutdown

Os mercados não reagiram com o alívio esperado ao fim do shutdown mais longo da história americana. O que poderia ser uma trégua acabou rapidamente ofuscado por três fatores: a forte realização de lucros em empresas de inteligência artificial após um longo rali, o enfraquecimento das apostas em um corte de juros pelo Federal Reserve em dezembro e a ausência prolongada de dados econômicos oficiais, consequência direta dos 43 dias de paralisação. O S&P 500 caiu 1,7%, o Dow Jones perdeu quase 800 pontos e o Nasdaq, mais exposto ao setor de tecnologia, recuou 2,3%, em um movimento típico de rotação para setores negociados a múltiplos mais razoáveis. Com mais de 40 dias sem estatísticas confiáveis, cresce a incerteza sobre a conjuntura econômica, e as chances de corte de juros já recuaram para algo próximo de 52%, em meio a sinais de inflação resistente e projeções de desaceleração mais clara em 2026.

O ambiente também foi agravado pela confirmação de que o relatório de empregos de outubro será publicado sem a taxa de desemprego — um reflexo direto do apagão estatístico provocado pelo shutdown — e pela queda expressiva do Bitcoin abaixo de US$ 100 mil, acompanhando a aversão global ao risco. No plano político e comercial, Trump anunciou que prepara cortes tarifários e novos acordos com países da América Latina para tentar reduzir os preços de alimentos nos EUA. Ainda assim, a combinação entre a guerra comercial em curso, a piora das condições de emprego e o aumento recente das demissões reforça as preocupações com o cenário macroeconômico.

· 02:34 — Outra abordagem energética

A Chevron anunciou uma expansão relevante de sua atuação em geração de energia elétrica, de olho no avanço acelerado da demanda imposta pelos data centers de inteligência artificial. Em parceria com a GE Vernova e o fundo Engine No. 1, a companhia planeja instalar, até 2027, uma usina no oeste do Texas capaz de fornecer 2,5 gigawatts de energia fora da rede — volume suficiente para abastecer quase dois milhões de residências — com possibilidade de ampliação para 5 gigawatts conforme a demanda evolua. O projeto, que segue em negociações exclusivas com um cliente de grande porte, deve ter decisão final de investimento no início de 2026 e ilustra o crescente apetite dos hiperescaladores de IA por soluções energéticas estáveis.

Paralelamente, a Chevron revisou sua projeção de capex, reduzindo o intervalo para US$ 18 bilhões a US$ 21 bilhões ao ano até 2030, mesmo após considerar a aquisição da Hess. A companhia pretende elevar a produção de petróleo e gás em até 3% ao ano e destaca sua capacidade de manter dividendos, investimentos e recompras. A estratégia, mais disciplinada do que a adotada pela Exxon Mobil, reforça o posicionamento da Chevron como uma fornecedora essencial de energia em um mundo cada vez mais dependente da infraestrutura digital e do consumo energético.

· 03:23 — Ritmo mais fraco

Os dados mais recentes reforçam que a economia chinesa entrou no último trimestre do ano em um ritmo mais fraco. A produção industrial perdeu fôlego, os investimentos caíram em um patamar sem precedentes e o consumo permaneceu anêmico, aprofundando a desaceleração que já vinha sendo observada nos meses anteriores. A queda inesperada das exportações amplia essa vulnerabilidade, especialmente se a demanda doméstica não reagir. Ainda assim, a resposta dos mercados foi contida, e as autoridades chinesas sinalizaram que, por ora, pretendem apenas assegurar a execução das políticas já anunciadas, sem pressa para novos estímulos.

Mesmo em um cenário mais desafiador, há sinais de interesse renovado por parte de investidores globais e chineses. Contudo, segmentos mais sensíveis seguem sob forte pressão. A crise imobiliária prolongada na China continental e em Hong Kong já produziu centenas de bilhões de dólares em defaults, e parte desse impacto começa a recair sobre bancos asiáticos que detinham projetos imobiliários como garantia. Mais de US$ 1 bilhão em empréstimos lastreados em imóveis correm o risco de inadimplência, evidenciando a deterioração de ativos antes considerados seguros.

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· 04:18 — Crise hídrica

Como se os atritos sociais internos e as tensões geopolíticas e econômicas já não fossem suficientes, o Irã agora enfrenta uma crise hídrica que alcançou um nível crítico. De acordo com o presidente Masoud Pezeshkian, o país pode ser forçado a evacuar Teerã — capital que abriga cerca de 10 milhões de pessoas — caso não haja chuva até dezembro.

A gravidade do cenário é resultado de décadas de má gestão dos recursos hídricos e de práticas agrícolas ineficientes, agravadas pela limitação de acesso a tecnologias modernas devido às sanções internacionais. A falta de água se soma a recorrentes interrupções no fornecimento de energia e gás, ampliando o risco de instabilidade social e intensificando a pressão sobre a capacidade do regime de manter sua própria sustentação política.

· 05:06 — Caminhando para o fim da temporada de resultados

À medida que nos aproximamos da reta final da temporada de resultados do 3º trimestre de 2025 no Brasil, considero oportuno revisitar alguns nomes que vêm figurando em nossas recomendações desde o fim de 2023. Embora a safra doméstica não tenha replicado o brilho observado nos Estados Unidos — algo natural diante do nível ainda elevado dos juros locais, que limita grandes surpresas positivas — o período esteve longe de ser irrelevante. Muitas companhias demonstraram resiliência notável em meio a um ambiente macroeconômico desafiador, enquanto outras superaram expectativas e confirmaram nossa tese construtiva. Em síntese, tratou-se de uma temporada boa dentro do contexto.

A Axia Energia (AXIA6), antiga Eletrobras, apresentou…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.