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A semana começa carregada para os mercados globais, com investidores de olho em uma agenda densa de indicadores e declarações de autoridades monetárias. Depois do primeiro corte de juros em nove meses, a atenção se volta para as falas de Jerome Powell, Stephen Miran e Michelle Bowman, em busca de sinais sobre a trajetória da política monetária americana. Nos EUA, dois dados ganham destaque: a leitura final do PIB do segundo trimestre e o índice de preços de despesas de consumo pessoal (PCE) de agosto, considerado a medida de inflação preferida do Fed. No Brasil, os holofotes recaem sobre a ata do Copom e o Relatório de Política Monetária, em um ambiente global marcado pelos cortes de juros e sinais de enfraquecimento da atividade.
No front internacional, política e geopolítica adicionam camadas de incerteza. A França, pressionada por uma crise fiscal, sofreu novos rebaixamentos de rating, em contraste com a melhora na avaliação de crédito da Itália, evidenciando a divergência dentro da Zona do Euro. Na Ásia, a semana começou com ganhos nas principais bolsas, à exceção de Hong Kong, impactada pelo supertufão Ragasa. Já na China, as taxas de referência de empréstimos foram mantidas inalteradas, enquanto, na Europa, investidores aguardam os dados do PCE americano e novos discursos do Fed antes de reposicionar apostas. No mercado de commodities, o petróleo cede diante das preocupações com excesso de oferta, em meio ao aumento da produção da OPEP+ e à percepção de que a demanda global pode perder fôlego nos próximos trimestres.
· 00:59 — Semana agitada depois dos recordes
No Brasil, a semana passada terminou em clima positivo, com o Ibovespa renovando máximas e encerrando próximo dos 146 mil pontos. Foram quatro dos últimos cinco pregões com recordes no fechamento, evidenciando o apetite por risco. Ao mesmo tempo, em termos de valuation, a Bolsa segue descontada: permanece com múltiplos atrativos, distante de suas máximas em dólares e com posicionamento de investidores relativamente leve — fatores que, em conjunto, dão espaço para novas altas. Esse desempenho ocorreu mesmo após o Banco Central, em linha com as expectativas, manter a Selic em 15% ao ano, reforçando uma postura dura tanto no comunicado quanto nas projeções para o horizonte relevante de atuação da política monetária. A semana que começa agora promete novos desdobramentos: amanhã serão divulgados tanto a ata da última reunião do Copom quanto o Relatório de Política Monetária do terceiro trimestre de 2026, peças fundamentais para calibrar a leitura do mercado. Além disso, teremos a prévia da inflação de setembro, medida pelo IPCA-15, que deve ajudar a consolidar as expectativas em torno dos próximos passos da política de juros.
No campo político, Brasília mantém o noticiário carregado. O debate sobre a proposta de isenção do imposto de renda para até R$ 5 mil está marcado para esta semana. O Congresso ainda deve avançar na regulamentação da reforma tributária e na análise do Projeto de Lei Orçamentária para o ano que vem, atualmente em discussão na Comissão Mista de Orçamento (CMO). Em paralelo, será divulgado nesta noite o 4º Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas, com expectativa de aumento no bloqueio orçamentário em razão do avanço das despesas obrigatórias. Esse ponto escancara uma fragilidade recorrente: o governo tem se mostrado incapaz de conciliar a execução do orçamento com os limites do arcabouço fiscal, dado o ritmo de crescimento dos gastos. E aqui cabe uma ressalva importante: depois de três anos no comando, tentar transferir a responsabilidade para gestões anteriores já não convence.
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· 01:46 — Aguardando pelo PIB
Nos Estados Unidos, as bolsas americanas encerraram a semana passada renovando recordes, com ganhos sólidos nos três principais índices de Wall Street. O impulso adicional veio da ligação entre Donald Trump e Xi Jinping, na qual ambos sinalizaram um acordo preliminar para viabilizar uma versão americana do TikTok, reduzindo parte das incertezas em torno do aplicativo. Apesar disso, permanecem questionamentos relevantes sobre o destino do algoritmo da plataforma, considerado a peça central de sua atratividade e também o ponto mais sensível das negociações. O tom mais conciliador entre Washington e Pequim reforçou o apetite global por risco, mas não elimina a possibilidade de que novas rodadas de sanções ou atritos comerciais interrompam esse movimento de otimismo. Seja como for, o mercado absorveu bem.
Nesta semana, a atenção dos investidores se volta novamente para o quadro macroeconômico dos EUA. O destaque será a divulgação do índice de preços de despesas de consumo pessoal (PCE), principal medida de inflação monitorada pelo Federal Reserve, que trará pistas adicionais sobre os próximos passos da política monetária. Outros indicadores relevantes incluem os PMIs, na terça-feira, e os números de vendas de imóveis novos e usados, na quarta e quinta-feira. O pano de fundo segue delicado: inflação ainda resistente, sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho e valuations esticados em Wall Street. O Fed, até aqui, tem dado maior peso à fragilidade do emprego, o que reforça expectativas de cortes de juros e sustenta ativos de risco. Ainda assim, a inclinação mais acentuada das curvas de juros e a crescente preocupação fiscal deixam os investidores ainda em alerta para eventuais correções.
· 02:38 — Visto mais caro
A decisão do presidente Donald Trump de impor uma taxa de US$ 100 mil para novos pedidos de visto H-1B provocou forte reação entre trabalhadores estrangeiros qualificados nos EUA, sobretudo indianos e chineses, que representam a maioria dos beneficiários do programa. Criado para suprir a demanda de empresas por mão de obra altamente especializada — principalmente em tecnologia e computação —, o H-1B teve quase 400 mil aprovações em 2024, consolidando-se como peça essencial para companhias como Amazon, Microsoft e Google. O anúncio, feito de forma abrupta na sexta-feira, gerou pânico imediato: empresas orientaram seus funcionários a não viajarem ao exterior até que houvesse clareza sobre as novas regras, enquanto relatos de atrasos em voos e de profissionais desembolsando quantias elevadas para retornar antes do prazo evidenciaram o impacto da medida. Só no dia seguinte a Casa Branca esclareceu que a taxa será única e aplicável apenas a novos solicitantes — e não anual para todos, como se entendeu inicialmente. Ainda assim, a incerteza já havia se instalado, expondo a vulnerabilidade de milhares de trabalhadores e de suas famílias.
No plano geopolítico, a decisão promete tensionar as relações entre Estados Unidos e Índia, principal fonte de profissionais de TI para o programa. O governo indiano reagiu, criticando a medida por criar transtornos familiares e operacionais, enquanto as ações de gigantes como Tata Consultancy Services e Infosys recuaram, refletindo preocupações sobre a capacidade de manter contratos com clientes americanos. A medida, na prática, ameaça redesenhar o modelo de terceirização que transformou a Índia em uma potência de US$ 280 bilhões no setor de tecnologia, enfraquecendo uma engrenagem global que há décadas sustenta a competitividade de empresas americanas. Para os EUA, trata-se de uma tentativa explícita de priorizar empregos domésticos, mas com riscos claros: não é possível formar, de forma imediata, milhares de profissionais altamente qualificados apenas porque o visto se tornou mais caro. Esse processo demandaria anos de investimento em educação e capacitação, enquanto o vácuo deixado por políticas migratórias restritivas pode comprometer justamente a liderança tecnológica que Washington afirma querer preservar.
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· 03:25 — O fim do início de carreira?
A discussão em torno do impacto da inteligência artificial sobre o mercado de trabalho tem se concentrado, de forma crescente, nos profissionais mais jovens, especialmente aqueles entre 22 e 25 anos, que em geral ocupam posições de entrada em áreas como programação e atendimento ao cliente. Estudos recentes apontam que a expansão do emprego para esse grupo vem desacelerando justamente nos setores em que a IA já consegue executar tarefas de maneira mais rápida e eficiente, alimentando o receio de que a tecnologia esteja bloqueando oportunidades de ascensão profissional logo no início da carreira. A explicação mais comum é que trabalhadores experientes ainda contam com conhecimento acumulado e habilidades complexas, mais difíceis de serem replicadas por algoritmos, enquanto os recém-chegados lidam com funções consideradas repetitivas ou “mundanas”, facilmente automatizáveis. Ainda assim, essa interpretação pode ser simplista e até mesmo conveniente para gestores, que se colocam em uma posição aparentemente mais blindada contra a automação.
A própria história mostra que revoluções tecnológicas nem sempre prejudicam os mais jovens — em muitos casos, ocorre exatamente o contrário. Com a popularização dos computadores pessoais, por exemplo, foram os profissionais mais velhos que sofreram mais resistência à adaptação, muitas vezes por não dominarem sequer habilidades básicas, como a digitação. Hoje, algo semelhante pode se repetir: embora a IA esteja ocupando parte das funções de entrada, os jovens tendem a ser os que mais exploram e dominam essa tecnologia em seu cotidiano, o que os coloca em melhor posição para se adaptar e até se beneficiar dela. Isso não elimina os riscos da automação, que podem atingir tanto carreiras em estágio inicial quanto aquelas já consolidadas, mas relativiza a ideia de que toda uma geração estaria condenada a empregos precarizados. O fato de que 46% das interações do ChatGPT vêm de usuários entre 18 e 25 anos reforça esse argumento: longe de serem apenas vítimas do avanço da IA, os jovens estão também entre os mais aptos a transformá-la em vantagem competitiva.
· 04:11 — Não envelheceu bem
A 80ª Assembleia Geral da ONU tem início hoje em Nova York, reunindo dezenas de líderes mundiais sob o tema “Melhor Juntos”. Embora o título soe otimista, a pauta deve ser marcada por tensões. Amanhã, o presidente Donald Trump fará seu discurso oficial, e ao longo da semana está prevista uma reunião com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. O encontro ocorre em um momento especialmente simbólico: a ONU completa 80 anos desde sua fundação, quando 51 Estados assinaram a Carta das Nações Unidas com o objetivo de impedir que as futuras gerações fossem condenadas a viver sob a sombra permanente da guerra.
O contraste entre a intenção original e a realidade atual é evidente. Apesar de avanços importantes, o mundo continua marcado por conflitos persistentes na África (como na República Democrática do Congo e no Sudão), no Oriente Médio (Gaza), no Leste Europeu (Ucrânia), além de tensões crescentes no Sudeste Asiático (Taiwan) e na América Central (Haiti). Estima-se que 123 milhões de pessoas tenham sido deslocadas de suas casas por guerras e crises humanitárias. Ao mesmo tempo, a ONU enfrenta uma crise de legitimidade e de recursos: cortes promovidos pelo governo Trump, somados a atrasos de repasses por países como a China e outros 40 membros, abriram um rombo de quase US$ 1 bilhão no orçamento, obrigando o secretário-geral António Guterres a implementar cortes inéditos em programas humanitários.
O desafio, portanto, é duplo: além da escassez financeira, cresce a percepção de que a instituição está desatualizada e pouco representativa, exigindo uma reforma estrutural profunda para se manter relevante no cenário global. A clássica proposta de reformar o Conselho de Segurança pode ser um ponto de partida (ainda que de articulação quase que impossível), mas está longe de resolver os dilemas centrais da ONU, que entra em sua nona década diante de alguns dos maiores desafios de sua história.
· 05:02 — Novidades na Ásia
A inteligência artificial consolidou-se como um verdadeiro divisor de águas para os modelos de negócios das gigantes chinesas de internet, com Alibaba e Tencent liderando esse processo de transformação. No caso da Alibaba Cloud, antes vista como um braço de margens estreitas e excessivamente dependente de personalizações, a adoção da IA em escala abriu espaço para uma guinada significativa. As projeções de crescimento anual já estão acima de 30% na receita da unidade, impulsionado pelo sucesso dos modelos da família Qwen, considerados hoje um dos pacotes de código aberto mais competitivos globalmente. Além disso, a empresa avança na produção de chips próprios, reduzindo a dependência de fornecedores estrangeiros. O tamanho da aposta impressiona: cerca de US$ 17 bilhões investidos anualmente em iniciativas ligadas à IA, com retorno incremental estimado entre US$ 700 milhões e US$ 1,4 bilhão. Trata-se de um movimento que vai além da busca por eficiência, na ambição de monetizar a tecnologia em todo o ecossistema do grupo, do comércio eletrônico a serviços como o aplicativo de navegação.
A Tencent, por sua vez, tem explorado o potencial da IA em frentes igualmente estratégicas, com destaque para…