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Investimentos

Pacote fiscal chegou tarde? Economista-chefe do BTG Pactual explica por que demora das medidas pode manter inflação e juros altos em 2025

Apesar de o ministro Fernando Haddad ter finalmente anunciado o pacote fiscal, para Mansueto Almeida a demora até aqui já deteriorou as expectativas da inflação e dos juros em 2025.

Por Nicole Vasselai

27 nov 2024, 23:17

Atualizado em 28 nov 2024, 09:19

pacote fiscal Haddad Mansueto (1) bolsa brasileira ibovespa iof

Imagem: iStock/manassanant pamai

Em meio a um cenário de inflação elevada, taxa Selic em ritmo de alta e, ao mesmo tempo, uma economia que cresceu acima do esperado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (27) o pacote fiscal, tão aguardado pelo mercado.

Dentre as medidas propostas pela equipe econômica do presidente Lula para redução de R$ 70 bilhões estão:

  • Isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil;
  • Limitação de pagamento do abono salarial a quem ganha até R$ 2,6 mil;
  • Adequação do crescimento dos gastos com as emendas parlamentares ao limite do arcabouço (2,5% ao ano);
  • Mudanças na idade mínima para aposentadoria dos militares;
  • Limitação de transferência de pensões;
  • 50% das emendas de comissões do Congresso serão obrigatoriamente destinadas à saúde pública

As medidas anunciadas por Haddad ainda precisam ser votadas e aprovadas pelo Congresso Nacional.

Anúncio do pacote fiscal ‘perdeu’ o timing?

Apesar de as medidas finalmente terem sido divulgadas, Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual, acredita que essa demora no ajuste nos gastos públicos foi um dos principais fatores pelo aumento da inflação e a constante renovação das altas da taxa de juros.

“Essa falta de compromisso do governo em obedecer o arcabouço fiscal ao longo do ano, que coloca um teto de [crescimento real de] 2,5% de despesas não-financeiras, levou a um grande impacto na inflação e na curva de juros, e uma desvalorização muito forte do real (BRL)”, afirma, no painel “Cenário macroeconômico de 2024 e perspectivas para 2025“, transmitido pelo BTG Pactual nesta quarta-feira (27).

Além disso, circularam, na tarde de hoje, notícias de que o governo poderia ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda para salários acima de R$ 5 mil, o que, comenta Almeida, não foi bem recebido pelo mercado. O Ibovespa, principal índice de ações brasileiras, chegou a cair 1,7%, recuando para 127.668,61 pontos, e o dólar atingiu máxima histórica de R$ 5,91, subindo 1,85%.

“Essa notícia pegou muito mal no mercado, porque esse programa pode custar R$ 40 bilhões para o governo e não necessariamente o congresso aprovará medidas compensatórias, aí correria o risco de termos um buraco fiscal muito maior”, alerta Almeida.

Sobre isso, Miranda explica: “Isso é muito perigoso, porque o Haddad aprovaria R$ 40 bilhões, mas depois o congresso só aprova R$ 30 bilhões, e ainda faltariam R$ 10 bilhões para cobrir essa ausência de arrecadação”.

Brasil está em recessão? Almeida explica por que não

“Apesar de vermos um cenário fiscal bem ruim, o quadro não se configura como recessão, e é bem diferente de 2015. Para se ter uma ideia, em 2023 o Brasil teve seu melhor superávit [exportações menos importações] na balança comercial, de US$ 98 bilhões, e a expectativa é que este ano seja encerrado com o segundo melhor, na casa de US$ 75 bilhões”, elucida o estrategista do BTG.

Com inflação longe da meta, Selic nominal pode chegar a 15% em 2025

Como Almeida explica, além dos desafios fiscais, o mercado já vê sinais de “desancoragem” da inflação em relação à meta de 3%, fator que tem contribuído para repelir os investidores dos ativos de risco brasileiros.

“Começamos o ano esperando uma inflação entre 3,5% e 4%. A gente deve terminar o ano acima de 5%, com alta de preços principalmente de serviços, o que leva a uma perspectiva de inflação alta também em 2025, e, ao contrário de todo o mundo, estamos subindo cada vez mais as taxas de juros”, explica Almeida.

Também presente no evento, Felipe Miranda, sócio-fundador e estrategista-chefe da Empiricus Research, acredita, inclusive, em um problema monetário ignorado pelo mercado neste momento.

“Embora o [quadro] monetário brasileiro seja em grande medida herdado do fiscal, acho que temos uma questão sobre a qual temos debatido pouco. Se expandirmos o período de projeção para 2027, a inflação também não está na meta, e o mercado está entendendo que o Banco Central não está muito preocupado em perseguir o centro da meta, o que não é boa notícia”.

Nesse cenário, afirma Almeida, o mercado espera uma taxa de juros nominal entre 13% e 15% no próximo ano, com juros reais em torno de 8%.

PIB a todo vapor, desemprego nas mínimas

Por outro lado, Almeida reforça que “as elevações da Selic não parecem estar surtindo efeito para conter o consumo da população”, uma vez que o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu muito acima do esperado em 2024 e o desemprego teve, no terceiro trimestre, a menor taxa da série histórica da PNAD Contínua, iniciada em 2012.

“No início do ano, o mercado esperava um crescimento do PIB na casa dos 2% e nós vamos terminar o ano com uma alta acima de 3%, mesmo com juros elevados”, comenta o também ex-Secretário do Tesouro Nacional.

Essa economia aquecida nos últimos meses, adiciona Miranda, favoreceu a receita das empresas no 3T24: “Elas apresentaram resultados melhores no 3T24 do que no mesmo período de 2023, o que, do ponto de vista micro é positivo, mas também piorou as expectativas do Brasil para a inflação”.

Dólar vai subir ainda mais?

Em relação à desvalorização excessiva do real em 2024 e as perspectivas para o próximo ano, Almeida é pragmático: “Não dá para saber o que vai acontecer nos próximos meses, se o governo não deixar muito claro seu compromisso com a agenda fiscal. Enquanto essa incerteza permanecer, vai ser um cenário muito ruim para a Bolsa e para o real”.

Ele também lembra que o real brasileiro está competindo pelo pior lugar do ranking de 2024 com a lira, da Turquia, e com os pesos mexicano e argentino.

Além disso, ressalta: “Mesmo antes das notícias [desta quarta-feira] sobre a possível ampliação da isenção do IR, a moeda já estava desvalorizada. E isso mesmo em uma circunstância em que as contas externas do Brasil estão muito boas”.

Por fim, se você quiser conferir a conversa na íntegra, de Felipe Miranda e Mansueto Almeida, mediados por Jerson Zanlorenzi, do BTG Pactual, vá por este link aqui.

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.