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Será que o dólar pode cair ainda mais até o final do ano? E a queda dos juros americanos, pode beneficiar o Brasil? A PEC da blindagem é sintoma do cenário político atual?
Essas são algumas das dúvidas apresentadas por assinantes da Empiricus e que Felipe Miranda, CIO e estrategista-chefe da casa, respondeu durante o último episódio do Blink!. Confira:
Dólar vai cair ainda mais até o final do ano?
Felipe Miranda: “Está com cheiro que sim. O diferencial de juro está muito alto. Com a taxa Selic em 15% ao ano no Brasil e a taxa de juros nos EUA em torno de 4%, é muita coisa.
Todo mundo já não quer mais segurar a mesma quantidade de dólar que tinha antes, não é mesmo? Com toda essa reorganização e desorganização da ordem mundial, o apelo do dólar diminuiu.“
Como a queda dos juros americanos pode beneficiar o Brasil?
FM: “Se você estava ganhando muito com investimentos nos Estados Unidos, agora você ganha menos. Então parte desse dinheiro vem para os mercados emergentes. Uma boa notícia.
Isso também ajuda a economia americana, reduzindo um pouco as despesas financeiras de famílias e empresas.
A economia americana mais forte arrasta o mundo junto. Também é uma boa notícia para a nossa moeda: entra dinheiro aqui, o real se valoriza, o dólar cai, a inflação recua e os juros podem cair no Brasil também.”
Como tem sido vista a PEC da blindagem no debate político atual?
FM: “Ela é um sintoma de um Brasil que está um pouco disfuncional, com um certo desequilíbrio entre os três poderes.
O Legislativo, aos poucos, foi capturando algumas prerrogativas que antes eram do Executivo, que se enfraqueceu. Hoje, boa parte do orçamento é executado pelo Legislativo. O Legislativo não pode tocar o orçamento, que é prerrogativa do Executivo. Embora existam prerrogativas constitucionais em prol da imunidade parlamentar, não se pode criar algo que vá além do que está prescrito na Constituição.
A partir disso, surgem várias questões que precisam ser arbitradas entre Executivo e Legislativo e que acabam indo parar no Supremo Tribunal Federal. O STF então se agiganta e comete muitos erros, pois é chamado a isso: fere liberdades de expressão, fere prerrogativas clássicas do Estado de Direito, toca processos sem o devido rito, sem o devido processo legal.
Sobre a PEC especificamente, ela é um mecanismo de autodefesa ruim. Você votar sobre algo que vai lhe beneficiar é obviamente conflituoso.
Ao mesmo tempo, também é uma forma de defesa em relação aos avanços do STF, que se agigantou demais. Então, o Brasil está vivendo um certo desequilíbrio entre os três poderes, que precisaria voltar para o seu lugar.
Por isso, vejo a PEC da blindagem como algo exagerado e muito conflituoso, contrário ao que seriam os interesses mais republicanos da população em geral.”
Será que o populismo pré-eleição não vai fazer a inflação subir, postergando a queda dos juros?
FM: “Pode acontecer, mas as coisas não são ceteris paribus. Você está dizendo assim: ‘Olha, se parasse o mundo e fizesse só isso que você falou, de fato, a inflação deveria subir um pouquinho’.
Só que existem outras forças em jogo: o dólar está caindo, a economia está arrefecendo, as commodities podem cair se os Estados Unidos entrarem em recessão, e a China também está mal das pernas no setor imobiliário.
Então, não é uma derivada parcial, é um diferencial total, com várias coisas acontecendo ao mesmo tempo. Será que esse impulso fiscal que você chama de populismo pré eleição vai ser suficiente para superar as outras forças?
Eu acho que não. Até porque existem várias regras: meses antes da eleição não se pode lançar novos programas sociais, o Congresso hoje está claramente mais alinhado à direita e o Brasil já tem uma rigidez orçamentária grande. Então não é tão simples como apertar um botão e sair gastando tudo o que quer.”
Confira o episódio completo abaixo: