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No cenário internacional, o tom dos mercados nesta manhã é mais construtivo, em contraste com a dinâmica mais errática observada no pregão anterior. Na terça-feira, as bolsas americanas encerraram o dia majoritariamente em queda, refletindo a combinação entre sinais de desaceleração da atividade econômica e preocupações ainda presentes com a inflação. Hoje, porém, o ambiente externo mostra uma melhora gradual do humor.
Na Europa, os principais índices operam em alta, reagindo de forma positiva a dados de inflação mais benignos tanto no Reino Unido quanto na zona do euro, o que reforçou as apostas de mercado em cortes de juros pelo Banco da Inglaterra e na manutenção das taxas pelo Banco Central Europeu. Na Ásia, o movimento também foi de recuperação, com destaque para o desempenho do setor de tecnologia, que voltou a sustentar os ganhos das bolsas da região.
No mercado de commodities, o petróleo, que havia recuado recentemente diante das expectativas de avanço nas negociações de paz entre Rússia e Ucrânia, voltou a subir, impulsionado pelo aumento das tensões geopolíticas — em especial após medidas adotadas pelos Estados Unidos contra a Venezuela. Os futuros de Wall Street, por sua vez, operam em leve alta nesta manhã, com investidores atentos às falas de dirigentes do Fed.
· 00:55 — Quando a pesquisa pesa mais que o Copom
No Brasil, a dinâmica do mercado foi fortemente condicionada pela divulgação antecipada da pesquisa Quaest, que acabou se sobrepondo tanto à leitura da ata do Copom quanto aos dados de emprego divulgados nos Estados Unidos. Como já havia destacado no comentário apresentado na manhã de ontem, a ata do Banco Central manteve um tom cauteloso e não trouxe sinalizações objetivas sobre a possibilidade de um corte da Selic já na reunião de janeiro. Ainda assim, esse não foi o principal vetor de reação dos investidores. O foco do mercado se deslocou quase integralmente para o campo político, em especial para os desdobramentos da pesquisa eleitoral.
O entendimento predominante passou a ser o de que Flávio Bolsonaro desponta como o nome da oposição com maior probabilidade de chegar ao segundo turno. No entanto, a mesma pesquisa indica um nível de rejeição elevado: 62% do eleitorado afirmam que não votariam nele de forma alguma. Esse dado enfraquece de maneira relevante a probabilidade de uma alternância na política econômica, ao reduzir as chances de vitória de uma oposição reformista e fiscalista (o ajuste fiscal inevitável de 2027 seria feito com menos convicção). A leitura foi sintetizada de forma direta por Ciro Nogueira, presidente do PP, ao afirmar que Flávio tende a ser mesmo o candidato, mas perderia a eleição para Lula. Embora a pesquisa evidencie esse cenário, ela também acaba por limitar a emergência, no curto prazo, de nomes considerados mais competitivos num eventual segundo turno contra o lulopetismo, como Tarcísio de Freitas ou Ratinho Jr.
Esse resultado dialoga com um ponto central apontado pelo próprio levantamento: a eleição tende a ser decidida não pela minoria escandalosa, mas por uma minoria silenciosa, moderada e menos ideológica. Nesse contexto, ambos os principais candidatos são empurrados em direção ao centro do espectro político — com Lula largando com ampla vantagem nesse movimento. Evidentemente, ainda há bastante incerteza até que esse quadro se consolide, especialmente até o fim do primeiro trimestre, quando o cenário político tende a ganhar contornos mais claros. Até lá, o ambiente segue marcado por maior aversão ao risco, algo típico desse período do ano e que deve continuar presente também no início de 2026, até que o mercado consiga enxergar com maior nitidez a direção política e econômica que o país deverá seguir.
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· 01:42 — Adiando o inevitável
A França vem articulando o adiamento da votação do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, prevista para semana que vem, sob o argumento de que as salvaguardas apresentadas pela Comissão Europeia ainda não oferecem proteção suficiente aos agricultores do bloco. O principal foco da resistência está no receio de que a ampliação das importações, especialmente de carne bovina e de frango, pressione a renda e a competitividade do setor agrícola europeu. Esse movimento ocorre em um momento sensível, já que o acordo — negociado ao longo de 25 anos e concluído há cerca de um ano com Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai — é tratado pelos europeus como uma peça estratégica de sua agenda comercial e geopolítica.
Nos bastidores, diplomatas europeus alertam que a postura francesa pode colocar o pacto em risco definitivo (duvido muito). Quaisquer alterações adicionais no texto exigiriam nova rodada de aprovação por parte dos países do Mercosul, cuja disposição para renegociar estaria se esgotando. Para barrar formalmente a ratificação, seria necessária a formação de um bloco com ao menos quatro Estados-membros que representem 35% da população da União Europeia. Polônia e Hungria já declararam oposição, enquanto Áustria, Irlanda e, sobretudo, a Itália surgem como atores centrais nesse tabuleiro. A posição final de Roma pode ser decisiva para determinar se o maior acordo comercial já firmado pela UE avançará ou ficará pelo caminho. Acredito que o acordo será inevitavelmente selado, ainda que possa sofrer novos adiamentos.
· 02:37 — Dados mais fracos
Nos EUA, o pregão de terça-feira foi marcado por sinais mistos nos mercados globais, refletindo a divulgação de indicadores econômicos contraditórios nos Estados Unidos e um desempenho pouco direcional das principais bolsas. Enquanto o Nasdaq conseguiu encerrar o dia em leve alta, o S&P 500 e o Dow Jones recuaram, em um movimento que espelha a cautela dos investidores diante da leitura combinada dos dados de atividade e de emprego. O payroll consolidado de outubro e novembro apontou para uma criação modesta de vagas e para a elevação da taxa de desemprego para 4,6% — o maior nível desde 2021. Ao mesmo tempo, as vendas no varejo vieram praticamente estáveis, com fraqueza concentrada no setor automotivo, compensada por um desempenho mais robusto do chamado “grupo de controle”, indicador considerado mais representativo para a dinâmica do PIB como um todo.
Ao aprofundarmos a análise, o cenário permanece ambíguo. De um lado, surgem sinais consistentes de desaceleração gradual do mercado de trabalho, como o aumento do subemprego e do desemprego entre os mais jovens. De outro, ainda não há evidências de deterioração abrupta: os pedidos de seguro-desemprego seguem em níveis historicamente baixos e o setor privado continua gerando vagas. A recente paralisação do governo americano, no entanto, comprometeu a qualidade estatística de parte desses dados, o que tem levado o próprio Federal Reserve a adotar uma postura mais prudente na interpretação dos números recentes. Diante desse quadro, cresce a expectativa de que o banco central atribua maior peso aos próximos indicadores de inflação e ao payroll de dezembro antes da reunião de janeiro, mantendo os mercados em compasso de espera e com um ambiente de volatilidade elevada no curto prazo.
· 03:24 — Negócios no segmento de IA
A Amazon deu início a negociações preliminares para realizar um investimento de pelo menos US$ 10 bilhões na OpenAI, em uma transação que poderia atribuir à empresa de inteligência artificial valuation superior a US$ 500 bilhões. Além do aporte financeiro, as conversas envolvem a possível adoção dos chips Trainium, desenvolvidos pela própria Amazon, o que reforçaria a estratégia do grupo de expandir sua presença no mercado de semicondutores voltados à IA — um segmento atualmente liderado pela Nvidia. Caso o acordo avance, ele simboliza a crescente integração entre grandes plataformas de tecnologia e desenvolvedores de IA e a aceleração de uma corrida por escala, eficiência e controle da infraestrutura que sustenta essa nova onda tecnológica.
Ao mesmo tempo, o mercado começa a olhar com mais cautela para os riscos financeiros associados a esse ciclo de investimentos. A Oracle, por exemplo, divulgou compromissos de até US$ 248 bilhões em contratos de arrendamento relacionados à construção e operação de data centers de inteligência artificial — valores que ainda não aparecem integralmente em seu balanço e que superaram com folga as expectativas do mercado. A diferença entre contratos de infraestrutura de longo prazo e acordos comerciais mais curtos firmados com grandes clientes, como a própria OpenAI, tem despertado preocupações sobre alavancagem, previsibilidade de receitas e retorno sobre o capital investido. Esse descompasso reforça a leitura de que, embora o tema de IA siga estruturalmente relevante, o atual ritmo de expansão exige cada vez mais disciplina financeira e análise criteriosa por parte dos investidores.
· 04:11 — Estratégia contra o mercado chinês
A Volkswagen vem acelerando sua ofensiva estratégica para recuperar relevância no mercado automotivo chinês, que passou por uma transformação profunda com o avanço da eletrificação. Nesse processo, as montadoras estrangeiras perderam espaço de forma significativa, e a própria VW deixou de ocupar a liderança no país. As vendas da companhia recuaram de 3,9 milhões de veículos em 2020 para 2,9 milhões no ano passado, enquanto a participação em veículos elétricos ainda segue modesta. Para reverter esse quadro, a empresa anunciou um plano ambicioso: lançar 30 novos modelos elétricos voltados ao mercado de massa chinês ao longo dos próximos cinco anos, com os primeiros veículos chegando às concessionárias a partir de 2026. Esses modelos foram concebidos para atender às preferências do consumidor local, com forte ênfase em tecnologia embarcada, design interno sofisticado e custos de produção substancialmente mais baixos. Parte dessa nova plataforma também poderá ser utilizada para abastecer outros mercados asiáticos, como a Tailândia, hoje fortemente pressionados pela entrada agressiva de veículos elétricos chineses de baixo custo.
Para sustentar essa mudança, a Volkswagen promoveu uma reorganização profunda de suas operações na China. A empresa criou um centro de inovação próprio na cidade de Hefei, que reúne milhares de engenheiros e opera com elevado grau de autonomia em relação à matriz na Alemanha. Essa estrutura tem permitido decisões mais rápidas e uma redução de aproximadamente 30% no tempo de desenvolvimento de novos veículos elétricos. A estratégia também passa por parcerias com empresas locais de tecnologia, como a Horizon Robotics, focada em sistemas de direção autônoma, além de um investimento direto na montadora chinesa Xpeng, com quem a VW desenvolve modelos em conjunto e compartilha conhecimento industrial e tecnológico. Apesar dos avanços, os desafios permanecem relevantes. Isso porque a forte integração das cadeias de suprimento das fabricantes chinesas, a guerra de preços no segmento de elétricos e o suporte de bancos e investidores estatais às concorrentes locais impõem um ambiente competitivo muito duro e desigual, no qual a busca por rentabilidade pode se mostrar mais complexa e demorada do que o mercado inicialmente espera.
· 05:03 — Mudança de paradigma
Japão e Alemanha vêm acelerando de forma consistente seus programas de rearmamento, em resposta direta à intensificação das tensões geopolíticas globais. No caso japonês, trata-se do mais amplo reforço militar das últimas quatro décadas. O país tem ampliado sua infraestrutura de defesa ao longo do arquipélago de Ryukyu — um conjunto de ilhas estrategicamente localizado nas proximidades de Taiwan — por meio da instalação de baterias de mísseis, sistemas de radar e novas bases operacionais. Paralelamente, há o deslocamento de ativos militares relevantes para a ilha de Kyushu, incluindo caças F-35, além do fortalecimento da presença em Okinawa, que abriga bases cruciais dos Estados Unidos e tende a desempenhar papel central em qualquer cenário de conflito envolvendo Taiwan. Essas iniciativas ocorrem em um contexto de deterioração das relações com a China, marcada por pressões diplomáticas crescentes e por episódios recentes de atividade militar chinesa no espaço aéreo japonês.
Na Europa, a Alemanha também protagoniza uma inflexão histórica…