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Os mercados começam o dia olhando para a divulgação do PCE de setembro nos Estados Unidos — o indicador de inflação favorito do Federal Reserve e potencial gatilho final para um corte de juros já na próxima semana. Com Fed e Copom prestes a decidir os rumos da política monetária, as apostas de redução nos EUA permanecem ao redor de 90%, enquanto, no Brasil, o mercado ainda diverge quanto ao momento ideal para iniciar o ciclo de afrouxamento.
No noticiário corporativo e geopolítico, a Meta avalia cortes de até 30% no orçamento dedicado ao metaverso; Vladimir Putin visita a Índia para concluir um acordo militar bilionário; a Alphabet ganha tração com seus chips de IA; e cresce a probabilidade de que o Banco do Japão eleve juros. Nas bolsas internacionais, o tom é amplamente positivo na Ásia e na Europa — exceto no Japão, que recuou após dados fracos de consumo — sustentado pelo otimismo com a trajetória da inflação nos EUA e pela revisão altista do PIB europeu.
· 00:52 — Não para de subir
No Brasil, o PIB do 3º trimestre avançou apenas 0,1%, reforçando a percepção de que a desaceleração da atividade pode antecipar o início do ciclo de cortes da Selic já para janeiro — movimento que ainda contrasta com muitas leituras oficiais do mercado, mais alinhadas ao tom rigidamente conservador do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que segue sinalizando março como ponto de partida. De toda forma, a crescente probabilidade de início do afrouxamento em janeiro derrubou a curva de juros e impulsionou o Ibovespa, que emplacou seu terceiro recorde nominal consecutivo e superou os 164 mil pontos. Assim, o comunicado do Copom na próxima semana ganha papel decisivo: qualquer nuance mais dovish tende a consolidar as apostas em janeiro, enquanto uma postura neutra ou firme reforçará março como cenário-base. Vale lembrar, contudo, que os juros permanecem excepcionalmente elevados por razões essencialmente fiscais — ponto que segue no centro do debate.
Nesse sentido, o Congresso aprovou a LDO e enviou o texto para sanção presidencial, estabelecendo um calendário inédito que antecipa o pagamento de 65% das emendas parlamentares até julho, além de autorizar o governo a realizar contingenciamentos pelo piso da meta fiscal. O texto ainda retirou R$ 10 bilhões em despesas das estatais da meta de 2026 para acomodar os gastos dos Correios — decisão articulada entre a Fazenda e o Planalto, sem participação do Ministério do Planejamento, e que contraria alertas do TCU. Como já discutimos, o empréstimo de R$ 20 bilhões à estatal envolve risco relevante: caso os Correios não consigam honrar os pagamentos, o ônus pode recair sobre o Tesouro, ampliando a fragilidade fiscal. Tudo isso ocorre em meio a um ambiente político cada vez mais tenso em Brasília. A decisão de Gilmar Mendes — ao restringir denúncias contra ministros do STF à PGR e exigir quórum de dois terços do Senado — agravou o mal-estar institucional e aumentou a dificuldade de aprovação de Jorge Messias à Corte. Ainda assim, Lula, indiferente ao seu próprio evidente desgaste político, insiste em manter a indicação. A janela até 2026 promete ser turbulenta.
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· 01:46 — O que a inflação quer nos dizer?
Os mercados acionários dos EUA adotaram ontem um tom de cautela, em compasso de espera pela divulgação do PCE hoje — o indicador de inflação preferido do Federal Reserve — cuja leitura de setembro, estimada em 2,8% ao ano, deve orientar diretamente as apostas sobre um possível corte de juros já na próxima semana. Um dado mais fraco poderia aumentar definitivamente não só a chance de corte de juros na semana que vem, mas de novos cortes em 2026. O destaque do pregão ficou com o Russell 2000, que subiu diante da perspectiva de crédito mais barato para pequenas empresas com o ciclo de flexibilização monetária. Ainda assim, o panorama do mercado de trabalho segue ambíguo: o relatório ADP registrou a eliminação de 32 mil vagas no setor privado, sugerindo perda de tração, ao passo que os pedidos semanais de auxílio-desemprego caíram, indicando resiliência. Esse conjunto reforça a complexidade do dilema do Fed, que precisará calibrar cuidadosamente seus dois mandatos — inflação e emprego — na reunião da próxima quarta-feira.
· 02:32 — Votação decisiva
O governo de coalizão da Alemanha, liderado pelo chanceler Friedrich Merz, encara nesta sexta-feira uma votação decisiva no Parlamento sobre a reforma da previdência— um teste direto à capacidade de governabilidade da coalizão, que opera com uma maioria estreita de apenas 12 cadeiras. O projeto assegura o pagamento das aposentadorias até 2031 e estabelece garantias adicionais para além desse prazo, mas desencadeou forte resistência dentro da própria CDU: cerca de 18 parlamentares mais jovens anunciaram oposição ao texto, abrindo a possibilidade concreta de uma derrota constrangedora para Merz e de um abalo relevante à autoridade do governo. A tensão ocorre em um momento em que a coalizão já enfrenta dificuldades para demonstrar alinhamento em temas centrais, como crescimento econômico e segurança interna.
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· 03:29 — O que vem depois da IA?
A discussão sobre “o que vem depois da IA” tem direcionado o olhar de muitos investidores para dois setores que começam a ganhar tração: robótica e computação quântica. A robótica voltou ao centro do radar após reportagem da Politico indicar que o Departamento de Comércio dos EUA prepara uma ofensiva de investimentos no segmento, impulsionando ações como iRobot, Serve Robotics e WeRide. Já a computação quântica ganhou força com a disparada da D-Wave, após a Evercore ISI iniciar cobertura com recomendação de outperform. Para muitos, o setor está basicamente prestes a entrar em uma nova mudança de grandes proporções — movimentos que, no passado, resultaram em valorizações de 100 a 1.000 vezes para empresas líderes. Grosso modo, com mais de 40 competidores e nenhum vencedor claro, as melhores oportunidades tendem a surgir justamente anos antes da virada tecnológica.
Embora apresentadas como apostas “pós-IA”, robótica e computação quântica são, na prática, continuações naturais do próprio avanço da inteligência artificial. A robótica, por exemplo, representa a expansão para a chamada “IA física”, que combina algoritmos avançados com máquinas capazes de operar no mundo real — uma fronteira na qual players como a Nvidia já se movimentam. A computação quântica, por sua vez, pode fornecer a potência necessária para treinar modelos cada vez mais complexos, abrindo espaço para novos ciclos de inovação. No fim das contas, até mesmo as teses do “futuro” seguem orbitando o mesmo vetor estrutural: a ampliação incessante das aplicações, do alcance e da relevância da IA no coração da economia global.
· 04:15 — Acordo fechado
A Índia firmou um acordo de US$ 2 bilhões para arrendar da Rússia um submarino nuclear de ataque, destravando uma década de negociações que haviam sido paralisadas por divergências — e cuja conclusão coincide com a visita de Vladimir Putin a Nova Délhi. Delegações indianas estiveram recentemente em um estaleiro russo para inspecionar o projeto, cuja entrega é esperada em até dois anos, embora atrasos sejam considerados prováveis dada a complexidade técnica envolvida.
A operação se insere em um reposicionamento diplomático mais amplo: diante das tarifas punitivas impostas por Donald Trump, o governo de Narendra Modi intensificou a aproximação com Moscou e Pequim, buscando reafirmar sua autonomia estratégica. A guinada representa uma ruptura com a política externa das últimas décadas, que procurava consolidar a Índia como contrapeso à influência de China e Rússia — movimento que foi comprometido pela escalada tarifária de Washington, empurrando Nova Délhi justamente para mais perto desses dois polos geopolíticos.
· 05:08 — Ajuste de contas
O Metaverso deixou de ocupar o centro da estratégia da própria Meta Platforms. Após anos em que Mark Zuckerberg apresentou a realidade virtual como o próximo grande salto da empresa — chegando a renomeá-la para Meta —, a companhia se prepara para um corte expressivo de gastos no grupo responsável pelo Horizon Worlds e pelos dispositivos Quest. A direção estuda reduzir em até 30% o orçamento da área já em 2025, medida que deve incluir demissões já no início do ano. A guinada reflete um diagnóstico interno claro: a iniciativa não ganhou tração suficiente e tem consumido recursos em proporção muito maior do que o retorno gerado.
O recuo ocorre em meio à pressão persistente de investidores, que há anos enxergam o Metaverso como um …