Investimentos

Quais são as perspectivas para a Gerdau (GGBR4) após o governo prorrogar as tarifas de importação de aço?

Prorrogação não deve mudar as condições para o setor siderúrgico brasileiro; por outro lado, temos uma perspectiva favorável para as ações da Gerdau

Por Ruy Hungria

02 jun 2025, 12:50 - atualizado em 02 jun 2025, 12:50

Gerdau (GGBR4)

Imagem: Divulgação/Facebook Gerdau

Na última semana, o governo brasileiro anunciou a prorrogação de 12 meses para as tarifas de importação de aço implementadas no ano passado, e ainda inseriu mais quatro tipos de aço na lista, que agora conta com 23 produtos diferentes. 

Mas antes que os acionistas das siderúrgicas se animem, entendemos que a medida não deve alterar o cenário de enorme sobreoferta de aço vindo da China. Como comentamos no ano passado, a taxação implementada na época seria insuficiente para conter as importações.

Para começar, apenas 19 produtos siderúrgicos teriam taxação extra, deixando outras dezenas de fora. Além disso, a alíquota de 25% começaria a valer apenas depois que os volumes de importação de cada produto superassem em 30% as médias de importação dos anos de 2020 e 2022. 

Assim como esperávamos, mesmo com as novas tarifas, as importações continuaram e inclusive bateram recordes, gerando muita reclamação das companhias brasileiras – a Gerdau (GGBR4) já hibernou uma fábrica e ameaçou cortar investimentos bilionários no Brasil caso o cenário continue.

Em nossa visão, a prorrogação de 12 meses anunciada nesta semana – combinada com a adição de mais quatro produtos na lista – em nada muda as condições para o setor siderúrgico brasileiro.

Gerdau (GGBR4): Operação nos EUA mantém a tese atrativa

Por outro lado, também não altera a nossa visão construtiva para a companhia, que apesar de ver as importações atrapalharem os resultados no Brasil, conta com plantas nos Estados Unidos onde o cenário é bem melhor, e parece estar sendo ajudado pelas tarifas sobre aço e alumínio implementadas por Trump em março deste ano. 

Na teleconferência de resultados, a gestão já apontava para uma carteira de pedidos acima de 80 dias e escalada nos spreads nos EUA. Além disso, o mix por lá também deve melhorar, com maior demanda de vigas para infraestrutura, data centers e energia renovável. Esses fatores devem resultar em aumento da margem Ebitda da região no 2T25, e devem ser determinantes para um crescimento de Receita e Ebitda na comparação com o 1T25

Essa possível melhora de resultados em um momento em que as posições short no papel estão próximas das máximas pode inclusive representar um gatilho para os papéis. 

Fonte: Bloomberg. Elaboração: Empiricus.

Gerdau tem ativos que não parecem corretamente precificados

Por fim, vale mencionar que a companhia possui alguns projetos entrando em operação que não nos parecem precificados neste momento. 

A nova plataforma de mineração em Ouro Preto adicionará 5,5 milhões de toneladas de capacidade, e ajudará a incrementar o Ebitda em mais de R$ 1 bilhão a partir de 2026. 

Outro exemplo é a recém-concluída ampliação da planta em Ouro Branco, que agregará 250 mil toneladas de capacidade de produção de bobina e aproximadamente R$ 400 milhões de Ebitda por ano. Os dois projetos combinados representam mais de 10% do Ebitda da companhia em 2024. 

Por fim, também podemos ver notícias positivas envolvendo o Capex; um dos grandes receios do mercado é que a companhia mantenha o plano de investir R$ 6 bilhões neste ano mesmo em um contexto de preços baixos no Brasil, o que obviamente seria ruim para a geração de caixa. Por outro lado, isso não condiz com a disciplina de capital que temos visto da gestão nos últimos anos, e também vai contra as ameaças de cortes de investimentos caso as condições do mercado brasileiro não melhorem. 

Com valuation deprimido (3,9x Valor da Firma/Ebitda), projetos acretivos que ainda não foram precificados e um 2T25 que pode finalmente começar a mostrar crescimento, Gerdau segue entre as recomendações da Empiricus para buscar dividendos.

Sobre o autor

Ruy Hungria

Bacharel em Física formado na Universidade de São Paulo (USP), possui MBA de Finanças na Fipe e iniciou a carreira no mercado financeiro em 2011, na própria Empiricus Research. Está à frente da série da casa focada em opções desde 2018, além de contribuir na elaboração e decisões de investimentos nas séries da Empiricus focadas em microcaps e dividendos, além de fazer o acompanhamento de companhias de diversos setores, com mais foco em Utilities e Oil & Gas. Desde o início de 2020 é colunista do portal Seu Dinheiro.