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Investimentos

Radar do Ibovespa: Relatório de Política Monetária e entrevista de Galípolo devem movimentar a bolsa nesta quinta-feira (25)

Enquanto isso, as bolsas americanas passam por um mês de quedas. Veja mais destaques econômicos.

Por Matheus Spiess

25 set 2025, 09:26

Atualizado em 25 set 2025, 09:26

ibovespa

Imagem: iStock.com/pookpiik

Os mercados globais atravessam uma fase de indefinição, marcada pela busca dos investidores por sinais mais consistentes sobre a condução da política monetária nos EUA. O S&P 500 registrou queda pelo segundo dia consecutivo, refletindo a cautela em meio às mensagens divergentes vindas do Federal Reserve. Jerome Powell, presidente do banco central, ressaltou os “riscos bilaterais” que hoje definem o cenário — de um lado, a inflação segue resiliente; de outro, começam a se acumular sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho. O contraste de opiniões dentro do próprio Fed reforça a incerteza: enquanto dirigentes como Austen Goolsbee e Raphael Bostic desaconselham uma sequência acelerada de cortes de juros, citando estabilidade no emprego e inflação ainda desconfortável, nomes como Michelle Bowman e Stephen Miran defendem reduções adicionais. O resultado é um Fed dividido, que mantém o mercado em compasso de espera, embora ainda se precifiquem dois cortes ao longo de 2025. Ao mesmo tempo, a tecnologia — motor das altas recentes — perdeu força: mesmo com notícias positivas envolvendo Alibaba, Nvidia, Micron e Intel, o Nasdaq não sustentou ganhos, e até as criptomoedas recuaram, sinalizando menor apetite por risco. Nesse contexto, a atenção se volta para a divulgação do PCE, o indicador de inflação preferido do Fed, prevista para amanhã, e para dados de PIB do 2º trimestre e de pedidos semanais de seguro-desemprego, que podem redefinir expectativas.

No exterior, a volatilidade também se mostrou presente. A Ásia apresentou desempenho misto: Japão e Shenzhen avançaram moderadamente, enquanto Taiwan e Coreia do Sul recuaram. Na Europa, os índices cedem nesta manhã, antes da divulgação de indicadores americanos. Já em Nova York, os futuros iniciaram o dia próximos à estabilidade, refletindo não apenas dúvidas sobre juros e emprego, mas também a crescente preocupação com a possibilidade de uma paralisação do governo americano em outubro, caso o Congresso não chegue a um acordo orçamentário.

No mercado de commodities, o petróleo passa por uma realização de lucros após recentes máximas, pressionado pela perspectiva de aumento de oferta do Iraque e do Curdistão e pela expectativa de demanda mais fraca nos EUA, em linha com a desaceleração no consumo de gasolina e no ritmo das viagens aéreas. O quadro geral é de prudência.

· 00:54 — Sinais…

No Brasil, o pregão de ontem foi marcado por relativa estabilidade do Ibovespa, ainda assim suficiente para renovar o recorde nominal alcançado na sessão anterior, superando os 146 mil pontos. Hoje, o foco dos investidores se divide entre a leitura do Relatório de Política Monetária, divulgado pela manhã, e as falas complementares da liderança do Banco Central, com Galípolo e Guillen concedendo entrevista coletiva às 11 horas. Também está no radar a prévia da inflação oficial de setembro, o IPCA-15, com projeção de alta de 0,51% no mês. O número, caso confirmado, representaria aceleração frente à deflação registrada em agosto e elevaria o acumulado em 12 meses, embora a expectativa siga de encerramento de 2025 abaixo de 5%. Esse resultado reforçaria a trajetória de desinflação e abriria espaço para cortes adicionais da Selic — inclusive, uma leitura abaixo do esperado tende a ser particularmente bem recebida pelo mercado. No campo corporativo, Petrobras deve reagir positivamente à notícia de que o Ibama aprovou o resultado da simulação da companhia na Foz do Amazonas, última etapa antes da concessão da licença ambiental, um avanço de peso não apenas para a estatal, mas para a matriz energética e a agenda estrutural do país. 

Já no noticiário político, chamou atenção a reportagem do Metrópoles informando que Jair Bolsonaro teria fechado apoio à candidatura de Tarcísio de Freitas em 2026, movimento já confirmado por União Brasil e PP. A reação da família Bolsonaro, sobretudo do senador Flávio, foi pouco convincente: em nota, o filho do ex-presidente elogiou Tarcísio de forma enfática, afirmando que sua lealdade a Bolsonaro é inquestionável e que ambos estarão juntos em 2026. Esse episódio sinaliza a transição que já vínhamos antecipando desde o primeiro semestre de 2023: a formação de uma nova liderança na oposição, com Tarcísio ganhando espaço como herdeiro político natural de Bolsonaro. Ainda não se trata de um movimento consolidado, mas o “vazamento” deixa claro que, onde há fumaça, há fogo. Resta saber se essa liderança conseguirá articular um projeto reformista e fiscalista competitivo, capaz de colocar desde já as pautas de ajuste estrutural na mesa, algo imprescindível para 2027. Não por acaso, o Tribunal de Contas da União reiterou ontem que perseguir apenas o piso inferior da meta de resultado primário, em vez do centro, configura irregularidade e afronta à legislação do arcabouço. A crítica não é novidade: a execução orçamentária atual segue aquém do desejável, e a trajetória fiscal atual permanece insustentável.

Paralelamente, o Congresso vive uma semana de avanços e impasses que deixaram evidente o choque entre política e economia. A Câmara aprovou projeto que retira despesas temporárias de saúde e educação do limite do arcabouço fiscal, com impacto estimado de R$ 1,2 bilhão em 2026, enquanto o Senado validou emenda semelhante na MP do Brasil Soberano, que retira R$ 9,5 bilhões do pacote do tarifaço das metas de 2025 e 2026, além de liberar aportes bilionários em fundos garantidores. Já no campo tributário, a Medida Provisória que substitui o IOF foi adiada em razão da resistência da bancada ruralista, contrária ao aumento da alíquota de IR sobre LCIs e LCAs de 5% para 7,5%. A reforma tributária, por sua vez, também foi adiada, diante do volume de mais de 500 emendas que tratam de temas sensíveis como IBS, CBS, heranças, fundos patrimoniais e isenções setoriais. No plano político, o Senado sepultou a chamada PEC da Blindagem. Já o projeto de anistia continua travado, com o relator Paulinho da Força incapaz de construir consenso. Em suma, o ambiente em Brasília é de ebulição: disputas internas, impasses fiscais e prazos orçamentários críticos se acumulam, reforçando a necessidade de uma agenda de reformas consistente e coordenada para evitar a perpetuação de desequilíbrios estruturais.

· 01:47 — Um pouco mais desafiador?

Setembro, tradicionalmente um mês difícil para os mercados acionários, registrou seu primeiro tropeço após semanas de forte valorização. Na terça-feira, os três principais índices de Wall Street recuaram em conjunto pelo segundo pregão consecutivo. A correção chama atenção porque, embora setembro costume ser o pior mês do calendário — historicamente com quedas médias de 1,1% no S&P e no Dow e de 0,9% no Nasdaq —, o desempenho de 2025 vinha destoando desse padrão: até agora, os ganhos acumulados somam 2,8% no S&P 500, 4,9% no Nasdaq e 1,3% no Dow, configurando o melhor setembro em mais de uma década para dois desses índices. O impulso partiu sobretudo das gigantes de tecnologia, desta vez apoiadas em fundamentos mais robustos — mas a velocidade da alta também alimentou receios de excessos no curto prazo, em especial em ações de empresas não lucrativas.

Contudo, o movimento parece mais uma correção técnica do que o prenúncio de uma reversão estrutural. Vale lembrar que ciclos de alta prolongados não são raros — em média, chegam a durar oito anos — e o atual completaria apenas três. Ainda assim, o S&P 500 entrou em zona de sobrecompra pela quarta vez desde abril e, nas ocasiões anteriores, as correções subsequentes foram pontuais e superficiais. O verdadeiro teste agora será verificar se os investidores manterão o padrão recente de “comprar nas quedas”, renovando máximas logo em seguida; caso contrário, pode haver perda gradual de momentum. Paralelamente, novos dados econômicos entram no radar: o BEA divulgará a revisão final do PIB do 2º trimestre, projetado em 3,3%, além dos números de bens duráveis e de vendas de imóveis usados em agosto. Esses indicadores serão decisivos para calibrar as expectativas quanto à resiliência da economia americana e ao ritmo de crescimento daqui em diante.

· 02:32 — Investimentos gigantescos

A OpenAI, em parceria com a Oracle e a SoftBank, e com apoio direto da Casa Branca, avança em um dos projetos de infraestrutura tecnológica mais ambiciosos já concebidos: o Stargate. O plano prevê a construção de cinco novos complexos de data centers nos Estados Unidos, com investimentos já superiores a US$ 400 bilhões, podendo alcançar a marca de US$ 1 trilhão quando consideradas as necessidades de infraestrutura energética. O objetivo é consolidar a liderança americana na corrida global pela inteligência artificial. A capacidade projetada chega a 20 gigawatts — volume suficiente para abastecer milhões de residências — em um esforço que inclui o maior data center do mundo, atualmente em construção no Texas, cuja conclusão está prevista para 2026. Somados, os novos empreendimentos devem adicionar quase 7 gigawatts de capacidade e gerar mais de 25 mil empregos diretos, reforçando a aposta da OpenAI no fortalecimento de seu poder computacional como diferencial estratégico.

O desafio, entretanto, é tão monumental quanto à escala do investimento. Estima-se que cada gigawatt exija cerca de US$ 50 bilhões, o que levanta dúvidas sobre a viabilidade de sustentar um ritmo de expansão tão acelerado sem ultrapassar o crescimento efetivo da demanda e da receita. Há também o risco de endividamento excessivo — o próprio Sam Altman, CEO da OpenAI, admite tais preocupações, embora defenda que um avanço sem precedentes é indispensável para dar suporte à revolução da IA. Além da magnitude financeira, o projeto amplia a presença geográfica da companhia e de seus parceiros, com obras em Texas, Novo México e Ohio, além da possibilidade de expansão do complexo já em operação na Oracle Cloud Infrastructure. Trata-se de uma estratégia ousada, mas ancorada na convicção de que a inteligência artificial se consolidará como vetor central da economia mundial nos próximos anos — e que, nesse tabuleiro, poder computacional é a verdadeira moeda de valor.

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· 03:21 — Excepcionalmente…

O chamado “excepcionalismo americano” — expressão que descreve o desempenho consistentemente superior dos ativos dos EUA — tem como pilares históricos a força do dólar e o magnetismo das grandes companhias de tecnologia. Em alguns momentos recentes, esse excepcionalismo pareceu sob ameaça, especialmente após o chamado Dia da Libertação, quando a imposição de tarifas levantou dúvidas sobre a resiliência das instituições americanas. Ainda assim, o cenário atual demonstra que, mesmo com essas barreiras em vigor, os mercados globais seguem se ajustando a elas. O dólar, por sua vez, atravessa um ponto de inflexão: depois de um ciclo prolongado de valorização, encontrou resistência técnica relevante, o que acendeu o debate sobre a possibilidade de uma desvalorização estrutural. A tese de enfraquecimento não depende apenas da saída de capital estrangeiro dos EUA, mas também do simples arrefecimento do fluxo de entrada — um fator crítico diante do déficit em conta corrente que gira em torno de 6,5% a 7% do PIB. Nesse sentido, bastaria que novos capitais deixassem de ingressar no mesmo ritmo para pressionar a moeda.

Ainda assim, apesar da queda na demanda por Treasuries, os fluxos para ativos denominados em dólar continuam robustos, com destaque para o retorno das entradas em ações, o que contrasta com a narrativa de uma crise de confiança nos EUA. O que explica a ausência de uma recuperação mais firme da moeda pode estar, em grande medida, na precificação de cortes de juros mais agressivos pelo Federal Reserve do que por outros bancos centrais. Caso esse cenário se mostre exagerado, é provável que o ajuste beneficie o dólar no curto prazo. Pessoalmente, não endosso a tese de uma desdolarização estrutural: as empresas americanas, em especial as de tecnologia, seguirão exercendo papel excepcional, e é justamente isso que explica a rápida recuperação dos ativos após a correção de abril. Ainda assim, é impossível ignorar o movimento de desvalorização recente, alimentado tanto por ruídos institucionais — que fragilizam a credibilidade — quanto pela expectativa de cortes de juros. E, como já disse, não é preciso vender para que o preço caia; basta que os fluxos parem de entrar.

· 04:19 — Os tão falados minerais críticos

A crescente dependência de minerais críticos para garantir tanto a segurança energética quanto a capacidade de defesa coloca os EUA diante de um desafio estratégico de primeira ordem: como diversificar suas cadeias de suprimento em um horizonte de tempo viável? A recente ordem executiva de Donald Trump, que busca acelerar a concessão de licenças e ampliar o financiamento a projetos de mineração, representa um passo inicial relevante. Na mesma direção, o investimento direto do Pentágono na MP Materials reforça a disposição de fortalecer a base industrial doméstica. Ainda assim, vale o alerta de que o esforço demandará não apenas volumes expressivos de capital, mas também ao menos cinco anos de apoio político consistente e coordenado para consolidar não só a capacidade de produção, mas sobretudo ecossistemas de refino e processamento robustos — especialmente no caso das terras raras pesadas, insumo indispensável para tecnologias de defesa avançada.

O desafio, contudo, transcende os aspectos técnicos, as limitações fiscais e os entraves regulatórios. O ponto central é a ausência de uma estratégia capaz de tornar os projetos liderados pelo Ocidente realmente competitivos diante de um rival que exerce domínio quase absoluto sobre toda a cadeia de valor. Esse controle vai muito além da produção upstream e midstream: envolve precificação, logística e infraestrutura de comercialização, o que impõe uma barreira dupla ao Ocidente — de um lado, pressionando a oferta global; de outro, influenciando de forma indireta a formação de preços internacionais. Dessa forma, a solução não se resume a abrir novas minas, mas sim a construir uma cadeia integrada, sustentável e eficiente, capaz de reduzir vulnerabilidades e competir em um mercado que hoje opera sob distorções.

· 05:06 — Um momento delicado

A OTAN atravessa um período de tensão interna ao tentar definir uma resposta para as recorrentes incursões de aeronaves russas em seu espaço aéreo. De um lado, Polônia e países bálticos defendem uma postura mais assertiva, exigindo uma reação dura que desestimule novas provocações. Do outro, a Alemanha prega cautela, receosa de que uma retaliação precipitada possa desencadear uma escalada descontrolada. Os EUA, por sua vez, mantêm posição ambígua: Donald Trump declarou que apoiaria os aliados da OTAN caso reagissem a violações russas, mas evitou confirmar se a Casa Branca ofereceria suporte direto em um confronto aberto. Para líderes europeus, a estratégia de Moscou é clara — testar os limites da aliança e expor fragilidades de sua coesão.

Nos mercados, a incerteza geopolítica acabou favorecendo o setor de…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.